Salve a tribo do samba!
Sapucaí, espelho (in)finito de
emoções
Texto e fotos de Valéria del Cueto
Clique no título dos enredos para mais dicas
Quando os atabaques soaram na encruzilhada do primeiro recuo de bateria,
entre o setor 1 e o início da pista, não houve tempo para que os rodopios das
baianas levantassem as barras das saias... E o mundo caiu na Lavagem da Sapucaí,
cerimônia de abertura dos caminhos para o maior espetáculo popular do planeta,
o desfile das Escolas de Samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro, no último
final de semana dos ensaios técnicos.
Mais uma vez, São Pedro abriu as torneiras do céu para intimidar o carro
pipa da Águas do Rio, antiga Cedae, que vinha na frente do andor do Santo
Padroeiro do Rio de Janeiro, São Sebastião. Nesse caso, parece, a ordem dos
fatores está alterando o produto.
A previsão é de chuva para o do carnaval, justamente na parte da noite.
Valei-nos Fundação Cacique Cobra Coral!
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São Pedro e o “plus” na iluminação cenográfica. A previsão é de chuvas |
Economia Foliã
Carnaval não é brincadeira. Seus números são impressionantes! A
Prefeitura do Rio projeta que R$ 4,5 bilhões circulem na economia local em 2023.
Valor que corresponde a 1/3 da movimentação econômica do país no período. “O
carnaval é fundamental para a cidade, pois está no DNA do carioca”, afirma o
prefeito Eduardo Paes, comemorando a retomada.
A estrela é o Desfile das Escolas de Samba na Sapucaí, mas festa se esparrama.
Esse ano, 613 blocos pediram permissão para desfilarem. A estrutura montada é
gigantesca. Serão, por exemplo, 3.657 garis/dia nas ruas da cidade.
O sacode Rio Carnaval
Como tudo na vida, a fila também anda na concepção, planejamento e
execução da festa no Sambódromo. As ações do departamento de marketing, iniciadas
com o lançamento da marca @RioCarnaval, da Liesa, são geradoras de alterações no
processo de gerenciamento do evento. Entre elas, a nova pegada na comunicação.
Agora, para atingir o público jovem, focada nas mídias digitais e redes
sociais.
A que todos esperam para avaliar é a nova iluminação cênica da pista. Os
equipamentos com recursos 3D, implantados desde o último desfile, devem ter suas
possibilidades exploradas e, algumas, aprimoradas.
A festa do samba
Para o povo do samba, o que vale é a celebração, a apresentação do
trabalho construído, durante vários meses, nas quadras, barracões,
comunidades...
A chance de, nos toques das baterias que chamam os protetores de cada
agremiação, amplificar as mensagens e o axé, transmitidos nos enredos, com
alcance, sem modéstia, planetário.
A tribo do samba e suas manifestações são o sentido original da festança,
lume que alimenta a energia gerada na troca de emoções entre os desfilantes e quem
vibra e aplaude. Como espelhos paralelos, reproduzem a imagem infinita da
folia. Por isso, a iluminação cênica só tem sentido se revelar, desenhar, não ocultar.
Se a luz não alumia, inclusive a plateia, se retira do povo do samba o
direito de recolher a emoção entregue na sinergia com o público. Aquele, cada
vez mais distante, mergulhado nos atrativos irresistíveis dos camarotes que
disputam, com a pista, o protagonismo da festa.
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Zeca Pagodinho levanta o copo para o povo brasileiro |
Domingo, 19 de fevereiro
O carnaval começa na malandragem. Os elos que ligam os dois primeiros homenageados
é a tamarineira, o Fundo de Quintal do Cacique Ramos, Dona Ivone e Jovelina
Pérola Negra. O significado? É fundamento. Arlindo Cruz, filho e Ogan de Xangô no
Império Serrano que “bate” para São Jorge, o guerreiro protetor de Zeca Pagodinho...
Entendeu?
O Império Serrano retorna ao Grupo Especial cantando os “Lugares
de Arlindo”, homenagem de Alex de Souza ao cantor e compositor imperiano
Arlindo Cruz.

Emenda com “Ô Zeca, o pagode onde é que é?
Andei descalço, carroça e trem, procurando por
Xerém, pra te ver, pra te abraçar, pra beber e batucar!”, de Leonardo Bora e Gabriel Haddad sobre Zeca Pagodinho,
da atual campeã do Carnaval, a Grande Rio, de Duque de Caxias.
Mocidade de Independente de Padre Miguel viaja a Pernambuco e explora a
arte de Mestre Vitalino em "Terra de
meu céu, estrela de meu chão", de Marcus
Ferreira.
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Castorzinho, mascote da Mocidade cativa o Setor 1 |
"Delírios de
um Paraíso Vermelho", enredo de Edson Pereira no Salgueiro, chama
Joãozinho 30 para abrir os pórticos do Paraíso, finamente entalhado pelo
criador. É um delírio em busca de mais
um título.
Fechando a primeira noite, a verde e rosa se joga
na batucada da Timbalada e os ritmos musicais que compõem o caldeirão baiano.
Annik Salmon e Guilherme Estevão, os novos carnavalescos,
desenvolvem o enredo “As Áfricas
que a Bahia canta” embalados pelo suingue dos mestres Taranta Neto e Rodrigo Explosão no comando dos
meninos da Mangueira. A tribo do samba vai dando seu recado...
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Bateria da Mangueira, a tribo do samba |
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Segunda, 20 de fevereiro
Abre a segunda noite, o “Mogangueiro
da cara preta”, búfalo-bumba, criado por Mestre Damasceno, da Ilha do Marajó,
na Paraíso do Tuiuti. A campeoníssima Rosa Magalhães e João Vítor Araújo
contam com o reforço de Wander Pires para levar o
samba, conduzido por Mestre
Marcão. Difícil
passar muito tempo sem que o Pará visite a Sapucaí.
A Portela comemora seu centenário em "O azul que
vem do infinito", de Renato Lage e Márcia Lage. O enredo,
narrado por figuras emblemáticas da escola de Osvaldo Cruz, na levada de Mestre
Nilo Sérgio, trará à avenida grandes ícones portelenses, entre eles, novamente,
Zeca Pagodinho.
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Ala dos passistas na homenagem ao último campeonato, o Arraiá da Vila Isabel |
A Imperatriz Leopoldinense não teve só uma demanda esse ano. “O aperreio do cabra que o excomungado tratou com má-querença e o santíssimo não deu guarida", de Leandro Vieira é sobre que fim levou Lampião já que, de acordo com o cordel, lhe foi negada morada no inferno por medo da concorrência, e no céu por conta da ficha corrida (apesar dos apelos de Padim Padre Ciço). Também teve polêmica, com a crítica à primeira dama Janja e sua indumentária da posse do presidente Lula, “parecida com as roupas da velha guarda da escola de Ramos”. Pode apostar que a resposta à desfeita vem no desfile!
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Velha Guarda da Imperatriz Leopoldinense: polêmica envolvendo Janja e o pedido de respeito |
Na Beija-Flor a nova rainha, a menina da comunidade, Lorena Raíssa, vem a frente da bateria dos mestres Rodney e Plínio, para, com a voz inconfundível de Neguinho da Beija-flor, apresentar o enredo “Brava Gente! O grito dos excluídos no Bicentenário da Independência”, de Alexandre Louzada e André Rodrigues, que aborda o que deveria ser o Bicentenário da Independência, 2 de julho, data em que em 1823, a Bahia expulsou os portugueses.
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Pelo campeonato, Beija-flor fala do Bicentenário Centenário dos excluídos. |
Laroyê.
Transmissão
TV Globo e o G1. Sugestão: comentários da Rádio Tupi.fm
Domingo
19/02
Império
Serrano, Grande Rio, Mocidade, Unidos da Tijuca, Salgueiro, Mangueira
Segunda 20/02
Paraíso
do Tuiuti, Portela, Vila Isabel
Imperatriz
Leopoldinense, Beija-Flor, Viradouro
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