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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Tem Xirê na Sapucaí, o couro vai comer na passarela

Xirê na Sapucaí: o couro vai comer na passarela

Texto e fotos de Valéria del Cueto

Se os desfiles das escolas de samba no Rio de Janeiro, transmitidos para o mundo inteiro, são caixas de ressonância que fazem ecoar as questões abordadas nos enredos, por que não cantar a ancestralidade, suas epopeias mitológicas e as influências no modo de vida material e espiritual de quem produz e protagoniza o espetáculo?

Tem gira na pista e em dez dos doze enredos das escolas de samba do Grupo Especial do carnaval carioca 2025. Os temas valorizam nossas raízes africanas alertando sobre o crescente e alarmante aumento da intolerância no país.

A vida como ela é - Nada de novo no universo das comunidades do samba. São compostas pelo povo preto periférico que sofre com a dura realidade e arbitrariedades em seu cotidiano.

Um exemplo são os terreiros proibidos de funcionarem em áreas dominadas por evangélico/traficantes. O Complexo de Israel tem até bandeira daquele país hasteada, na zona norte do Rio.

É uma hipótese para a predominância, no maior espetáculo popular do planeta, de enredos sobre as tradições afro-indígenas religiosas. As exceções são a Mocidade Independente e a Vila Isabel.

Mudanças estruturais – Há novidades na dinâmica do espetáculo promovido pela Liesa, a Liga das Escolas de Samba. Serão três noites de disputa. De domingo a terça de carnaval quatro escolas passarão pela Sapucaí seguidas de rodas de samba na praça da Apoteose.

Haverá alteração no número de cabines de jurados. Voltam a ser quatro. Duas de cada lado, distribuídas ao longo da pista. O julgamento também foi modificado. As notas não serão fechadas ao final de todas as apresentações, mas após cada noite de desfile. Que diferença o novo formato faz? Veremos. Só saberemos o resultado das mudanças após a abertura dos envelopes na apuração.

De arquibancada - Essas e outras questões estiveram na boca do povo do samba que bateu ponto na Sapucaí nos ensaios técnicos gratuitos, em 2025. Atire a primeira serpentina quem não deu pitaco sobre a iluminação cenográfica. A que transforma o visual das apresentações e acrescenta novos desafios estéticos à concepção do espetáculo.

Os desenhos de luz se refletirão na avaliação dos quesitos? Como julgar, por exemplo, o acabamento de fantasias e alegorias em meio ao pisca-pisca psicodélico que esconde os detalhes das peças elaboradas pelos artesãos do carnaval?

Para aprimorar - As soluções de problemas estruturais como o som da avenida, a segurança dos foliões no entorno do sambódromo e a melhoria das condições de trabalho na indústria do carnaval seguem em construção, apesar da urgência e relevância das demandas.

Mas, como já dizia o samba consagrado, “o show tem que continuar”. E, como “ainda estamos aqui”, a disputa pelo campeonato vai ser boa. Terá um tempero especial: domingo tem Oscar, com Fernanda Torres e o filme sobre Rubens Paiva concorrendo em três categorias. Vamos firmar o Xirê (roda ou dança utilizada para evocação dos Orixás) e chamar os orixás! A vida presta e o carnaval contagia...

Domingo, 02 de março

Unidos de Padre Miguel, campeã da Série Ouro em 2024, começa a gira com o enredo "Egbé Iya Nassô" dos carnavalescos Alexandre Louzada e Lucas Milato. Canta o mais antigo terreiro de candomblé do Brasil, em Salvador. A escola da Zona Oeste abre os caminhos e pede passagem: “Vila Vintém é terra de macumbeiro. No meu Egbé, governado por mulher, Iyá Nasso é rainha do candomblé”

Após décadas sem enredos afros, a Imperatriz Leopondinense, atual vice-campeã, embarca na proposta de Leandro Vieira: “Ómi Tútu ao Olúfon - Água fresca para o senhor de Ifón”, um itan (lenda) sobre as peripécias da viagem de Oxalá ao reino de Xangô. “Vai começar o itan de Oxalá, segue o cortejo funfun...”

Viradouro, de Niterói, tenta o bi com “Malunguinho, o mensageiro de três mundos”. A mata, os mistérios da jurema e da encruzilhada compõem o enredo afro-indígena de Tarcísio Zanon. Ele apresenta a entidade que é “O rei da mata que mata quem mata o Brasil”.

Mangueira trouxe de São Paulo o carnavalesco Sidnei França para exaltar seus crias e a influência do povo banto na cultura carioca e brasileira. “À Flor da Terra - No Rio da Negritude Entre Dores e Paixões” projeta no contexto atual os saberes da negritude: “O povo banto que floresce nas vielas, orgulho de ser favela”.

Segunda, 03 de março

Na Unidos da Tijuca o samba conta com pesos pesados na parceria encabeçada pela cantora Anitta. Desenvolvido por Edson Pereira, “Logun-Edé: Santo Menino Que Velho Respeita”, homenageia o orixá filho de Oxum e Oxóssi. “Eu não descanso depois da missão cumprida, a minha sina é recomeçar...

Laíla de Todos os Santos, Laíla de Todos os Sambas”, de João Vitor Araújo, chama à Sapucaí, mais uma vez, o lendário sambista, carnavalesco e produtor musical autodidata, peça fundamental em vários campeonatos da Beija-flor. A nação nilopolitana se despede de Neguinho da Beija-flor, que se aposenta, e roga ao homenageado: “Volta e me dá os caminhos, conduz outra vez meu destino...”

Macumbeiro, mandingueiro, batizado no gongá, quem tem medo de quiumba não nasceu pra demandar. Meu terreiro é a casa da mandinga, quem se mete com Salgueiro acerta as contas na curimba”. A parceria de Xande de Pilares embala Salgueiro de corpo fechado”, proposta do carnavalesco Jorge Silveira. Recado dado...

O enredo de Paulo Barros “Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece”, na Vila Isabel, foge da temática afro-indígena na safra 2025. Sai a macumba e... “Solta o bicho, dá um baile de alegria. É o povo do samba virado na bruxaria

Terça, 04 de março

A Mocidade Independente de Padre Miguel abre a última noite de desfiles. O enredo da dupla Renato e Márcia Lage (que nos deixou no início do ano), Voltando para o futuro não há limites pra sonhar”, também foge da linha africana. “Quando o futuro voltar, a juventude vai crer que toda estrela pode renascer”.

Quem tem medo de Xica Manicongo?”, de Jack Vasconcelos, apresenta a primeira travesti do Brasil, fichada pelo Santo Ofício. O Paraíso do Tuiuti terá o reforço de personalidades como Eloína, pioneira no posto de rainha de bateria, e a deputada Erika Hilton. Somam-se num protesto contra a discriminação, a homofobia e violência no país que mais mata LGBTQIA+ no mundo. “Que o Brasil da terra plana, tenha consciência humana, Chica vive na fumaça

"Pororocas parawaras: as águas dos meus encantos nas contas dos curimbós". O samba da Grande Rio, da parceria de Mestre Damasceno, veio das eliminatórias realizadas em Belém. Leonardo Bora e Gabriel Haddad trazem do Pará a lenda de três princesas turcas e encantarias da Amazônia. Paolla Oliveira se despede do reinado na bateria de Mestre Fafá. “É força de Caboclo, Vodun e Orixá. Meu povo faz a curva como faz na gira...

Cantar será buscar o caminho que vai dar no Sol. Uma homenagem a Milton Nascimento”. Com o enredo de Antônio Gonzaga e André Rodrigues a Portela colocará o pé na estrada para encerrar a disputa do carnaval carioca de 2025... Iyá chamou Oxalá preto rei pra sambar. Anjo negro é o sol que faz a Portela cantar"

BOX

Ordem dos desfiles:

Domingo 02/03 – Unidos de Padre Miguel, Imperatriz, Viradouro e Mangueira

Segunda 03/03 – Tijuca, Beija-flor, Salgueiro e Vila Isabel

Terça 04/03 – Mocidade, Paraíso do Tuiuti, Grande Rio e Portela

Transmissão TV Globo e Globoplay às 22h. Dica de comentários: sintonize o áudio na Tupi.fm

 

...................................................

Gustavo e Edson

Mando várias fotos pra dar pra brincar com a diagramação. Claro que não consegui me decidir. Não é preciso usar todas, nem na ordem. Fica a critério do Edson...

Uma matéria só como fizemos ano passado.

A matéria é dividida em: introdução, domingo, segunda e o box com a ordem dos desfiles, se couber.

Fotos:

Foto 01 – Topo rasgada título na parte superior, no céu da Apoteose

ET Viradouro 250215 234 Ala da baianas componentes Apoteose boa

Título -  Xirê na Sapucaí

Sub-título – Tem gira na passarela do samba

 

Foto 2- ET Tuiuti 250201 153 Abre alas alegoria destaque leque fashion

Legenda – Tuiuti e o primeiro enredo LGBTQIA+ do Especial. Quem tem medo?

 

Foto 3 - ET G Rio 250201 098  Ala componentes adereços bamboles boa

Legenda – O colorido exuberante do carimbó na Grande Rio

 

Foto 4 – ET Mangueira 250201 071 CF componentes menino da Mangueira coroa boa

Legenda – Os crias, herdeiros do povo banto, reinam na Mangueira

 

Foto 5 – ET B Flor 250201 010 CF componentes Exu boa

Legenda – Exu garante caminhos abertos na Sapucaí

 

Foto 6 - ET Tuiuti 250201 142 torcida frisas boa

Legenda – Na torcida, o amor e paixão carnavalesca

 

Foto 7 - ET Imp Leo 250215 103 Ala componente boa adereço coroa cut

Legenda – O povo do samba reina no quilombo da alegria

 

Foto 8 - ET Vila 250208 204 Destaque boa

Legenda – Um assombro a musa da Vila Isabel

 

Foto 9 - ET Portela 250208 078 Abre alas Águia CF componentes pista geral boa

Legenda – Nas asas da águia portelense, a homenagem a Milton Nascimento

Foto 10 - ET Portela 250208 176 Ala componente boa

Legenda – Girasssóis da Portela no caminho de Bituca

 

Foto 11 - ET Viradouro 250215 122 Musa close boa

Legenda –Viradouro: em busca do bi


Tem Xirê na Sapucaí, o couro vai comer na passarela

Texto e fotos de Valéria del Cueto

Se os desfiles das escolas de samba no Rio de Janeiro, transmitidos para o mundo inteiro, são caixas de ressonância que fazem ecoar as questões abordadas nos enredos, por que não cantar a ancestralidade, suas epopeias mitológicas e as influências no modo de vida material e espiritual de quem produz e protagoniza o espetáculo?

Tem gira na pista e em dez dos doze enredos das escolas de samba do Grupo Especial do carnaval carioca 2025. Os temas valorizam nossas raízes africanas alertando sobre o crescente e alarmante aumento da intolerância no país.

A vida como ela é - Nada de novo no universo das comunidades do samba. São compostas pelo povo preto periférico que sofre com a dura realidade e arbitrariedades em seu cotidiano.

Um exemplo são os terreiros proibidos de funcionarem em áreas dominadas por evangélico/traficantes. O Complexo de Israel tem até bandeira daquele país hasteada, na zona norte do Rio.

É uma hipótese para a predominância, no maior espetáculo popular do planeta, de enredos sobre as tradições afro-indígenas religiosas. As exceções são a Mocidade Independente e a Vila Isabel.

Mudanças estruturais – Há novidades na dinâmica do espetáculo promovido pela Liesa, a Liga das Escolas de Samba. Serão três noites de disputa. De domingo a terça de carnaval quatro escolas passarão pela Sapucaí seguidas de rodas de samba na praça da Apoteose.

Haverá alteração no número de cabines de jurados. Voltam a ser quatro. Duas de cada lado, distribuídas ao longo da pista. O julgamento também foi modificado. As notas não serão fechadas ao final de todas as apresentações, mas após cada noite de desfile. Que diferença o novo formato faz? Veremos. Só saberemos o resultado das mudanças após a abertura dos envelopes na apuração.

Na torcida, o amor e paixão carnavalesca

De arquibancada - Essas e outras questões estiveram na boca do povo do samba que bateu ponto na Sapucaí nos ensaios técnicos gratuitos, em 2025. Atire a primeira serpentina quem não deu pitaco sobre a iluminação cenográfica. A que transforma o visual das apresentações e acrescenta novos desafios estéticos à concepção do espetáculo.

Os desenhos de luz se refletirão na avaliação dos quesitos? Como julgar, por exemplo, o acabamento de fantasias e alegorias em meio ao pisca-pisca psicodélico que esconde os detalhes das peças elaboradas pelos artesãos do carnaval?

Nas asas da águia portelense, a homenagem a Milton Nascimento

Para aprimorar - As soluções de problemas estruturais como o som da avenida, a segurança dos foliões no entorno do sambódromo e a melhoria das condições de trabalho na indústria do carnaval seguem em construção, apesar da urgência e relevância das demandas.

Mas, como já dizia o samba consagrado, “o show tem que continuar”. E, como “ainda estamos aqui”, a disputa pelo campeonato vai ser boa. Terá um tempero especial: domingo tem Oscar, com Fernanda Torres e o filme sobre Rubens Paiva concorrendo em três categorias. Vamos firmar o Xirê (roda ou dança utilizada para evocação dos Orixás) e chamar os orixás! A vida presta e o carnaval contagia...

Domingo, 02 de março

Unidos de Padre Miguel, campeã da Série Ouro em 2024, começa a gira com o enredo "Egbé Iya Nassô" dos carnavalescos Alexandre Louzada e Lucas Milato. Canta o mais antigo terreiro de candomblé do Brasil, em Salvador. A escola da Zona Oeste abre os caminhos e pede passagem: “Vila Vintém é terra de macumbeiro. No meu Egbé, governado por mulher, Iyá Nasso é rainha do candomblé”

O povo do samba reina no quilombo da alegria

Após décadas sem enredos afros, a Imperatriz Leopondinense, atual vice-campeã, embarca na proposta de Leandro Vieira: “Ómi Tútu ao Olúfon - Água fresca para o senhor de Ifón”, um itan (lenda) sobre as peripécias da viagem de Oxalá ao reino de Xangô. “Vai começar o itan de Oxalá, segue o cortejo funfun...”

Viradouro, de Niterói,tenta o bi com “Malunguinho, o mensageiro de três mundos”. A mata, os mistérios da jurema e da encruzilhada compõem o enredo afro-indígena de Tarcísio Zanon. Ele apresenta a entidade que é “O rei da mata que mata quem mata o Brasil”.

Viradouro: em busca do bi

Mangueira trouxe de São Paulo o carnavalesco Sidnei França para exaltar seus crias e a influência do povo banto na cultura carioca e brasileira. “À Flor da Terra - No Rio da Negritude Entre Dores e Paixões” projeta no contexto atual os saberes da negritude: “O povo banto que floresce nas vielas, orgulho de ser favela”.


Os crias, herdeiros do povo banto, reinam na Mangueira

Segunda, 03 de março

Na Unidos da Tijuca o samba conta com pesos pesados na parceria encabeçada pela cantora Anitta. Desenvolvido por Edson Pereira, “Logun-Edé: Santo Menino Que Velho Respeita”, homenageia o orixá filho de Oxum e Oxóssi. “Eu não descanso depois da missão cumprida, a minha sina é recomeçar...

Laíla de Todos os Santos, Laíla de Todos os Sambas”, de João Vitor Araújo, chama à Sapucaí, mais uma vez, o lendário sambista, carnavalesco e produtor musical autodidata, peça fundamental em vários campeonatos da Beija-flor. A nação nilopolitana se despede de Neguinho da Beija-flor, que se aposenta, e roga ao homenageado: “Volta e me dá os caminhos, conduz outra vez meu destino...”

Exu garante caminhos abertos na Sapucaí

Macumbeiro, mandingueiro, batizado no gongá, quem tem medo de quiumba não nasceu pra demandar. Meu terreiro é a casa da mandinga, quem se mete com Salgueiro acerta as contas na curimba”. A parceria de Xande de Pilares embala “Salgueiro de corpo fechado”, proposta do carnavalesco Jorge Silveira. Recado dado...

O enredo de Paulo Barros “Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece”, na Vila Isabel, foge da temática afro-indígena na safra 2025. Sai a macumba e... “Solta o bicho, dá um baile de alegria. É o povo do samba virado na bruxaria

Um assombro a musa da Vila Isabel

Terça, 04 de março

A Mocidade Independente de Padre Miguel abre a última noite de desfiles. O enredo da dupla Renato e Márcia Lage (que nos deixou no início do ano), “Voltando para o futuro não há limites pra sonhar”, também foge da linha africana. “Quando o futuro voltar, a juventude vai crer que toda estrela pode renascer”.

Tuiuti e o primeiro enredo LGBTQIA+ do Especial. Quem tem medo?

Quem tem medo de Xica Manicongo?”, de Jack Vasconcelos, apresenta a primeira travesti do Brasil, fichada pelo Santo Ofício. O Paraíso do Tuiuti terá o reforço de personalidades como Eloína, pioneira no posto de rainha de bateria, e a deputada Erika Hilton. Somam-se num protesto contra a discriminação, a homofobia e violência no país que mais mata LGBTQIA+ no mundo. “Que o Brasil da terra plana, tenha consciência humana, Chica vive na fumaça

O colorido exuberante do carimbó na Grande Rio

"Pororocas parawaras: as águas dos meus encantos nas contas dos curimbós". O samba da Grande Rio, da parceria de Mestre Damasceno, veio das eliminatórias realizadas em Belém. Leonardo Bora e Gabriel Haddad trazem do Pará a lenda de três princesas turcas e encantarias da Amazônia. Paolla Oliveira se despede do reinado na bateria de Mestre Fafá. “É força de Caboclo, Vodun e Orixá. Meu povo faz a curva como faz na gira...

Cantar será buscar o caminho que vai dar no Sol. Uma homenagem a Milton Nascimento”. Com o enredo de Antônio Gonzaga e André Rodrigues a Portela colocará o pé na estrada para encerrar a disputa do carnaval carioca de 2025... “Iyá chamou Oxalá preto rei pra sambar. Anjo negro é o sol que faz a Portela cantar"

Girasssóis da Portela no caminho de Bituca

BOX

Ordem dos desfiles:

Domingo 02/03 – Unidos de Padre Miguel, Imperatriz, Viradouro e Mangueira

Segunda 03/03 – Tijuca, Beija-flor, Salgueiro e Vila Isabel

Terça 04/03 – Mocidade, Paraíso do Tuiuti, Grande Rio e Portela

Transmissão TV Globo e Globoplay às 22h. Dica de comentários: sintonize o áudio na Tupi.fm



 Studio na Colab55

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Alafiou! Jogo aberto nos 40 anos da Sapucaí. A Viradouro leva o título.

Jogo aberto e a Viradouro leva o título

Alafiou! Jogo aberto nos 40 anos da Sapucaí.

A Viradouro leva o título.

Texto e fotos  Valéria del Cueto

Adivinha? Apesar das previsões de Esmeralda, a cigana leopoldinense em busca do bicampeonato, os búzios do jogo caíram todos abertos do outro lado da ponte, em Niterói. Assim estavam os caminhos da Viradouro em seu desfile do Grupo Especial do Rio de Janeiro no carnaval 2024, o dos 40 anos do Sambódromo.

Leandro Vieira esteve próximo da vitória durante 24 horas. A escola de Ramos foi a última a desfilar no raiar do primeiro dia de disputa. Manteve o favoritismo até a madrugada seguinte quando as guerreiras voduns do carnavalesco Tarcísio Zanon se apossaram da Marquês de Sapucaí. Não teve pra ninguém. Nem na bolha carnavalesca das redes sociais, nem na leitura das notas dos jurados. A escola terminou com um ponto à frente da vice-campeã.

A luz do amanhecer valorizando o conjunto alegórico da Imperatriz
Ambas se valeram da luz do amanhecer para emoldurarem seus vaticínios e enriquecerem as palhetas de cores dos enredos. A luz cenográfica, turbinada por tintas e tecidos fluorescentes, mudou o visual do espetáculo. A novidade escondeu ainda mais o povo do samba, já mascarado por efeitos de maquiagem. Também derrubou quem não soube utilizar os recursos.
Brasilidade tropical explícita na Mocidade.

Foi a ambientação, por exemplo, que penalizou a Vila e a Portela na apresentação dos casais de mestre-sala e porta-bandeira. No caso da Vila com um agravante.  Paulo Barros depois de tocar fogo na porta-bandeira Lucinha Lins tempos atrás na Mocidade e, ano passado, vestir o casal na pista, apagou a apresentação do pavilhão e colocou no lugar lasers multicoloridos acoplados nas vestimentas do casal da terra de Noel Rosa. Perdeu décimos preciosos, junto com o samba de Martinho da Vila(!) e o enredo de Oswaldo Jardim.

As justificativas exporão os critérios dos julgadores que deixaram de fora das campeãs a Mangueira, homenageando Alcione (perdeu no quesito de desempate, fantasia, a sexta posição), a Beija-Flor com Maceió, e acharam cica no caju tropical da Mocidade em vários quesitos incluindo o enredo, tão original, e... o samba! A Porto da Pedra teve passagem fugaz pelo Grupo e volta para o Ouro de onde sobe a campeã Unidos de Padre Miguel.


DESFILE DAS CAMPEÃS – Vila, Portela, Salgueiro, Grande Rio, Imperatriz e Viradouro.

Na Vila, só alas de comunidade, o chão de Noel.
A reedição da Vila de "Gbalá", enredo de Oswaldo Jardim de 1993, abre a noite das Campeãs trazendo o axé das crianças salvando o planeta ao realimentar as energias de Xangô ao som da bateria de Mestre Macaco Branco e o lindo samba de Martinho da Vila canetado em 2 décimos.

 O tempo passa, o “defeito de cor” permanece. Marinete Franco e outras mães relembram suas dores.
A Portela a volta às campeãs depois de ficar de fora no ano de seu centenário. O enredo “Um defeito de cor” conseguiu mais um recorde carnavalesco. O livro de Ana Maria Gonçalvez se esgotou na gigante Amazon! Que rapidamente repôs o estoque do fenômeno literário.  

Vida na tribo Yanomami, janela aberta para o mundo pelo Salgueiro

O Salgueiro é a primeira das três agremiações que desfilaram na noite de domingo a retornar a avenida. “Hutukara” trará de volta o casal Marcella Alves e Sidcley. Assim como os casais da Imperatriz, Grande Rio e Mangueira, eles gabaritaram no quesito mestre-sala e porta-bandeira. Dos quatro, o único que não se apresenta no sábado é Cintya Santos e Matheus Olivério, da verde e rosa.

A onça da Comissão de Frente da Grande Rio
Na Grande Rio, com “Nosso destino é ser onça”, a proposta de Gabriel Haddad e Leonardo Bora teve um bom desempenho nos quesitos plásticos inovando novamente nos materiais. A clareza do enredo, o samba e harmonia não deixaram a onça beber a água de mais um campeonato. Destaque aos felinos da alegoria da comissão de frente e o de Paola Oliveira, reinando na bateria.


A Imperatriz Leopoldinense, última escola a desfilar no domingo planejou seu desfile para o amanhecer. Vamos ver como as criações de Leandro Vieira se comportarão na luz noturna. Tomara que seja fixa, ou se altere suavemente. Os recursos do neon e da fluorescência acabarão cansando. Não precisa de búzios nem bola de cristal para chegar a essa conclusão.

Rute Alves e Julinho Nascimento, o casal campeão
A Viradouro encerra o sábado das campeãs, comemorando merecidamente seu terceiro título com “Arroboboi, Dangbé” e dando uma aula sobre a serpente, símbolo da vida, regeneração e recomeço nos cultos voduns vindos da Costa da Mina, na África. Uma aula. Mais uma lição das escolas de samba da cultura popular brasileira.


O desfile das Campeãs do RJ será transmitido no sábado, no Multishow a partir das 21:30h, horário de Brasília.

*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Da série “É carnaval”, do SEM   FIM...  delcueto.wordpress.com






Clique no link para acessar o álbum do acervo carnevalerio.com





quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Pede que dá. Lá vem a emoção! 40 anos do Sambódromo da Sapucaí

Pede que dá. Lá vem a emoção!

40 anos do Sambódromo da Sapucaí

Texto e fotos de Valéria del Cueto

Uma série de muitas temporadas passa pela cabeça de quem testemunhou a revolução que a obra arquitetônica (construída em 120 dias pelo governador Leonel Brizola, incentivado pelo antropólogo Darcy Ribeiro e criada por Oscar Niemeyer no berço do samba carioca), produziu na manifestação que se transformou num dos maiores espetáculos de cultura popular da Terra. O desfile das escolas de samba da elite do carnaval, ano após ano, alcança milhões de espectadores ao redor do planeta.

A pista da Passarela do Samba é caixa de ressonância de temas explorados pelas agremiações em seus enredos trabalhados por meses a fio pelas comunidades da região metropolitana envolvidas na preparação da f(r)esta.

Paola Oliveira precisa de legenda?

Nesse período, que virou o século e ultrapassou o milênio, quantas vezes se decretou que “o samba sambou”? A festa se renova e adapta aos novos tempos.  Incorpora tecnologia, quebra barreiras de modismos e se ressignifica conforme a dança enquanto luta heroicamente para não perder sua essência, preservar a ancestralidade e preparar os futuros sambistas.

Furando a bolha - Entre muitas tentativas de atrair a atenção das novas gerações com o incremento de ações de marketing, que incluíram o lançamento das latinhas de cerveja homenageando as agremiações e a aposta maciça em conteúdos nas redes sociais, o que acabou sendo o agente catalizador que marcará o carnaval de 2024 e explodiu, como há muito tempo não se via, no pré-carnaval foi... um samba!



Campeã nas paradas de sucesso desde o réveillon, a composição canta as qualidades de um produto tipicamente brasileiro, o caju. Defendida performaticamente por Zé Paulo Sierra, exalta a fruta tropical e a irreverência numa letra cheia de picardia que tem, entre seus autores, o humorista Marcelo Adnet. O refrão chiclete da Mocidade Independente de Padre Miguel caiu na boca do povo pelo país afora!

Ensaios técnicos - Foi o caju que botou a Sapucaí para cantar já na abertura dos ensaios técnicos dos finais de semana de janeiro realizados, pra variar, em meio as chuvas que castigaram o Rio. Justiça seja feita: as tempestades que fecharam, por exemplo, a principal artéria metropolitana, a Avenida Brasil, não alagaram a Marquês de Sapucaí. Sinal que esse ano o dever de casa foi feito com antecedência e o sistema de drenagem de esgotos do local previamente limpo. Os sambistas molhados, mas não empoçados, agradecem!

Parangolé cenográfico - Na missão de se adequar às exigências das transformações tecnológicas de produção de mega espetáculos vamos para o terceiro ano de implantação da iluminação cênica da pista. Assim como na questão do gigantismo das comissões de frente, ainda não há unanimidade na utilização dos 570 refletores e todo o caríssimo aparato envolvido.

Nem todas as escolas vão aderir a utilização dos recursos disponibilizados. Caso da campeã de 2023, a Imperatriz Leopoldinense. Seu carnavalesco, Leandro Vieira, foi protagonista de uma das polêmicas pré-carnaval nas redes ao afirmar que a luz privilegia os carros alegóricos, mas esconde os sambistas e as fantasias criadas para contar o enredo.

Cig(Bai)anas da Imperatriz, o bi traçado na palma da mão?
Nos intervalos entre os desfiles a ambientação do sistema de iluminação deixa a pista parecendo “casa da luz vermelha”. Aquelas das currutelas do sertão profundo. Cansa. Vamos combinar que sua melhor utilização foi justamente quando ela se apagou, no ensaio técnico do Salgueiro, para que os vagalumes/lanternas dos componentes passeassem pela penumbra da floresta Yanomami do enredo Hutukara.

A fila anda e o que foi revolucionário há 40 anos ganha novos contextos. Algumas intervenções são absorvidas, outras ficam na pista. A nova geração que assumirá os destinos da LIESA, a Liga da Escolas de Samba, implanta a marca @RioCarnaval. Sob o comando do herdeiro de Anísio Abraão David, Gabriel, ela repagina a folia e delineia, mais uma vez, o avanço dos camarotes temáticos sobre as frisas da passarela.

O culto a ancestralidade garante a aposta: o futuro é o samba.

A pista, por enquanto, continua sendo território demarcado do povo samba. Corpo, voz, consciência e chão da essência de valor incalculável de uma das manifestações culturais mais relevantes do Brasil.

Domingo 11 de fevereiro

Quem abre os desfiles do carnaval 2024 é a Porto da Pedra, campeã do acesso. O carnavalesco Mauro Quintaes aposta no cordel do "Lunário Perpétuo - A profética do saber popular" celebrando seus ensinamentos e desdobramentos com Antônio da Nóbrega como guia do enredo da comunidade de São Gonçalo.

Também vem do nordeste o tema da Beija-Flor "Um delírio de Carnaval na Maceió de Rás Gonguila". Nilópolis chega com sua força máxima, capitaneada por Neguinho da Beija-Flor, os condutores de seu pavilhão, Selminha Sorriso e Claudinho, e a força de sua comunidade.

Na pista e nas arquibancadas, o protesto pela proteção aos indígenas


É "Hutukara" o grito de protesto do Salgueiro que o carnavalesco Edson Pereira faz retumbar na Sapucaí sobre a questão Yanomami. A comissão de frente de Patrick Carvalho promete impactar a plateia. Até o ator Leonardo di Capri já mencionou o enredo em suas redes sociais. Furou a bolha...

A Grande Rio em “Nosso destino é ser onça”, de Leonardo Bora e Gabriel Haddad, faz uma viagem antropológica pelo Brasil profundo. Vamos ver se a onça vem beber água na Sapucaí.

A onça, nossa conhecida, a protagonista do desfile da Grande Rio

"O Conto de Fados" da Unidos da Tijuca quer revelar em seu samba fadado, com grandeza e encantos, segundo o carnavalesco Alexandre Louzada, versos do pequeno imenso Portugal na voz de seu interprete Ito Melodia.

A Imperatriz Leopoldinense tenta o bicampeonato e fecha a noite de domingo falando do universo cigano no enredo "Com a sorte virada pra lua, segundo o testamento da cigana Esmeralda". Sem luz cenográfica, já que Leandro Vieira pretende usar a luz do nascer do dia para valorizar a estética de sua proposta.

Segunda 12 de fevereiro

Quem abre a noite é Mocidade Independente com a sinopse tropicalista criada por Fábio Fabato e desenvolvida por Marcus Ferreira, “Pede Caju Que Dou… Pé de Caju Que Dá”. Já vimos nos ensaios técnicos o efeito Zé Paulo Sierra e da Não Existe Mais Quente, a bateria de Mestre Dudu, nas arquibancadas da Sapucaí. Será um sacode. Todos torcem para que essa catarse se reproduza nos demais quesitos da escola.  

Tropicalismo, a aposta estética da Mocidade

Um Defeito de Cor”, enredo da Portela, é o ponto de partida de Antônio Gonzaga e André Rodrigues para criar a carta de Luiz Gama para sua mãe, protagonista do livro de Ana Maria Gonçalvez. Atenção às bossas da Tabajara do Samba, de Nilo Sérgio, com toques dos santos e a parceria inédita do casal de porta-bandeira e mestre-sala Squel Jorgea e Marlon Lamar.

Na Vila Isabel a reedição o enredo de “Gbalá: uma viagem ao Templo da Criação”, de 1993, criado por Oswaldo Jardim, está sob responsabilidade de Paulo Barros. Embalada pelo belo samba de Martinho da Vila que prega que é preciso resgatar o futuro e, para essa tarefa, só as crianças estão aptas. A Vila já fechou com a equipe atual para o carnaval 2025.

Sou da Vila não tem jeito: o amor declarado do ritmista

A dupla Annik Salmon e Guilherme Estevão com "A Negra Voz do Amanhã", homenageia Alcione. A cantora é fundadora da escola mirim Mangueira do Amanhã. Justa homenagem em vida da comunidade verde e rosa a uma incentivadora apaixonada da Estação Primeira.


A Revolta da Chibata, de 1910, é o ponto de partida da proposta de Jack Vasconcelos no enredo do Paraíso do Tuiuti, “Glória ao Almirante Negro!”. Pixulé puxa o samba de Moacyr Luz e a rainha Mayara Lima coreografa as bossas da Bateria Super Som, de Mestre Marcão, estandarte de ouro no último carnaval.

Quem fecha os desfiles do Grupo Especial é a vice-campeã de 2023, a Viradouro. Tarcísio Zanon explora o texto de João Gustavo Melo sobre uma divindade vodum, “Arroboboi, Dangbé” para, com a bateria de Mestre Ciça, a Rainha Erika Januza e o novo reforço Wander Pires, tentar o campeonato.

Viradouro e a divindade vodum cultuada na Bahia 

Desfiles do Grupo Especial do Rio de Janeiro

Domingo 11/02 - Porto da Pedra, Beija-Flor, Salgueiro, Grande Rio, Unidos da Tijuca, Imperatriz Leopoldinense

Segunda 12/02 - Mocidade Independente, Portela, Vila Isabel, Mangueira, Paraíso do Tuiuti, Viradouro

Transmissão TV Globo e Globoplay às 22h. Sugestão: comentários da Tupi.fm

*Agradecimentos à @riocarnaval, Liesa, Riotur e, especialmente, ao povo do samba que faz a festa acontecer.

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