Com qualquer tinta eu tento...
Texto
e foto de Valéria del Cueto
Se me
lês, é por que não foi dessa vez. Não chegamos ao fim do mundo. Mas temos e
estamos no inferno na terra de sempre, com uns laivos de esperança para quem
tem fé. E olhe lá.
Praia, praia,
praia e nada mais. Ou melhor: piscina. Dupla jornada. Hidroginástica. Preparação
física à vera. Como não rolava há muito tempo. Juntou a fome com a vontade de
doer. E, se é pra ser por que é inevitável, que renda bons frutos físicos e
mentais. Esmurrar a água não provoca dor alheia ou maiores danos por ter baixo
impacto. Só cansa e faz dormir.
Por que
a vida passa, a fila anda e esse não é um bom momento para parar o mundo e
tentar descer. Ele passou! E, como já disse, se me lês é por que a porra do mundo
não parou quando devia. Agora é que o bicho vai pegar. E ele, o bicho, já está
botando as manguinhas de fora, diga-se de passagem.
Nos
últimos dias, duas crônicas foram interrompidas por uma mesma razão peculiar em
pleno parto (aí, Gabriel Novis!): por falta de tinta na(s) caneta(s). O
primeiro impedimento foi na praia e me obrigou a interromper a escrevinhação.
Así no más. Terminei o texto direto no computador, em cima do laço para cumprir
o horário das editorias (repararam como tenho falado nelas, as editorias e
neles, os editores ultimamente?)
Agora,
de novo! Lá se vai a caneta. Engraçado é que a única coisa que faço a mão
religiosamente é preencher caderninhos após caderninhos de crônicas. Acabarem
duas cargas em três manuscritos? Ai, ai, ai...
Por via
das dúvidas puxo do porta-tudo a caneta comemorativa de São Judas Tadeu que
ganhei de minha mãe no dia do santo, 26 de outubro. Aperto o pino e... Nada.
Desmonto a caneta. Está tudo lá, inclusive a tinta que havia transbordado da
carga, lambuzando minhas mãos. Meleca.
Aí, meu
Deus! Mensagem recebida. Meu texto não tem a guarida do santo protetor de quem,
acabo de me lembrar, perdi a medalhinha que sempre uso num cordão, junto com um
crucifixo e Nossa Senhora...
Parto
para a ignorância e apelo para uma BIC. Prateada, como o surfista da história
em quadrinhos. Valho-me dos seus superpoderes por que, como já disse, a fila
anda e, se eu der mole, perco a levada.
E aí...
volto ao ponto: se o mundo ia acabar, não precisaria me preocupar com a próxima
narrativa. Era essa e deu! Beijou, beijou, não beijou, beijasse. Danem-se
editores.
Como
ainda não chegamos ao fim dessa sexta feira, 21 de dezembro, prefiro não
contrariar os deuses alterando meu próprio ritual. Crônica e praia, praia e
crônica.
Daqui
para a Ponta, onde começa e termina meu céu. Para ver a vida passar ao som do
vento que me traz murmúrios de paz e esperança. Ela desliza ao sabor do mar
que, hora calmo, outra revolto, abriga meus sentimentos, tão profundos quanto
ele.
Me apego
a pedra, meu leme verdadeiro, olhando o tempo - que a tudo espera - a espera do
tempo passar...
Está
tudo aqui. Meu céu, meu mar. Quase tudo no seu devido lugar.
Menos eu
que, como a tinta da caneta de São Judas, apenas escorro entre os dedos do
destino deixando algumas marcas croniqueiras enquanto dou adeus ao fim do
mundo, como quem diz: “Mais um segundo, uma hora, mais um dia. Outra vida, quem
sabe? Não importa. Como meu mar vou para onde o vento me levar. Haja biquíni!”
*Valéria
del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte
da série “Ponta do Leme”, do SEM FIM...
delcueto.cia@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário