HELENA MEIRELES, A DAMA DA VIOLA
por Valéria del Cueto
Domingão de primavera no Rio de Janeiro, quase sol de verão, engarrafamento de candidatos a prefeito e vereadores, com suas “comitivas”, tralhas e baiúcas na orla carioca. Eis que recebo um convite para assistir, as três e meia da tarde, no cinema Odeon, na Cinelândia, ao lançamento de um documentário na Mostra não Competitiva – Retratos, do Festival do Rio 2004. “Helena Meireles, a Dama da Viola”
de Francisco de Paula é o filme em questão. Confesso que não tinha grandes expectativas mas reencontrar Mato Grosso ia me fazer muito bem, e eu sabia disso.
Na entrada, nada da tietagem que congestiona as noites badaladas do Festival, de flashs, luzes, microfones, máquinas fotográficas, câmeras, seus respectivos operadores e conseqüentes “entourages”. O tapete vermelho estava livre e desimpedido. O cinema não estava lotado. Na
abertura da sessão informam que a estrela do documentário, a violeira Helena Meireles, está presente. O holofote percorre a platéia e encontra dona Helena, vindo numa cadeira de rodas, no meio do corredor e as palmas começam. Tímidas a princípio, aumentando aos poucos e cada
vez mais. Como se demorássemos a fazer o cérebro pegar e fossemos entendendo aos poucos quem era aquela pequena mulher e o que ela representava.
Dona Helena é uma brasileira, reverenciada por sua arte. Sua palheta de chifre é uma das 100 melhores do mundo, segundo a revista americana “Guitar Player”, e está em companhia de outras do naipe de B.B. King, Eric Clapton, Jeff Beck e John McLaughlin. Todos aplaudiam sentados.
Aplaudiam cada vez mais. E, muito devagar, as pessoas foram se levantando, até que cada um naquela platéia se deu conta que a presença da violeira não era motivos somente para aplausos, mas para muito mais... A Dama da Viola cumprimentou os espectadores chamando-os de “filhos de Deus” e pouco falou, por que queria mesmo era ver o filme, que ainda não havia visto inteiro...
Quanto a luz se apagou as cores de Mato Grosso inundaram a tela, os sons do pantanal, arregimentados pelas cordas do violão de Helena Meireles, dominaram todo Odeon. O maior mérito da direção do filme, é não interferir no jorro caudaloso das notas tiradas do violão e das
idéias da ‘fazedeira de shows”, como a própria Helena se intitula. O seu velho Mato Grosso se derrama na tela, eternizando um modo de vida que, dizem, está em extinção. Hoje defendido por alguns e tendo com ponta de lança de sua preservação o próprio pantanal, que se recusa a
deixar morrer o “modus vivendi” ali praticado, pelas dificuldades que impõe àqueles que tentam doma-lo. Como a música e a vida de Helena Meireles.
Quando o filme acabou, fiquei fazendo hora no saguão e lá estava ela, olhando calmante desenhos infantis inspirados em sua imagem e sua arte, expostos nas vitrines onde se colocam cartazes das próximas atrações. Assim como passou desapercebida na saída do cinema, ninguém se tocou da
presença dela no Rio de Janeiro. Não saiu nos grandes jornais, nem em colunas sociais. O Rio, cidade antenada, perdeu a chance de reverenciar, de conhecer melhor e render homenagens a uma brasileira da melhor estirpe...
Sabia que Dona Helena tinha estado doente, internada. Não tive coragem de me aproximar no saguão. Ia cair no choro, igualzinho havia acontecido durante a sessão e nos aplausos (muitos) finais. Mas consegui falar com o diretor de “Helena Meireles, a Dama da Viola”, Francisco de Paula. Através dele, veio o privilégio de poder entrevista-la no dia seguinte na sede do Festival Rio 2004, antes de seu retorno a Campo Grande:
* A primeira parte da entrevista está a seguir, " HELENA
MEIRELES - A DAMA DA VIOLA, O FILME", a segunda em "HELENA MEIRELES -
SAUDADES DO VIOLÃO", que é pra não ficar muito grande e cansar os caros
e pacientes leitores.
8 comentários:
01 - sinergia multiply
direito de cantar
windows
Caralho, e a jornalista saindo da toca!!!! Ficou muito boa a materia, ja to querendo trazer a Helena para vir tocar em uns puteiros aqui em Londres.
Vou mostrar a materia para a galera da Jungle, se o filme sair ou for mostrado aqui a resenha ja esta feita.
A entrevista esta um classico.
Valeria... me permita citar uma frase que v� em um filme gringo a alguns dias: "Coisas maravilhosas demoram para acontecer por�m as coisas fabulosas acontecem de imediato"... voc� foi "aben�oada" pelo combinado local certo + hora certa... adorei sua mat�ria... nesse momento estou ca�ando coisas sobre Dona Helena... inspira��o, quem sabe, para uma moda de viola... eletro-ac�stica... beijos... e continue escrevendo (sempre) n�s precisamos disso...
Aih Valeria,
Convide o Giuliano para o Samba Carioca, ele tem metido um bando de perfis maneiros de sambistas classicos.
Val�ria, grande entrevista. S� de ler a v�ia falando j� t� chorando.
Brigado
Fico muito feliz por voc�s terem gostado do material. Ele vai ser publicado no Jornal Di�rio de Cuiab�/MT de segunda feira. Tamb�m foi incluido no site �ltimas Not�cias, no Plant�o de Bras�lia(!!!!) pelo Enock Cavalcanti.
Aviso aos navegantes: estou aceitando sugest�es de pautas. Quem quiser colaborar, � s� mandar.
Beijos a todos
Eu n�o tenho visto os filmes brasileiros, uma vez que estes temos mais chances em potencial de assistir. Gostei muito de saber mais sobre a violeira, nunca havia ouvido falar dela e apresent�-la a um p�blico maior foi uma bola dentro do documentarista. Ali�s, o que seria do cinema feito no BRasil se n�o fosse o document�rio.
ol� val�ria,
Vc apareceu no meu cantinho ali do Multiply, e me chamou a aten��o vc vir do MatoGrosso. � que eu tenho parentes em Corumb� que quero muito visitar, e ainda n�o pude. Sou descendente de italianos como vc. Ent�o fico "namorando" tudo que remete ao pantanal: mat�rias, depoimentos, fotos... tudo o que vem de l� me interessa.
De quebra, pude conhecer melhor a est�ria emocionante desta senhora violeira, Helena Meireles, de quem j� havia lida alguma coisa em mat�ria no jornal. Meu Deus, como esse Brasil � grande. E como � verdade aquela m�sica que a Elis cantava: "O Brasil n�o conhece o Brasil...
Valeu a mat�ria!
Bruno
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