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segunda-feira, 7 de julho de 2025

Tempo, tempo

Tempo, tempo

Texto e foto  Valéria del Cueto

Nem o tempo do tempo anda com tempo, acredita cara amiga cronista?

O que dirá euzinho, extraterrestre enleado nessa gravidade que me aprisiona e impede maiores voos, graças a essa atração da camada de ozônio mal cuidada.

Estou como sempre, mas não a toda hora, de passagem pelo raio de luar que se projeta entre as barras da janela de sua cela, voluntariamente ocupada do outro lado do túnel.

As notícias de lado de cá se acumulam desde a última mensagem enviada já faz um tempo (olha ele).

Sigo plucplateando por esse mundão tentando me desviar dos inúmeros artefatos mortais lançados por todos os lados nas constantes batalhas em que os povos se digladiam mundão a fora.

São bombas pra cá, mísseis pra lá, drones pra todos os lados. E vidas, muitas vidas perdidas.

Eu? Desvio, rebolo e pipoco tentando acompanhar os eventos que se multiplicam a torto e a direito.

Sinceramente, cronista? Quero paz.

Mesmo que seja na perda de tempo que, avisam os cientistas estarrecidos, está encolhendo em vários dias nos próximos dois meses.

Não, cara amiga. Não é papo de maluco. É observação científica na veia e com datas marcadas. A saber: 9, 22 de julho e 5 de agosto.

Nesses dias, afirmam os especialistas, os dias terão menos que as 24 horas de praxe. De novo...

O porquê? Nem eles sabem.

Sabem que isso já aconteceu antes e que o ano de maior aceleração foi 2024. No dia 5 de julho o tempo encurtou 1,66 milissegundos!

As causas que provocam alterações na velocidade de rotação são mudanças no nível do mar, deslocamentos da Terra ou afastamento da Lua da Terra. Eventos como terremotos também aceleram a rotação.

O X da questão é que, apesar de serem capazes de cravar os milissegundos perdidos em cada anomalia desse ano, 1,30 no dia 9, 1,38 22 de julho e 1,51 em 5 de agosto, conforme previu o astrofísico Graham Jones, da Universidade de Londres, os especialistas não têm explicações para a taquicardia do tempo.

“Baseada nos modelos oceânicos e atmosféricos, que não apresentam alterações significativas para a aceleração, a maioria dos cientistas acredita que seja algo de dentro da Terra”, disse Leonid Zostov, da Universidade de Moscou ao timedate.com.

“Está bem, Pluct Plact, mas e eu com isso?”, sei que você está se perguntando, cronista.

Com você, aí na sua clausura analógica, absolutamente nadica de nada. Mas com os GPSs e sistemas de precisão, sim.

Aqueles, que controlam, por exemplo, as máquinas de guerra que vomitam seus petardos mortais mundo a fora. Sabe o que significa 1,51 milissegundos na hora de mirar um alvo?  

Pode parecer um trisco, porém, assim como na vida, o tempo deverá ser recalibrado e, espero, as mensagens contidas nesses soluços, sejam captadas por quem de direito.

Porque elas estão aí, para quem quiser interpretá-las. Dizem que até na Bíblia!

Segundo Mateus 24:22 “Se aqueles dias não fossem abreviados, ninguém sobreviveria; mas, por causa dos eleitos, aqueles dias serão abreviados”.

Detalhe: os versículos seguintes trazem o alerta. 

Diz Mateus 24:23 “Se, então, alguém disser: ‘Vejam, aqui está o Cristo’ ou: ‘Aqui está ele!’, não acreditem”. 

E segue em Mateus 24:24 “Pois aparecerão falsos cristos e falsos profetas que realizarão grandes sinais e maravilhas para, se possível, enganar os eleitos.  

E por aí vai...

Perdoe, por favor, seu amigo interplanetário. Demoro e, quando passo, procuro trazer apenas notícias extraordinárias, mesmo as que não influenciarão, espero, sua reclusão voluntária.

Quanto ao dia a dia, segue na mesma levada alucinante e muito mais claustrofóbica que sua cela.

É pedra cantada, sem direito a retruco. Como nas BETs da vida...

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Da série “Fábulas fabulosas” e do SEM FIM...  delcueto.wordpress.com

ATUALIZAÇÃO:

Querida cronista. Atualizando "Tempo, tempo". Notícia publicada, dia 15 de julho, em A Tarde:

" Igreja evangélica faz tatuagem em fiéis"

O versículo tatuado é Mateus 24:14 que diz: "E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim."

Ass. Pluct Plact, nas Fábulas Fabulosas


Studio na Colab55

quarta-feira, 26 de março de 2025

Só acaba quando termina

Só acaba quando termina

Texto e fotos de Valéria del Cueto

Não espere mais nada de mim. É tudo que tenho para dar. Tento me reconectar a vida depois de mais um carnaval. Procuro fios que me interliguem ao espaço que volto a ocupar.

O barulho da água que despenca do desvio do rio na piscina pode ser um desses fios. O ruido sempre foi um seletor de pensamentos que reproduzo aqui no caderninho quando junto a contemplação dos movimentos do reflexo na água. Faço dessa dança uma peneira que afina e conduz as ideias tramadas nessas páginas.

Tento, tento, tento... sem muito sucesso.

O João e a Vânia, meus senhorios no paraíso, inconscientemente fazem parte desse esforço. Ele, quando me apresenta uma frutinha que nunca vimos chamada cauá-piri, ou cauá-pixi ou moranguinho do mato. É rasteira e fotogênica.

Pausa. Tempo de pesquisar para descobrir do que se trata, já que seus frutinhos minúsculos vermelhos se destacaram no chão embaixo da jabuticabeira e, segundo João, as sementes podem ter sido trazidas pelos passarinhos que fazem suas refeições nas árvores brasileiríssimas.

Vania contribuiu me apresentando mariolas deliciosas de uma marca que não conhecia e balas Toffee recheadas de creme de hortelã. Ajudam no regime de engorda para me recuperar um pouco do desgaste físico da Sapucaí.

Mas... falar de mariola me leva novamente à pista. Acontece que a delícia fluminense (as de Rio Brilhante são sensacionais) faz parte do kit alimentação especial das noites e madrugadas carnavalescas.

Ele é composto de sanduíche de queijo, as mariolas sem açúcar cristal em volta, pra não piorar a lambança na pausa embaixo do segundo módulo de julgadores em que costumo descansar entre uma escola e outra, se não estiver encarapitada na torre de transmissão.

A matula também contém sementes de guaraná maués, um quente, pra fechar o rebite e água, muita água.

Então, mariolas me transportam, mas não me levam a sair da realidade já passado do templo do samba...

O que, de uma certa maneira, é bom devido a etapa do trabalho que vem depois da folia: editar os registros que fiz.

Uma tarefa que exige atenção e paciência. Ouvir os sambas da escola que está sendo editada, decupada e indexada comendo mariola torna o ambiente perfeito para mergulhar na missão.

Confesso que faz tempo desisti de participar da competição de quem publica mais rápido seus registros. Essa edição fina e a catalogação do acervo carnevalerio.com me tiram dessa animada e salutar disputa entre os fotógrafos. O que, de certa maneira, interferiria no resultado do material que disponibilizo nas plataformas.

Sem alarde o conteúdo vai sendo construído ao longo dos anos. É interessante o resultado? Sem dúvida. Depois da indexação as imagens ficam disponíveis publicamente em baixa resolução no Flickr.

Já estou no carnaval de novo! E, dele, não consigo largar.



Parei para dar um mergulho e, pra não perder a mão, fazer umas fotos das flores de São Miguel que estão explodindo na borda da piscina.

Quando chego perto “pesco” a iluminação sutil que o reflexo da água faz no carro alegórico de florezinhas azuis que saltitam ao vento da Mata Atlântica.

E aí, pra não perder a mão, o lado do meu eu carnavalesco pergunta ao outro, que tenta se situar no meio do mundo do ano que se inicia:

“Será que num carnaval do futuro os iluminadores aprenderão a fazer uma luz tão delicada e sutil quanto essa, gerada pela natureza?”     

Desisto do diálogo de mim comigo mesma e vou editar. Afinal, como a vida, o carnaval só acaba quando termina...

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Da série (ainda) “É carnaval” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com




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terça-feira, 20 de agosto de 2024

Para melhor


Para melhor

Texto e foto de Valéria del Cueto

Do meio do mundo emanam energias desconexas. Não, não me refiro ao contexto global. Apostar na falta de direcionamento seria um erro crasso de avaliação. Entre idas, vindas e acontecimentos é razoavelmente possível antever os fatos. Vivemos de efemérides previsíveis a curto e longo prazo.

Depois das Olimpíadas, utopia do encontro dos povos promovida pelos esportes com suas incríveis histórias de solidariedade e congraçamento, seguimos às Paraolimpíadas já misturadas com a temporada eleitoral. Aí tudo pode acontecer. Até a proposta de construção de um prédio de um quilômetro de altura na maior cidade da América do Sul, feita em meio a palavras de baixo calão, xingamentos e a demonstração pública de que o mundo político é uma selva em que o que menos importa é o bem comum. Ele, que deveria ser o objetivo dos candidatos seja a que cargo for.

Até os poderes que, em tese, deveriam ser harmônicos se digladiam em busca de... mais poder enquanto defendem com unhas, dentes e todos os golpes baixos prerrogativas que ocultam do povo. Privilégios que avançam sobre direitos básicos constitucionais. Cada um puxando a brasa para sua sardinha conforme o gosto de quem pode mais. E a gente vendo a banda das emendas do orçamento secreto tocando o dobrado do nosso dinheiro sendo entocado na encolha.

Ando longe dessas artimanhas, mesmo acompanhando de perto, pode dever de ofício, esses movimentos que compõem, como sempre, formas de domínio sobre a população.

Sim, tangidos pelas datas obrigatórias seguimos estimulados a tornar público e notório nosso dia-a-dia. Tem dia pra tudo e, parece, somos movidos por esses apelos sociais. Falta de interação é quase como deixar de existir. Experimenta não fazer uma postagem nos stories sobre, por exemplo, uma data comemorativa. Las-cou.

Desisti de seguir esse dobrado. Não sou gado pra ser tangido. Também cansei de opinar sobre tudo e todos, como se fizesse alguma diferença nesse mar de informações. É assim que se diluem ideias e posicionamentos. Pulverizados pela exigência de multiplicidade de compartilhamentos sociais. Perdidos no caldo indigesto de mensagens, emojis, gifs e memes que bombardeiam numa overdose viciante as redes sociais. Não condeno, não recrimino, mas tento fugir dessa esparrela que toma tempo e reduz a perspectiva histórica a próxima data comemorativa da folhinha. Tenho outras preocupações mais relevantes no momento.

Por exemplo, tento racionalizar as perdas de pessoas queridas. A quem interessar possa informo que resolvi não escrever sobre os que partem. No ritmo atual das despedidas teria que incrementar e muito a periodicidade da produção de textos para, merecidamente, exaltar os méritos de gente que fez e faz parte da minha história de vida.

Outro dia acho que falei que essa era uma forma de quebrar o luto e afastar a tristeza. Uma maneira e lúdica de concentrar e eternizar carinhos e afetos. Só que... no ritmo atual isso restringiria a temática da produção de cronista. Daí, pensei em outras formas de “embrulhar” esses momentos.

Fazer uma refeição especial seria uma solução. Cortar cebolas para chorar à vontade, misturar temperos de lembranças apurando encontros, esperar o ponto de cozimento para abraçar carinhosamente as saudades... Desisti dessa opção quando lembrei que sou uma negação culinária, especializada em pastinhas, molhos e, no máximo, saladas. Meu repertório não comporta as necessárias variações de tempo/espaço e sentimentos, além de não haver registros acessíveis depois de consumida a pretensa iguaria.

Com depurar e manter viva as ausências. Com que relacioná-las? Resolvi a charada inconscientemente quando de tão doída decido driblar a dor da perda partindo, por assim dizer, para a falta de ignorância. Me refugiei num livro. Voltei a um hábito que sempre me ajudou a fugir, tomar distanciamento e, sim, resolver problemas. Matei vários coelhos, cada qual com sua cajadada. O primeiro o foi ampliar um prazer, o da leitura. Os demais se acumulam a cada obra finalizada. Pro Aluízio Dezizans, “Os Romanov”, de Simon Sebag Montefiore. Renato Gomes Nery ganhou “Maldito invento de um baronete – uma breve história do jogo do bicho”, de Luis Antônio Simas. A Mauro Cid coube “Pessoas Decentes”, de Leonardo Padura.

Outros, certamente virão. A cada passagem, uma viagem literária. Pra melhor...   

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Crônica da série “Não sei onde enquadrar” do SEM FIM ... delcueto.wordpress.com


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terça-feira, 31 de outubro de 2023

(Ch)orando mando a dor embora

(Ch)orando mando essador embora  

Texto e foto de Valéria del Cueto

A casa no meio do mundo é de Oxum. Como eu, ela chora. Vejo fios de suas lágrimas nas paredes azulejadas. Sinto o piso molhado quando caminho descalço em direção as janelas para fechá-las. Hoje isso é um perigo. Um copo escorregou do escorredor e se esfacelou no chão da sala.

A única maneira de secar o pranto acumulado entre as paredes é impedindo a entrada da umidade carregada pelo ar puro do rio que serpenteia ao lado da garagem no andar de baixo.

É como meu reservatório de choração. Nada de conter, tem que esvaziar. Prefiro quando consigo abrir o peito e deixar o choro desabar como cachoeira. Pronto, passou. Mas tem lamento que é de corixo. Vem mansinho, vai longe passeando entre a vegetação ribeirinha e tentando dar uma paradinha. É pranto de remanso. A cada música, lembrança, pensamento...

Esse é aquele que a lágrima fica pendurada e desce devagar, fazendo cócegas no rosto. Até outro dia tinha mantido a promessa de chorar preferencialmente por coisas boas.

Tirando a tristeza, o que me faz chorar com mais facilidade é a raiva. É uma reação imediata. Nem estou “chorando” e as lágrimas já começam a rolar abusadas e desobedientes. Como dizia Carol, chefe de gabinete de Luizinho Soares e escudeira de vida dele, espantada: “E você nem faz careta. Não fica com cara de choro”!

Pois é. O “X” da questão é o que vem depois. Pra mim, esse rompimento de represa é um sinal de que há o risco de virar bicho. Para evitar esse processo tenho corrido de demandas. Deve ser a tal sabedoria da idade. Funciona até a terceira página. Daí pra frente...

Estou chorando. Me prometi uma crônica quinzenal. A meus editores e leitores. Para isso, insisto, logo, penso... E acabo me enroscando porque apesar de ter tanto a dizer (não me pergunte como, depois dessas centenas de textos publicados) não consigo organizar de forma clara as ideias.

Ao som do violão payador de Noel Guarany sigo no ritmo da vassoura com que (esqueci que o piso está chorando) puxo pra fora de casa a poeira em pleno domingo tentando limpar a alma e organizar a crônica. Sou péssima na função, mas gosto de fazer a vassoura riscar o chão chiando e dançando ao ritmo da milonga, no momento.


Para tudo! Corta o plano para quando mal imagino a poeira sufocante e quente da terra arrasada de Gaza. Para não abrir as janelas (mais umidade porque meu choro já começou) corro pra porta. Do lado de fora o vento e os passarinhos. Os que, certamente, não passeiam assanhados entre os escombros provocados pelas mãos dos homens da guerra. E ele rola...

Pra escrevinhar essa crônica meu refúgio é ao lado dela, a queda d’água. Um desvio do rio que já dialogou com você, leitor, em outras ocasiões. Oxum canta pra mim.

Sinceramente, entendo o todo, mas não alcanço os pormenores que fazem alguém achar que tem direito adquirido a qualquer tipo de morticínio. Seja lá quem for. Penso nas mães vendo seus filhos transformados em máquinas assassinas a disposição da sanha de políticos desequilibrados.

Não estou preparada para represar as lágrimas de impotência e desalento diante de tanto horror. Nelas, derramo parte da dor que sinto por quem sofre, os que realmente se esforçam para tentar evitar a barbárie e todos os que, como podem, se manifestam mundo afora pela causa palestina, no caso.

As lágrimas de raiva e revolta vão para aqueles que, por conveniência e oportunismo, passam pano para o espetáculo pavoroso que o mundo acompanha atônito em tempo real.

Aos insanos que promovem e incentivam mais um genocídio com reflexos planetários um alerta divino.  Está tudo lá anotado no caderninho de Deus. Aquele de Amor. A volta, infelizmente, virá. É a lei do retorno em looping universal.

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Crônica da série “Não sei onde enquandrar” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com

 


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quarta-feira, 6 de setembro de 2023

Vai quem quer


Vai quem quer

Texto e fotos de Valéria del Cueto

Não vou nem dar tempo para pensar. É pegar e não largar. Começar a escrever. Como prometi no último texto. Fiquei pensando nessa dificuldade de manter uma produção regular do que escrevo no papel (na cabeça é o tempo todo).

Depois de desistir de encontrar uma causa-mor e com receio de elencar razões tão poderosas que me convençam a, ao materializá-las no papel, largar mão desse que é um dos meus ofícios desde 2004 (se não me falha - o que é possível- a memória, mudei o rumo da prosa. Não chego aos pés da produção sensacional de Gabriel Novis Neves mas garanto um honroso lugar nesse quesito de contação.

Enfim optei por um argumento que, espero, não me leve a nenhuma medida drástica e definitiva. Acontece que no momento estou dando um tiro um pouco mais longo. É um texto com mais do que as duas laudas convencionais do espaço que ocupo e, vez por outra, extrapolo nas páginas do Ilustrado do Diário de Cuiabá.

Cada vez que largo esse trabalho que, diga-se de passagem, vem sendo atropelado por outras missões, mudo o foco e perco o fôlego dessa maratona literária.

Foram algumas paradas para selecionar imagens para as exposições “A força feminina do Samba”, no Museu do Samba, aberta no final de julho; “Artesania Ancestral nos 95 anos da Mangueira”, no CRAB/Sebrae, agora no final de agosto, e a “Mangueira - Carnaval 2023”, no mezanino do Centro de Memória Verde e Rosa do Palácio do Samba. Essa, ainda sem data para a abertura.

Estou concentrada e vendo passar ao longe vários eventos que estão marcando a já iniciada temporada do carnaval 2024.

O mais interessante até o momento é, sem dúvida, a Fênix renascida da escolha do Rei Momo e da Corte Carioca. O que mudou? Pra começar a data da disputa. Saiu de um período cheio de eventos no final do ano para uma época em que há um vácuo na agenda da folia.

A segunda mudança foi a indicação das concorrentes que deixou de ser individual e passou a ser feita pelas agremiações. O povo do samba assumiu disputa e acatou a demanda. Pontaço pra a Riotur. As comunidades vestiram as cores de suas camisas e ocuparam a Cidade do Samba defendendo e torcendo por seus candidatos a Rei Momo, Rainha e Princesas do Carnaval 2024.

Foi um sucesso de público e engajamento nas redes sociais. E, se não rompeu, deixou a bolha carnavalesca em evidência por várias semanas seguidas recheada de mulheres divinas. As eliminatórias e a final transmitidas pelo youtube.

A escolha da corte emenda com as disputas dos sambas enredo que prometem e lotarão as quadras, agitando o mundo do carnaval, até o feriadão de outubro. É o prazo para que as obras sejam definidas e as escolas entrem em estúdio para as gravações oficiais.

Exatamente para fugir dessa agitação é que me isolei no meio do mundo. Também é por isso que me esforço em manter a periodicidade das crônicas novamente. Se não for dessa maneira corro o risco de perder o contato com o mundo exterior, mergulhada no texto e imagens que exigem fôlego de nadador.

No caso atual de nadador com pouca ou nenhuma experiência em tiros longos, como o que me proponho agora. Confesso me dá um certo medinho de morrer nessa praia desconhecida e, por enquanto, inóspita.

O que me salva e segura minha onda são as participações coletivas nas exposições que mencionei, e, informo, ficarão abertas por bastante tempo.

Até o final do ano, no caso da “A força feminina do Samba”, e, esticadas para depois do carnaval, a do CRAB/Sebrae e a do Centro de Memória.

Deixo aqui, caros e fiéis leitores que passarem pela Cidade Maravilhosa, um convite para visita-las. Quem sabe, avisando com antecedência, não saio do meio do mundo para uma visita guiada?

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Crônica da série “É Carnaval” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com


Studio na Colab55

terça-feira, 22 de agosto de 2023

Mundo e meio


Mundo e meio

Texto e foto de Valéria del Cueto

Perdão aos fiéis leitores pela ausência prolongada. Quase pulei a escrevinhação de novo. Acontece que estou de muda e quem me acompanha sabe das preferências que cultivo para desenhar em palavras as imagens que descrevo nessa série das crônicas.

Sim, faltam elementos quase essenciais nesse momento. A praia e o barulho do mar. Sem eles, sabe o que me estimulou e empurrou para o inevitável caderninho? Um momento clássico que já inspirou o início de vários textos. “Hoje é sexta-feira, meio da tarde e estou no sol...” e por aí vai. É um chamado praticamente irresistível, pelo menos pra mim!

Então, pergunte amigo, o que faltava para impedir essa longa ausência? E respondo: Ele, o sempre requisitado caderninho.

Acontece que em diversas idas e vindas para o meio do mundo, onde não tem praia, o objeto essencial e do qual sou dependente e carente havia ficado pra trás, esquecido na bancada do quarto, em Copacabana.

Sim, já escrevi crônicas diretamente no computador em algumas viagens. Só que... não é a mesma coisa. Gosto de desenhar as letras, caligrafando as imagens nas frases enquanto a caneta corre desembestadamente veloz atrás dos pensamentos que tento amarrar no papel.

Papel, entendeu?

Aceitei a ausência do hábito de escrevinhar até conseguir me adequar a nova paisagem. Canga? Tem. Mas não na areia. Num deck de ripinhas torturantes se estiver na posição errada. Que o digam os ossinhos do meu tornozelo magrelo.

Natureza? Também tem. E com uma vantagem. Em vez dela dominar 180 graus da cena como na praia (onde a outra metade é dominada pelos prédios da orla), aqui, a mãe Terra me acolhe em 360 graus de verde e exuberância.

Em vez do chacoalhar das ondas vejo o vento balançando árvores e-nor-mes e a amoreira (que outro dia estava pelada) e já começa a frutificar depois da florada.


A primeira leva de jaboticabas já se foi devorada pelos passarinhos (com minha ajuda), ou derrubada na última ventania. Comi lembrando do pé inesgotável do jardim da fada Louriza, na Chapada dos Guimarães.

O barulho do mar, esse não tem. Foi substituído pelo som da queda d’água desviada do rio. Ela abastece a piscina de água natural e jorra copiosamente. É uma delicia de massagem. Geladona! Só que hoje é tarde de sexta-feira e, apesar de ser inverno e agosto, o sol está de rachar. Sim, vai rolar um mergulho quando dispensar você junto com o caderninho, amigo.

Estou quase lá. Chego depois de deixar de lado a gêmea incutida de Manoel de Barros, o poeta mato-grossense das miudezas e delicadezas que me habita e protege das notícias do mundo louco que rola desgovernado logo ali.

Por enquanto me limito a observar o entrono exuberante que me cerca enquanto literal e praticamente bebo dessa fonte de água natural.

Não sei você. Mas, no meu caso, foi esse distanciamento silencioso e voluntário que ganhei de presente para ultrapassar os dias turbulentos que vivemos.

Quer saber onde estou? Não conto. Aqui parece um sonho e tenho a impressão de que se contar vou acordar. Me lembro dele, Luizinho Soares, e um de seus ditos preferidos: “Quanto menos conversa, nenhuma”. Então, guardo segredo (não sei até quando) pra não quebrar o encanto. Me divirto no difícil desfio de não entregar o ouro. Nem a você, leitor amigo, nem aos bandidos que pululam por aí, prontos pra darem o bote e acabarem com paraísos que nunca os abrigarão.

Afinal, eles, os paraísos, são feitos apenas para quem, como você e eu, fazemos por merecê-los!

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Essa crônica faz parte da série “Não sei onde enquadrar”, do SEM FIM... delcueto.wordpress.com

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