texto de Valéria
del Cueto
fevereiro de 2006
Eu
demoro, mas acabo pegando. Nem que seja no tranco. Foi mais ou menos assim que,
atendendo aos apelos de Enock Cavalcanti, editor do “deBrasília”, um dos sites onde publico
meus escritos, vim parar no Posto Nove, na praia de Ipanema, Rio de Janeiro.
O
argumento final partiu de minha mãe, uma praieira inveterada: “É que está quase
acabando o horário de verão. Termina
pelo meio de fevereiro”, comunicou ela à jornalista mais desinformada da praça.
Nossa!
O verão já dobrou o cabo da boa esperança para os turistas em geral. O carnaval
já está aí.... Não me incluo nesta categoria específica, pois adoro e tenho
acesso à praia em outras épocas do ano, então, não sofro tanto. Mas achei de
bom tom aproveitar o apelo da torcida e dar uma fiscalizada no point
Ipanemense.
DINASTIA
Bom,
point é maneira de dizer, se considerarmos a reunião de três gerações da
família no local. Afinal, que lugar é este, que abriga generosamente avó, mãe,
tia (eu) e as filhotas?
Pelo
que pude analisar, o mesmo freqüentado desde os trinta e poucos anos por minha
mãe, da adolescência pela Gisela e por mim e, agora, aplicado ás meninas desde
o nascimento. No Nove e adjacências tem espaço para todas as tribos e tendências
que queiram chegar. É igual a coração de mãe.
AGITO
Um
pouco violento, é verdade, se levarmos em consideração as incontáveis duplas de
frescobol, agora disputando espaço com os adeptos do altinho. Evolução dos
tempos, invasão dos subúrbios que praticam faz tempo a “novidade” do verão.
Paciência.
Um
pouco barulhento, com a disputa de ritmos e estilos entre dos equipamentos
sonoros das barracas enfileiradas.
Totalmente
lotado, se considerarmos o visual, por exemplo, do Leme. Onde a cor natural da
areia prevalece na paisagem. O Nove parece uma colcha colorida de retalhos
descombinados.
TRILHA
CEGA
Caminhar
em direção a água, outro exemplo, requer prática e bastante habilidade.
Achar uma trilha transitável entre cangas, barracas
e cadeiras, é o primeiro passo. E, muito cuidado, que o segundo passo, se não
for bem dado, pode encher de areia a vizinhança espremida.
A
partir das cinco e meia, não precisa mais se preocupar com o sol. É só pegar
carona no guarda sol a sua direita. Difícil por aqui é conseguir um lugar ao
sol.
A
conversa rola solta. É impossível não encontrar um conhecido, mesmo que você
não freqüente o trecho desde o século passado, o que não é meu caso.
TODOS
POR UM
A
princípio não há carentes no Nove. Se nada resolver sua crise apele e ataque um
pão com lingüiça do Uruguaio. Isso, depois de uma ou duas batidas de maracujá
trazidas pelo rapaz solícito da barraca do Joel. Tudo, do lado de cá do posto
(gente há um posto de salvamento no lugar, daí o nome).
Do
lado de lá, varia o nome do barraqueiro amigo e a exclusividade oferecida. Do
pão de queijo com catupiry pra frente e o céu é o limite...
COMEÇO
E FIM
O
Nove, entre outras particularidades, se locomove. Este ano, está no Coqueiro.
Já este no César Park, no Country, na Joana Angélica e no Sol de Ipanema. Não
adianta, no verão carioca, tudo acaba no Nove.
Cada
tribo com sua preferência: Macrô, japô,
mineirin, churras, imagine que aqui tem... Claro que a cerveja é quase uma
unanimidade, com biscoito Globo, queijo de coalho, esfirra do árabe, sanduba
natureba... Hi, alguém ofereceu uma caipirinha, aí?
Tudo
detalhe, tudo firula, o que faz deste, um local especial, não é a qualidade do
serviço. Contabilizem também o mar, o visual, as companhias.
Faça
sol, ou faça chuva (acho que exagerei), ninguém nega, aplausos, que o Nove
merece.
Este
artigo é dedicado ao Mickey, um freqüentador involuntariamente ausente. Que ele
se sinta presente. Sempre.
6 comentários:
Valeu a dedicatoria do artigo,
o 9 e tao encravado na minha psique que ele disputa com o Arpoador o espaco nos sonhos que tenho de manhazinha- aqueles mais vivos, quando o subconsciente esta exigindo tudo aquilo que voce precisa e a vida nao esta te dando.
Para completar o quadro menciono tambem a convivencia nas ondas entre surfistas, bodyboarders e praticantes do bom e velho jacare; a rede informal de informacao sobre o que acontece no underground carioca e as cenas de Tom & Jerry proporcionadas por nossos 'amigos de fe, irmaos camaradas' rastreando a areia atras da origem daquela estranha fumaca adocicada que esta sempre no ar na referida localidade.
Muito oportuno o artigo ja que o horario de Verao comecou aqui no velho estilo bretao: Cinza, molhado e cheio de vento.
E bom saber que em algum lugar existe um verao... que ja foi mas ainda e!
Bjs
Excelente artigo, Valéria! Faz mais de duas décadas que não piso nas areias ou mergulho no mar do Nove, mas seu artigo resgatou todas as lembranças arquivadas do tempo em que eu fazia Comunicação na UFRJ e ainda ia à praia. O Nove é um marco cultural da cidade! rsrs.
Beijo.
Juro que não foi de proposito quanto a data específica. Sorte de principiante, eu diria.
O sol brilha, o ano começa, o carnaval passou, mas dizem que vão fazer um outro, no meio do ano.
O Palocci caiu, a deputada do PT "sambou" (muito mal) no plenário da Camara Federal, quebraram o sigilo do caseiro.
Como você vê, além de existir um verão, existem outras coisas neste céu de brigadeiro que nos protege depois da chuvarada de ontem...
Beijos
Também fiz alguns periodos de comunicação na UFRJ nos idos de...
Brssrsr
Beijo
Oi delCueto, finalmente consegui me entender com o Multiply. Parece que o meu micro estava bloqueando algo no firewall(ou o firewall bloqueava algo no micro, se é que faz diferença...). Sabe a quanto tempo não vou à praia no 9? 25 ANOS!!! Até me esqueci como é lá! A última vez que me lembro estava comendo areia numa dupla de praia (ou seria uma quadra?) com colegas do Sto Inácio (é , eu estudei no Santo Inácio...). Mas uma coisinha não aguento em Ipanema, problema que não tinha aos 20 anos, pois carro também não tinha, se tinha não tinha gasolina: não consigo estacionar !!!!!
Beijo
Guga, Guga...
25 anos sem ir ao 9? Isso é coisa de estudante do Santo Inácio... Se você tivesse estudado no Andrews, pelo menos passava lá de vez em quando para dar uma conferida. quanto ao meio de locomoção. dá pra ver que você não é mais do ramo. que tal andar de bicicleta? qualque poste serve para amarrar a bichinha, ainda mais se for camuflada de velharia, como a que eu uso. costumo dizer que se algum ladrão leva-la é por que está precisando muuito. Mais até que eu e então a doação valeu a pena.
Bom, tudo isso pra dizer que espero que minha descrição do pedaço ainda corresponda às suas mais remotas lembranças, mesmo não residindo em Londres, como o Mickey.
Beijo
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