sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Dito e feito













Desde criança tenho uma mania (entre muitas outras) da qual não consigo me livrar. Lembro que com 12 anos quando levantamos acampamento do apartamento no Cerro Corá no Leme, para nossa casa própria, num prédio no posto 6 em Copacabana, tinha uma gaveta cheia de coisas impossíveis de serem catalogadas, por que não havia, a não ser pra mim, nexo entre os objetos que guardava ali. Uma notinha de supermercado, um clip de plástico amarelo enttortado, uma flor, seca entre as páginas de um livro, uma caixa velha... de fósforos com dois ou três palitos , uma nota com a cara do Pedro Álvares Cabras e bilhetes, escritos de mim para mim mesma, falando de outras coisas que tinha visto, em situações inusitadas.

Quando nos mudamos para o apartamento novo, foi um drama pra me desfazer daquelas aparentes porcarias. O que elas faziam ali, ocupando espaço na gaveta da penteadeira que seria dispensada, trocada por móveis zerinhos?

Acredite, cada um daqueles objetos veio parar nas minhas mão de uma maneira incomum e, pensava eu, caso os guardasse com carinho, minha vida teria outro rumo, dado por eles, como objetos mágicos. Gente, eu pensava no rumo da minha vida aos 10 anos, época em que voltamos de Mato Grosso para o Rio!

Pois é. Então, se estava num lugar e visse algum objeto totalmente fora do seu contexto previsível, pensava eu que se passasse por aquele “sinal” sem dar a ele a devida atenção, estaria mudando meu destino, deixando de lado algo que poderia vir, não sabia quanto tempo depois, a ser muito importante no meu caminho.

 Chegou uma hora, lá pelos meus 15 anos, que entendi que daquela maneira, em breve eu seria a feliz possuidora de um caminhão de cacarecos, difícil de carregar no mundo que eu queria descobrir. Passei, então, a guardar estes objetos no cofre mais seguro que conheço: minha memória.

Hoje, com o ano chegando ao fim e  ainda uma fiel seguidora do meu princípio de que um momento pode mudar nosso destino, a questão é apenas saber quando ele acontece e ter paciência e sapiência para reconhecer o efeito provocado pela causa, fico escavando os objetos ou ações que tiveram este poder.

Ir à Uruguaiana para o carnaval passado, sem dúvida está nesta lista. Essa viagem, feita graças ao meu querido editor e amigo do peito Fred Marcovivi, foi o princípio de uma freeway que começo a percorrer. A idéia de abrirmos o blog do Tribuna de Uruguaiana foi  primeiro grão de neve (estamos no natal, né gente?) da bola/ avalanche  que está deslizando montanha abaixo, crescendo e agregando novos aliados e a valores a todos os que dela participam.

Nela, veio o del Cueto, pai (que não se tocou, ou evitou reagir ao poder transformador que a viagem teve em mim, e desistiu de participar da aventura uruguaianese carnavalesca na véspera do embarque, em fevereiro). Veio também um punhado de reencontros familiares (foi emocionante rever minha FAMÍLIA) e sentimentais. Me refiro aos 60 anos de Passarinho, que provocou o adiamento do meu retorno pro Rio para podermos fazer uma edição especial do Tribuna pra ele, o que me fez voltar no tempo pra laçar a saudade e dar um nó na tristeza de andar pelos lugares em que nos cruzávamos pela cidade -  e tantos outros fatos que hoje me ligam de novo a fronteira oeste.

Bom, o que aconteceu com o jornal e o blog não preciso contar. Fizemos isso juntos. Perdemos alguns aliados importantes mas, em compensação, fomos cercados pelo carinho e o respeito de uma legião de tribuneiros que, a princípio de forma radicalmente anônima e depois - com o cala boca que levamos da justiça -, não mais tão anônima assim, nos mostrou, ao Fred e eu, que havia sim, gente que entendia nossos propósitos e não deixaria que desanimássemos ou mudássemos o rumo do sonho que havíamos vislumbrado no escritório micro do apartamento de Dona Diva.

Ela estava ali. E só nos deixou no mundo físico, por que sei que lá de cima, mexe os pauzinhos e coloca na nossa frente pequenos objetos que, jogados no blog, são recolhidos e valorizados pelos que nos acessaram quase 250 mil vezes nos últimos 10 meses.

Outro dia, aconteceu de novo. Por uma polêmica esportiva numa rede de relacionamentos na internet, Miguel Paiva, o cartunista, ouviu falar do Tribuna. Um auxílio pai-sem-inpiração trouxe-nos o Gatão de Meia Idade e a Radical Chic. Asi, no mas.

Dá pra reclamar? Eu acho que não. Que dizer, eu não. Priscila, a diagramadora, sim. Ela vai à loucura cada vez que me empolgo aqui no Dito e Feito. Pois é ele, o nome desta coluna, escolhido pelo Fredim, que desejo pra vocês, nesse período de renascimento. Que todo mundo um dia tenha a chance de assim como nós. De peito aberto, poder decretar sobre o ano que está terminando: DITO E FEITO!

Obrigado a todos que nos fizeram, em 2009  250 mil vezes mais felizes...

* Valéria del Cueto é jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Este artigo faz parte da série Parador Cuyabano, do SEM FIM http://delcueto.multiply.com

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