domingo, 16 de julho de 2006

LAS COSAS PINTAN


 


 


 


 


 


 


LAS COSAS PINTAN


 


 


texto e foto de Valéria del Cueto


fevereiro  de 2006


 


Hoje não é sexta, é sábado. Não é verão, é outono. Três da tarde, praia vazia, parece que hoje é ontem.


 


A previsão é de qu está chegando uma frente fria. Neve em São Joaquim, geada no sul. O dia amanheceu nublado, com cara de rendido. Braços abertos para o mau tempo previsto.


 


Só que, aqui é o Rio, de janeiro e as coisas nem sempre são como devem ser. Basta um sopro, um vento de “través” e lá se vai o que era óbvio e, teoricamente, inevitável.


 


No início da tarde saí para dar uma volta: calça de moleton, camisa de algodão de manga comprida. Modelo básico para uma voltinha clássica pelo bairro.


Café no copo com pão com manteiga na chapa, na padaria da esquina, a Duque de Caxias, uma passada rápida na banca do santo para olhar as capas das revistas semanais, depois a esticada ao banco eletrônico para sacar um troco para o final de semana.


 


No meio do caminho, aquele imponderável citado no início deste texto, se manifestou: a brisa virou vento e quando dobrei a esquina da Antônio Vieira, em direção a agência bancária da Atlântica, já sabia que a ventania havia mudado o panorama e minha rota também.


 


Adivinhem? Hoje é sábado, meio da tarde, e estou aqui. Sempre. Quase dona do pedaço. Dividindo este enorme latifúndio praiano com poucos outros que, como eu, acreditam no aproveitamento extremo e permanente do sol que nos aquece.


Como nós, o mar está calmo na Ponta do Leme. Também espera a virada do tempo, mas agradece o refresco, a pausa revigoradora, antes da tempestade... Os sinais estão a nossa volta. No horizonte, ao sul, a bruma antecede as nuvens mais pesadas.


 


Se fosse em Mato Grosso, no cerrado ou no pantanal, o céu estaria vermelho. Prenúncio de mudança brusca no tempo.


 


No Rio é assim. Nem pule é dez. Tudo pode se transformar, ser reinventado, reinterpretado. Estamos acostumados a enfrentar o inexplicável: seja no futebol, onde subitamente nos descobrimos com dois times cariocas na final da Copa Brasil. E logo quais: Flamengo e Vasco.Seja na guerra declarada que assola São Paulo, expande seus boatos até o Rio, mas não causa maiores danos.


 


Ouvi dizer que o que nos salva é a pluralidade. Em São Paulo, manda o PCC. Aqui, as facções são várias e não se entendem, portanto não se coordenam, deixando de ter assim, o poder de fogo concentrado da organização paulista.


O que dizer? Vive la diference. Pelo sim, pelo não a cada ameaça ou boato, fecha universidades, o comércio, a polícia desaparece das ruas e tudo continua como antes.


 


É a brisa, é o vento de vez em quando a tempestade. Mas nenhum deles deve fazer com que percamos o olhar, a oportunidade e o sentimento. Basta uma mudança imprevista na meteorologia prevista, para que apareçam o sol e a chance de termos a oportunidade de aproveitarmos momentos como este, que me trouxe à Ponta de Leme e nos levaram até você.


 


Valeria del Cueto é jornalista e cineasta
liberado para reprodução com o devido crédito


http://delcueto.multiply.com


Este artigo faz parte da Série "Ponta do Leme".

3 comentários:

Neusa Barbosa disse...

Valeria amiga, quanto tempo...
vc tá boa, estou vendo.
aí no Leme, perto do mar, tudo fica melhor, até um vento de través...
até porque o mar consola, o mar ouve, e o sol, em aproveitamento máximo, sempre aquece.
Também acredito no aproveitamento máximo das mínimas fagulhas do sol.
Porque inverno, na minha cartilha, é um mal desnecessário - exceto pros fabricantes de casacos, é claro.
Para nós, comuns mortais de pele com pouco pelo, o melhor mesmo é uma brisa generosamente morna.
Que o inverno seja breve.

bj

Neusa

Valeria del Cueto disse...

Hi Neusa...
Voce já ouviu falar em "Operação Camelo"?
Funciona assim: eles acumulam água pra quando estiverem no deserto.
Então aí vai a nova: este artigo faz parte da minha "Operação Camelo". Desde de segunda feira da semana passada estou em Brasília, fazendo a direção de produção de um longa. Por aqui permanecerei pelos próximos 4 meses. Isto quer dizer LAS COSAS PINTAM faz parte da minha reserva técnica literária da Ponta do Leme. Foi lá que produzi alguns artigos de frente pra quando o meu período de adaptação no DF.
Na verdade, a meterorologia do Plantalto Central indica frio de noite, calor de dia e uma baixa umidade que está acabando com minha pose de "carioca da ponta".
Como não sou exigente, não quero o mar. Ficaria alegrezinha só com um pouco de maresia. Será que alguém já pensou em engarrafar o produto? rsrsrs

Neusa Barbosa disse...

Oi Valeria, bom ouvir notícias boas!
legal esse lance de filme em Brasília.
Mas a secura do ar aí é coisa séria...
Todo ano, quando vou ao festival (novembro), sinto isso. Se bem que em 2005, deu-se uma coisa incrível - choveu a semana todinha do festival! Foi quase milagre.
Esse calor de dia, frio de noite, é também o clima aqui de Sampa estes tempos.
Estive em Parati no final de semana, com sol, sol, sol. estava uma delícia, nem parecia inverno.
Na volta... aquele friozão na Rodoviária (fui de ônibus).
Enfim, engarrafar maresia é uma grande idéia. Pra mim, um CD com o barulhinho do mar já está de bom tamanho. Adoro aquilo. Acho muito relaxante.
Então vc só volta pra casa no final do ano?? Nossa, vai dar saudade do Leme.
E o filme, é sobre o quê? Conta mais, se puder.
abs

Neusa