domingo, 4 de outubro de 2009

Enfim nós!




 Enfim, nós!

Texto e foto de Valéria del Cueto  
Estou um trapo, um caco, um bagaço. Tudo junto e misturado, como dizia Mestre Marçal, o craque do ritmo e da bateria. Devido ao teor do nosso assunto de hoje decidi pensar no como o escreveria reposicionando uma pilha de mato seco do recém podado jardim da Rua da Piscina, sem número, munida de um garfo de filme de terror e um rastelo. 
 
Comecei o trabalho procurando o fio da meada literária da apresentação do curta “História Sem Fim... do rio Paraguai – o relatório”  pela primeira vez numa tela de cinema em Mato Grosso, dia 8, quinta feira, no Cine Teatro Cuiabá.   Enquanto me espetava em galhos e espinhos das Primaveras, lembrava do trabalhão que deu, há dez anos atrás, a produção da viagem e do susto que levei quando fechamos o cálculo da água potável necessária para nosso consumo na viagem entre Cáceres e Corumbá: 20 pessoas, 3 litros/dia e chegamos ao fantástico peso de 1 tonelada.  Só de água. Mais de mil litros...  

Nesta altura, eu encarava a pilha de mato só com o garfo, tentando puxar com as mãos galhos de mangueira, enquanto pensava na estratégia de lançamento do filme em dezembro de 2004, lá se vão quase 5 anos, no Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro. Ailton Franco Jr fez a apresentação do curta numa sessão da Petrobrás, no Cinema Odeon. Pude ver e, confesso chorei muito, pela primeira vez, nossa criação (minha e de tantos que participaram) numa tela de cinema, em 16:9, com som Dolby 5.1.  

De lá, o filme começou, em Recife, diante de uma plateia de 3.000 pessoas, a concorrer nos festivais nacionais. Inscrevi em todos os que pude. Em alguns, não formos selecionados, para outros, o curta foi convidado por que já havia assistido.  

E  lá estava eu, puxando a galharia, carregando folhas, chutando troncos e pensando, em meio a poeira, debaixo de um soléo, que a comparação era perfeita. Ambos, trabalhos pesados daqueles que se a gente para, não recomeça ja-ma-is. Fazer cinema é assim, uma pedreira danada, um esforço insano para realizar algo que só a gente sabe como vai ficar (será?) e, no meu caso, onde queria chegar.  

No Amazonas Film Festival, um festival de filmes de aventuras, convivi com ícones como Polanski, Claudia Cardinalle  e o poeta Thiago de Mello, com quem comecei a entender minha ligação com a terra,  ainda muito garota. Ele fazia parte do júri. Claro que não acreditei quando recebi, na recepção do hotel, um recado dele, me convidando para jantar. “Poxa, o cara é do júri, onde já se viu, jurado jantando com concorrente?”  

Foi uma noite inesquecível. Como ele disse, foi um encontro do homem da floresta com uma mulher das águas. Falamos sobre o filme, sobre sua vocação e a necessidade que atingisse um público que pudesse ser sensibilizado com sua mensagem e pudesse propagá-la.

Saí do restaurante me considerando premiada pelos momentos que havia vivido e as razões, segundo o próprio Thiago, que o haviam levado a me convidar para aquele jantar. Era naquela noite ou nunca, já que ele tinha uma agenda lotadíssima em sua estada em Manaus dali pra frente.     

Também saí certa de que aquele encontro tinha sido o ápice da minha experiência amazônica. Queria ir embora, ainda faltavam vários dias para o fim do festival e eu tinha muito que fazer no Rio. Não consegui mudar minha passagem. Depois descobri que foi tudo armação das meninas da produção. Tomei o maior susto quando foi anunciado o premio Especial do Júri para o História Sem Fim...  

Subi no palco do maravilhoso Teatro Santa Rosa em Manaus lotado. E falei. Lamentei a ausência do poeta que, naquele momento, em outro local era homenageado na Academia Amazonense de Letras. Lamentei por que gostaria de dizer pra ele, como pude dizer para  aquela imensa plateia que, nos momentos mais difíceis do longo caminho que percorremos para levar à tela o curta, era um verso dele que me guiava, como um mantra poderoso: “FAZ ESCURO, MAS EU CANTO, POR QUE A MANHÃ VAI CHEGAR”.  

E a pilha de mato aumentado, o peso do garfo quintuplicado, assim como a responsabilidade de procurar um novo caminho para o Sem Fim. Aventura, metalinguagem, meio ambiente, documentário, ficção. Pra quem pedia, eu liberava o filme. No início, só em película, depois também em DVD.  

Foi nesse formato que, um dia, enviei uma cópia para a Copacabana Filmes, produtora da Carla Camurati, que estava montando uma videoteca para menores infratores. Era uma tremenda responsabilidade pedagógica. E fomos selecionados. E foi a TV Brasil que nos colocou na programação, o Porta Curtas que trabalhou o filme como material didático, para atividades escolares, o Curtadoc, do SESC, que nos convidou para participar da série de programas que ainda serão lançados...  

Olhei para o espaço em que arrastava o mato seco exausta, suada, dolorida. Havia um rio de folhas esquecidas desenhado na grama verdinha, assim como faltava algo para o curta metragem que em tantas e distantes telas tinha mostrado o Pantanal, o pantaneiro e suas histórias.  

Em 2006, o filme havia passado em Cuiabá numa sessão especial ao ar livre, em DVD, para convidados. Mas au grand complet, telona/Dolby/escurinho do cinema, não. Levei 10 anos entre a viagem e poder mostrar para Cuiabá o que fizemos. Foram cinco anos do lançamento até que astronomicamente ( esse é o tema do Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá esse ano) tudo estivesse onde tinha que estar.  

E, assim como o rio de folhas caminha para seu mar, o História Sem Fim... do Rio Paraguai – o relatório vai ser exibido na tela do Cine Theatro Cuiabá, com tudo o que tem direito. Será uma sessão para as escolas, (Thiago tinha razão), às 14 horas, da quinta feira, 8 de outubro.  

E você, caro leitor, se tiver tempo (nós esperamos 10 anos) está convidado para se dar 16 minutos e 23 segundos dele para, junto conosco, assistir o que, penso, pudemos (a equipe é maravilhosa) fazer de melhor, para trazer para você o relatório de uma história que não tem fim...  
E lá vamos nós! Até quinta...  

* Valeria del Cueto e jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Este artigo faz parte da serie Parador Cuyabano, do SEM FIM http://delcueto.multiply.com

5 comentários:

Carlo Anton disse...

Buen descripcion Valeia i felicidades que brasil gano los juegos olimpicos

Valeria del Cueto disse...

Gracias, Carlox.

Carlo Anton disse...

Valeria con los juegos de 2016 tu tienes que tener entrada special por Brazil o por el comite mundial delos juegos olimpicos

Patrice Keller disse...

Acho que nao vai dar para chegar a tempo...que pena!! Mais parabens, voce merece...que batalha!!
Beijos australianos.

Valeria del Cueto disse...

hummm fã autraliana é o máximo! Um dia a gente chega aí, de canoa e tudo!