quarta-feira, 29 de setembro de 2004

HELENA MEIRELES - A DAMA DA VIOLA, O FILME



VDC - O que a senhora acha mais difícil: ser atriz de cinema ou tocar violão?
- Eu, pra mim, qualquer coisa me diverte.  Tanto ser atriz de cinema ou ser tocadeira de violão. Com coisas minhas, né? Por que com o que é dos outros eu não não vou me divertir. Eu tô vendo a fita de cinema, tô vendo eu lá... Mas quem que era eu? Eu era uma jacu de Mato Grosso...
Nasci e me criei no mato. No meio de bicho, no meio de cobra, de tudo quanto era troço. Campo Grande era ovo quando eu nasci. Então, agora
sou do cinema, sou “fazedeira” de show, sou “Dama da Viola”. A maior  tocadora de viola do mundo. Minhas palhetinhas, lá no meio dos melhores roqueiros dos Estados Unidos...

VDC - Do filme, o que a senhora gostou mais?
 - O que eu gostei mais mesmo foi daquela última música que eu toquei. Lembrei...

VDC - Qual é a última música?
- É...Parece que é “Lembrança do Pantanal”. Aquela música chamava muito tiro de revólver na zona quando tocava, de cano de 38, aqui nesse Mato Grosso véio afora. Era música charmosa. Aquela hora, quase que eu dei um grito alto ali dentro. Mas o pessoal tá escutando, deixa eu ficar
quieta. Mas meu pé tava assim, dançando...

VDC - Todo mundo aqui tem mania  de fazer “UUUUU UUU”.  E lá no Mato Grosso não é assim que faz, é “Ai, ai, aiiii”...
- E’, lá é grito mesmo, de peito fechado. Meu Deus, Nossa Senhora, deu vontade de gritar ali,  naquela hora. Mas não gritei por causa do povo: “Ora, esta mulher está fazendo escândalo aqui dentro”, vamos escutar quieto...

VDC - Como a senhora se achou na tela? A senhora acha que ficou bem de atriz?
- Bom, pelo meu jeito, pelo meu tipo, pelo meu modo eu não diferenciei nada. Eu sou a mesminha daquele sertãozinho de Mato Grosso, de criança, até agora... Por que ainda não contou toda a minha vida. Ele não contou toda a minha vida ali. Minha vida foi de amargar, de amargar, minha
filha. Eu passei fome, eu dormi no chão, cozinhando no chão. Meu prato era uma lata de doce. Sabe aquela lata que tinha antigamente? Era o pratinho da gente comer. Às vez não tinha nem roupa pra vestir. Que eu cheguei num lugar que eu tive  com meu marido - meu companheiro -
e meu filho, na beira de uma lagoa. Tivemos que tirar a roupa do corpo e lavar pra vestir e chgar na cidade. Tudo isso já aconteceu comigo. E eu nunca reclamei. Acho que é por isso que Deus me abençoou: “Coitada, ela não reclama”. Sofri, mas nunca reclamei.

VDC - A senhora é uma pessoa muito séria. Eu não vi a senhora rindo... Mas a senhora faz uma coisa que alegra tanto a vida das pessoas. Sua alegria está toda na música?
- Tá tudo na música, na minha pessoa, que afora em falo besteira, falo isso, falo aquilo, a turma dá risada, gostam que falo. Mas tudo com respeito. Mas eu não sou de risada mesmo, nunca fui Nem quando tava lá no puteiro, nunca fui de risada Fui séria, seca.

VDC - A senhora imaginou ou pensou que pudesse ficar tão famosa?
- Não, minha filha, por que eu fui uma mulher que me criei no mato, no sertão, eu fui uma mulher... Eu não esperava nem nunca que isso ia acontecer comigo. Só que eu falava que eu não ia morrer pobre de arrasto. Eu falava “tenho fé em Deus que eu não vou morrer pobre”, pra todo mundo.  Eu nasci com uma rosa na palma da minha mão, que Deus pôs, que nunca murchou e nem nunca morreu. Eu não vou morrer de arrasto, pobre, graças a Deus. Eu não sou rica, mas tenho a minha casa para mim morar, meus bons móveis que eu comprei. Tenho merecimento com o povão filho de Deus. Eu agradeço muito a Deus por ter meu companheiro do meu lado, para o quer e vier, por mim. Que eu sou muito querida mesmo, eu vejo que eu sou querida.  É criança, é tudo. É véio chorando, é homem chorando, é moço chorando... Eu já vi um moço de 16 anos chegar, se ajoelhar nos meus pé, depois que eu acabei de tocar, e chorar igual a uma criança. Uma mulher falou pra mim, estava lá em cima no parque fazendo show, e ela falou pra mim : “O que eu estava sentindo foi embora! Eu estava mal, saiu tudo o que tinha de ruim que tinha em mim.” Eu to alegre, eu tenho a graça de Deus.  Eu toco violão desde os 9 anos de idade.

* ainda tem mais entrevista em HELENA MEIRELES - SAUDADES DO VIOLÃO. Vá em frente!




2 comentários:

Cassaro Cassaro disse...

02 - sinergia multiply
direito de cantar



windows

Valeria del Cueto disse...

Caro Helon

Você postou um anúncio aqui na minha entrevista com a violeira Helena Meirelles na minha página do multiply.

Certamente não leu a entrevista com a maior violeira do Brasil. Se o tivesse feito, teria verificado que anunciar qualquer coisa evangélica numa matéria sobre Helena, uma violeira que tocava em puteiros de Mato Grosso é, no mínimo, discrepante.

Por isso, peço que você retire seu comentário e a propaganda que você postou. Não o farei e assim o solicito por que não costumo censurar nem deletar comentários por não fazer parte do meu feitio pessoal nem profissional, mas acho que sua postagem foi imprópria e desmerece o que Helena conta sobre sua vida.

Agradeço sua atenção e espero que você retire o comentário em questão.