Pede que dá. Lá vem a emoção!
40 anos do Sambódromo da Sapucaí
Texto e fotos de Valéria del Cueto
Uma série de muitas temporadas passa pela cabeça de quem
testemunhou a revolução que a obra arquitetônica (construída em 120 dias pelo
governador Leonel Brizola, incentivado pelo antropólogo Darcy Ribeiro e criada
por Oscar Niemeyer no berço do samba carioca), produziu na manifestação que se
transformou num dos maiores espetáculos de cultura popular da Terra. O desfile
das escolas de samba da elite do carnaval, ano após ano, alcança milhões de
espectadores ao redor do planeta.
A pista da Passarela do Samba é caixa de ressonância de temas explorados
pelas agremiações em seus enredos trabalhados por meses a fio pelas comunidades
da
região metropolitana envolvidas na preparação da f(r)esta.
Paola Oliveira precisa de legenda? |
Nesse período, que virou o século e ultrapassou o milênio, quantas vezes se decretou que “o samba sambou”? A festa se renova e adapta aos novos tempos. Incorpora tecnologia, quebra barreiras de modismos e se ressignifica conforme a dança enquanto luta heroicamente para não perder sua essência, preservar a ancestralidade e preparar os futuros sambistas.
Furando a bolha - Entre muitas tentativas de atrair a
atenção das novas gerações com o incremento de ações de marketing, que
incluíram o lançamento das latinhas de cerveja homenageando as agremiações e a
aposta maciça em conteúdos nas redes sociais, o que acabou sendo o agente
catalizador que marcará o carnaval de 2024 e explodiu, como há muito tempo não
se via, no pré-carnaval foi... um samba!
Campeã nas paradas de sucesso desde o réveillon, a composição
canta as qualidades de um produto tipicamente brasileiro, o caju. Defendida
performaticamente por Zé Paulo Sierra, exalta a fruta tropical e a irreverência
numa letra cheia de picardia que tem, entre seus autores, o humorista Marcelo
Adnet. O refrão chiclete da Mocidade Independente de Padre Miguel caiu na boca
do povo pelo país afora!
Ensaios técnicos - Foi o caju que botou a Sapucaí para
cantar já na abertura dos ensaios técnicos dos finais de semana de janeiro realizados,
pra variar, em meio as chuvas que castigaram o Rio. Justiça seja feita: as
tempestades que fecharam, por exemplo, a principal artéria metropolitana, a
Avenida Brasil, não alagaram a Marquês de Sapucaí. Sinal que esse ano o dever
de casa foi feito com antecedência e o sistema de drenagem de esgotos do local
previamente limpo. Os sambistas molhados, mas não empoçados, agradecem!
Parangolé cenográfico - Na missão de se adequar às exigências
das transformações tecnológicas de produção de mega espetáculos vamos para o
terceiro ano de implantação da iluminação cênica da pista. Assim como na
questão do gigantismo das comissões de frente, ainda não há unanimidade na
utilização dos 570 refletores e todo o caríssimo aparato envolvido.
Nem todas as escolas vão aderir a utilização dos recursos disponibilizados. Caso da
campeã de 2023, a Imperatriz Leopoldinense. Seu carnavalesco, Leandro Vieira,
foi protagonista de uma das polêmicas pré-carnaval nas redes ao afirmar que a
luz privilegia os carros alegóricos, mas esconde os sambistas e as fantasias
criadas para contar o enredo.
Cig(Bai)anas da Imperatriz, o bi traçado na palma da mão? |
A fila anda e o que foi revolucionário há 40 anos ganha novos
contextos. Algumas intervenções são absorvidas, outras ficam na pista. A nova
geração que assumirá os destinos da LIESA, a Liga da Escolas de Samba, implanta
a marca @RioCarnaval. Sob o comando do herdeiro de Anísio Abraão David,
Gabriel, ela repagina a folia e delineia, mais uma vez, o avanço dos camarotes
temáticos sobre as frisas da passarela.
A pista, por enquanto, continua sendo território demarcado do povo samba. Corpo, voz, consciência e chão da essência de valor incalculável de uma das manifestações culturais mais relevantes do Brasil.
Domingo
11 de fevereiro
Quem
abre os desfiles do carnaval 2024 é a Porto da Pedra, campeã do acesso. O
carnavalesco Mauro Quintaes aposta no cordel do "Lunário Perpétuo - A profética do saber popular" celebrando seus ensinamentos e desdobramentos com Antônio da
Nóbrega como guia do enredo da comunidade de São Gonçalo.
Também vem do nordeste o tema da Beija-Flor "Um delírio de Carnaval na Maceió de Rás Gonguila". Nilópolis chega com sua força máxima, capitaneada por
Neguinho da Beija-Flor, os condutores de seu pavilhão, Selminha Sorriso e
Claudinho, e a força de sua comunidade.
Na pista e nas arquibancadas, o protesto pela proteção aos indígenas |
A Grande
Rio em “Nosso destino é ser onça”, de Leonardo Bora e Gabriel Haddad, faz uma viagem antropológica
pelo Brasil profundo. Vamos ver se a onça vem beber água na Sapucaí.
A onça, nossa conhecida, a protagonista do desfile da Grande Rio |
"O Conto de Fados" da Unidos da Tijuca quer revelar em seu samba fadado, com grandeza e encantos, segundo o carnavalesco Alexandre Louzada, versos do pequeno imenso Portugal na voz de seu interprete Ito Melodia.
A Imperatriz Leopoldinense tenta o
bicampeonato e fecha a noite de domingo falando do universo cigano no enredo "Com a sorte virada pra lua, segundo o testamento da cigana
Esmeralda". Sem luz cenográfica,
já que Leandro Vieira pretende usar a luz do nascer do dia para valorizar a
estética de sua proposta.
Segunda 12 de fevereiro
Quem abre a noite é Mocidade Independente com a
sinopse tropicalista criada por Fábio Fabato e desenvolvida por Marcus
Ferreira, “Pede Caju Que Dou… Pé de Caju Que Dá”. Já vimos nos ensaios técnicos o efeito
Zé Paulo Sierra e da Não Existe Mais Quente, a bateria de Mestre Dudu, nas
arquibancadas da Sapucaí. Será um sacode. Todos torcem para que essa catarse se
reproduza nos demais quesitos da escola.
Tropicalismo, a aposta estética da Mocidade |
“Um Defeito de Cor”, enredo da Portela, é o ponto de partida de Antônio Gonzaga e André Rodrigues para criar a carta de Luiz Gama para sua mãe, protagonista do livro de Ana Maria Gonçalvez. Atenção às bossas da Tabajara do Samba, de Nilo Sérgio, com toques dos santos e a parceria inédita do casal de porta-bandeira e mestre-sala Squel Jorgea e Marlon Lamar.
Na Vila
Isabel a reedição o enredo de “Gbalá: uma viagem ao Templo da Criação”, de 1993, criado por Oswaldo Jardim, está sob
responsabilidade de Paulo Barros. Embalada pelo belo samba de Martinho da Vila
que prega que é preciso resgatar o futuro e, para essa tarefa, só as crianças
estão aptas. A Vila já fechou com a equipe atual para o carnaval 2025.
Sou da Vila não tem jeito: o amor declarado do ritmista |
A dupla Annik Salmon e Guilherme Estevão com "A Negra Voz do Amanhã", homenageia Alcione. A cantora é fundadora da escola mirim Mangueira do Amanhã. Justa homenagem em vida da comunidade verde e rosa a uma incentivadora apaixonada da Estação Primeira.
A Revolta da Chibata, de 1910, é o
ponto de partida da proposta de Jack Vasconcelos no enredo do Paraíso do Tuiuti,
“Glória ao Almirante Negro!”.
Pixulé puxa o samba de Moacyr Luz e a rainha Mayara Lima coreografa as bossas
da Bateria Super Som, de Mestre Marcão, estandarte de ouro no último carnaval.
Quem fecha os desfiles do Grupo Especial é a vice-campeã de 2023, a Viradouro. Tarcísio Zanon explora o texto de João Gustavo Melo sobre uma divindade vodum, “Arroboboi, Dangbé” para, com a bateria de Mestre Ciça, a Rainha Erika Januza e o novo reforço Wander Pires, tentar o campeonato.
Viradouro e a divindade vodum cultuada na Bahia |
Desfiles do Grupo Especial do Rio de Janeiro
Domingo 11/02 - Porto da Pedra, Beija-Flor, Salgueiro, Grande Rio,
Unidos da Tijuca, Imperatriz Leopoldinense
Segunda 12/02 - Mocidade Independente, Portela, Vila Isabel,
Mangueira, Paraíso do Tuiuti, Viradouro
Transmissão TV Globo e Globoplay às 22h. Sugestão: comentários da Tupi.fm
*Agradecimentos à @riocarnaval, Liesa, Riotur e, especialmente, ao povo do samba que faz a festa acontecer.
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