Rápido, rasteiro e avassalador. Querida cronista
voluntariamente clausurada do outro lado do túnel, estes são os adjetivos que
descrevem os rumos do planeta ao qual você, sabiamente, resolveu virar as
costas novamente depois de sua escapulida no carnaval.
Sim, cronista, assim como o Grande Irmão que vigia
o cotidiano dos habitantes do planeta Terra em todos os seus movimentos, também
conseguimos nós, os extraterrestres visitantes, jogar nossa mira telescópica
sobre os indivíduos cujas rotinas nos interessam observar. No seu caso, o fiz
pelo mais genuíno interesse: a amizade que tenho por quem me introduziu nos meandros
humanos. Você!
Nesse período em particular, por nada nesse
universo de dados circulantes, deixaria de “bizoiar” suas atividades quase secretas
carnavalescas.
Acompanhei a tensão nas inúmeras etapas para obter
os credenciamentos dos ensaios técnicos, mais acessível, e o dos desfiles
oficiais, na maratona de todos os anos e suas variantes.
Vi seu esforço para tentar o quase impossível:
cobrir todas as escolas da Série Ouro e do Grupo Especial.
Senti na minha epiderme protetora (quem aguenta o
calor daqui?), sua frustração por não conseguir fotografar parte das escolas
que almejavam chegar na elite do carnaval carioca, incluindo aí a Acadêmicos de
Niterói que alcançou esse direito. Imagino a sua decepção por não ter o material
para incorporar no acervo carnevalerio.com
Vi a emoção brotar explicitada nas fotos e vídeos
do ensaio técnico do Império Serrano, por exemplo, após o fogo que lambeu
atelier e ceifou a vida de artesãos no espaço incendiado em Madureira.
Falo daquele episódio que parece fazer parte, apenas,
de um carnaval que passou. Sem trazer maiores providências para evitar novas
tragédias no processo de produção e desenvolvimento das escolas de samba,
especialmente as dos grupos inferiores, que desenvolvem seus desfiles em
condições tão precárias. Vi tudo e muito bem!
A parte boa é que não faltam imagens para serem
editadas e indexadas nos próximos meses em sua reclusão voluntária.
Elas são representativas da paixão inebriante que
move a maior festa popular do planeta. Aquela que não se restringe ao berço das
escolas de samba, o Rio de Janeiro, mas se expande e prolifera por muitas
cidades do Brasil, e até do mundo, em ritmo de samba.
Tudo isso, cronista, é muito bom para garantir sua
sanidade. Afasta-a da realidade cruel que movimenta esse planeta Terra que não
é mais aquele.
Foi-se o tempo da delicadeza, da gentileza. Uma
nova velha geração, no momento, testa as barreiras da intolerância e da
brutalidade. Guerras e disputas se retro alimentam apesar dos alertas de quem
sabe aonde isso vai dar. São muitos esses avisos. Porém, inócuos.
Não há mais conversas, diálogos, trocas de ideias.
Tudo é confronto e, sim, sem regras ou protocolos. No popular: é porrada e
bomba. Nada de argumentação.
Não vou particularizar os atos que incluem do
desequilíbrio comercial mundial à rapinagem pura e simples. Nesse quesito o
status quo foi destroçado.
O pau continua quebrando para enriquecer os
senhores das guerras em vários cantos desse mundão. Não há limites para
destruição, nem para a exterminação de populações inteiras.
O mais incrível é que eles não aprenderam
nada!
Quase ninguém parece se importar com o que estão
ensinando à nepobaby Inteligência Regenerativa, aquela que deixou de ser
artificial para se (con)fundir com os hábitos, rotinas e o cotidiano da
humanidade.
A impressão que dá é que, sabedor de que o próximo
passo é ser dominado por ela, o ser humano capricha em incutir no “modelo” seus
piores e mais tenebrosos instintos. Aguardem o tratamento que receberão depois.
Cansamos de avisar!
Está entendendo, cronista? Por isso tornei espaçada
nossa correspondência pela luz da lua que invade sua cela. Prefiro deixá-la às
voltas com as imagens capturadas em sua incrível fuga carnavalesca. Estive lá. Disfarçado.
Adivinha onde?
Tal qual a freirinha carmelita, que pula o muro do
convento de Santa Teresa para se acabar no bloco que leva seu nome, seu
objetivo é louvável: cair dentro da folia para fugir da realidade inexorável. É
a fresta da festa. A fresta, não a janela panorâmica que a vida deveria ser...
PS: Não mencionei o tombo porque você ensinou a mim,
PLuct Plact, o extraterrestre, a ser discreto.
Se os desfiles das escolas de samba no Rio de Janeiro,
transmitidos para o mundo inteiro, são caixas de ressonância que fazem ecoar as
questões abordadas nos enredos, por que não cantar a ancestralidade, suas
epopeias mitológicas e as influências no modo de vida material e espiritual de
quem produz e protagoniza o espetáculo?
Tem gira na pista e em dez dos doze enredos das escolas de samba
do Grupo Especial do carnaval carioca 2025. Os temas valorizam nossas raízes
africanas alertando sobre o crescente e alarmante aumento da intolerância no
país.
A vida como ela é - Nada de novo no universo das comunidades
do samba. São compostas pelo povo preto periférico que sofre com a dura
realidade e arbitrariedades em seu cotidiano.
Um exemplo são os terreiros proibidos de funcionarem em áreas
dominadas por evangélico/traficantes. O Complexo de Israel tem até bandeira daquele
país hasteada, na zona norte do Rio.
É uma hipótese para a predominância, no maior espetáculo popular
do planeta, de enredos sobre as tradições afro-indígenas religiosas. As
exceções são a Mocidade Independente e a Vila Isabel.
Mudanças estruturais – Há novidades na dinâmica do espetáculo promovido pela Liesa, a Liga das Escolas de Samba. Serão
três noites de disputa. De domingo a terça de carnaval quatro escolas passarão
pela Sapucaí seguidas de rodas de samba na praça da Apoteose.
Haverá alteração no número de cabines de jurados. Voltam a ser
quatro. Duas de cada lado, distribuídas ao longo da pista. O julgamento também
foi modificado. As notas não serão fechadas ao final de todas as apresentações,
mas após cada noite de desfile. Que diferença o novo formato faz? Veremos. Só
saberemos o resultado das mudanças após a abertura dos envelopes na apuração.
De arquibancada
- Essas e outras questões estiveram na boca do povo do samba que
bateu ponto na Sapucaí nos ensaios técnicos gratuitos, em 2025. Atire a
primeira serpentina quem não deu pitaco sobre a iluminação cenográfica. A que
transforma o visual das apresentações e acrescenta novos desafios estéticos à concepção
do espetáculo.
Os desenhos de luz se refletirão na avaliação dos quesitos? Como julgar,
por exemplo, o acabamento de fantasias e alegorias em meio ao pisca-pisca psicodélico
que esconde os detalhes das peças elaboradas pelos artesãos do carnaval?
Para aprimorar - As soluções de problemas
estruturais como o som da avenida, a segurança dos foliões no entorno do
sambódromo e a melhoria das condições de trabalho na indústria do
carnaval seguem em construção, apesar da urgência e relevância das
demandas.
Mas, como já dizia o samba consagrado, “o show tem que continuar”.
E, como “ainda estamos aqui”, a disputa pelo campeonato vai ser boa. Terá um
tempero especial: domingo tem Oscar, com Fernanda Torres e o filme sobre Rubens
Paiva concorrendo em três categorias. Vamos firmar o Xirê (roda ou dança
utilizada para evocação dos Orixás) e chamar os orixás! A vida presta e o
carnaval contagia...
Domingo, 02 de
março
A Unidos de Padre Miguel, campeã da Série Ouro em
2024, começa a gira com o enredo "Egbé Iya Nassô" dos carnavalescos Alexandre
Louzada e Lucas Milato. Canta o mais antigo terreiro de candomblé do Brasil, em
Salvador. A escola da Zona Oeste abre os caminhos e pede passagem: “Vila
Vintém é terra de macumbeiro. No meu Egbé, governado por mulher, Iyá Nasso é rainha do candomblé”
Após décadas sem enredos afros, a Imperatriz Leopondinense,
atual vice-campeã, embarca na proposta de Leandro Vieira: “Ómi Tútu ao Olúfon
- Água fresca para o senhor de Ifón”, um itan (lenda) sobre as peripécias da viagem de
Oxalá ao reino de Xangô. “Vai começar o itan de Oxalá, segue o cortejo
funfun...”
A Viradouro, de
Niterói,tenta o bi com “Malunguinho, o
mensageiro de três mundos”.
A mata, os mistérios da jurema e da encruzilhada compõem o enredo afro-indígena
de Tarcísio Zanon. Ele apresenta a entidade que é “O rei da mata que mata
quem mata o Brasil”.
A Mangueira trouxe
de São Paulo o carnavalesco Sidnei França para exaltar seus crias e a
influência do povo banto na cultura carioca e brasileira. “À Flor da Terra -
No Rio da Negritude Entre Dores e Paixões” projeta no contexto atual os saberes da negritude:
“O povo banto que floresce nas vielas, orgulho de ser favela”.
Segunda, 03 de
março
Na Unidos da Tijuca o samba conta com pesos pesados na
parceria encabeçada pela cantora Anitta. Desenvolvido por Edson Pereira, “Logun-Edé:
Santo Menino Que Velho Respeita”,
homenageia o orixá filho de Oxum e Oxóssi. “Eu não descanso depois da
missão cumprida, a minha sina é recomeçar...”
“Laíla de Todos os
Santos, Laíla de Todos os Sambas”, de João Vitor Araújo, chama à Sapucaí, mais uma
vez, o lendário sambista, carnavalesco e produtor musical autodidata, peça fundamental em vários campeonatos da Beija-flor. A
nação nilopolitana se despede de Neguinho da Beija-flor, que se aposenta, e roga
ao homenageado: “Volta e me dá os caminhos, conduz outra vez meu destino...”
“Macumbeiro, mandingueiro, batizado no gongá, quem
tem medo de quiumba não nasceu pra demandar. Meu terreiro é a casa da mandinga,
quem se mete com Salgueiro acerta as contas na curimba”. A parceria de
Xande de Pilares embala “Salgueiro de corpo fechado”, proposta do carnavalesco Jorge Silveira. Recado
dado...
O enredo de Paulo Barros “Quanto mais eu
rezo, mais assombração aparece”, na Vila
Isabel, foge da temática afro-indígena na safra 2025. Sai a macumba
e... “Solta o bicho, dá um baile de alegria. É o povo do samba virado na
bruxaria”
Terça, 04 de março
A Mocidade Independente de Padre Miguel abre
a última noite de desfiles. O enredo da dupla Renato e Márcia Lage (que nos
deixou no início do ano), “Voltando para o
futuro não há limites pra sonhar”, também foge da linha africana. “Quando o futuro
voltar, a juventude vai crer que toda estrela pode renascer”.
“Quem tem medo de
Xica Manicongo?”,
de Jack Vasconcelos, apresenta a primeira travesti do Brasil, fichada pelo Santo
Ofício. O Paraíso do Tuiuti terá o reforço de personalidades como
Eloína, pioneira no posto de rainha de bateria, e a deputada Erika Hilton.
Somam-se num protesto contra a discriminação, a homofobia e violência no país
que mais mata LGBTQIA+ no mundo. “Que o Brasil da terra plana, tenha consciência humana, Chica vive na fumaça”
"Pororocas
parawaras: as águas dos meus encantos nas contas dos curimbós". O samba da Grande Rio, da parceria de
Mestre Damasceno, veio das eliminatórias realizadas em Belém. Leonardo Bora e
Gabriel Haddad trazem do Pará a lenda de três princesas
turcas e encantarias da Amazônia. Paolla Oliveira se despede do reinado na bateria
de Mestre Fafá. “É força de Caboclo, Vodun e Orixá. Meu povo faz a curva
como faz na gira...”
Mando várias fotos
pra dar pra brincar com a diagramação. Claro que não consegui me decidir. Não é
preciso usar todas, nem na ordem. Fica a critério do Edson...
Uma matéria só como
fizemos ano passado.
A matéria é dividida
em: introdução, domingo, segunda e o box com a ordem dos desfiles, se couber.
Fotos:
Foto 01 – Topo
rasgada título na parte superior, no céu da Apoteose
ET Viradouro 250215
234 Ala da baianas componentes Apoteose boa
Título - Xirê na Sapucaí
Sub-título – Tem gira na passarela
do samba
Foto 2- ET Tuiuti 250201 153 Abre alas alegoria destaque leque fashion
Legenda – Tuiuti e o primeiro enredo LGBTQIA+ do Especial. Quem
tem medo?
Foto 3 - ET G Rio 250201 098 Ala
componentes adereços bamboles boa
Legenda – O colorido exuberante do carimbó na Grande Rio
Foto 4 – ET Mangueira 250201 071 CF componentes menino da Mangueira coroa
boa
Legenda – Os crias, herdeiros do povo banto, reinam na Mangueira
Foto 5 – ET B Flor 250201 010 CF componentes Exu boa
Legenda – Exu garante caminhos abertos na Sapucaí
Foto 6 - ET Tuiuti 250201 142 torcida frisas boa
Legenda – Na torcida, o amor e paixão carnavalesca
Foto 7 - ET Imp Leo 250215 103 Ala componente boa adereço coroa cut
Legenda – O povo do samba reina no quilombo da alegria
Foto 8 - ET Vila 250208 204 Destaque boa
Legenda – Um assombro a musa da Vila Isabel
Foto 9 - ET Portela 250208 078 Abre alas Águia CF componentes pista geral
boa
Legenda – Nas asas da águia portelense, a homenagem a Milton
Nascimento
Foto 10 - ET Portela 250208 176 Ala componente boa
Legenda – Girasssóis da Portela no caminho de Bituca
Se os desfiles das escolas de samba no Rio de Janeiro, transmitidos para o mundo inteiro, são caixas de ressonância que fazem ecoar as questões abordadas nos enredos, por que não cantar a ancestralidade, suas epopeias mitológicas e as influências no modo de vida material e espiritual de quem produz e protagoniza o espetáculo?
Tem gira na pista e em dez dos doze enredos das escolas de samba do Grupo Especial do carnaval carioca 2025. Os temas valorizam nossas raízes africanas alertando sobre o crescente e alarmante aumento da intolerância no país.
A vida como ela é - Nada de novo no universo das comunidades do samba. São compostas pelo povo preto periférico que sofre com a dura realidade e arbitrariedades em seu cotidiano.
Um exemplo são os terreiros proibidos de funcionarem em áreas dominadas por evangélico/traficantes. O Complexo de Israel tem até bandeira daquele país hasteada, na zona norte do Rio.
É uma hipótese para a predominância, no maior espetáculo popular do planeta, de enredos sobre as tradições afro-indígenas religiosas. As exceções são a Mocidade Independente e a Vila Isabel.
Mudanças estruturais – Há novidades na dinâmica do espetáculo promovido pela Liesa, a Liga das Escolas de Samba. Serão três noites de disputa. De domingo a terça de carnaval quatro escolas passarão pela Sapucaí seguidas de rodas de samba na praça da Apoteose.
Haverá alteração no número de cabines de jurados. Voltam a ser quatro. Duas de cada lado, distribuídas ao longo da pista. O julgamento também foi modificado. As notas não serão fechadas ao final de todas as apresentações, mas após cada noite de desfile. Que diferença o novo formato faz? Veremos. Só saberemos o resultado das mudanças após a abertura dos envelopes na apuração.
Na torcida, o amor e paixão carnavalesca
De arquibancada - Essas e outras questões estiveram na boca do povo do samba que bateu ponto na Sapucaí nos ensaios técnicos gratuitos, em 2025. Atire a primeira serpentina quem não deu pitaco sobre a iluminação cenográfica. A que transforma o visual das apresentações e acrescenta novos desafios estéticos à concepção do espetáculo.
Os desenhos de luz se refletirão na avaliação dos quesitos? Como julgar, por exemplo, o acabamento de fantasias e alegorias em meio ao pisca-pisca psicodélico que esconde os detalhes das peças elaboradas pelos artesãos do carnaval?
Nas asas da águia portelense, a homenagem a Milton Nascimento
Para aprimorar - As soluções de problemas estruturais como o som da avenida, a segurança dos foliões no entorno do sambódromo e a melhoria das condições de trabalho na indústria do carnaval seguem em construção, apesar da urgência e relevância das demandas.
Mas, como já dizia o samba consagrado, “o show tem que continuar”. E, como “ainda estamos aqui”, a disputa pelo campeonato vai ser boa. Terá um tempero especial: domingo tem Oscar, com Fernanda Torres e o filme sobre Rubens Paiva concorrendo em três categorias. Vamos firmar o Xirê (roda ou dança utilizada para evocação dos Orixás) e chamar os orixás! A vida presta e o carnaval contagia...
Domingo, 02 de março
A Unidos de Padre Miguel, campeã da Série Ouro em 2024, começa a gira com o enredo "Egbé Iya Nassô" dos carnavalescos Alexandre Louzada e Lucas Milato. Canta o mais antigo terreiro de candomblé do Brasil, em Salvador. A escola da Zona Oeste abre os caminhos e pede passagem: “Vila Vintém é terra de macumbeiro. No meu Egbé, governado por mulher, Iyá Nasso é rainha do candomblé”
O povo do samba reina no quilombo da alegria
Após décadas sem enredos afros, a Imperatriz Leopondinense, atual vice-campeã, embarca na proposta de Leandro Vieira: “Ómi Tútu ao Olúfon - Água fresca para o senhor de Ifón”, um itan (lenda) sobre as peripécias da viagem de Oxalá ao reino de Xangô. “Vai começar o itan de Oxalá, segue o cortejo funfun...”
A Viradouro, de Niterói,tenta o bi com “Malunguinho, o mensageiro de três mundos”. A mata, os mistérios da jurema e da encruzilhada compõem o enredo afro-indígena de Tarcísio Zanon. Ele apresenta a entidade que é “O rei da mata que mata quem mata o Brasil”.
Viradouro: em busca do bi
A Mangueira trouxe de São Paulo o carnavalesco Sidnei França para exaltar seus crias e a influência do povo banto na cultura carioca e brasileira. “À Flor da Terra - No Rio da Negritude Entre Dores e Paixões” projeta no contexto atual os saberes da negritude: “O povo banto que floresce nas vielas, orgulho de ser favela”.
Os crias, herdeiros do povo banto, reinam na Mangueira
Segunda, 03 de março
Na Unidos da Tijuca o samba conta com pesos pesados na parceria encabeçada pela cantora Anitta. Desenvolvido por Edson Pereira, “Logun-Edé: Santo Menino Que Velho Respeita”, homenageia o orixá filho de Oxum e Oxóssi. “Eu não descanso depois da missão cumprida, a minha sina é recomeçar...”
“Laíla de Todos os Santos, Laíla de Todos os Sambas”, de João Vitor Araújo, chama à Sapucaí, mais uma vez, o lendário sambista, carnavalesco e produtor musical autodidata, peça fundamental em vários campeonatos da Beija-flor. A nação nilopolitana se despede de Neguinho da Beija-flor, que se aposenta, e roga ao homenageado: “Volta e me dá os caminhos, conduz outra vez meu destino...”
Exu garante caminhos abertos na Sapucaí
“Macumbeiro, mandingueiro, batizado no gongá, quem tem medo de quiumba não nasceu pra demandar. Meu terreiro é a casa da mandinga, quem se mete com Salgueiro acerta as contas na curimba”. A parceria de Xande de Pilares embala “Salgueiro de corpo fechado”, proposta do carnavalesco Jorge Silveira. Recado dado...
O enredo de Paulo Barros “Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece”, na Vila Isabel, foge da temática afro-indígena na safra 2025. Sai a macumba e... “Solta o bicho, dá um baile de alegria. É o povo do samba virado na bruxaria”
Um assombro a musa da Vila Isabel
Terça, 04 de março
A Mocidade Independente de Padre Miguel abre a última noite de desfiles. O enredo da dupla Renato e Márcia Lage (que nos deixou no início do ano), “Voltando para o futuro não há limites pra sonhar”, também foge da linha africana. “Quando o futuro voltar, a juventude vai crer que toda estrela pode renascer”.
Tuiuti e o primeiro enredo LGBTQIA+ do Especial. Quem tem medo?
“Quem tem medo de Xica Manicongo?”, de Jack Vasconcelos, apresenta a primeira travesti do Brasil, fichada pelo Santo Ofício. O Paraíso do Tuiuti terá o reforço de personalidades como Eloína, pioneira no posto de rainha de bateria, e a deputada Erika Hilton. Somam-se num protesto contra a discriminação, a homofobia e violência no país que mais mata LGBTQIA+ no mundo. “Que o Brasil da terra plana, tenha consciência humana, Chica vive na fumaça”
O colorido exuberante do carimbó na Grande Rio
"Pororocas parawaras: as águas dos meus encantos nas contas dos curimbós". O samba da Grande Rio, da parceria de Mestre Damasceno, veio das eliminatórias realizadas em Belém. Leonardo Bora e Gabriel Haddad trazem do Pará a lenda de três princesas turcas e encantarias da Amazônia. Paolla Oliveira se despede do reinado na bateria de Mestre Fafá. “É força de Caboclo, Vodun e Orixá. Meu povo faz a curva como faz na gira...”
Clique no LINK para acessar o álbum no acervo carnevalerio.com no FLICKR
(C)2025 Valéria del
Cueto, all rights reserved. Imagem protegida pela lei 9610/1998
A Viradouro
encerrou a primeira rodada de ensaios técnicos das escolas de samba do Grupo
Especial carioca no sábado, 15 de fevereiro de 2025, na Sapucaí para o carnaval
2025.
"Malunguinho: O Mensageiro de Três Mundos" é o enredo do carnavalesco
Tarcísio Zanon para o carnaval 2025.
Agradecimentos componentes da Viradouro, à Liesa, Rio Carnaval e Riotur.
Imagens de Valéria del Cueto / acervo carnevalerio.com
Ensaio fotográfico e vídeos publicados no canal @del Cueto, no Youtube de
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@delcueto para CarnevaleRio.com
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registrando momentos do carnaval carioca. Na playlist abaixo os vídeos dos
ensaios técnicos do carnaval 2025. E lá tem mais...
Aqui tem mais pra você:
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A Mangueira fechou a noite de sexta-feira, primeiro dia de mini desfiles do Dia Nacional do Samba de 2024, apresentando elementos de seu enredo para o carnaval 2025, "À Flor da Terra - No Rio da Negritude Entre Dores e Paixões", do carnavalesco Sidnei França.
Agradecimentos aos Mestres Rodrigo Explosão e Taranta Neto, aos incríveis ritmistas da "Tem que respeitar meu Tamborim", aos componentes da Mangueira, à Liesa, Rio Carnaval e Riotur.
Imagens de Valéria del Cueto / acervo carnevalerio.com
Ensaio fotográfico e vídeos publicados no canal @del Cueto, no Youtube de (C)2024 Valéria del Cueto, all rights reserved @no_rumo do Sem Fim…
Cada um com seu cada qual. Mas,
como dizia Mestre Marçal, “tudo junto e misturado”. E foi comendo pelas
beiradas enquanto o mingau esfriava que o Rio ganhou dois representantes
legítimos do samba e da carioquice.
Para falar de Monarco, da Portela,
e Nelson Sargento, da Mangueira, é preciso saber o significado da expressão
“beber na fonte”. Se enredar nos fios de afetos e resistência que, entremeados,
teceram histórias, rebordaram sonhos e criaram fantasias interligadas por uma
de nossas maiores expressões populares musicais, o samba.
É preciso ser atraído pela energia
irresistível do saber carnavalesco como ponto de convergência e vivência
comunitária. Entender o significado dos fundamentos de uma escola. De samba.
Sentir no peito e deixar seu corpo ser dominado pelo pulsar de uma batucada.
E se, num desses momentos
inebriantes, você cantarolar versos como “Samba, agoniza, mas não morre,
alguém sempre te socorre...”, ou “...Agora, uma enorme paixão me
devora, a alegria partiu, foi embora. Não sei ficar, sem teu amor...”,
esteja seguro que você está apreendendo e
repassando costumes e lições de dois griôs.
Eles, os guardiões de saberes
ancestrais. Passados e ressignificados entre as gerações que circulam pelas
ruas dos subúrbios, vielas e becos das favelas da cidade. As que se encontram e
se interligam fortalecendo esse tramado único que podemos chamar de identidade
do carioca.
Oriundos de diferentes lugares da
cidade, se estabeleceram e conviveram com personalidades exponenciais de suas
comunidades, pelas quais sempre declararam paixão incondicional e, sim, beberam
na fonte!
Ao fazê-lo, por meio de seus
talentos inerentes e desde cedo reconhecidos, se tornaram protagonistas da
incrível epopeia suburbana do Rio de Janeiro. As cores de um, o azul e o
branco, as do outro, o verde e rosa.
Se não são crias, foram criados nos
terreiros de chão batido que mais tarde, depois de cimentados, passariam a ser
as quadras de suas agremiações. Nelas, testemunharam o florescimento das
comunidades que abraçaram com tanto amor.
Hildemar Diniz, em Oswaldo Cruz,
depois de ganhar o apelido de Monarco ainda criança, de passagem por Nova
Iguaçu, nasceu em Cavalcante. Nelson Mattos, que do exército levou a alcunha
Sargento, na Mangueira, vindo do morro do Salgueiro, nasceu na Praça XV.
Mais distante do centro da cidade,
Monarco conviveu com Paulo da Portela, Alcides, Manacéia e Chico Santana.
Nelson Sargento, ao lado da Quinta da Boa Vista, na primeira estação do trem,
com Alfredo Português, Cartola, Carlos Cachaça e Geraldo Pereira.
Um elo em comum entre os dois
bambas é Paulinho da Viola. Foi produtor, em 1970, de “Portela passado de
Glória” o primeiro disco da Velha Guarda portelense, já presidida por
Monarco. Dele, disse o mangueirense Nelson Sargento: “Dois ídolos. Cartola e Paulinho da Viola, o resto são
meus amigos”.
“Quitandeiro,
leva cheiro e tomate Pra casa do Chocolate que hoje vai ter macarrão...”
Monarco
e Paulo da Portela
“Oh!
primavera adorada, inspiradora de amores.
Oh!
Primavera idolatrada, sublime estação das cores...”
Nelson
Sargento, Alfredo Português e Jamelão. Samba enredo da Mangueira em 55.
Os
dois tiveram o privilégio de compor com seus mentores, mas apenas Sargento
venceu samba-enredo em sua escola, a Mangueira, apesar de Monarco ter
participado de disputas na Portela, a última em 2007, com seu filho Mauro Diniz
e outros parceiros.
Em
compensação a cada esquenta, antes da pista da Sapucaí virar o rio que passa
por nossa vida, o samba que compôs ainda garoto, “Retumbante Vitória”
(depois rebatizado como “O passado da Portela”), leva às lágrimas e
acelera o coração pulsante de quem desfila ou assiste a passagem da escola.
Nem
sempre conseguiram viver da excelência da arte que praticavam. Monarco guardou
carros, foi feirante e contínuo. Nelson Sargento, pintor de paredes. Cacá
Diegues, o cineasta, dizia que ele fez em sua casa “a pintura mais longa da
história da arquitetura”. Já reconhecido mostrou sua versatilidade artística na
literatura e nas artes plásticas, além de ser um ator premiado.
Ligados
às suas raizes foram membros e, depois, presidentes de lendárias Velhas
Guardas, grupos musicais compostos por pastoras, cantores e compositores das
escolas de samba.
Também
receberam o reconhecimento que lhes era devido ao serem escolhidos Presidentes
de Honra de suas agremiações. Por relevância e merecimento reverenciados nos
encontros do povo do samba.
Juntos
participaram do espetáculo “Apoteose do samba: 90 anos do Sargento – com
Monarco e Nelson Sargento”, escrito e apresentado por Ricardo Cravo Albin.
Na ocasião, Nelson disse que passou a se considerar “imortal do samba”. Ele já
sabia...
Os
ícones da Portela e da Mangueira partiram nesses tempos difíceis.
Para
não ficar no vácuo das saudades o jeito é virar o jogo imaginando com quem
estão agora (certamente em bom lugar). Na companhia de outros bambas que já por
lá se reuniam para pagodes celestiais!
Por
eles foram recepcionados, junto a outros sambistas que perderam a vida nesse
período da pandemia. Tantos que é melhor nem tentar nomeá-los sob o risco de
cometer a injustiça de algum esquecimento.
Sim,
merecidamente, como alguns dos outros que partiram, receberam flores em vida
(como pedia Nelson Cavaquinho), reconhecidos e reverenciados por serem exemplos
às novas gerações que, assim como eles, continuarão bebendo na fonte. Aquela,
sobre a qual Candeia já versava...
“O
sambista não precisa ser membro da academia
É
natural da sua poesia
O
povo lhe faz imortal”
......................................
Valeria del Cueto é jornalista, fotógrafa e, uns 500
textos depois, acha que um dia ainda será lembrada como cronista. Do carnaval e
da vida. Para isso conta com a sorte! Como a de ter o privilégio de receber a
honrosa missão de bordar palavras sobre ídolos que fizeram parte da história do
Samba. Da série "É carnaval".