texto e foto de Valéria del Cueto
fevereiro de 2006
É daqui mesmo, da Ponta do Leme que vos falo. E confesso sem o menor pudor, que aqui me encontro em busca de consolo, ou conforto... Amanheci assim.
Del Cueto, meu pai, diz que quando a gente está com aquele mau humor crônico é por que está com chulé na alma. Pois bem, estou com neblina na alma. A razão não vem ao caso, nem mesmo precisa existir.
Ela, a neblina que aqui se espalha, é daquelas brabas que deixa a gente tateando, sem ver um palmo na frente do nariz. Me esforço, faço o possível para transparecer minha alma e desinstala-la o mais rapidamente possível.
Nada melhor do que meu ponto, na Ponta do Leme, para aqui abrir as janelas da minha alma e deixar o vento fresco invadir meu dia que está apenas começando.
Pois é, a coisa é séria. Tão séria que me fez acordar muito cedo. Quem me conhece sabe que este costume não faz parte da minha rotina. Cedo pra mim é oito e meia da manhã, esclareça-se.
E não reclamem nem se espantem os desavisados. Explico: como trabalho no computador, normalmente prefiro a calma das madrugadas, se as interrupções normais do dia a dia, como telefone(s) campainhas, compromissos e tarefas para me concentrar. Por isso, vou madrugada adentro numa rotina normalmente solitária e compensadora.
Que, infelizmente, não alivia meu estado d’alma.
A praia é a minha, mas com outros personagens, graças ao horário matinal. Em cima do mar uma bruma quase impede de ver as ilhas no horizonte. São nove e meia da manhã. Pra muita gente, é tarde. Daqui a pouco a paisagem muda.
A água permanece fria demais. O mar está transparente, mesmo com a chuva que caiu durante a madrugada. Talvez tenha sido ele, o mau tempo, que esqueceu a neblina na minha alma.
E aí está o gatilho para mudar a cor do meu dia. Se a chuva não deixou marcar aparentes no dia seguinte por que vou deixar que a umidade trazida por ela permaneça dentro de mim?
Mais um mergulho, outra esticada e a decisão: sempre é hora de começar um novo dia. Vou esperar o sol secar meu corpo, voltar pra casa, tomar uma groselha e dormir no sofá. Tenho certeza que daqui a umas duas horas acordarei novinha em folha. Pronta para (re) começar mais um dia de verão.
Neste novo dia, virei novamente à praia, no meu horário costumeiro ver o show dos surfistas e do pessoal de body boarding, Eles fazem um espetáculo diário no entardecer perfeito para ser apreciado por quem se recupera de um mau tempo passageiro que se perderá entre tantas boas lembranças da Ponta do Leme.
Até lá e um bom dia pra você.
Valeria del Cueto e jornalista e cineasta
liberado para reproducao com o devido credito
http://delcueto.multiply.com
Este artigo faz parte da Serie Ponta do Leme, composta por: 'No Leme, 18 e pouco. Do resto nao sei dizer", "Onda, Pedra e Maneiras de Ver o Leme", "A Vinganca do Gato Preguicoso", "E o Rapa Levou", "Ate onde a Vista Alcanca", "Pre Visoes do Tempo", "O Rei da Praia", "Ha os que nao Gostam, Ora Pois", "N.G. por V.d.C." e outros que ainda virao.
liberado para reproducao com o devido credito
http://delcueto.multiply.com
Este artigo faz parte da Serie Ponta do Leme, composta por: 'No Leme, 18 e pouco. Do resto nao sei dizer", "Onda, Pedra e Maneiras de Ver o Leme", "A Vinganca do Gato Preguicoso", "E o Rapa Levou", "Ate onde a Vista Alcanca", "Pre Visoes do Tempo", "O Rei da Praia", "Ha os que nao Gostam, Ora Pois", "N.G. por V.d.C." e outros que ainda virao.
8 comentários:
Oi Valéria. Me amarrei no seu texto. Tem dias que a gente se sente meio barro, meio tijolo. Mas a frase que selecionei, achei a mais importante, pois demonstra a sua decisão de ultrapassar um mau momento. Também penso assim. Beijão!
Ai vem a velha pergunta:
Acordou cedo porque estava com a alma brumosa e chulerenta
Ou estava com a alma brumosa e chulerenta porque acordou cedo????
Bjs
Bacana...
Que legal essa inter-rela��o entre o Leme e voc�... j� tinha percebido isso nos textos anteriores... mas a cada dia ela se mostra mais intensa...
O Leme para mim � um cantinho de paz e tranquilidade... no meio da confus�o de Copa e Rio Sul... o recanto dos pensadores... dos surfistas e dos pescadores...
Beijos.
Leo.
Caro MdC
Voce passou perto do amago da questao. Mas acho que acordei cedo pois nem nos sonhos estava conseguindo me refugiar. Teoria contraditoria, pois o remedio para a neblina na alma foi justamente voltar pra caminha, que dizer recorrer ao sofa da sala, o que definitivamente, nao é a mesma coisa.
Segura....
Oi Leo.
A Ponta do Leme é uma série. Acho que ela deveria se chamar saudade retardada. Nasci no Leme e apesar de me mudar para o Posto 6, nunca me desliguei do bairro. Depois, saí do Rio e passei 15 anos em Mato Grosso.
Sempre soube que para poder ficar tanto tempo fora do Rio e deste canto, eu teria que isolar o sentimento de saudade, a falta que este ar me fazia.
Agora que retornei, estou podendo dar vazão a este apego e daí vem a série.
O mais engraçado é que, tirando um dos artigos em que "vejo" um velho amigo de outros tempos, não escrevo sobre os velhos tempos, mas procuro desbravar as características atuais da Ponta. Se continuar assim, acho que vou estender meu posto de observação a outros lugares do bairro.
Assunto é o que não faltará.
Beijo
O duro é lembrar dessa máxima na hora do sufoco, não é Hélio? rrsrsr
Beijo
Você tem o L(l)eme, desde garotinha. Use-o como farol para iluminar tua bela e inquieta alma.
Beijos
Eduardo Ricci/Cuiabá
Ó Dudu,
Vindo de você, meu editor preferido, isto é um baita elogio!
Se prepara, pois novidades estão a caminho. Primeiro, elas serão carnavalescas, depois só Deus sabe.
Valéria
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