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terça-feira, 22 de julho de 2025

Achados e sempre encontrados

Achados e sempre encontrados

Texto e foto  Valéria del Cueto

É com letrinhas apertadas e diminutas que desenho esse texto fim de caderninho. É assim ou terei que inaugurar uma nova prática depois de tantos cadernos findos de escrevinhação. A de começar uma crônica num volume e termina-la inaugurando um novo caderninho.

Vim tão distraída que nem reparei as poucas páginas que faltavam para passar deste para um igual, com capa diferente. O que não poderia ser melhor. Do jeito que está, está bom demais!

Estabelecida e registrada a troca do suporte em que resenho a vida que vai passando por essas crônicas, vamos ao conteúdo da vez.

Não me refiro as novidades que atravessam o cotidiano, mas a seleção dos papéis e badulaques que vou acumulando entre as folhas e a capa do caderninho que se vai e o que seguirá para o próximo.

Sempre rola uma limpa no que está engordando e dificultando o escrevinhar. A saber e pela ordem das descobertas exploratórias no montinho de lembranças:

O cartão da advogada que está cuidando da cruzada da aposentadoria (essencial até a conclusão, ainda sem previsão, do processo); um roteiro base das atualizações a serem feitas no site carmnevalerio.com; o panfleto dos serviços fotográficos onde preciso mandar fazer a manutenção do equipamento; uma receita tábua de salvação do antibiótico em caso de urgência (é só não a ter por perto que dá ruim).

Inclua na lista meus adesivos preferidos, os que nunca colo nos caderninhos que vão passando por mim. De uma loja de tatuagem; da Harley Davidson; do Caipirinha Appreciation Society, o podcast de música brasileira comandado pelo meu irmão MdC Suingue e Kika Serra, baseado em Barcelona e os urgentes mis para coisas urgentes.

Um cartão cogumelinho lindo que ganhei na praia, em Ipanema, e dois postais com fotos de vitórias-régias do pantanal de Cáceres da divulgação do projeto “História Sem Fim... do Rio Paraguay – o relatório” (pra me lembrar que ainda tem muitas aventuras pra contar dessa viagem).

Também encontrei uma relação de nomes de artistas do carnaval que trabalharam e beberam na fonte de Severo Luzardo, carnavalesco uruguaianense que brilhou em escolas de samba do Rio de Janeiro e de sua cidade, na fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. Ela foi feita para uma matéria que ainda não terminei sobre sua trajetória. Dela fazem parte: Guilherme Estevão, André Rodrigues, Rodrigo Meiners, Clebson, Tarcísio Zanon e Júnior Pernambucano. (A primeira providência a respeito para retornar o assunto será atualizar a lista das escolas onde os carnavalescos estão atuando pelo Brasil).

Entre os papéis, aparecem duas notas fiscais de limpeza e materiais fotográficos (essas podem ser descartadas, são de 2020!)

A próxima folha são planos de um sonho, agora, impossível. Um mega giro pela Grécia, Itália e Espanha, com uma passada em Amsterdã, abortado anos atrás, em cima da hora, por motivo de força maior. Nunca se sabe, vai que se abra uma nova janela de oportunidade.

Finalizando, caiu a ficha com a série de ginástica que sempre carrego comigo, caso a memória de atleta de academia falhe ou fique com preguiça. Basta abrir o caderninho, olhar a ficha que meus músculos vibram de vontade de malhar...

De tudo isso, pensando bem, só vou dispensar as duas notas fiscais e um dos cartões de visita porque está duplicado.

O restante, junto com o saquinho plástico da lente de aumento de máquina fotográfica (charmosa, mas que nunca lembro de juntar aos achados e sempre encontrados) e um imã marcador de páginas com caracteres japoneses, seguirá pra próxima morada entre a última folha e a contracapa do caderno que iniciarei daqui a quinze dias, caso consiga manter (o que pretendo) o ritmo das crônicas.

Dando esse texto por encerrado considero vencido o desafio de não cair na tentação de ser mais uma a tentar destrinchar os eventos relativos aos últimos acontecimentos nacionais e internacionais.

Não por incompetência, mas por reconhecer a incapacidade coletiva de previsões sobre suas consequências no que diz respeito, por exemplo, a guerra tarifária com os EUA.

No más, diante do viés politico que a mesma tomou, só posso dar minha humilde sugestão, finalizando esse texto com uma hashtag recorrente: #SEMANISTIA

Ela diz tudo!

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Da série “Não sei onde enquadradrar” do SEM FIM...  delcueto.wordpress.com


Studio na Colab55

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Pensamento escrito

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Pensamento escrito
Dias antes e a fazeção da semana já começa a interferir na forma de pensar desta cronista.
A busca pelo tema, a escolha da melhor linha a explorar diante das possibilidades das séries do Sem Fim... e suas características. Contemplativas para “Ponta do Leme” e “Arpoador”, carnavalescas da “É Carnaval”, as alegóricas “Fábulas Fabulosas” dedicadas ao incrível noticiário capturado pelo  extraterrestre e as aventuras da floresta e seu reino animal. Tudo vai para o prato para ser pesado na balança criativa.
As possibilidades que vão surgindo começam a ser - uma (sorte grande) ou (quase sempre) muitas - escritas em pensamento, numa caligrafia imaginária no caderninho irreal. É preciso afinidade.
Quando a ideia se sustenta vai se acomodando, desvendando seus argumentos, atiçando a curiosidade sobre possíveis informações pertinentes. Se espalhando pelos cantos da memória a ponto de deixa-la quase sorumbática de tão concentrada.
O pensamento escrito vai ocupando espaço na mente e diante desse turbilhão envolvente ou da escassez avassaladora de opções uma utopia sempre surge: o dia em que bastará pensar para que o pensado se transmute automaticamente em escrita. Não precisa de perfeição, apenas das referências principais.
É, porque no caso dessas crônicas, em sua maioria, ainda rola a dupla jornada de escrevinhar no caderninho da vez - num lugar, se possível, especial para o bem (Ponta do Leme, Arpoador) ou para o mal (fila de banco, sala de espera) para, depois, digitar no computador. É muito para um singelo e despretensioso texto!
O pensamento escrito é tão poderoso que faz o “dominado” esquecer o entorno para tentar recapturar o que rascunhou a caminho da praia ensolarada no feriado de outono. A palavra pensada no último quarteirão da Bulhões de Carvalho, no pé do túnel da Barata Ribeiro, em Copacabana, início desse texto, sobrepuja até a música executada no violão dois bancos adiante, já na ponta do Arpoador quase na pedra.
“Hoje o samba saiu, procurando você. Quem te viu...”
O chamado é quase irresistível, mas ainda não o suficiente para desviar a atenção do desenrolar da crônica.
“É linda essa música” diz o tio para o sobrinho que se prepara para um mergulho com cara de quem não tem a menor ideia do que se trata o cantaroladar pelo mais velho.
O pensamento escrito começa a falhar distraído pelo sentido traidor da audição. Atraído e embalado pelo ponteio do violão, busca as notas para identificar o solo dedilhado, início de uma nova canção.
Quase como o pensamento escrito abandonado ele também não deu em nada e o cantor violeiro mudou o rumo da música, como quem muda o rumo da prosa. Assim, sem maior cerimônia.
Tão frágil e insegura é a linha da inspiração que conduz esse alinhavar de meias ideias e alguns ideais, essencial para subtrair da realidade a cronista que se esforça para satisfazer sua sede de contar.
Mesmo que no embalo de “Amigo é para essas coisas”, o diálogo dos amigos se encontram no desencontro da  vida. “Na morte a gente esquece. Mas no amor a gente vive em paz... O apreço não tem preço, Eu vivo ao Deus dará...”
E foi por ele. Ou o sol, a praia ou o mar e o feriado que me trouxera  para cá com a incumbência de todas as crônicas, que acabaram trançados pedaços de histórias, memórias repartidas. Pensamentos semeados em duas laudas publicadas a cada semana e colhidos por você, caro leitor. A quem só tenho a agradecer a paciência e  permanência. Bom feriado!
* As músicas citadas são “Amigo é para essas coisas e “Quem te viu, quem te vê”, de Chico Buarque
**Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Arpoador”, do SEM   FIM…  delcueto.wordpress.com
E3- ILUSTRADO - SABADO 06-06-2015
Edição Enock Cavalcanti
Diagramação Nei Ferraz Melo