domingo, 27 de setembro de 2009

Um jardim, seus segredos...




Um jardim,
seus secredos
e as consequências
por ser fiel a um jeito
todo próprio de contar


Texto e foto de Valéria del Cueto 


Acabo de me estabacar. Literalmente. Ando numa fase de marcas e cicatrizes. Literalmente. A culpa não é da bicicleta. Não foi agora, nem quando entortei o pulso há uns dois meses atrás. Independentemente do fator locomotivo, o cerne da questão é mais prosaico: um jardim.

Um lindo, ainda carente de pequenos/ grandes cuidados, enorme jardim e a casa que ele entorna é que tem me causado vários acidentes. Alguns maiores e outros menores. Com danos nem sempre proporcionais as sua conseqüências. Pequenos e insignificantes machucados podem representar enormes desconfortos.

A ponta do dedo indicador esquerdo furado num espinho pegando um ramo de flores da primavera junto ao portão, por exemplo, (gente, é o dedo esquerdo mesmo, por que sou canhota) pode parecer um nada. Mas fica muito quando, por entusiasmo ou descuido, (entusiasmo por não parar o serviço e descuido por, mesmo depois, não ter dado um trato mais profundo  no local acidentado), o tal furinho virar um furão.   

A gente precisa da ponta do indicador para um milhão de coisas. Entre elas, abotoar roupas, fechar zipers, lavar os cabelos e... escrever a mão. Explica-se assim, a falha da regularidade das crônicas quase sempre semanais que costumo publicar.

Adoro computadores, e tecnologia. Mas as crônicas que antes eram só da Ponta do Leme e andam se expandindo para outros brasis, sempre foram e serão escritas a mão. Foi assim que começaram. Redigidas nas areias calientes da praia, perto da Pedra do Leme, num pequeno caderno chamado MOB.  

A  mão seguirão sendo escrevinhadas.  Já não tenho o ambiente inspirador do Caminho dos Pescadores, na Ponta do Leme e o mar maravilhoso que a cutuca. Tampouco o MOB. Ele, a caderneta espiralada que pedi a Deus, menor que um caderno, maior que um bloquinho, com uma bolsinha de plástico pra guardar cartões e papelinhos e um elastiquinho prendendo a capa plástica, não é mais fabricado. Quem  me deu a triste notícia foi o Marquinhos, dono do Bazar do Leme, onde costumo comprar meus suprimentos de papelaria e outras coisinhas.

Pelo menos um componente inspirador do ritual inicial das minhas história e estórias tem que permanecer: outros lugares, um novo caderno - menos jeitoso, diga-se de passagem, um tempo errado no tamanho dos textos, devido a mudança de formato - que seja. Mas sempre a mão.

E sabem por que? O tempo do pensar é diferente. Mais lento, mais burilado. Assim como outros tempos da vida da gente, que acaba esquecendo de dar tempo ao tempo e, eventualmente, até falhar a regularidade da produção para, em compensação fazer um tremendo desesforço (deixar de escrever é um prazer, mas dá trabalho) para manter pelo menos uma característica do produto cultural ( será?) que está chegando até você.

Enfim, um jardim, um furinho no dedo e lá se vai sua leitura semanal. Falhei por causa de um espinho. Mas prefiro falhar de vez em quando a deixar de lado um costume tão bonito quanto pensar com as mãos o que sinto em meu coração. Espero que você leitor, perdoe minhas ausências involuntárias e compreenda meus motivos.

Afinal, um lindo jardim precisa de um pouco de atenção. E a planta que hoje me fere, em protesto pela poda eminente, pode vir a ser a estrela que ilustrará minha narração, numa próxima crônica qualquer.

* Valeria del Cueto e jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Este artigo faz parte da serie Ponta do Leme, do SEM FIM http://delcueto.multiply.com .

Um comentário:

Carlo Anton disse...

Valeria eso son terosos the mezoamerica destrir el pasado es un crimen