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Portela carnaval 2025 desfile
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Texto e fotos de Valéria del
Cueto
Não
espere mais nada de mim. É tudo que tenho para dar. Tento me reconectar a vida
depois de mais um carnaval. Procuro fios que me interliguem ao espaço que volto
a ocupar.
O
barulho da água que despenca do desvio do rio na piscina pode ser um desses
fios. O ruido sempre foi um seletor de pensamentos que reproduzo aqui no
caderninho quando junto a contemplação dos movimentos do reflexo na água. Faço
dessa dança uma peneira que afina e conduz as ideias tramadas nessas páginas.
Tento,
tento, tento... sem muito sucesso.
O
João e a Vânia, meus senhorios no paraíso, inconscientemente fazem parte desse
esforço. Ele, quando me apresenta uma frutinha que nunca vimos chamada
cauá-piri, ou cauá-pixi ou moranguinho do mato. É rasteira e fotogênica.
Pausa.
Tempo de pesquisar para descobrir do que se trata, já que seus frutinhos
minúsculos vermelhos se destacaram no chão embaixo da jabuticabeira e, segundo
João, as sementes podem ter sido trazidas pelos passarinhos que fazem suas
refeições nas árvores brasileiríssimas.
Vania
contribuiu me apresentando mariolas deliciosas de uma marca que não conhecia e
balas Toffee recheadas de creme de hortelã. Ajudam no regime de engorda para me
recuperar um pouco do desgaste físico da Sapucaí.
Mas...
falar de mariola me leva novamente à pista. Acontece que a delícia fluminense
(as de Rio Brilhante são sensacionais) faz parte do kit alimentação especial
das noites e madrugadas carnavalescas.
Ele é
composto de sanduíche de queijo, as mariolas sem açúcar cristal em volta, pra
não piorar a lambança na pausa embaixo do segundo módulo de julgadores em que
costumo descansar entre uma escola e outra, se não estiver encarapitada na
torre de transmissão.
A
matula também contém sementes de guaraná maués, um quente, pra fechar o rebite
e água, muita água.
Então,
mariolas me transportam, mas não me levam a sair da realidade já passado do
templo do samba...
O
que, de uma certa maneira, é bom devido a etapa do trabalho que vem depois da
folia: editar os registros que fiz.
Uma
tarefa que exige atenção e paciência. Ouvir os sambas da escola que está sendo editada,
decupada e indexada comendo mariola torna o ambiente perfeito para mergulhar na
missão.
Confesso
que faz tempo desisti de participar da competição de quem publica mais rápido
seus registros. Essa edição fina e a catalogação do acervo carnevalerio.com me
tiram dessa animada e salutar disputa entre os fotógrafos. O que, de certa
maneira, interferiria no resultado do material que disponibilizo nas plataformas.
Sem
alarde o conteúdo vai sendo construído ao longo dos anos. É interessante o
resultado? Sem dúvida. Depois da indexação as imagens ficam disponíveis publicamente
em baixa resolução no Flickr.
Já
estou no carnaval de novo! E, dele, não consigo largar.
Parei
para dar um mergulho e, pra não perder a mão, fazer umas fotos das flores de
São Miguel que estão explodindo na borda da piscina.
Quando
chego perto “pesco” a iluminação sutil que o reflexo da água faz no carro
alegórico de florezinhas azuis que saltitam ao vento da Mata Atlântica.
E aí,
pra não perder a mão, o lado do meu eu carnavalesco pergunta ao outro, que
tenta se situar no meio do mundo do ano que se inicia:
“Será
que num carnaval do futuro os iluminadores aprenderão a fazer uma luz tão
delicada e sutil quanto essa, gerada pela natureza?”
Desisto
do diálogo de mim comigo mesma e vou editar. Afinal, como a vida, o carnaval só
acaba quando termina...
*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Da série (ainda) “É carnaval” do
SEM FIM... delcueto.wordpress.com
Disponíveis nas plataformas as gravações oficiais das escolas de samba do Rio para o carnaval 2025
Texto e fotos de Valéria del Cueto
Saíram as aguardadas gravações do @RioCarnaval dos sambas enredos do Grupo Especial do Rio de Janeiro. Produzidas por Alceu Maia, elas chegaram as plataformas no início das comemorações do Dia Nacional do Samba, promovido pela Liesa, na Cidade do Samba.
Foram 3 dias confraternização da elite das escolas com direito a mini desfiles no final de semana que antecedeu o dia 2 de novembro, data estabelecida no calendário brasileiro pelo projeto de Lei 1713-A, de 2007, de autoria do então deputado federal Índio da Costa. Antes, em 2005, o samba foi o primeiro gênero musical brasileiro declarado Patrimônio Cultural Imaterial pela Unesco.
Em cada noite, 4 escolas se apresentaram na pista interna da área reservada dos barracões. É nesse espaço que se desenvolvem os projetos de construção dos espetáculos que ocuparão a pista da Passarela do Samba, na Marquês de Sapucaí, Centro do Rio de Janeiro, durante o carnaval.
Agito na Cidade do Samba
O formato se repete há quatro anos e estabeleceu um novo recorde de público na Cidade do Samba já no primeiro dia da festa. Mais de 30 mil pessoas passaram pelo espaço situado na zona portuária do Rio de Janeiro no final de semana. A entrada foi gratuita, mediante a entrega de um quilo de alimentos não perecíveis.
Atrações como Belo, os grupos Samba da Volta, Terreiro de Crioulo e Xande de Pilares dividiram as atenções do público animadíssimo que pode acompanhar a confraternização das escolas.
O evento apresentou os principais segmentos das agremiações como comissão de frente, alegoria de abertura, casais de mestre-sala e porta-bandeira, velha guarda, destaques, musas, passistas, alas e baterias num “compacto” na mesma ordem em que se apresentarão no carnaval que, em 2025, será nos dias 2, 3 e 4 de março.
O que vem por aí
Depois dessa largada, o próximo encontro dos sambistas cariocas será na Marquês de Sapucaí, nos ensaios técnicos que começam no dia 25 de janeiro.
Até lá, o calendário está recheado de ensaios de rua, nas quadras ensaios de canto, feijoadas e eventos nas comunidades das escolas espalhadas pela região metropolitana do Rio. Vem chegando o verão...
Nas paradas de sucesso
Durante o mês de dezembro, a expectativa está voltada para o desempenho dos sambas enredos da temporada. O timming está coordenado para que eles possam ampliar seu alcance nesse período de festas. As composições foram lançadas a tempo de decolarem rumo as comemorações do final do ano.
Caso de “Pede caju que dá”, interpretado por Zé Paulo Sierra. No último verão a composição Mocidade Independente de Padre Miguel foi o fenômeno que furou a bolha carnavalesca, virando o hit nas paradas do último réveillon carioca, e se difundiu pelo país em 2024.
Claro que algumas composições e enredos começam a se destacar caindo no gosto dos exigentes analistas de carnaval. Caso, por exemplo, dos sambas da Imperatriz Leopoldinense, sobre a viagem de Oxalá ao reino de Xangô, o Cocoriô das pororocas Paranauaras do Pará, da Grande Rio, e o da campeã do último carnaval, a Viradouro e seu Malunguinho - o mensageiro dos três mundos. Esses, já estão na boca do povo e despontam na disputa de audiência.
Correndo por fora vêm composições como Logun Edé, orixá cantado pela Unidos da Tijuca, com a participação de Anitta, a ode Corpo Fechado do Salgueiro e, surpresa, o “Quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece”, brincadeira fantasmagórica da Vila Isabel que corre por fora.
Voa, Neguinho, a despedida da Beija-flor
As homenagens a Milton Nascimento, na Portela, e o lendário Laíla, da Beija-Flor também estão no centro das atenções. No último caso, voltadas para o intérprete de todos os campeonatos da escola de Nilópolis. Neguinho anunciou ser este seu último carnaval comandando o carro de som da Beija-Flor.
Paixões a parte, os aficionados estão acompanhando os números de acessos nas plataformas de suas músicas preferidas enquanto discutem nas redes sociais a qualidade das composições e o sobe e desce dos rankings musicais.
*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Da série “É carnaval” do SEM FIM ... delcueto.wordpress.com
Texto e foto de Valéria del Cueto
Do meio do mundo emanam energias desconexas. Não, não me refiro ao contexto global. Apostar na falta de direcionamento seria um erro crasso de avaliação. Entre idas, vindas e acontecimentos é razoavelmente possível antever os fatos. Vivemos de efemérides previsíveis a curto e longo prazo.
Depois das Olimpíadas, utopia do encontro dos povos promovida pelos esportes com suas incríveis histórias de solidariedade e congraçamento, seguimos às Paraolimpíadas já misturadas com a temporada eleitoral. Aí tudo pode acontecer. Até a proposta de construção de um prédio de um quilômetro de altura na maior cidade da América do Sul, feita em meio a palavras de baixo calão, xingamentos e a demonstração pública de que o mundo político é uma selva em que o que menos importa é o bem comum. Ele, que deveria ser o objetivo dos candidatos seja a que cargo for.
Até os poderes que, em tese, deveriam ser harmônicos se digladiam em busca de... mais poder enquanto defendem com unhas, dentes e todos os golpes baixos prerrogativas que ocultam do povo. Privilégios que avançam sobre direitos básicos constitucionais. Cada um puxando a brasa para sua sardinha conforme o gosto de quem pode mais. E a gente vendo a banda das emendas do orçamento secreto tocando o dobrado do nosso dinheiro sendo entocado na encolha.
Ando longe dessas artimanhas, mesmo acompanhando de perto, pode dever de ofício, esses movimentos que compõem, como sempre, formas de domínio sobre a população.
Sim, tangidos pelas datas obrigatórias seguimos estimulados a tornar público e notório nosso dia-a-dia. Tem dia pra tudo e, parece, somos movidos por esses apelos sociais. Falta de interação é quase como deixar de existir. Experimenta não fazer uma postagem nos stories sobre, por exemplo, uma data comemorativa. Las-cou.
Desisti de seguir esse dobrado. Não sou gado pra ser tangido. Também cansei de opinar sobre tudo e todos, como se fizesse alguma diferença nesse mar de informações. É assim que se diluem ideias e posicionamentos. Pulverizados pela exigência de multiplicidade de compartilhamentos sociais. Perdidos no caldo indigesto de mensagens, emojis, gifs e memes que bombardeiam numa overdose viciante as redes sociais. Não condeno, não recrimino, mas tento fugir dessa esparrela que toma tempo e reduz a perspectiva histórica a próxima data comemorativa da folhinha. Tenho outras preocupações mais relevantes no momento.
Por exemplo, tento racionalizar as perdas de pessoas queridas. A quem interessar possa informo que resolvi não escrever sobre os que partem. No ritmo atual das despedidas teria que incrementar e muito a periodicidade da produção de textos para, merecidamente, exaltar os méritos de gente que fez e faz parte da minha história de vida.
Outro dia acho que falei que essa era uma forma de quebrar o luto e afastar a tristeza. Uma maneira e lúdica de concentrar e eternizar carinhos e afetos. Só que... no ritmo atual isso restringiria a temática da produção de cronista. Daí, pensei em outras formas de “embrulhar” esses momentos.
Fazer uma refeição especial seria uma solução. Cortar cebolas para chorar à vontade, misturar temperos de lembranças apurando encontros, esperar o ponto de cozimento para abraçar carinhosamente as saudades... Desisti dessa opção quando lembrei que sou uma negação culinária, especializada em pastinhas, molhos e, no máximo, saladas. Meu repertório não comporta as necessárias variações de tempo/espaço e sentimentos, além de não haver registros acessíveis depois de consumida a pretensa iguaria.
Com depurar e manter viva as ausências. Com que relacioná-las? Resolvi a charada inconscientemente quando de tão doída decido driblar a dor da perda partindo, por assim dizer, para a falta de ignorância. Me refugiei num livro. Voltei a um hábito que sempre me ajudou a fugir, tomar distanciamento e, sim, resolver problemas. Matei vários coelhos, cada qual com sua cajadada. O primeiro o foi ampliar um prazer, o da leitura. Os demais se acumulam a cada obra finalizada. Pro Aluízio Dezizans, “Os Romanov”, de Simon Sebag Montefiore. Renato Gomes Nery ganhou “Maldito invento de um baronete – uma breve história do jogo do bicho”, de Luis Antônio Simas. A Mauro Cid coube “Pessoas Decentes”, de Leonardo Padura.
Outros, certamente virão. A cada passagem, uma viagem literária. Pra melhor...
*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Crônica da série “Não sei onde enquadrar” do SEM FIM ... delcueto.wordpress.com
Texto e foto de Valéria del Cueto
Cronista, cronista... O mundo voando baixo desgovernado e
eu rezingando pra contar as novidades. Me sinto TÃO humano, tão pouco
extraterrestre. É que os fatos estão atropelando o tempo que corre cada vez
mais. Sem dar conta de abarcar os acontecimentos.
O que me faz pensar na vida mansa dos escribas do antigo Egito,
por exemplo, em comparação com a tarefa insana dos que têm que registrar as
efemérides (palavra antiga, mas cheia de conteúdo, que não perde a importância)
atuais. Piscou? Já mudou ou perdeu o significado. Não a palavra, mas os
eventos. É como se o ser humano estivesse num redemoinho em direção ao fundo de
um espiral cada vez mais apertado e veloz. Lascou, né?
É nesse mundo, do qual você voluntariamente se isolou, que
sigo pluctaplacteando pra cima e pra baixo sem conseguir romper essa camada estratosférica
e seguir viagem. Agora, então... Cheguei à conclusão que me querem aqui. Nada
explica essa falha persistente em minha nave. Já tentei, inclusive, o auxílio
da queridinha do momento, a AI, Inteligência Artificial. Ai, ai, Iaiá. Ainda
não tem AI pra tudo.
Como todo bom ser humano, as Ais disputam uma corrida
insana para o aprimoramento de suas “inteligências”. Agora, o Bard do Google
chega ao Brasil e a UE, União Europeia. Pra lhe informar, Elon Musk, dos carros
voadores, das viagens espaciais, da incrível desconstrução do bom e velho
twitter (que você usou desde 2008, quando ainda se socializava com esse planeta),
o que chamou Zuckerberg para a porrada, como contei na última cartinha, vem com sua
Xai, quer dizer xAI. Tão Eike Batista com seus Xs. Aquele que, entre outras
façanhas, repaginou o lindíssimo Hotel Serrador (SQN)
Opa! Você sabe o que é SQN (Só Que Não)? Pergunto por
constatar que fazem quase 10 anos (eu disse 10 anos!) que nos comunicamos pela
primeira vez. Tanta coisa mudou de lá pra cá querida cronista que tão bem me
recebeu quando comecei a pipocar nesse planeta. Tem até quem ache que o mundo
começou um pouco antes disso!
Enquanto parte dos humanos navega por mares das redes
sociais, compara e alimenta as Ais, sem entender o alcance das ferramentas, (como
a do bilionário que quer “entender a verdadeira natureza do universo”) e, para
isso, gasta fortunas incalculáveis, o planeta agoniza. Ciclones varrem
continentes, o calor assola o hemisfério norte e por aí vai. As guerras? Aos
montes. Há, inclusive, a “ameaça” de deflagração da terceira mundial. É
justamente ela, a natureza mencionada agora a pouco que manda alertas que,
parece, não surtam efeitos práticos.
Além das atrocidades humanas cada vez mais bárbaras, já
que instrumentalizadas com requintes de covardia, é a vez do mundo animal,
especialmente os marinhos, se manifestarem e intrigarem os humanos. São as
orcas que atacam barcos pesqueiros. Será por que, cara cronista, perguntam os
cientistas? Tem gente esperando que as Ais respondam...
Tirei um sorriso do seu rosto, não é, amiga?
Vou tirar outro quando contar que vem do seu amado Mato
Grosso a nova modalidade de estupidez legislativa. Um personagem patético que
os votos dos eleitores da capital do estado de políticos como Dante de Oliveira
(sempre lembrado por sua emenda das Diretas Já que mobilizou o país pelo fim da
ditadura), quase levou à prefeitura de Cuiabá há 3 anos atrás.
Cronista, devia ter sido eleito. Sua performance
escalafobética estaria restrita ao âmbito municipal e seria uma confirmação do
ditado que diz: “quem pariu Mateus que o embale”. Como não ganhou em 2020,
eleito deputado federal, assombra as sessões legislativas federais.
Usa, entre outros artifícios, o bordão do professor Enéas,
repetindo em suas lacrações, quer dizer, gravações, a abertura “meu nome é
Abílio”. Feio, cronista, muito feio seu papel e dos marqueteiros que chuparam o
mote. Há uma diferença primordial entre os dois personagens. Um era
inteligente, um cientista. A cópia fake, para não usar adjetivos degradantes, é,
no mínimo, tosca. Tosca mesmo. Sem pudores ou vergonha.
A única esperança para quem acompanha os trabalhos
legislativos federais é que a triste figura se lance novamente candidato a prefeito
de Cuiabá. Se ganhar o pleito livra Brasília e o Congresso de sua presença
inconveniente, vergonhosa e nada propositiva. Mato Grosso jogou fora a chance
de contribuir com o aprimoramento do sistema democrático brasileiro ao eleger
como um de seus representantes uma caricatura de maus modos.
Não há AI capaz (ainda) de tal feito. Foram os eleitores
mato-grossenses mesmo...
*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Essa crônica faz
parte da série “Fábulas Fabulosas”, do SEM
FIM... delcueto.wordpress.com
Texto e fotos de Valéria del
Cueto
Como você
sabe, ultrapassamos mais um período de apogeu na história da humanidade. O
mundo segue numa descida cavada em direção ao fundo do poço civilizatório. Digo
ultrapassamos porque, diante de minha incapacidade de romper a bolha da camada
de ozônio, passei a fazer compor, se não diretamente, como extraterrestre
observador inserido na distopia humana.
São
justamente as bolhas que impedem o correto desenvolvimento da espécie. Nesse
momento, ao contrário das correlatas as de sabão, elas não se dissolvem, nem se
misturam, após explodirem diluídas no composto saponáceo que as fazem belas,
inquietas, coloridas e efêmeras.
Seu amigo
Pluct Plact fala, cronista, de bolhas resistentes, fundidas temperadas no ódio,
cimentadas com o rígido concreto da intolerância. Quando se rompem, explode a
violência, a brutalidade.
Tudo que
esse mundão não precisa nesse, ou em qualquer momento. A guerra na Ucrânia
prossegue implacável. Do Sudão conflagrado nações retiram seus representantes
diplomáticos e cidadãos. Dois de muitos exemplos de conflitos.
Por aqui, o
“eles contra nós” corrói as instituições com manifestações explicitas de
egocentrismo e idolatria cega cujos objetivos, já sabemos, causarão danos
colaterais à maioria da população que elegeu seus representantes para
conduzirem os destinos do país.
Cronista, é
só umbigo. Tudo funciona em torno dele. Os verdadeiros interesses populares são
como peões num tabuleiro de xadrez, prontos para serem sacrificados em prol de
interesses defendidos por grandes lobbies.
O todo não
é tudo! Aliás, é nada...
Os juros
mensais estão em 13,75%, a maior taxa de juros reais do mundo! 77,9% de
brasileiros estão endividados, são escravos do fantasma da inadimplência.
Há, querida
cronista, uma nova forma de domínio. A inteligência artificial comanda e
substitui os humanos em diversos e cada vez mais variados campos. Um número
exponencial de empregos e funções deixam de existir com o avanço da tecnologia.
Você já viu
esse filme. A realidade ultrapassou a ficção que não serviu de alerta efetivo.
A humanidade já se atirou no precipício de um (ou vários) projeto(s) de domínio
da inteligência artificial.
Houve uma
tentativa de interromper o processo. Cientistas e lideranças das big techs do
mundo todo pediram uma pausa de (pasme) 6 meses para estudarem o impacto do
pulo no escuro irreversível que foi dado e tentarem uma regulamentação do
processo. Não funcionou. Os mesmos que assinaram o manifesto continuaram mimando suas “filhotas” que, claro, ignoraram solenemente as intenções de
seus criadores e seguiram impávidas alimentando seus quase incomensuráveis bancos
de dados.
Termino
essa missiva que seguirá até você pelo raio de luar que invade sua cela para,
mais uma vez, agradecer nossas conversas. Uma delas me permite mal comparar
esses eventos com a sabedoria do gênio do futebol chamado Garrincha. O craque,
em sua estreia na Seleção Brasileira, na preleção do
técnico Feola no jogo contra a União Soviética, depois
das instruções de como “driblar” o esquema tático do adversário, perguntaria:
“Já combinou com a Inteligência Artificial?
PS: Antes
que me esqueça, sem querer zoar com você (uma atitude tão humana que faz parte
do ritual), o time de Mané derrotou o seu Flamengo por 3X2. Apesar de contar
com um jogador a menos. Pensa num amigo querido feliz! Ele mesmo, o Magnífico
Gabriel Novis Neves...
Falei e
corri, quer dizer, voei.
*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Texto da série “Fábulas
Fabulosas” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com
https://youtu.be/na8CUEyUj2w link
preleção Fiola.
Texto e foto de Valéria del Cueto
Com o fim dos jogos olímpicos de Tokyo 2020 em 2021 o esporte
liberado é perseguir o sol e o calor numa montanha da serra fluminense.
Caprichosos, os raios do “astro rei” requebram na varanda do lado norte da casa
encarapitada na encosta.
Claro que o requebro não se dá por seu movimento leste/oeste,
nem pelos obstáculos da construção, projetada para acolher seu calor. No
inverno protegendo e no verão refrescando seus habitantes (os quartos ficam
para o lado sul e os reflexos ao cair da tarde são belíssimos).
São as nuvens da franja final de mais uma frente fria que fazem
o esquenta/esfria de quem estiver ávido para armazenar um pouco de calor nesse
inverno incomumente rigoroso no Rio e outras parte do país. Elas dançam
embaladas pelo vento querendo chamar a atenção para seus movimentos imprevisíveis.
Primeiro escurecem o céu como uma parede e esfriam a varanda,
obrigando um movimento na direção da camiseta e da camisa de flanela que, assim
como o moletom, foram sendo retirados com muita alegria anteriormente quando o
corpo foi ficando quentinho e aquecido no lagarteio.
Aí, já rolou a primeira olhada para o paredão cor de chumbo. Ele
se apresentou compacto. Perseguia umas nuvenzinhas apressadas que pareciam
passar pelos ramos mais altos das árvores da Mata Atlântica que emolduravam o
céu antes azulzinho, azulzinho.
Parece que a resenha “quarar ao sol” terá que ser encerrada. Recolhe-se
os objetos ao redor. Moletom ainda não vestido, celular, bolsa com a máquina
fotográfica, caneca de chá...
Só deu tempo de estruturar o conteúdo do texto em pensamento. Seria
o mesmo tema que rola de quatro em quatro anos. O êxito individual e a falta de
incentivo aos esportes de base como parte da estrutura educacional no
crescimento, inclusive emocional - já que o assunto pipocou nessa edição
olímpica, de nossos estudantes e novas gerações de talentos.
Força de vontade, foco, disciplina e resiliência são algumas
qualidades desenvolvidas no cotidiano de um ambiente esportivo. Assunto pra
mais de metro.
Tudo pensado antes da passagem das nuvens na Sapucaí térmica de
Araras. Elas estão para o texto como o DJ que tomou de assalto as provas brazucas
no Japão.
Ele não era o objeto dos eventos. Se destacou agregando um novo
sentido à sua função precípua (vai pesquisar a palavra pra aumentar seu
vocabulário) ao usar seu “setlist” para criar uma nova camada de comunicação ao
dialogar e incentivar, não quem seria seu público inicial, as torcidas
presenciais inexistentes nos espaços esportivos, mas com os espectadores que
acompanhavam as competições do outro lado o mundo.
O DJ Stari mandou seu recado e contextualizou sua narrativa
amarrando pontas até então intocáveis(!?). Estimulou, também, o entusiasmo dos
jogadores. Ligando personagens e momentos especiais com as músicas do set,
preencheu um vácuo. Mandou a letra, soltou os bichos e conectou dois pontos
desse mundão. Ecoou.
Como as nuvens que gritam por atenção! Trocaram a configuração
de parede para um entra-e-sai da frente do sol, num vai-e-vem de frio e calor.
É tanto tira-e-bota camisa, moletom, meias e alpargatas que escrever que é bom,
nada.
Diz que vai esquentar enquanto esperamos os Jogos Paralímpicos. Mesmo
assim, é melhor brincar com as nuvens de “cadê o sol” e usufruir dos caprichos
do vento.
É ele quem, na realidade, manda no pedaço. Apesar de não vê-lo podemos
senti-lo e ouvir sua voz enquanto movimenta as nuvens que têm poder de apagar o
sol e proporcionar, ou retirar, o calor que nos aquece.
Mais ou menos como aquele, a divindade que nos conduz. Múltipla,
plural, incompreensível e que você leva, ou não, no coração...
*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Da série “Não sei
onde enquadrar” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com
Texto, foto de Valéria del Cueto
O silêncio vale ouro, diz o ditado, e a gente sempre pesa e pensa na ausência das palavras. Ultimamente, talvez por conta da pandemia, a frase adquiriu outro sentido. Muito mais amplo.
O ruído é tanto (e não é o Manifesto), que um momento de silêncio vale grafeno. Sabe o que é? O nanomaterial de carbono puro, (como o diamante) que é leve, condutor de eletricidade, rígido e impermeável.
O silêncio anda assim, tão excitante como o cristal mais fino conhecido, com utilidades em campos tão diversos como a dessanilização e purificação da água do mar e a redução de emissões de CO2. Sensores biomédicos poderão detectar doenças, células solares flexíveis e mais transparentes captarão energia. Ao ser adicionado a materiais de construção civil os torna mais leves e resistentes.
Tudo isso pode parecer distante do cotidiano. Mas e se o nanomaterial chegar aos cosméticos com sua pulverização na coloração dos cabelos? E na mobilidade urbana, com sua aplicação nos pneus e a fabricação de quadros de bicicleta que pesem 350 gramas?
O silêncio passou a ser tão valorizado quanto o grafeno! Enquanto todo mundo berra e grita, as obras martelam, quebram, esmerilham e calam os passarinhos prisioneiros das gaiolas do sétimo andar, as TVs, celulares, o “cinco, quatro, mais uma, três, dois, tá quase lá, ummm” da ginastica online do vizinho, o som das lives, dos filmes, das aulas, da porra da vida que passa.
O silêncio vale grafeno e o povo se esgoela pelos combustíveis fósseis...
Passei a persegui-lo, o silêncio, como um prêmio. Tentei a madrugada, com quem tenho afinidade. Descobri que ele não existe e fica mais difícil no verão. Dezenas de aparelhos de ar condicionado habitam o meu quadrado. De um lado, do outro, em frente, em cima, embaixo... Tá tudo dominado pelos roncos dos motores, alguns desregulados. Nem os miados do gato do andar de baixo são capazes de superar a barreira do ronco de concreto dos aparelhos mal aparafusados e trepidantes, ainda sem a tecnologia fantástica do grafeno.
Os únicos com possibilidades de quebrar a barreira da monotonia monocórdia e calorenta são os latidos estridentes e histéricos do cachorro da vizinha que vem do alto, mas não muito. Mas ele prefere dar seu showzinho já de manhã, quando os ares já começaram a ser desligados. E nos acordar, claro. A mim e aos vizinhos, porque aqui ninguém larga a mão de ninguém. Tá todo mundo na mesma vibe, isso antes das obras enlouquecidas da pandemia. Virou sinfonia!
Sem o dia e a calada da noite o que resta? Trocar o quarto pela sala que dá para um espaço mais amplo e menos interno, apesar de ser de fundos. E apelar para o amanhecer.
A virada mais difícil para quem, como eu, gosta de atravessar a noite. Mas como ir dormir quando a batucada começa cedo e termina lá pela hora do chá? Das cinco da tarde...
Temos mais um esforço indesejado, porém necessário.
Achei o silencio por poucas horas, entre às seis da matina e o início da aula de ginástica e o “três, dois, um” online de um vizinho abusado e sem desconfiômetro que geme e bufa a cada movimento. Antes, pra saber que há vida na terra, se manifesta animadona a arara da casa da vila que tem a mangueira e outra árvore gigante que anima e esverdeia a coleção de janelas da parte interna do quarteirão.
E sim ele vale grafeno. Ver o nascer do dia se colorindo, no céu cercado de janelas adormecidas em Copacabana, em silencio total, custa caro para quem não gosta de acordar cedo.
E não tem preço quando a gente não sabe viver sem ele...
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Da série “Arpoador” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com