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terça-feira, 15 de abril de 2025

Bizoiando


Bizoiando  

Texto e fotos  Valéria del Cueto

Rápido, rasteiro e avassalador. Querida cronista voluntariamente clausurada do outro lado do túnel, estes são os adjetivos que descrevem os rumos do planeta ao qual você, sabiamente, resolveu virar as costas novamente depois de sua escapulida no carnaval. 

Sim, cronista, assim como o Grande Irmão que vigia o cotidiano dos habitantes do planeta Terra em todos os seus movimentos, também conseguimos nós, os extraterrestres visitantes, jogar nossa mira telescópica sobre os indivíduos cujas rotinas nos interessam observar. No seu caso, o fiz pelo mais genuíno interesse: a amizade que tenho por quem me introduziu nos meandros humanos. Você!

Nesse período em particular, por nada nesse universo de dados circulantes, deixaria de “bizoiar” suas atividades quase secretas carnavalescas. 

Acompanhei a tensão nas inúmeras etapas para obter os credenciamentos dos ensaios técnicos, mais acessível, e o dos desfiles oficiais, na maratona de todos os anos e suas variantes.

Vi seu esforço para tentar o quase impossível: cobrir todas as escolas da Série Ouro e do Grupo Especial.

Senti na minha epiderme protetora (quem aguenta o calor daqui?), sua frustração por não conseguir fotografar parte das escolas que almejavam chegar na elite do carnaval carioca, incluindo aí a Acadêmicos de Niterói que alcançou esse direito. Imagino a sua decepção por não ter o material para incorporar no acervo carnevalerio.com

Vi a emoção brotar explicitada nas fotos e vídeos do ensaio técnico do Império Serrano, por exemplo, após o fogo que lambeu atelier e ceifou a vida de artesãos no espaço incendiado em Madureira.

Falo daquele episódio que parece fazer parte, apenas, de um carnaval que passou. Sem trazer maiores providências para evitar novas tragédias no processo de produção e desenvolvimento das escolas de samba, especialmente as dos grupos inferiores, que desenvolvem seus desfiles em condições tão precárias. Vi tudo e muito bem!

A parte boa é que não faltam imagens para serem editadas e indexadas nos próximos meses em sua reclusão voluntária.

Elas são representativas da paixão inebriante que move a maior festa popular do planeta. Aquela que não se restringe ao berço das escolas de samba, o Rio de Janeiro, mas se expande e prolifera por muitas cidades do Brasil, e até do mundo, em ritmo de samba.

Tudo isso, cronista, é muito bom para garantir sua sanidade. Afasta-a da realidade cruel que movimenta esse planeta Terra que não é mais aquele. 

Foi-se o tempo da delicadeza, da gentileza. Uma nova velha geração, no momento, testa as barreiras da intolerância e da brutalidade. Guerras e disputas se retro alimentam apesar dos alertas de quem sabe aonde isso vai dar. São muitos esses avisos. Porém, inócuos.

Não há mais conversas, diálogos, trocas de ideias. Tudo é confronto e, sim, sem regras ou protocolos. No popular: é porrada e bomba. Nada de argumentação.

Não vou particularizar os atos que incluem do desequilíbrio comercial mundial à rapinagem pura e simples. Nesse quesito o status quo foi destroçado.

O pau continua quebrando para enriquecer os senhores das guerras em vários cantos desse mundão. Não há limites para destruição, nem para a exterminação de populações inteiras.

O mais incrível é que eles não aprenderam nada! 

Quase ninguém parece se importar com o que estão ensinando à nepobaby Inteligência Regenerativa, aquela que deixou de ser artificial para se (con)fundir com os hábitos, rotinas e o cotidiano da humanidade.

A impressão que dá é que, sabedor de que o próximo passo é ser dominado por ela, o ser humano capricha em incutir no “modelo” seus piores e mais tenebrosos instintos. Aguardem o tratamento que receberão depois. Cansamos de avisar! 

Está entendendo, cronista? Por isso tornei espaçada nossa correspondência pela luz da lua que invade sua cela. Prefiro deixá-la às voltas com as imagens capturadas em sua incrível fuga carnavalesca. Estive lá. Disfarçado. Adivinha onde?

Tal qual a freirinha carmelita, que pula o muro do convento de Santa Teresa para se acabar no bloco que leva seu nome, seu objetivo é louvável: cair dentro da folia para fugir da realidade inexorável. É a fresta da festa. A fresta, não a janela panorâmica que a vida deveria ser...

PS: Não mencionei o tombo porque você ensinou a mim, PLuct Plact, o extraterrestre, a ser discreto.

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Das séries “Fábulas Fabulosas” e “É carnaval” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com

Studio na Colab55

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Tem Xirê na Sapucaí, o couro vai comer na passarela

Xirê na Sapucaí: o couro vai comer na passarela

Texto e fotos de Valéria del Cueto

Se os desfiles das escolas de samba no Rio de Janeiro, transmitidos para o mundo inteiro, são caixas de ressonância que fazem ecoar as questões abordadas nos enredos, por que não cantar a ancestralidade, suas epopeias mitológicas e as influências no modo de vida material e espiritual de quem produz e protagoniza o espetáculo?

Tem gira na pista e em dez dos doze enredos das escolas de samba do Grupo Especial do carnaval carioca 2025. Os temas valorizam nossas raízes africanas alertando sobre o crescente e alarmante aumento da intolerância no país.

A vida como ela é - Nada de novo no universo das comunidades do samba. São compostas pelo povo preto periférico que sofre com a dura realidade e arbitrariedades em seu cotidiano.

Um exemplo são os terreiros proibidos de funcionarem em áreas dominadas por evangélico/traficantes. O Complexo de Israel tem até bandeira daquele país hasteada, na zona norte do Rio.

É uma hipótese para a predominância, no maior espetáculo popular do planeta, de enredos sobre as tradições afro-indígenas religiosas. As exceções são a Mocidade Independente e a Vila Isabel.

Mudanças estruturais – Há novidades na dinâmica do espetáculo promovido pela Liesa, a Liga das Escolas de Samba. Serão três noites de disputa. De domingo a terça de carnaval quatro escolas passarão pela Sapucaí seguidas de rodas de samba na praça da Apoteose.

Haverá alteração no número de cabines de jurados. Voltam a ser quatro. Duas de cada lado, distribuídas ao longo da pista. O julgamento também foi modificado. As notas não serão fechadas ao final de todas as apresentações, mas após cada noite de desfile. Que diferença o novo formato faz? Veremos. Só saberemos o resultado das mudanças após a abertura dos envelopes na apuração.

De arquibancada - Essas e outras questões estiveram na boca do povo do samba que bateu ponto na Sapucaí nos ensaios técnicos gratuitos, em 2025. Atire a primeira serpentina quem não deu pitaco sobre a iluminação cenográfica. A que transforma o visual das apresentações e acrescenta novos desafios estéticos à concepção do espetáculo.

Os desenhos de luz se refletirão na avaliação dos quesitos? Como julgar, por exemplo, o acabamento de fantasias e alegorias em meio ao pisca-pisca psicodélico que esconde os detalhes das peças elaboradas pelos artesãos do carnaval?

Para aprimorar - As soluções de problemas estruturais como o som da avenida, a segurança dos foliões no entorno do sambódromo e a melhoria das condições de trabalho na indústria do carnaval seguem em construção, apesar da urgência e relevância das demandas.

Mas, como já dizia o samba consagrado, “o show tem que continuar”. E, como “ainda estamos aqui”, a disputa pelo campeonato vai ser boa. Terá um tempero especial: domingo tem Oscar, com Fernanda Torres e o filme sobre Rubens Paiva concorrendo em três categorias. Vamos firmar o Xirê (roda ou dança utilizada para evocação dos Orixás) e chamar os orixás! A vida presta e o carnaval contagia...

Domingo, 02 de março

Unidos de Padre Miguel, campeã da Série Ouro em 2024, começa a gira com o enredo "Egbé Iya Nassô" dos carnavalescos Alexandre Louzada e Lucas Milato. Canta o mais antigo terreiro de candomblé do Brasil, em Salvador. A escola da Zona Oeste abre os caminhos e pede passagem: “Vila Vintém é terra de macumbeiro. No meu Egbé, governado por mulher, Iyá Nasso é rainha do candomblé”

Após décadas sem enredos afros, a Imperatriz Leopondinense, atual vice-campeã, embarca na proposta de Leandro Vieira: “Ómi Tútu ao Olúfon - Água fresca para o senhor de Ifón”, um itan (lenda) sobre as peripécias da viagem de Oxalá ao reino de Xangô. “Vai começar o itan de Oxalá, segue o cortejo funfun...”

Viradouro, de Niterói, tenta o bi com “Malunguinho, o mensageiro de três mundos”. A mata, os mistérios da jurema e da encruzilhada compõem o enredo afro-indígena de Tarcísio Zanon. Ele apresenta a entidade que é “O rei da mata que mata quem mata o Brasil”.

Mangueira trouxe de São Paulo o carnavalesco Sidnei França para exaltar seus crias e a influência do povo banto na cultura carioca e brasileira. “À Flor da Terra - No Rio da Negritude Entre Dores e Paixões” projeta no contexto atual os saberes da negritude: “O povo banto que floresce nas vielas, orgulho de ser favela”.

Segunda, 03 de março

Na Unidos da Tijuca o samba conta com pesos pesados na parceria encabeçada pela cantora Anitta. Desenvolvido por Edson Pereira, “Logun-Edé: Santo Menino Que Velho Respeita”, homenageia o orixá filho de Oxum e Oxóssi. “Eu não descanso depois da missão cumprida, a minha sina é recomeçar...

Laíla de Todos os Santos, Laíla de Todos os Sambas”, de João Vitor Araújo, chama à Sapucaí, mais uma vez, o lendário sambista, carnavalesco e produtor musical autodidata, peça fundamental em vários campeonatos da Beija-flor. A nação nilopolitana se despede de Neguinho da Beija-flor, que se aposenta, e roga ao homenageado: “Volta e me dá os caminhos, conduz outra vez meu destino...”

Macumbeiro, mandingueiro, batizado no gongá, quem tem medo de quiumba não nasceu pra demandar. Meu terreiro é a casa da mandinga, quem se mete com Salgueiro acerta as contas na curimba”. A parceria de Xande de Pilares embala Salgueiro de corpo fechado”, proposta do carnavalesco Jorge Silveira. Recado dado...

O enredo de Paulo Barros “Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece”, na Vila Isabel, foge da temática afro-indígena na safra 2025. Sai a macumba e... “Solta o bicho, dá um baile de alegria. É o povo do samba virado na bruxaria

Terça, 04 de março

A Mocidade Independente de Padre Miguel abre a última noite de desfiles. O enredo da dupla Renato e Márcia Lage (que nos deixou no início do ano), Voltando para o futuro não há limites pra sonhar”, também foge da linha africana. “Quando o futuro voltar, a juventude vai crer que toda estrela pode renascer”.

Quem tem medo de Xica Manicongo?”, de Jack Vasconcelos, apresenta a primeira travesti do Brasil, fichada pelo Santo Ofício. O Paraíso do Tuiuti terá o reforço de personalidades como Eloína, pioneira no posto de rainha de bateria, e a deputada Erika Hilton. Somam-se num protesto contra a discriminação, a homofobia e violência no país que mais mata LGBTQIA+ no mundo. “Que o Brasil da terra plana, tenha consciência humana, Chica vive na fumaça

"Pororocas parawaras: as águas dos meus encantos nas contas dos curimbós". O samba da Grande Rio, da parceria de Mestre Damasceno, veio das eliminatórias realizadas em Belém. Leonardo Bora e Gabriel Haddad trazem do Pará a lenda de três princesas turcas e encantarias da Amazônia. Paolla Oliveira se despede do reinado na bateria de Mestre Fafá. “É força de Caboclo, Vodun e Orixá. Meu povo faz a curva como faz na gira...

Cantar será buscar o caminho que vai dar no Sol. Uma homenagem a Milton Nascimento”. Com o enredo de Antônio Gonzaga e André Rodrigues a Portela colocará o pé na estrada para encerrar a disputa do carnaval carioca de 2025... Iyá chamou Oxalá preto rei pra sambar. Anjo negro é o sol que faz a Portela cantar"

BOX

Ordem dos desfiles:

Domingo 02/03 – Unidos de Padre Miguel, Imperatriz, Viradouro e Mangueira

Segunda 03/03 – Tijuca, Beija-flor, Salgueiro e Vila Isabel

Terça 04/03 – Mocidade, Paraíso do Tuiuti, Grande Rio e Portela

Transmissão TV Globo e Globoplay às 22h. Dica de comentários: sintonize o áudio na Tupi.fm

 

...................................................

Gustavo e Edson

Mando várias fotos pra dar pra brincar com a diagramação. Claro que não consegui me decidir. Não é preciso usar todas, nem na ordem. Fica a critério do Edson...

Uma matéria só como fizemos ano passado.

A matéria é dividida em: introdução, domingo, segunda e o box com a ordem dos desfiles, se couber.

Fotos:

Foto 01 – Topo rasgada título na parte superior, no céu da Apoteose

ET Viradouro 250215 234 Ala da baianas componentes Apoteose boa

Título -  Xirê na Sapucaí

Sub-título – Tem gira na passarela do samba

 

Foto 2- ET Tuiuti 250201 153 Abre alas alegoria destaque leque fashion

Legenda – Tuiuti e o primeiro enredo LGBTQIA+ do Especial. Quem tem medo?

 

Foto 3 - ET G Rio 250201 098  Ala componentes adereços bamboles boa

Legenda – O colorido exuberante do carimbó na Grande Rio

 

Foto 4 – ET Mangueira 250201 071 CF componentes menino da Mangueira coroa boa

Legenda – Os crias, herdeiros do povo banto, reinam na Mangueira

 

Foto 5 – ET B Flor 250201 010 CF componentes Exu boa

Legenda – Exu garante caminhos abertos na Sapucaí

 

Foto 6 - ET Tuiuti 250201 142 torcida frisas boa

Legenda – Na torcida, o amor e paixão carnavalesca

 

Foto 7 - ET Imp Leo 250215 103 Ala componente boa adereço coroa cut

Legenda – O povo do samba reina no quilombo da alegria

 

Foto 8 - ET Vila 250208 204 Destaque boa

Legenda – Um assombro a musa da Vila Isabel

 

Foto 9 - ET Portela 250208 078 Abre alas Águia CF componentes pista geral boa

Legenda – Nas asas da águia portelense, a homenagem a Milton Nascimento

Foto 10 - ET Portela 250208 176 Ala componente boa

Legenda – Girasssóis da Portela no caminho de Bituca

 

Foto 11 - ET Viradouro 250215 122 Musa close boa

Legenda –Viradouro: em busca do bi


Tem Xirê na Sapucaí, o couro vai comer na passarela

Texto e fotos de Valéria del Cueto

Se os desfiles das escolas de samba no Rio de Janeiro, transmitidos para o mundo inteiro, são caixas de ressonância que fazem ecoar as questões abordadas nos enredos, por que não cantar a ancestralidade, suas epopeias mitológicas e as influências no modo de vida material e espiritual de quem produz e protagoniza o espetáculo?

Tem gira na pista e em dez dos doze enredos das escolas de samba do Grupo Especial do carnaval carioca 2025. Os temas valorizam nossas raízes africanas alertando sobre o crescente e alarmante aumento da intolerância no país.

A vida como ela é - Nada de novo no universo das comunidades do samba. São compostas pelo povo preto periférico que sofre com a dura realidade e arbitrariedades em seu cotidiano.

Um exemplo são os terreiros proibidos de funcionarem em áreas dominadas por evangélico/traficantes. O Complexo de Israel tem até bandeira daquele país hasteada, na zona norte do Rio.

É uma hipótese para a predominância, no maior espetáculo popular do planeta, de enredos sobre as tradições afro-indígenas religiosas. As exceções são a Mocidade Independente e a Vila Isabel.

Mudanças estruturais – Há novidades na dinâmica do espetáculo promovido pela Liesa, a Liga das Escolas de Samba. Serão três noites de disputa. De domingo a terça de carnaval quatro escolas passarão pela Sapucaí seguidas de rodas de samba na praça da Apoteose.

Haverá alteração no número de cabines de jurados. Voltam a ser quatro. Duas de cada lado, distribuídas ao longo da pista. O julgamento também foi modificado. As notas não serão fechadas ao final de todas as apresentações, mas após cada noite de desfile. Que diferença o novo formato faz? Veremos. Só saberemos o resultado das mudanças após a abertura dos envelopes na apuração.

Na torcida, o amor e paixão carnavalesca

De arquibancada - Essas e outras questões estiveram na boca do povo do samba que bateu ponto na Sapucaí nos ensaios técnicos gratuitos, em 2025. Atire a primeira serpentina quem não deu pitaco sobre a iluminação cenográfica. A que transforma o visual das apresentações e acrescenta novos desafios estéticos à concepção do espetáculo.

Os desenhos de luz se refletirão na avaliação dos quesitos? Como julgar, por exemplo, o acabamento de fantasias e alegorias em meio ao pisca-pisca psicodélico que esconde os detalhes das peças elaboradas pelos artesãos do carnaval?

Nas asas da águia portelense, a homenagem a Milton Nascimento

Para aprimorar - As soluções de problemas estruturais como o som da avenida, a segurança dos foliões no entorno do sambódromo e a melhoria das condições de trabalho na indústria do carnaval seguem em construção, apesar da urgência e relevância das demandas.

Mas, como já dizia o samba consagrado, “o show tem que continuar”. E, como “ainda estamos aqui”, a disputa pelo campeonato vai ser boa. Terá um tempero especial: domingo tem Oscar, com Fernanda Torres e o filme sobre Rubens Paiva concorrendo em três categorias. Vamos firmar o Xirê (roda ou dança utilizada para evocação dos Orixás) e chamar os orixás! A vida presta e o carnaval contagia...

Domingo, 02 de março

Unidos de Padre Miguel, campeã da Série Ouro em 2024, começa a gira com o enredo "Egbé Iya Nassô" dos carnavalescos Alexandre Louzada e Lucas Milato. Canta o mais antigo terreiro de candomblé do Brasil, em Salvador. A escola da Zona Oeste abre os caminhos e pede passagem: “Vila Vintém é terra de macumbeiro. No meu Egbé, governado por mulher, Iyá Nasso é rainha do candomblé”

O povo do samba reina no quilombo da alegria

Após décadas sem enredos afros, a Imperatriz Leopondinense, atual vice-campeã, embarca na proposta de Leandro Vieira: “Ómi Tútu ao Olúfon - Água fresca para o senhor de Ifón”, um itan (lenda) sobre as peripécias da viagem de Oxalá ao reino de Xangô. “Vai começar o itan de Oxalá, segue o cortejo funfun...”

Viradouro, de Niterói,tenta o bi com “Malunguinho, o mensageiro de três mundos”. A mata, os mistérios da jurema e da encruzilhada compõem o enredo afro-indígena de Tarcísio Zanon. Ele apresenta a entidade que é “O rei da mata que mata quem mata o Brasil”.

Viradouro: em busca do bi

Mangueira trouxe de São Paulo o carnavalesco Sidnei França para exaltar seus crias e a influência do povo banto na cultura carioca e brasileira. “À Flor da Terra - No Rio da Negritude Entre Dores e Paixões” projeta no contexto atual os saberes da negritude: “O povo banto que floresce nas vielas, orgulho de ser favela”.


Os crias, herdeiros do povo banto, reinam na Mangueira

Segunda, 03 de março

Na Unidos da Tijuca o samba conta com pesos pesados na parceria encabeçada pela cantora Anitta. Desenvolvido por Edson Pereira, “Logun-Edé: Santo Menino Que Velho Respeita”, homenageia o orixá filho de Oxum e Oxóssi. “Eu não descanso depois da missão cumprida, a minha sina é recomeçar...

Laíla de Todos os Santos, Laíla de Todos os Sambas”, de João Vitor Araújo, chama à Sapucaí, mais uma vez, o lendário sambista, carnavalesco e produtor musical autodidata, peça fundamental em vários campeonatos da Beija-flor. A nação nilopolitana se despede de Neguinho da Beija-flor, que se aposenta, e roga ao homenageado: “Volta e me dá os caminhos, conduz outra vez meu destino...”

Exu garante caminhos abertos na Sapucaí

Macumbeiro, mandingueiro, batizado no gongá, quem tem medo de quiumba não nasceu pra demandar. Meu terreiro é a casa da mandinga, quem se mete com Salgueiro acerta as contas na curimba”. A parceria de Xande de Pilares embala “Salgueiro de corpo fechado”, proposta do carnavalesco Jorge Silveira. Recado dado...

O enredo de Paulo Barros “Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece”, na Vila Isabel, foge da temática afro-indígena na safra 2025. Sai a macumba e... “Solta o bicho, dá um baile de alegria. É o povo do samba virado na bruxaria

Um assombro a musa da Vila Isabel

Terça, 04 de março

A Mocidade Independente de Padre Miguel abre a última noite de desfiles. O enredo da dupla Renato e Márcia Lage (que nos deixou no início do ano), “Voltando para o futuro não há limites pra sonhar”, também foge da linha africana. “Quando o futuro voltar, a juventude vai crer que toda estrela pode renascer”.

Tuiuti e o primeiro enredo LGBTQIA+ do Especial. Quem tem medo?

Quem tem medo de Xica Manicongo?”, de Jack Vasconcelos, apresenta a primeira travesti do Brasil, fichada pelo Santo Ofício. O Paraíso do Tuiuti terá o reforço de personalidades como Eloína, pioneira no posto de rainha de bateria, e a deputada Erika Hilton. Somam-se num protesto contra a discriminação, a homofobia e violência no país que mais mata LGBTQIA+ no mundo. “Que o Brasil da terra plana, tenha consciência humana, Chica vive na fumaça

O colorido exuberante do carimbó na Grande Rio

"Pororocas parawaras: as águas dos meus encantos nas contas dos curimbós". O samba da Grande Rio, da parceria de Mestre Damasceno, veio das eliminatórias realizadas em Belém. Leonardo Bora e Gabriel Haddad trazem do Pará a lenda de três princesas turcas e encantarias da Amazônia. Paolla Oliveira se despede do reinado na bateria de Mestre Fafá. “É força de Caboclo, Vodun e Orixá. Meu povo faz a curva como faz na gira...

Cantar será buscar o caminho que vai dar no Sol. Uma homenagem a Milton Nascimento”. Com o enredo de Antônio Gonzaga e André Rodrigues a Portela colocará o pé na estrada para encerrar a disputa do carnaval carioca de 2025... “Iyá chamou Oxalá preto rei pra sambar. Anjo negro é o sol que faz a Portela cantar"

Girasssóis da Portela no caminho de Bituca

BOX

Ordem dos desfiles:

Domingo 02/03 – Unidos de Padre Miguel, Imperatriz, Viradouro e Mangueira

Segunda 03/03 – Tijuca, Beija-flor, Salgueiro e Vila Isabel

Terça 04/03 – Mocidade, Paraíso do Tuiuti, Grande Rio e Portela

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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Viradouro carnaval 2025 ensaio técnico 250215

Clique no LINK para acessar o álbum no acervo carnevalerio.com no FLICKR

(C)2025 Valéria del Cueto, all rights reserved. Imagem protegida pela lei 9610/1998

 A Viradouro encerrou a primeira rodada de ensaios técnicos das escolas de samba do Grupo Especial carioca no sábado, 15 de fevereiro de 2025, na Sapucaí para o carnaval 2025.

"Malunguinho: O Mensageiro de Três Mundos" é o enredo do carnavalesco Tarcísio Zanon para o carnaval 2025.

Agradecimentos componentes da Viradouro, à Liesa, Rio Carnaval e Riotur.

Imagens de Valéria del Cueto / acervo carnevalerio.com

Ensaio fotográfico e vídeos publicados no canal @del Cueto, no Youtube de (C)2025 Valéria del Cueto, all rights reserved protegido pela lei 9610/1998

@delcueto para CarnevaleRio.com

Faça sua inscrição nos canais del Cueto no Youtube e no TikTok – desde 2008 registrando momentos do carnaval carioca. Na playlist abaixo os vídeos dos ensaios técnicos do carnaval 2025. E lá tem mais...

Aqui tem mais pra você:
Já seguiu “No rumo do Sem Fim”?
Experimenta!
Explore o conteúdo produzido por Valéria del Cueto e links para objetos e desejos produzidos no @delcueto.studio
Ideias e designs disponíveis nas plataformas:
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@valeriadelcueto
@delcueto.studio

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domingo, 22 de dezembro de 2024

Mangueira no Mini desfile do Dia Nacional do Samba 2024



A Mangueira fechou a noite de sexta-feira, primeiro dia de mini desfiles do Dia Nacional do Samba de 2024, apresentando elementos de seu enredo para o carnaval 2025, "À Flor da Terra - No Rio da Negritude Entre Dores e Paixões", do carnavalesco Sidnei França.

Clique na foto ou no LINK para acessar o álbum do acervo carnevalerio.com

Os vídeos do acervo carnevalerio.com da Estação Primeira de Mangueira no mini desfile do Dia Nacional do Samba, 2024.

Clique no LINK para acessar a playlist do acervo carnevalerio.com

Agradecimentos aos Mestres Rodrigo Explosão e Taranta Neto, aos incríveis ritmistas da "Tem que respeitar meu Tamborim", aos componentes da Mangueira, à Liesa, Rio Carnaval e Riotur.

Imagens de Valéria del Cueto / acervo carnevalerio.com

Ensaio fotográfico e vídeos publicados no canal @del Cueto, no Youtube de (C)2024 Valéria del Cueto, all rights reserved @no_rumo do Sem Fim…

@delcueto para CarnevaleRio.com

Faça sua inscrição nos canais del Cueto no Youtube e no TikTok – desde 2008 registrando momentos do carnaval carioca.

Aqui tem mais pra você:
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sexta-feira, 26 de julho de 2024

Saudade, fonte que nunca seca



Saudade, fonte que nunca seca...

Texto e fotos de Valéria del Cueto

Cada um com seu cada qual. Mas, como dizia Mestre Marçal, “tudo junto e misturado”. E foi comendo pelas beiradas enquanto o mingau esfriava que o Rio ganhou dois representantes legítimos do samba e da carioquice.

Para falar de Monarco, da Portela, e Nelson Sargento, da Mangueira, é preciso saber o significado da expressão “beber na fonte”. Se enredar nos fios de afetos e resistência que, entremeados, teceram histórias, rebordaram sonhos e criaram fantasias interligadas por uma de nossas maiores expressões populares musicais, o samba.  

É preciso ser atraído pela energia irresistível do saber carnavalesco como ponto de convergência e vivência comunitária. Entender o significado dos fundamentos de uma escola. De samba. Sentir no peito e deixar seu corpo ser dominado pelo pulsar de uma batucada.

E se, num desses momentos inebriantes, você cantarolar versos como “Samba, agoniza, mas não morre, alguém sempre te socorre...”, ou “...Agora, uma enorme paixão me devora, a alegria partiu, foi embora. Não sei ficar, sem teu amor...”, esteja seguro que você está apreendendo e repassando costumes e lições de dois griôs.

Eles, os guardiões de saberes ancestrais. Passados e ressignificados entre as gerações que circulam pelas ruas dos subúrbios, vielas e becos das favelas da cidade. As que se encontram e se interligam fortalecendo esse tramado único que podemos chamar de identidade do carioca.

Oriundos de diferentes lugares da cidade, se estabeleceram e conviveram com personalidades exponenciais de suas comunidades, pelas quais sempre declararam paixão incondicional e, sim, beberam na fonte!

Ao fazê-lo, por meio de seus talentos inerentes e desde cedo reconhecidos, se tornaram protagonistas da incrível epopeia suburbana do Rio de Janeiro. As cores de um, o azul e o branco, as do outro, o verde e rosa.

Se não são crias, foram criados nos terreiros de chão batido que mais tarde, depois de cimentados, passariam a ser as quadras de suas agremiações. Nelas, testemunharam o florescimento das comunidades que abraçaram com tanto amor.

Hildemar Diniz, em Oswaldo Cruz, depois de ganhar o apelido de Monarco ainda criança, de passagem por Nova Iguaçu, nasceu em Cavalcante. Nelson Mattos, que do exército levou a alcunha Sargento, na Mangueira, vindo do morro do Salgueiro, nasceu na Praça XV.

Mais distante do centro da cidade, Monarco conviveu com Paulo da Portela, Alcides, Manacéia e Chico Santana. Nelson Sargento, ao lado da Quinta da Boa Vista, na primeira estação do trem, com Alfredo Português, Cartola, Carlos Cachaça e Geraldo Pereira.

Um elo em comum entre os dois bambas é Paulinho da Viola. Foi produtor, em 1970, de “Portela passado de Glória” o primeiro disco da Velha Guarda portelense, já presidida por Monarco. Dele, disse o mangueirense Nelson Sargento: “Dois ídolos. Cartola e Paulinho da Viola, o resto são meus amigos”.

“Quitandeiro, leva cheiro e tomate
Pra casa do Chocolate que hoje vai ter macarrão...”

Monarco e Paulo da Portela

“Oh! primavera adorada, inspiradora de amores.

Oh! Primavera idolatrada, sublime estação das cores...”

Nelson Sargento, Alfredo Português e Jamelão. Samba enredo da Mangueira em 55.

Os dois tiveram o privilégio de compor com seus mentores, mas apenas Sargento venceu samba-enredo em sua escola, a Mangueira, apesar de Monarco ter participado de disputas na Portela, a última em 2007, com seu filho Mauro Diniz e outros parceiros.

Em compensação a cada esquenta, antes da pista da Sapucaí virar o rio que passa por nossa vida, o samba que compôs ainda garoto, “Retumbante Vitória” (depois rebatizado como “O passado da Portela”), leva às lágrimas e acelera o coração pulsante de quem desfila ou assiste a passagem da escola.



Nem sempre conseguiram viver da excelência da arte que praticavam. Monarco guardou carros, foi feirante e contínuo. Nelson Sargento, pintor de paredes. Cacá Diegues, o cineasta, dizia que ele fez em sua casa “a pintura mais longa da história da arquitetura”. Já reconhecido mostrou sua versatilidade artística na literatura e nas artes plásticas, além de ser um ator premiado.

Ligados às suas raizes foram membros e, depois, presidentes de lendárias Velhas Guardas, grupos musicais compostos por pastoras, cantores e compositores das escolas de samba.

Também receberam o reconhecimento que lhes era devido ao serem escolhidos Presidentes de Honra de suas agremiações. Por relevância e merecimento reverenciados nos encontros do povo do samba.

Juntos participaram do espetáculo “Apoteose do samba: 90 anos do Sargento – com Monarco e Nelson Sargento”, escrito e apresentado por Ricardo Cravo Albin. Na ocasião, Nelson disse que passou a se considerar “imortal do samba”. Ele já sabia...

Os ícones da Portela e da Mangueira partiram nesses tempos difíceis.

Para não ficar no vácuo das saudades o jeito é virar o jogo imaginando com quem estão agora (certamente em bom lugar). Na companhia de outros bambas que já por lá se reuniam para pagodes celestiais!

Por eles foram recepcionados, junto a outros sambistas que perderam a vida nesse período da pandemia. Tantos que é melhor nem tentar nomeá-los sob o risco de cometer a injustiça de algum esquecimento.

Sim, merecidamente, como alguns dos outros que partiram, receberam flores em vida (como pedia Nelson Cavaquinho), reconhecidos e reverenciados por serem exemplos às novas gerações que, assim como eles, continuarão bebendo na fonte. Aquela, sobre a qual Candeia já versava...

“O sambista não precisa ser membro da academia

É natural da sua poesia

O povo lhe faz imortal”

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Valeria del Cueto é jornalista, fotógrafa e, uns 500 textos depois, acha que um dia ainda será lembrada como cronista. Do carnaval e da vida. Para isso conta com a sorte! Como a de ter o privilégio de receber a honrosa missão de bordar palavras sobre ídolos que fizeram parte da história do Samba. Da série "É carnaval".

 

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