quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O silêncio que precede



No CD de “O Rappa” o título finaliza com “o esporro”. No caso, me refiro à festa.

Daqui a pouco todos vão estar reunidos comemorando e, devido aos preparativos recorrentes, neste pequeno istmo de tempo tenho o mundo só para mim. Uma praia inteira, uma existência completa.

É o momento do meu mais íntimo eu. Quando a pessoa que sou tem a chance de conhecer o que gostaria de ser, sem intermediários ou artifícios.

E aí, a primeira pessoa pode ver quão distante está da pessoa ideal, sem direito a lentes corretivas e filtros polarizadores. Simples assim.

Talvez seja mais fácil devido a minha solidão opcional.

Sinto-me mais tranqüila quando tenho só a mim para aturar. Os outros estão certos, eu é que sou fora do centro.

Durante um tempo isso me incomodou. Até o dia em que me convenci que faço um bem à humanidade e ao entorno do meu microcosmo evitando o contato permanente de terceiros com minhas dúvidas, angustias e indefinições.

Que eu não consiga fazer planos, tudo bem, mas estender o meu destino de navegadora desbussolada (portanto, desorientada) aos demais seres que me cercam, é querer demais.

Como explicar a incapacidade de planejar, organizar e executar um plano de vida a médio e longo prazo? O fato de não ser capaz de aplicar ao meu próprio ser o que sei fazer com excelência quando se trata de um projeto alheio? Parece desleixo, fraqueza, mas não é. É sina, destino. Maldição?

Sem idéia do real significado da expressão latina “carpe diem”, vai ver que em outra encarnação fui uma chata de galochas de tanto olhar à frente, seguir os planos e “executar” a existência que me cabia num mundo anterior de meu Deus.

Sei que ao descobrir este traço da minha linha do destino resolvi, dentro do possível, voltar o olhar para o aqui e agora. Seja lá o que isso queira dizer.

Deixar-me navegar pelas águas do marzão do marinheiro avisado pelo pai do grande artista, poeta e sambista, Paulinho da Viola. Ele disse para o filho que “o mar não tem cabelos para que se possa agarrar”.

Que meu barco está na água, não tenho dúvida, que seu motor é fraco e suas velas poderosas, também não.

Assim, sinto o vento que chega e vai, aumenta e enfraquece, enchendo e movimentando as velas da minha existência. Seja no tempo bom e brisa fresca, calmaria ou sujeito a tempestades.

Observo o macro e valorizo o pequeno, fazendo do horizonte meu destino para poder contar aos quatro ventos histórias que escuto e imagens que capturo da vida a minha volta.

Que não é minha. Mas satisfaz o meu olhar, aquece meu coração e enriquece o meu contar. É simples assim...

Feliz 2011