Que remédio?
Texto e foto de Valéria del Cueto
Preparou-se cuidadosamente. Sabia que o tempo desperdiçado incomodaria profundamente sua mente a mil por hora. Portanto, muniu-se do necessário para evitar o colapso eminente.
Conhecia a cura para seus males. Milagrosa, diga-se de passagem. Um bom livro resolveria seus problemas. De preferência um que levasse para bem longe. Se possível, no tempo e no espaço.
Fuçou a livraria de alto a baixo, detestando a mania serial tão em voga atualmente. Queria algo que começasse e terminasse num único volume. Tarefa complicada que levou um tempo razoável.
Voltou para a casa contente, ciente que parte de seus dramas ficariam esquecidos. Seu conflito espacial, que tanto mal fazia à sua personalidade existencial, trocado por outros cenários, outras cidades, países, culturas. O necessário para recuperar sua - já se sabia - prejudicada auto-estima no período crítico. A leitura compulsiva seria o santo remédio.
Não agüentou esperar os sintomas se manifestarem. Virou ladrão das emoções e aventuras dos personagens tão logo desabou no seu espaço reduzido. Adiando compromissos, cancelando encontros, trocou a duvidosa realidade pela certeza de um final qualquer.
Andou por Sidney, na Austrália, Bósnia, Viena, Florença, na Europa e... virou a página.
Branco. Em branco. Ambas. Amarelas pra falar a verdade e sem a tinta, a que faz o caminho dos livros andarem, e as palavras que formam desenhos como trilhas de formigas que se cruzam entre as linhas, antes de revelarem seu conteúdo codificado pela linguagem. Nada.
Virou mais uma folha. Normal. Checou a numeração. Vã esperança, ausência. Dispôs-se a seguir em frente que a estória esperava impaciente sua decisão para prosseguir seu curso natural. Embarcou de novo, até...
Virar a página e nada, novamente. Contrariedade à parte resolveu checar o restante do volume.
Intermitentes, intransigentes, lá estavam outras lacunas. Várias, muitas. Impossibilitando a continuação da viagem e, conseqüentemente, o tratamento. Aquele, pretendido inicialmente.
O caos se aproximava. Antes do desastre total, correu à livraria, para trocar o livro e recomeçar de novo.
Teve que esperar o horário. Quando chegou descobriu que o comércio estava fechado, só a praça de alimentação e uma loja de departamentos funcionavam. Era o feriado.
No fundo da loja, uma estante de bestsellers: auto-ajuda, culinária e... séries.
Desistiu e, rendido às circunstâncias, ainda carregando o objeto da troca frustrada, se dirigiu ao caixa com o primeiro de vários livros, tipo saga mesmo.
Era tarde...
O valor da capa não foi o registrado na máquina que, é claro, cobrou a mais. A discussão nem começou. Valia o preço estampado na etiqueta que maculava a arte do impresso. Mas o cartão de crédito havia sido passado. Valor estornado, o atendente não quis entregar o recibo não assinado. Supervisor acionado, este se recusa a solucionar o problema.
Resumindo: o mal estava feito. O pau quebrou e o remédio perdeu a eficácia.
Que assim seja! Ele bem que tentou. É hora de partir pra dentro e fazer sua história. O Egito pode esperar...
* Valéria del Cueto é jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Esta crônica faz parte da série Parador Cuyabano do SEM FIM http://delcueto.multiply.com
3 comentários:
Thank you Valeria.......have a nice day!
thank you
Prepared carefully. He knew that the time wasted deeply troubled his mind a mile a minute. Therefore, mustered up is necessary to avoid imminent collapse.
He knew the cure for their ills. Miraculous tell by the way. A good book would solve their problems. Preferably one that would lead to far. If possible, in time and space.
Rummaged the shop from top to bottom, hating mania serial so in vogue today. I wanted something that began and ended in a single volume. Complicated task that took a reasonable time.
Went home happy, knowing that some of his plays would be forgotten. Your space conflict, which did much harm to your personality existential exchanged for other scenarios, other cities, countries, cultures. The need to recover your - already known - impaired self-esteem during the critical period. The compulsive reading would be the holy medicine.
I can not wait to manifest symptoms. He turned thief of emotions and adventures of the characters as soon collapsed in its small space. Postponing appointments, canceling meetings, changed the dubious reality for sure one end whatsoever.
He walked through Sydney, Australia, Bosnia, Vienna, Florence, in Europe e. .. turned the page.
White. In white. Both. Yellow to tell the truth and without ink, which makes walking the way of books and drawings that make up words like ant trails that cross between the lines, before revealing its contents coded by language. Nothing.
He turned over a leaf. Normal. Did you check the numbers. Vain hope, no. Was prepared to move on that the story was impatiently awaiting his decision to pursue its natural course. Embarked again, until ...
Turn the page and nothing again. Upset the party decided to check the rest of the volume.
Intermittent, intransigent, there were other gaps. Many, many. Preventing the continuation of the trip and therefore treatment. That, initially intended.
The chaos approached. Before total disaster, went to the bookstore to exchange the book and start again.
He had to wait the time. When it was discovered that the trade was closed, only the food court and a department store work. It was the holiday.
In the back of the store, a shelf of bestsellers: self-help, cooking e. .. series.
He gave up and surrendered to the circumstances, still carrying the object of exchange frustrated, went to the box with the first of several books, the same type saga.
It was late ...
The value of the cover was not registered on the machine, of course, overcharged. The discussion to get started. It was worth the price printed on the label that marred the art form. But the credit card had been passed. Amount reversed, the attendant would not deliver the unsigned receipt. Supervisor thrown, this refuses to solve the problem.
In short, the damage was done. The stick broke and the drug lost its effectiveness.
So be it! He tried that as well. It's time to go inside and make your story. Egypt can expect ...
* Valeria del Cueto is a journalist, director and manager of the carnival. This chronicle is part of the series Parador cuyabana ENDLESS http://delcueto.multiply.com
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