domingo, 6 de junho de 2010

A última da Trip





A última da Trip


Texto e foto de Valéria del Cueto




Oce pensa que nois tomemo jeito, nois enganemo oceis. Fingimo que fumo mais vortemo oia a Trip aqui traveis!

Recordista em problemas, defeitos, falhas de comunicação e improbabilidades, este poderia ser o jingle da pior companhia que cruza o espaço aéreo nacional.
Sabe quando um trem começa errado e não tem meio de arrumar? É ela, recorrente e imutável. Sempre com uma desculpa esfarrapada para justificar a incapacidade de atender de forma razoável os incautos que embarcam na sua canoinha furada.

Eis me num novo entrevero. Desta vez no Santos Dumont, na última perna do pior negócio aeronáutico que fiz na vida. Mudou o estado, a cidade, o aeroporto, mas a Trip continua a mesma.

Me apresentei para o embarque marcado para as 18:35. Foi lá que descobri que deste 1 de maio o vôo passara para um novo horário: 19:45. É claro que, apesar de haver apresentado o e-ticket na ida, três dias antes, ninguém teve a gentileza de avisar a humilde passageira da alteração tripiana.

Um diligente funcionário explicou que haviam avisado a maioria dos incautos da mudança, mas alguns – oh, lei de Murphy – não haviam sido localizados. Não teve choro nem vela e a fita da Trip, que já estava pra lá de suja, esgarçou e se desmanchou de vez quando ele  disse que meu celular de contato estava desligado no dia 20, ás 14:20.

A Trip mente, mente, mente. Entre as chamadas não atendidas registradas no  aparelho, lá estava a dita cuja. O celular havia tocado uma única vez e quando tentei retornar a ligação vi que ela havia se originado de um número incompleto. Assim: 0313055... e só. Tentei explicar que um toque só não faz verão e um número incompleto não permite o retorno da chamada. Uma das moças explicou que “é para não saberem de onde ligamos”. Ah, hã... Igualzinho aos seqüestradores e bandidos que chantageiam a gente de números desconhecidos e incompletos, aqueles que as operadoras e a polícia recomendam que não atendamos para não dar chance ao azar!  

Fiquei pasma diante de tamanha eficiência e celeridade. E continuei estática ao saber que o maladeto vôo estava ... atrasado! Pousaria na hora que deveria estar saindo e sairia, soube-o depois, com mais uma hora de lambuja.

Tempo suficiente para tentar localizar a reclamação 58238 feita no SAC da Cia dia 27 de abril e jamais respondida, nem nos 4 dias previstos, nem no mês inteirinho que passou. Claro que, apesar de ajuda de um antigo e experiente funcionário, não obtive nenhum resultado.

Caros leitores, é comovente a solidariedade de alguns bons profissionais dos aeroportos, mas no sentido prático, sabem para que eles servem? Niente. Somos gado e como tal nos tratam.

Mais um exemplo? No painel de partida do aeroporto descobri que não era a única trouxa que desconhecia a alteração do vôo. Lá estava marcado: TRIP: Voo 5500 partida 18:35 portão 7. Isso 24 dias depois da mudança do vôo...

No portão anunciado, a aeronave não estacionou. Na hora prevista para o embarque, fomos direcionados para o portão 12. Do luxo do finger para o lixo do ônibus, apenas uma corrida por meio aeroporto, no más...

Ainda havia outra surpresinha: nem chicken, nem beef. Nem as aeromoças nem os passageiros conseguiram identificar a “carne” servida na refeição a bordo. Segundo a comissária, em alguns aeroportos não há informação sobre o menu servido a bordo. Você, como eu, é alérgico? Fique com fome!

Graças a Deus esse foi meu último bilhete do pacote de ilusões e desencontros desta que não é, definitivamente, uma companhia aérea séria. Como gestora, um conselho que não é de graça por que paguei muito caro para ter moral para dá-lo: parem, reorganizem, ou desistam. Hoje, viajar por essa empresa é uma fria que ninguém merece!


* Valéria del Cueto é jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Este artigo faz parte da série Parador Cuyabano, do SEM FIM http://delcueto.multiply.com