terça-feira, 11 de setembro de 2007

CORRA E OLHE...

PL001Ponta-Paraiso
De Valéria del Cueto
 Após o dia mais frio de 2007, o seguinte é um dia lindo de outono, com aquelas cores indescritíveis desta época no Rio de Janeiro. Nas ruas do Leme passo pelo comércio em frente a minha casa. Moradores locais desfilam encasacados.
Ao ultrapassar a muralha das sombras dos edifícios, as cores e a energia se transformam. Vibram. Da esquina é como se olhasse o paraíso ao longe. Luz sol, calor.
Tomo meu rumo cumprimentando os conhecidos. No calçadão encho meus pulmões do ar salgado da minha praia, do nosso mar.
Aí começa a sessão Ponta do Leme de mais um dia abençoado. Dia de luta, como todos os outros. Mas abençoado pelo divino com essas tonalidades, a brisa leve que não castiga e me permite deixar largada em cima da canga a camisa de manga comprida que substitui a sem roupice do verão carioca. O biquini veterano da estação passada agradece, pede passagem e volta a ser um peixe dentro da água, exposto ao sol e ao sal.
A ressaca de ontem era palco de manobras arriscadas e geniais dos prancheiros que riscavam deslizes voadores sobre as ondas e correntes caprichosas. As mesmas que explodiam contra a pedra, subindo metros e metros e formando leques e chafarizes de água.
Atos efêmeros e únicos deste espetáculo da natureza. Privilégio dos gatos pingados que apostaram na contemplação passiva e respeitosa, no meu caso, dos humores do oceano. Uma fita amarela indicava a interdição de, pelo menos, metade do Caminho dos Pescadores, expulsos pelas forças marítimas indomáveis. Sem direito a negociação.
Mas tudo na vida muda e hoje é outro dia, com o mesmo sol maravilhoso, apesar do frio... Os pescadores voltaram a reassumir seus lugares ao longo do Caminho. São pontinhos coloridos na linha horizontal que corta a pedra até quase sua curva em direção ao mar aberto.
As pranchas e seus ocupantes estão lá. De outro tipo. Menores e menos imponentes, assim como as ondas, ainda grandes, porém mais clássicas e menos rebeldes. Por isso os movimentos são menos criativos, não chamam tanto minha atenção.
Sorte sua. Ontem, hipnotizada pelas performances, torcendo pelo sucesso dos ases que desafiavam o humor inconstante das ondas, nem me passou pela cabeça escrever uma crônica.
Hoje me bastam as pausas entre o encadeamento de uma idéia e outra para saciar minha fome de mar. Não estou com aquela sensação de “sorver a vida, antes que ela se transforme”. Então, posso com calma tentar passar para o papel a mágica que me move, mais uma vez, a falar da pedra, da Ponta e desta praia. Do Leme, com o Leme e pro Leme...
 Valéria del Cueto é jornalista e cineasta

5 comentários:

SUZANA Vidal disse...

Muito lindo Valeria, parabens. Pra nos que estamos longe do nosso país faz muito bem ler coisas tão lindas.
Saudade muita saudade.
Suzana L. Vidal.

Etiene Brito disse...

Aí que saudade que dá desta terra maravilhosa. Muito Bom

Marcelo Larrosa disse...

Muito bom

Valeria del Cueto disse...

Digo e repito: boa é a Ponta que me inspira.
Beijos a todos

Isabell Erdmann disse...

hej, pela primeira vez entendi todas as palavras que voce escreveu....
:-)