quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Naco de lua

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Texto e fotos de Valéria del Cueto
A dúvida era um sentimento que ele não conhecia. Na sua longa vida interplanetária, aprendera a ler o problema, pesquisar, avaliar e planejar o movimento   e resolver o problema. Simples assim, mesmo em casos complexos.
“Isso lá, gente, na galáxia originária. Aqui o babado é outro, o buraco é beeeem mais embaixo”. Contrapõe o lado B do adaptado Pluct, Plact. Bipolar, agora, como a maioria dos habitantes do entorno interativo.
É imbuído com esse sentimento de vida que o extraterrestre que não consegue força propulsora para ultrapassar a camada de ozônio, pensa na melhor abordagem para conseguir um período de descanso junto a cronista voluntariamente exilada do outro lado do túnel somente com direito a um claro de dia, o rasgo da noite e um naco de lua. E, claro, as   notícias recebidas do amigo interplanetário.
Pensou num documento quase íntimo, mas possível de vazar para a imprensa. Preferiu começar em latim:
“Carpe diem, mizinfia!
Se eu disser que a presidente está sendo processada e que o rito do impeachment conduzido pelo Congresso Nacional está suspenso até ser “regulamentado” pelo Supremo Tribunal Federal, daria para acreditar?
Se contar que no plenário da Câmara Federal  parlamentares tentariam impedir colegas de votarem, com direito a tumulto e empurrões, teria crédito?
Que a presidente diria que confia no seu vice que não se manifestava e esse a desmentiria, apresentando 11 “queixas” que comprobatórias e, depois, diria que nunca pensou que a missiva pudesse vazar? Em quem apostaria como responsável pela exposição da D.R?
E quanto ao não vai nem fica do julgamento do Presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, na Comissão de Ética? Tudo isso e sempre mais com os surpreendentes atos da operação Lava Jato que ensaboa, ensaboa mas não consegue enxaguar nem enxergar o fundo do poço sem fundo da roubalheira nacional. Vem aí a delação premiada do ex-líder do governo no Senado Federal, o Senador Delcídio Amaral, da Petrobrás.
Enquanto isso, o Planalto descobre que seu líder na Câmara Federal, Leonardo Picciani, do PMDB, é o mesmo do AEZÃO, a banda do PMDB do Rio de Janeiro que apoiou Aécio Neves, enquanto Sérgio Cabral e Eduardo Paes rezavam a cartilha de Dilma, em 2014.
Paralela e concomitantemente a economia despenca e as finanças se volatilizam. Voltando a se materializar! Em dívidas e recessão. No más, não é uma bolha, são as bolhas...
Por essas e por outras é que reivindico prioridade na obtenção de um espaço similar ao seu aí do outro lado do túnel, com direito a remedinho e paredes acolchoadas (aliás - esqueci de perguntar - tem ar condicionado? O verão está chegando. O sol ainda não, só o calorão melequento).
Certo de sua compreensão e solidariedade intrínseca, aguardo sua resposta, Pluct Plact.”
A resposta foi curta. Disse a cronista exilada:
“Só dá pra um, a não ser nas fugas para os eventos na Sapucaí e na Cidade do Samba, ou então quando estiver no mar.  Aí, deixo você experimentar no meu lugar o naco de lua que me faz ficar e só pensar...
Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Crônica da série “Fábulas Fabulosas” do Sem Fim...
E3- ILUSTRADO - SABADO 12-12-2015

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