Sua vida está boa? O céu da sua rota de vôo está de brigadeiro? Já sei. É hora de algo dar errado, de você passar uma raiva básica. Hum... Está tudo tão bom que nada pode atrapalhar seu bom humor? Aqui, em Cuiabá é fácil quebrar esta escrita e transformar sua vida, rapidinho, num inferno.
Como? Pegue aquele pepino básico, tipo a atualização da documentação da sua antiga motocicleta e tente resolve-lo no inferno da terra no CPA, o Detran.
Na primeira ida pegue as tarefas da sua gincana. Na segunda, já acreditando ter nas mãos tudo o que é necessário para descascar o pepino em pauta, prepare-se para conhecer o purgatório do inferno, ou o inferno do purgatório, como preferir.
Pra começar, o que você quer, nunca é no prédio em que está. Mude de bloco, pegue um bronze, sinta o calor da terra. Depois, entre na fila e imprima a(s) guia(s) para pagar. Aí, você já vai descobrir que além da vistoria lacrada que veio do Rio de Janeiro, tem uma taxa de R$13,50 só para abri-la. É s tesourada mais cara do estado.
Tá bom? É claro que não. Esta tesourada da fortuna não é feita no mesmo prédio, sequer no mesmo bloco. Dirija-se ao galpão “atrás do matagal”, explica um funcionário, ombreado por um exemplar das dezenas de cartazes espalhados pelas várias salas, boxes e/ou guichês dos diversos setores do Detran com os seguintes dizeres:
DESACATO
Na primeira vinda ao distinto e prestimoso órgão pensei com meus botões, enquanto esperava para ser atendida: “Nossa, o povo deve ser muito esquentado pra ter tantos avisos destes espalhados”.
Hoje, depois de pagar a guia e fazer um footing até “atrás do matagal”, em pleno sol do meio dia (você sabe do que estou falando). e descobrir que são necessários 40 minutos para que o Detran reconheça o boleto das taxas pagas em espécie (o BB não aceita cheques de seus co-irmãos), ali mesmo, no posto bancário local, começo a entender que o recado era direto e certeiro para gente como eu, você, qualquer cristão não santificado.
Bom, 40 minutos assim, assim, por que o relógio do CEPROMAT não marca a mesma hora que os outros do país, seja lá em que fuso horário você se encontre. É diferente!
A espera é agravada pelas péssimas condições do tal galpão. Móveis detonados, infiltrações nas paredes. Um lixo. Certamente não é no conforto dos funcionários e usuários que a grana recolhida com as tesouradas milionárias está sendo aplicada.
O tempo voa... Menos para os 40 minutos determinados para a liberação dos documentos necessários para ( pasmem!) montar o processo. Isso quer dizer que somente uns três dias depois a licença será liberada.
A última notícia que me deram é que, apesar de haver passado mais de uma hora, a taxa não havia sido recolhida. Ainda. Ou seja: o comprovante de pagamento não tem validade no Detran! Ora, cá pra nós, que eu tenha cara de bandida, caloteira e cascateira, tudo bem, mas não aceitar o comprovante do próprio posto da instituição é demais. Como também é abuso que todos os usuários sejam tratados como possíveis sustadores de cheques, razão pela qual, não correntistas do BB têm que pagar os boletos em dinheiro vivo.
Perdi a fleuma, o bom humor e a esportiva. Chutei minha pouca paciência e estou pronta para ser detida. Acho que prefiro a pena de dois anos de prisão, pois a opção mínima de 6 meses não será suficiente para desopilar meu fígado desse labirinto de exigências para expelir o documento de trânsito solicitado.
Importante destacar e sublinhar: nada desse tormento tem a ver com os funcionários do órgão. Todos solícitos e solidários com o sofrimento da clientela. Eles, realmente, fazem o que podem. O X da questão está no modelo de gestão, na forma de estruturar o serviço, nos procedimentos adotados. Tudo a favor... de quem mesmo?
Por isso, fica aqui um desafio: que uma “otoridade” entre no Detran disfarçada de cidadão comum e percorra o trecho (longo e tortuoso) entre obter informações e chegar ao fim de uma tarefa automotiva no departamento em questão.
Vai chegar a triste conclusão de que no Detran de Mato Grosso, vale o ditado: “Povo é gado”. E não adianta mugir, por que mugir, aqui, está escrito: dá cadeia!
Como? Pegue aquele pepino básico, tipo a atualização da documentação da sua antiga motocicleta e tente resolve-lo no inferno da terra no CPA, o Detran.
Na primeira ida pegue as tarefas da sua gincana. Na segunda, já acreditando ter nas mãos tudo o que é necessário para descascar o pepino em pauta, prepare-se para conhecer o purgatório do inferno, ou o inferno do purgatório, como preferir.
Pra começar, o que você quer, nunca é no prédio em que está. Mude de bloco, pegue um bronze, sinta o calor da terra. Depois, entre na fila e imprima a(s) guia(s) para pagar. Aí, você já vai descobrir que além da vistoria lacrada que veio do Rio de Janeiro, tem uma taxa de R$13,50 só para abri-la. É s tesourada mais cara do estado.
Tá bom? É claro que não. Esta tesourada da fortuna não é feita no mesmo prédio, sequer no mesmo bloco. Dirija-se ao galpão “atrás do matagal”, explica um funcionário, ombreado por um exemplar das dezenas de cartazes espalhados pelas várias salas, boxes e/ou guichês dos diversos setores do Detran com os seguintes dizeres:
DESACATO
Art. 331 – Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela.
PENA – Detenção de 6(seis) meses a 2(dois) anos. Ou multa.
Valeria del Cueto é jornalista e cineasta
liberado para reprodução com o devido crédito
liberado para reprodução com o devido crédito
Este artigo faz parte da série Parador Cuyabano
4 comentários:
Ah... porcaria de burocracia. Quase o mesmo em todo lado. E um pobre cidadão impotente, que nem viagra resolve a questão. Rsssssssss...
Oras, a favor dos despachantes! Duvida de envolvimento deles com a politicagem para garantir que quem tenha dinheiro prefira pagar os serviços deles?
Nós vivemos no mundo encantado dos despachantes. Mas não só no deles. Por que além deles, quem "organiza" o despacho também leva sua "bola".
Pelo menos o (absurdo) crime de desacato poderá ser extinto, veja mais direto no Portal da Câmara dos Deputados.
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