segunda-feira, 23 de junho de 2008

Ê fumacê

Ê fumacê!

O hábito que continua na moda em Cuiabá
Valéria del Cueto
Especial para o Diário de Cuiabá

Estou impressionada com a quantidade e a qualidade de fumantes que tenho encontrado em Cuiabá. A atitude politicamente correta e saudável de abandonar o habito de ter sempre um cigarro na mão não parece ter sensibilizado a maioria da população local, quica estadual.
Começo a achar que a nicotina seja essencial para manter o ânimo no calor senegalês que faz por aqui. Talvez inspirar a fumaça provoque uma momentânea alteração na temperatura corporal, aliviando um pouco a sensação térmica, sei lá... O fato é que a ala dos fumantes é ampla maioria nestas plagas.
Aí está, mais uma provável explicação para a longevidade do Chopão nas paradas de sucessos da Cidade Verde. Salsicha, garçom do local há mais de 20 anos, me deu a luz: lá não há área de fumantes, a casa é toda aberta, o que faz do local o paraíso dos pitadores inveterados de plantão.
No Getúlio, me contam que a área de fumantes tem ar refrigerado. Juro que fiquei preocupada. Lembrava que no meio do pátio havia uma árvore enorme e linda. Se colocaram ar refrigerado em todo o espaço, o que haveria acontecido com ela?
A dúvida virou uma baita surpresa quando a vi, numa excursão ao antigo pátio lateral do estabelecimento. Ela esta lá. Linda e imponente. Cercada de vidro por todos os lados, isolada da fumaceira gerada pelos frequentadores. Fumaça, esta, imperceptível pois deve ser sugada por um sistema de exaustores poderoso.
Vivinha da Silva, a árvore que já serviu de base no passado para apoio do data show que gerava imagens no telão da casa, hoje é uma peca preservada e ainda tem diversas utilidades decorativas servindo, inclusive, de suporte para vários vasos de outras plantas. Todas elas muito bem cuidadas e aparentemente felizes.
Esta e a Cuiabá moderna, encontrando soluções criativas para preservar suas tradições, entre elas o direito (fora de moda no resto do pais e no mundo civilizado, insisto) de fumar.
O Ministro da Saúde, Jose Gomes Temporão ainda não se deu conta do prato cheio que teria por aqui. Há uma população inteira para catequizar.
Mas um dia, quando o índice de óbitos e doenças decorrentes do consumo do cigarro começar a se refletir nas estatísticas do Ministério da Saúde, principalmente nos cu$to$ de tratamento de doenças provocadas pelos inúmeros males provocados pelo cigarro, aí Mato Grosso vai chamar a atenção (adoramos celebrar o fato de sermos os primeiros, os mais, etc...)
Infelizmente, com um destaque tão vergonhoso quanto o que temos hoje em dia nos quesitos educação (vide nossa incrível colocação no ENEM e também nossa performance no exame nacional da OAB) e meio ambiente (neste caso, não e preciso nem citar nossa posição no ranking, não apenas nacional, mas também mundial).
Alguns leitores, com quem tenho me encontrado nos últimos dias, vão pensar com seus botões. “Mas o que e que a Valéria esta falando? Ela sempre me pede um cigarro quando nos encontramos!” E verdade, sou um caso quase perdido não fosse o fato de que, quando não estou em Mato Grosso, não costumo sucumbir ao vício. Acontece que acho que não há nada mais chato do que ficar pedindo para os amigos que respeitem meus direitos de não fumante. Por isso, adoto a antiga e sabia máxima: em Roma, haja como os romanos.
Aqui, ajo como os locais: caio no crime, esqueço minha saúde e ainda ajudo os parceiros. Cada cigarro que acendo e um a menos no pulmão alheio.
Quando (e se) voltar pro Rio no final do ano, retomo meus hábitos saudáveis, educados e civilizados de não fumante. Até lá, me solidarizo com a atitude politicamente incorreta dos amigos e rezo para que esta incongruência existencial não me traga maiores prejuízos...


*Valéria del Cueto e jornalista, cineasta, gestora de carnaval e colabora com o DC Ilustrado. Este artigo faz parte da série Parador Cuyabano

5 comentários:

Demian Heathcliff disse...

Well. All that propaganda about goverments asking you to give-up smoking is a really filthy business. Smoking can be bad, but the effects of nicotine can be good too. After all stimulates several parts of your brain.
In fact it seems goverments are rehersing ways to get a psycological control over societies. Something like Orwell described in "1984". That kind of control would not be implanted by militars, but democratic, No physic force will be needed, but economic and concerning to private lifes, individual freedom and so on.
After all, if they seem to be so concerning about health disseases caused by tobaco. why don,t care even a drop about respecting the Kyoto,s protocoles about climatic warming or why is legal someking of conservants in, for intance, toamto sauce, sold on any shell of a casual supermarket of any democratic town of this globalized world? Let the people feel pleasure and freedom, at least that litle one of smoking a cigarrette from time to time. Even so is poison, they -me too- pay taxes buying each box in any tabaconist.

Cecilia Tomanik disse...

Valeria, adorei vou ficar frequentadora assidua. Espero todas as historias desnudas da campanha. Cecilia Tomanik

SUZANA Vidal disse...

Não entre nessa, seja muderna ai tbm. Não fume. (fumante por 40 anos e ex fumante a 1 ano e meio)

Valeria del Cueto disse...

Dá-lhe aí é fácil. Duro é ser "a chata" no meio do povo. Agora que estou no Rio, onde está proibidíssimo fumar em locais fechados, deixei a filação pra lá...

Valeria del Cueto disse...

Bom, Demian
Cada um tem o direito de se matar como quiser. De fazer o que quiser. Isto é ponto pacífico e básico pra mim.
É mais fácil combater o cigarro e fazer de conta que está cumprindo o seu papel "social" do que dedicar este esforço pra acabar com a violência e a corrupção, por exemplo. Ou melhorar a educação, ou trabalhar pela ecologia...
Como disse no artigo, pergunto, questiono e caio em tentação. Sou humana e registro nossas contradições de cada dia.
Assim como eu, elas são... SEM FIM
Obrigado pela valiosa contribuição. escreva sempre!