Texto e foto de Valéria del Cueto
E assim, no meio do quase tudo, em que nada é
estático ou irremovível como pudemos ver nos últimos dias no arrasa quarteirão
do bairro mais chique do Rio de Janeiro, lá (ou aqui?) está a cronista.
Sem saber se vai ou vem. Fala, age ou vai pra
praia, corre ou enfrenta seu desafio semanal de contar um conto, de preferência
sem aumentar um ponto. Complicado. Delicado. Porém, necessário.
E entre tantas possibilidades, por mais que
procure um assunto lúdico e ameno, as imagens do passeio treme terra dos vândalos
e liberação do quebra-quebra, provocados pela ausência eficaz de ação policial,
não saem da cabeça (ia dizer do foco, mas seria uma licença “vídeo produtiva”
forçada demais, já que foco não foi uma constante no material amplamente
distribuído ao vivo e a cores durante os atos registrados nos últimos dias).
Apreendo tudo ali pensando que, se ainda não
chegamos aos tempos de “Matrix”, as projeções de “Soylent Green”, filme
estrelado em 1973 por
Charlton Heston, dirigido por Richard Fleischer,
já batem a nossa porta. No
Brasil o filme foi rebatizado de “No mundo de 2020”. Pois então, tirando o
efeito alimentar, já estamos quase lá...
Não
é por acaso que menciono esse filme. Também não sou a única a fazê-lo. A obra que
assisti com uns 14 anos é citada e relida no filme “A Viagem”, estrelado por
Tom Hanks, disponível em qualquer locadora.
Se fosse só cinema...
E aí
chego à questão principal dessa crônica. O que está acontecendo com a polícia,
especialmente a carioca, nas últimas manifestações? Parece que dos manuais dos
valorosos homens do Bope e do Choque foram extirpados os ensinamentos
apresentados à sociedade, inclusive pelo cinema, nos espetaculares Tropa de
Elite 1 e 2. Mas esses, obedecem ordens!
Não
é possível que alguma lavagem cerebral tenha apagado das mentes das autoridades
policiais constituídas táticas clássicas de guerra tão antigas como as usadas
desde os tempos de Esparta e Atenas e do gênio militar da Macedônia, Alexandre
o Grande.
As cenas da coletiva dos representantes do
governo estadual do Rio de Janeiro, na quinta feira, exaustivamente
disseminadas em enormes matérias pelas redes concessionárias de televisão,
foram patéticas, constrangedoras e preocupantes.
Um comandante reclamando que os policiais
recebem cusparadas durante as manifestações é surreal! Agradeçam e digam amém.
Se fosse numa guerra, seriam atiradas balas de verdade e não escarros de desprezo.
A declaração de que policiais treinados durante anos também são cidadãos é uma
balela. Se eles fossem cidadãos, estariam do lado oposto desse cabo de guerra. Estão
ali e são tratados pelas autoridades como máquinas da lei e da ordem. Não têm
direito a opinião, só a obedecer. E seu comandante em chefe, pasmem, é Cabral!
Os depoimentos colhidos pelos ninjas alertam
que os policiais militares estão trabalhando direto. Um deles, disse que estava
na rua desde 6 da manhã. Isso já durante a madrugada! Se não me engano, foi no
dia em que o gás lacrimogênio ou de pimenta foi atirado em direção a um
hospital, na rua Pinheiro Machado, em frente a residência oficial do
governador.
Falta tática, estratégia e comando para
definir as prioridades. A polícia que protege, agora, a casa do governador
Sérgio Cabral no Leblon, não pode “delimitar um perímetro de proteção” e deixar
que as coisas saiam e fiquem fora de controle do lado de fora da risca de giz
definida pelas autoridades que, em última análise, deveriam fazer com que a PM cumpra
seu papel constitucional de proteger o cidadão comum e o patrimônio público.
*Valéria
del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte
da série “Ponta do Leme”, do SEM FIM... delcueto.wordpress.com
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