Um jardim,
seus segredos
e as consequencias
por ser fiel a um jeito
todo proprio de contar
Texto e foto de Valeria del Cueto
Acabo de me estabacar. Literalmente. Ando numa fase de marcas e cicatrizes. Literalmente. A culpa nao e da bicicleta. Nao foi agora, nem quando entortei o pulso ha uns dois meses atras. Independentemente do fator locomotivo, o cerne da questao e mais prosaico: um jardim.
Um lindo, ainda carente de pequenos/ grandes cuidados, enorme jardim e a casa que ele entorna e que tem me causado varios acidentes. Alguns maiores e outros menores. Com danos nem sempre proporcionais as sua conseq�encias. Pequenos e insignificantes machucados podem representar enormes desconfortos.
A ponta do dedo indicador esquerdo furado num espinho pegando um ramo de flores da primavera junto ao portao, por exemplo, (gente, e o dedo esquerdo mesmo, por que sou canhota) pode parecer um nada. Mas fica muito quando, por entusiasmo ou descuido, (entusiasmo por nao parar o servico e descuido por, mesmo depois, nao ter dado um trato mais profundo no local acidentado), o tal furinho virar um furao.
A gente precisa da ponta do indicador para um milhao de coisas. Entre elas, abotoar roupas, fechar zipers, lavar os cabelos e... escrever a mao. Explica-se assim, a falha da regularidade das cronicas quase sempre semanais que costumo publicar.
Adoro computadores, e tecnologia. Mas as cronicas que antes eram so da Ponta do Leme e andam se expandindo para outros brasis, sempre foram e serao escritas a mao. Foi assim que comecaram. Redigidas nas areias calientes da praia, perto da Pedra do Leme, num pequeno caderno chamado MOB.
A mao seguirao sendo escrevinhadas. Ja nao tenho o ambiente inspirador do Caminho dos Pescadores, na Ponta do Leme e o mar maravilhoso que a cutuca. Tampouco o MOB. Ele, a caderneta espiralada que pedi a Deus, menor que um caderno, maior que um bloquinho, com uma bolsinha de plastico pra guardar cartoes e papelinhos e um elastiquinho prendendo a capa plastica, nao e mais fabricado. Quem me deu a triste noticia foi o Marquinhos, dono do Bazar do Leme, onde costumo comprar meus suprimentos de papelaria e outras coisinhas.
Pelo menos um componente inspirador do ritual inicial das minhas historia e estorias tem que permanecer: outros lugares, um novo caderno - menos jeitoso, diga-se de passagem, um tempo errado no tamanho dos textos, devido a mudanca de formato - que seja. Mas sempre a mao.
E sabem por que? O tempo do pensar e diferente. Mais lento, mais burilado. Assim como outros tempos da vida da gente, que acaba esquecendo de dar tempo ao tempo e, eventualmente, ate falhar a regularidade da producao para, em compensacao fazer um tremendo desesforco (deixar de escrever e um prazer, mas da trabalho) para manter pelo menos uma caracteristica do produto cultural ( sera?) que esta chegando ate voce.
Enfim, um jardim, um furinho no dedo e la se vai sua leitura semanal. Falhei por causa de um espinho. Mas prefiro falhar de vez em quando a deixar de lado um costume tao bonito quanto pensar com as maos o que sinto em meu coracao. Espero que voce leitor, perdoe minhas ausencias involuntarias e compreenda meus motivos.
Afinal, um lindo jardim precisa de um pouco de atencao. E a planta que hoje me fere, em protesto pela poda eminente, pode vir a ser a estrela que ilustrara minha narracao, numa proxima cronica qualquer.
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