E ai, tá todo mundo?
Texto e foto de Valéria del Cueto
A pergunta vem enquanto procuro a ponta. Não a Leme
que me abriga, mas desse extenso fio que passa pelo tear do meu carnaval de
imagens e crônicas nos últimos 3 anos, a partir de quando, depois de fotografar
desde 2005 os desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, no sambódromo
carioca, tive o prazer e a confiança dos responsáveis por umas das fábricas de
sonho que criam e constroem os carros alegóricos, adereços e fantasias
apresentados na avenida, de começar a fotografar este imenso trabalho.
Quem assiste ao espetáculo ao vivo ou pela TV não
tem noção do tempo, esforço e organização necessários para encantar os olhos e
demais sentidos das dezenas de milhares os foliões presentes na Passarela do
Samba e dos milhões que acompanham a festa pelas imagens daqui geradas!
Cheguei a Mocidade Independente de Padre Miguel
pelas mãos do destaque Maurício de Paula, meu colega na primeira turma de
Gestão Carnavalesca, a inédita faculdade de Carnaval da Universidade Estácio de
Sá. Foi ele que me apresentou ao carnavalesco Cid Carvalho, responsável pela
criação e desenvolvimento do enredo da escola verde e branca, em 2011.
Queria uma autorização para registrar a confecção
de uma única fantasia, a de destaque do Maurício. Sabendo que o barracão é um
local quase sagrado por guardar os segredos que serão apresentados em
primeiríssima mão no dia do desfile o apoio de Cid era essencial, afinal o
trabalho era dele. Como foi dele que veio o desafio de tentar fazer um registro
geral do barracão. Como eu quisesse!
Ele abriu, com a anuência do presidente da escola,
Paulo Vianna e dos diretores de carnaval e de barracão, as portas de um
incrível mundo em construção que pude acompanhar a cada semana, durante os
meses que antecederam o carnaval de 2011.
Mas afinal do que falamos?
Imagine uma história, um libreto narrado numa ópera
em movimento. Cada escola de samba, por 80 minutos desfila apresentando para o
público seu enredo do ano embalado pelo samba cantado pelos aproximadamente
4.000 componentes acompanhado por uma bateria de 300 ritmistas tocando
instrumentos de percussão.
Falo do Sambódromo Darci Ribeiro, projetado pelo
arquiteto Oscar Niemeyer, na Marques de Sapucaí, centro do Rio de Janeiro. A
Passarela do Samba, inaugurada em 1984, onde as 12 Escolas de Samba do Grupo
Especial do Carnaval do Rio de Janeiro desfilam no domingo e na segunda feira
de carnaval e protagonizam a maior festa popular do mundo.
São em média 4.000 componentes, divididos em alas,
distribuídas em setores narrativos, que se encerram com os carros alegóricos.
A escola é apresentada ao público por sua Comissão
de Frente seguida pelo Abre Alas, saudando o público e pedindo passagem. Atrás
dela, os elementos podem alternar sua ordem, mas sempre estão presentes o
mestre-sala e a porta bandeira, conduzindo o pavilhão da escola, as alas das
baianas, representando a tradição da comunidade, assim como a velha guarda – ambas reverenciadas pela herança cultural popular que
deixam para as novas gerações do samba e do carnaval; as
alas dos passistas - com seu gingado especial -, a das crianças e muitas
outras, num total que varia de escola para escola, mas gira em torno de 50
alas.
A bateria, comandada por seu mestre e seus
diretores é apresentada pela rainha, que desfila a frente dos 300 ritmistas.
São os instrumentos que cadenciam o canto da nossa ópera a céu aberto.
O enredo proposto é descrito através das fantasias
e alegorias e narrado pela música e a cantoria que toma a avenida e contagia as
arquibancadas, frisas e camarotes.
*Valéria del Cueto é jornalista, cineasta e gestora
de carnaval. Esta crônica faz parte da série “Ponta do Leme” do SEM FIM. delcueto.cia@gmail.com
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