Sobreviver é preciso!
Abstrair e filtrar são os segredos de hoje. Ou vice versa. É um exercício de sobrevivência. Esteja onde estiver, faça o que fizer, selecione. Como acontecia com um velho amigo que se dizia surdo. Mas, na prática, só ouvia o que queria. E bem!
Se a praia está cheia por que é feriado, faz um sol radiante e o Rio Janeiro resolveu ir ao Leme, não desista do programa. Junte-se a multidão e abstraia. Filtre os sons e os movimentos que te interessam.
No meu caso, fica somente o ruído do mar. O vai e vem das ondas.
E, se for seu dia de sorte - como parece ser o meu - dois minutos depois da suprema decisão de ficar em meio a farofa reinante e do cerimonial de arrumar a canga, tirar a saída de praia (que coisa antiga! Estou de short e camiseta), sacar a caneta, o bom e velho caderno, ainda em pleno exercício, e começar a escrivinhação, o ajuntamento com direito a várias cadeiras, dois guarda-sóis e uma geladeira de isopor se dissolverá em pleno ar em busca de um almoço.
Abrir-se-á ali um generoso e amplo espaço, bem na beirinha da água, todinho pra você.
Não é lenda. Acontece. Acaba de acontecer comigo, o que me fez mudar um pouco o rumo da prosa. Mas não muito.
Abstrair, filtrar, mas não entregar a rapadura. Nem o Pantanal.
Foi envergonhada que vi uma matéria nacional sobre as Pequenas Centrais Hidroelétricas – PCHS, agora alvo de uma CPI na Assembléia Legislativa de Mato Grosso. Com indignação vi dizerem, em nome do governo do Estado que “Nós precisamos de estudos científicos, de algo concreto afim de que possamos mudar procedimentos”. Que falta de conhecimento sobre estes e outros temas referentes ao efeito de inúmeros represamentos e mudanças hidrográficas nos rios que formam a bacia do Paraguai e, consequentemente, o Pantanal...
Bastaria uma longa e única conversa com o ex-responsável pela Defesa Civil do Estado, o senhor Domingo Iglesias, para que o entrevistado parasse de falar asneiras.
A aula, meus caros, é impossível de ser ministrada. Todo mato-grossense de boa estirpe sabe o que aconteceu com o mestre, após ser dispensado pelo ex-governador. O mesmo que alargou os caminhos para as atrocidades cometidas contra o meio ambiente.
Onde está o Zoneamento Antrópico Ambiental de Mato Grosso, aquele encaminhado por Dante de Oliveira? Quem se anima a compará-lo com a peça aprovada pela Assembléia, quase uma década depois?
Abstraiam, filtrem, sobrevivam. Mas cientes que estamos vendo acontecer crimes ambientais irreparáveis, patrocinados por cúmplices irresponsáveis da destruição de um Patrimônio Ecológico da Humanidade, o Pantanal.
Lembrem-se: neste caso, ao contrário do exemplo da praia, ninguém abrirá mão de sua posição privilegiada em troca de um almoço a beira-mar. Os predadores, dispostos a exaurir o bem de todos em troca de uma possibilidade de lucro financeiro, destruirão apenas para juntar mais uns trocados. Como se já não tivessem o suficiente...
* Valéria del Cueto é jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Esta crônica faz parte da série Parador Cuyabano, do SEM FIM http://delcueto.multiply.com
Texto sem foto de Valéria del Cueto
Abstrair e filtrar são os segredos de hoje. Ou vice versa. É um exercício de sobrevivência. Esteja onde estiver, faça o que fizer, selecione. Como acontecia com um velho amigo que se dizia surdo. Mas, na prática, só ouvia o que queria. E bem!
Se a praia está cheia por que é feriado, faz um sol radiante e o Rio Janeiro resolveu ir ao Leme, não desista do programa. Junte-se a multidão e abstraia. Filtre os sons e os movimentos que te interessam.
No meu caso, fica somente o ruído do mar. O vai e vem das ondas.
E, se for seu dia de sorte - como parece ser o meu - dois minutos depois da suprema decisão de ficar em meio a farofa reinante e do cerimonial de arrumar a canga, tirar a saída de praia (que coisa antiga! Estou de short e camiseta), sacar a caneta, o bom e velho caderno, ainda em pleno exercício, e começar a escrivinhação, o ajuntamento com direito a várias cadeiras, dois guarda-sóis e uma geladeira de isopor se dissolverá em pleno ar em busca de um almoço.
Abrir-se-á ali um generoso e amplo espaço, bem na beirinha da água, todinho pra você.
Não é lenda. Acontece. Acaba de acontecer comigo, o que me fez mudar um pouco o rumo da prosa. Mas não muito.
Abstrair, filtrar, mas não entregar a rapadura. Nem o Pantanal.
Foi envergonhada que vi uma matéria nacional sobre as Pequenas Centrais Hidroelétricas – PCHS, agora alvo de uma CPI na Assembléia Legislativa de Mato Grosso. Com indignação vi dizerem, em nome do governo do Estado que “Nós precisamos de estudos científicos, de algo concreto afim de que possamos mudar procedimentos”. Que falta de conhecimento sobre estes e outros temas referentes ao efeito de inúmeros represamentos e mudanças hidrográficas nos rios que formam a bacia do Paraguai e, consequentemente, o Pantanal...
Bastaria uma longa e única conversa com o ex-responsável pela Defesa Civil do Estado, o senhor Domingo Iglesias, para que o entrevistado parasse de falar asneiras.
A aula, meus caros, é impossível de ser ministrada. Todo mato-grossense de boa estirpe sabe o que aconteceu com o mestre, após ser dispensado pelo ex-governador. O mesmo que alargou os caminhos para as atrocidades cometidas contra o meio ambiente.
Onde está o Zoneamento Antrópico Ambiental de Mato Grosso, aquele encaminhado por Dante de Oliveira? Quem se anima a compará-lo com a peça aprovada pela Assembléia, quase uma década depois?
Abstraiam, filtrem, sobrevivam. Mas cientes que estamos vendo acontecer crimes ambientais irreparáveis, patrocinados por cúmplices irresponsáveis da destruição de um Patrimônio Ecológico da Humanidade, o Pantanal.
Lembrem-se: neste caso, ao contrário do exemplo da praia, ninguém abrirá mão de sua posição privilegiada em troca de um almoço a beira-mar. Os predadores, dispostos a exaurir o bem de todos em troca de uma possibilidade de lucro financeiro, destruirão apenas para juntar mais uns trocados. Como se já não tivessem o suficiente...
* Valéria del Cueto é jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Esta crônica faz parte da série Parador Cuyabano, do SEM FIM http://delcueto.multiply.com
3 comentários:
Be aware we just blew the head of Ben Laden careful
Valéria, é com muito orgulho que leio essa crônica. Orgulho para nossa família e para todos os matogrossenses. Realmente Domingos Iglesias , meu pai, fez estudos e pesquisas a respeito das mudanças hidrográficas e viabilidades,os impactos ambientais de represas; apresentou para o Governo do Estado de Mato Grosso, ao Governo Brasileiro na época Presidente Figueiredo e a Universidade Federal de Mato Grosso. Basta vontade política e estudos científicos aprimorados embasados nos estudos anteriores de técnicos gabaritados e a aplicação correta dos recursos finaceiros para a preservação do meio ambiente aliada ao avanço tecnológico e bem estar de todos.Obrigada.
Norma Cristina Boehler Iglesias Araujo
Aprendi muito com ele, Norma.
Tive o privilégio de entrevista-lo várias vezes e ter conversado muito sobre a bacia hidrográfica do Rio Paraguai antes de fazer a viagem de Cáceres a Corumbá que virou o curta História Sem Fim ... do rio Paraguai - o relatório. Suas informações foram preciosas para que pudessemos realizar o projeto.
Sempre tenham em mim uma divulgadora do trabalho excepcional que Domingo Iglesias realizou na Defesa Civil de Mato Grosso. Trabalho disponível a todos os que tiveram sensibilidade e interesse em ouvir o que ele tinha para dizer.
Obrigado por suas palavras gentis.
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