O QUE OS OLHOS NÃO VÊEM...
De Valéria del Cueto
Julho de 2006
Tuc, tuc, tuc... ouço as batidas insistentes. Tec, tec, tec... essas, num ritmo diferente. O tuc tuc é o som da prancha quando o garotão tira a areia, grudada na superfície molhada, o tec, tec é o choque dos pés de pato, também úmidos que ele sacode ritmadamente.Julho de 2006
amigo, colega e ex-nadador, tenho que ficar vinte e quatro horas sem as lentes de contato. “Bota os óculos”, você argumenta. “Não posso, ele está quebrado, por isso vou bater ponto no consultório”, esclareço, enquanto exercito meus outros sentidos aqui na Ponta do Leme.
Gritinhos de alegria e recomendações maternas chegam agora aos meus ouvidos. Mãe e filha adentram a areia, passam por mim e se instalam bem na beirinha da água. Minha irmã diz que ficar assim, quase beijando o mar, diminui a distância a ser percorrida, caso suas filhotas precisem de ajuda ou tomem um caldo.
Funciona, para espanto da mãezona das gurias. Pra começar, ela não sabe assobiar como eu. E não diga que, no entanto, ela enxerga, coisa que não posso fazer por vinte e quatro horas, pois lamento informar, ela também é míope...
espaço da areia bem quentinha, onde minha deficiência visual não me afeta: míopes são águias de perto. Por isso escrevo. É uma ótima forma de matar o tempo que falta para a consulta libertadora, após a qual poderei recolocar as lentes de contato e voltar á luz da imagem.
Usando uma metáfora, seria ótimo se pudéssemos resolver nossos problemas assim, simplesmente corrigindo o grau focal...
nossas contradições e problemas.
Contra argumentando: É por que a solução deste “quase” em contraposição ao “tudo” talvez
não seja uma questão de nitidez, mas de ângulo. Mude o ponto de vista e assuma outra perspectiva.
Quem sabe não foi isso que foi isso que me faltou na vida, deduzo do alto da miopia
que me induz a tais pensamentos...
liberado para reprodução com o devido crédito
Este artigo faz parte da Série "Ponta do Leme"
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