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terça-feira, 15 de abril de 2025

Bizoiando


Bizoiando  

Texto e fotos  Valéria del Cueto

Rápido, rasteiro e avassalador. Querida cronista voluntariamente clausurada do outro lado do túnel, estes são os adjetivos que descrevem os rumos do planeta ao qual você, sabiamente, resolveu virar as costas novamente depois de sua escapulida no carnaval. 

Sim, cronista, assim como o Grande Irmão que vigia o cotidiano dos habitantes do planeta Terra em todos os seus movimentos, também conseguimos nós, os extraterrestres visitantes, jogar nossa mira telescópica sobre os indivíduos cujas rotinas nos interessam observar. No seu caso, o fiz pelo mais genuíno interesse: a amizade que tenho por quem me introduziu nos meandros humanos. Você!

Nesse período em particular, por nada nesse universo de dados circulantes, deixaria de “bizoiar” suas atividades quase secretas carnavalescas. 

Acompanhei a tensão nas inúmeras etapas para obter os credenciamentos dos ensaios técnicos, mais acessível, e o dos desfiles oficiais, na maratona de todos os anos e suas variantes.

Vi seu esforço para tentar o quase impossível: cobrir todas as escolas da Série Ouro e do Grupo Especial.

Senti na minha epiderme protetora (quem aguenta o calor daqui?), sua frustração por não conseguir fotografar parte das escolas que almejavam chegar na elite do carnaval carioca, incluindo aí a Acadêmicos de Niterói que alcançou esse direito. Imagino a sua decepção por não ter o material para incorporar no acervo carnevalerio.com

Vi a emoção brotar explicitada nas fotos e vídeos do ensaio técnico do Império Serrano, por exemplo, após o fogo que lambeu atelier e ceifou a vida de artesãos no espaço incendiado em Madureira.

Falo daquele episódio que parece fazer parte, apenas, de um carnaval que passou. Sem trazer maiores providências para evitar novas tragédias no processo de produção e desenvolvimento das escolas de samba, especialmente as dos grupos inferiores, que desenvolvem seus desfiles em condições tão precárias. Vi tudo e muito bem!

A parte boa é que não faltam imagens para serem editadas e indexadas nos próximos meses em sua reclusão voluntária.

Elas são representativas da paixão inebriante que move a maior festa popular do planeta. Aquela que não se restringe ao berço das escolas de samba, o Rio de Janeiro, mas se expande e prolifera por muitas cidades do Brasil, e até do mundo, em ritmo de samba.

Tudo isso, cronista, é muito bom para garantir sua sanidade. Afasta-a da realidade cruel que movimenta esse planeta Terra que não é mais aquele. 

Foi-se o tempo da delicadeza, da gentileza. Uma nova velha geração, no momento, testa as barreiras da intolerância e da brutalidade. Guerras e disputas se retro alimentam apesar dos alertas de quem sabe aonde isso vai dar. São muitos esses avisos. Porém, inócuos.

Não há mais conversas, diálogos, trocas de ideias. Tudo é confronto e, sim, sem regras ou protocolos. No popular: é porrada e bomba. Nada de argumentação.

Não vou particularizar os atos que incluem do desequilíbrio comercial mundial à rapinagem pura e simples. Nesse quesito o status quo foi destroçado.

O pau continua quebrando para enriquecer os senhores das guerras em vários cantos desse mundão. Não há limites para destruição, nem para a exterminação de populações inteiras.

O mais incrível é que eles não aprenderam nada! 

Quase ninguém parece se importar com o que estão ensinando à nepobaby Inteligência Regenerativa, aquela que deixou de ser artificial para se (con)fundir com os hábitos, rotinas e o cotidiano da humanidade.

A impressão que dá é que, sabedor de que o próximo passo é ser dominado por ela, o ser humano capricha em incutir no “modelo” seus piores e mais tenebrosos instintos. Aguardem o tratamento que receberão depois. Cansamos de avisar! 

Está entendendo, cronista? Por isso tornei espaçada nossa correspondência pela luz da lua que invade sua cela. Prefiro deixá-la às voltas com as imagens capturadas em sua incrível fuga carnavalesca. Estive lá. Disfarçado. Adivinha onde?

Tal qual a freirinha carmelita, que pula o muro do convento de Santa Teresa para se acabar no bloco que leva seu nome, seu objetivo é louvável: cair dentro da folia para fugir da realidade inexorável. É a fresta da festa. A fresta, não a janela panorâmica que a vida deveria ser...

PS: Não mencionei o tombo porque você ensinou a mim, PLuct Plact, o extraterrestre, a ser discreto.

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Das séries “Fábulas Fabulosas” e “É carnaval” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com

Studio na Colab55

quarta-feira, 5 de junho de 2024

Notícia urgente

Notícia urgente

Texto e foto de Valéria del Cueto

Vai um tempo que não invado sua cela, cronista voluntariamente encarcerada do outro lado do túnel. Tenho meus motivos, amiga querida. Meus e seus...

De minha parte, como um extraterrestre impedido de ultrapassar essa camada magnética (há quanto tempo digo que esse é o problema, só agora anunciado aos 4 ventos pelos cientistas?), com as forças exauridas dessa já obsoleta nave interplanetária, resolvi me dedicar a tentar melhorar a visão humana sobre nós seres de outras galáxias que circulamos por aqui. É praticamente impossível assumir a tarefa hercúlea de mudar a opinião pública.

Essa, que hoje coloca os alienígenas no mesmo patamar das bruxas, exus, diabos e afins no imaginário popular. Pra maioria, assim como eles, estamos destinados às fogueiras. Eternas, segundo os apegados a algumas nefastas seitas religiosas, e reais se, possíveis fossem.

Ser diferente nesse mundo negacionista adepto da terra plana não provoca curiosidade. Gera medo e violência alimentadas em nome da “liberdade de expressão”. Aquela, que antigamente terminava onde começava a do outro, não tem limites nem barreiras.

Considerando a situação que me impede de picar a mula pra outros mundos, limitado que ainda estou a pluctplactear apenas entre pontos diferentes da Terra, me empenho em tentar mostrar as funcionalidades básicas dos seres extraterrestres infiltrado nas estruturas neurais das inteligências artificias, as AIs. Captou a porta aberta?

Estamos e ficaremos em voga! Anunciaram pelas onipresentes mídias sociais a existência de instalações planetárias de alienígenas numa galáxia vizinha. É pegar ou partir pra ignorância em relação ao que você, na sua reclusão, está cansada de saber. Não somos deuses nem diabos, somos astronautas incapazes de interferir no livre arbítrio que leva o mundo à sua condição atual, portadores dos alertas que advertem que o pior ainda está por vir, infelizmente.

Aí, chego aos seus motivos para nossa comunicação rateante. Cheguei a uma conclusão interesseira: mais vale um nocaute informativo que o sofrimento de más notícias em doses homeopáticas. Então, espero uma novidade boa para invadir sua janela pelo raio de luar. Essa janela quase se abriu no início de maio pra contar o que era a multidão que invadiu suas praias com o show da Madonna em Copacabana. Perdeu força quando vasculhei seus arquivos e encontrei registros do efeito Rolling Stones no mesmo local.

Considerei que teria de informar que o ano que vem seu esforço na fuga anual para fotografar o carnaval na Sapucaí terá que ser maior. Já vai pensando em como dar o perdido na vigilância por mais um dia. Agora, serão 3 noites de desfiles! Essa nem pode ser considerada uma má notícia. É apenas a novidade a qual você e muitos outros, como a freira carmelita que foge do convento em Santa Teresa pra brincar o carnaval carioca, terão que se adaptar.

O pior, que fez a balança pender e muito para o silêncio do seu amigo Pluct Plact, foi o que era pedra cantada, piorou durante dias seguidos de maio e está longe de acabar. Não vou fazer suspense e já adianto que informando que os seus estão todos bem! Dito isso, informo que o Rio Grande do Sul colapsou.

Não foi por falta de aviso, mas por omissão e ausência de prevenção. Chuvas torrenciais provocaram enchentes que arrasaram cidades. Tanto do lado leste do estado, com as piores consequências possíveis, quanto do lado oeste. Na bacia do Uruguai os danos foram mais controlados. Fizera melhor a lição. No caso de Uruguaiana, escolados nas enchentes de 1983. Você estava por lá, lembra?

Todo o país, quer dizer, parte dele, está se desdobrando para ajudar o povo gaúcho. Outra parte, essa nefasta, se dedica a gerar e distribuir fake News sobre a tragédia.

O resto você já sabe. O mundo quer brincar de guerra. Ucrânia e Palestina ampliam o tempo de seus conflitos globais enquanto pipocam outras rusgas aqui e acolá.

Chega, não é? Então vamos à novidade que desequilibrou de vez a balança e me fez enviar essa notícia urgente. O seu Flamengo goleou o sempre freguês Vasco da Gama no Maraca por 6 X 1. O maior placar dos confrontos entre os dois times!

Fala sério, não é uma boa razão para uma cartinha?

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Crônica da série “Fábulas Fabulosas” do SEM FIM...  delcueto.wordpress.com

PS: Um brinde do acervo da cronista. 

Em dezembro de 2009...


https://www.youtube.com/watch?v=06IgtUKvRqQ


Studio na Colab55

terça-feira, 17 de outubro de 2023

Fadiga cognitiva


Fadiga cognitiva

Texto e foto de Valéria del Cueto

Querida cronista enclausurada do outro lado do túnel. Pela fresta do raio de luar que atravessa a janela de sua cela (ainda) trago notícias do lado de cá. O que deveria ser o escape, pra variar, está em guerra. Mais uma. Eu, que não sou marciano, mas também não sou humano, é quem falo aqui da Terra. Testemunho in lo(u)co o desvario que domina o planeta de onde, sinceramente, gostaria de pirulitar.

Tento dourar a pílula, mas não tem como. Se a coisa já andava ruim por aqui, periclitando ensandecida entre a intolerância costumeira generalizada e o fundamentalismo fanático opinativo, de uma semana e pouco para cá degringolou de vez.

Tá bom, não vou fazer suspense para coloca-la a par dos novos capítulos da saga humana que, parece, estreia uma nova temporada. Pensando bem, talvez, nem tanto assim...

Acontece que, não satisfeitos com os sérios eventos climáticos que pipocam por toda a superfície do planeta (fruto, entre outros fatores, do manejo inadequado de suas reservas naturais, colocadas à disposição da senha dos “ousados”, ávidos e insaciáveis seres humanos), tão pouco preocupados com o excesso de conflitos existentes em vários continentes que afetam a vida das comunidades, especialmente as mais vulneráveis, os habitantes da terra, no caso a prometida, conseguiram extrapolar, mais uma vez, sua capacidade de testar os extremos civilizatórios.

Alguns analistas já previam que países africanos, por exemplo, estavam em pé de guerra. E que estas (várias) arrastariam o mundo que deixou pra trás a pandemia de covid-19 e já se engalfinhava em batalhas sangrentas entre a Rússia e a Ucrânia.

Está acompanhando o raciocínio de Pluct, Plact, seu correspondente extraterreste, cara cronista? Pois é, assim caminhava a (des)humanidade até o sábado, 7 de outubro, do septuagésimo quinto ano de criação do Estado de Israel.

Foi aí que o Hamas driblou o Domo de Ferro, até então o invulnerável sistema de defesa aéreo israelense. Com um trator velho rompeu um trecho da cerca que separa da Faixa de Gaza e, invadindo uma desavisada megapotência no Oriente Médio barbarizou geral, tocando horror em Israel. Estou sendo genérico, se é que isso é possível. Entre centenas de mortos e reféns recolhidos ao território palestino, o que faz o líder atacado que dormiu no ponto e não viu uma marola sequer de preparação das hordas do Hamas e do Hezbollah em seus movimentos coordenados?

Retalia com violência proporcional e, dobrando a aposta, decreta um barata voa para todos os moradores do norte de Gaza. A ordem é para rumarem para o sul, em direção a fronteira egípcia que, ressalte-se, está fechada para refugiados. Inclusive, até outro dia, para cidadãos de outros países, como o Brasil, que estavam na Palestina.

Deu pra ter uma noção geográfica desse mapa da mina explosivo? Então, querida mentora, embaralha tudo com uma overdose de notícias falsas pra tocar fogo no parquinho da geopolítica mundial.

Só penso no tempo em que, graças as suas indicações, mergulhei na história das civilizações(?) tentando entender o que move a ganância humana. Sem esses indicadores e parâmetros não teria argumentos para tentar explicar essa capacidade inerente de autodestruição civilizatória dos habitantes do planeta a meus superiores interplanetários. Maias, astecas, egípcios, gregos, romanos...

Pra que metermos a mão nessa cumbuca? (Imagina euzinho explicando o significado da expressão pra eles.) É só deixar nas mãos dos representantes dos deuses em conflito que a humanidade autofagicamente se depura. Mesmo sabendo que seus atos de barbárie levarão a todos diretamente ao inferno das atrocidades, o que mais se escuta dos líderes mundiais é um brado retumbante e covarde: “eu autorizo”.

As consequências são imprevisíveis porque não há como imaginar os horrores que serão entregues à humanidade ao vivo e a cores, especialmente pelas redes sociais.

Sinto muito, querida amiga, se não tenho nenhuma dose de otimismo e esperança a lhe oferecer aqui de fora.

Meu conselho? Para evitar esse cansaço de pensar que me habita, fique onde está. Foque sua mente na monotonia das paredes nuas da sua cela.

Daí, desloque-se em sua fértil imaginação pelo maravilhoso mundo que conheceu e fez questão de me apresentar antes que essa fadiga cognitiva humana se apoderasse por osmose do seu aventureiro amigo intergaláctico.

E lembre-se: o que é seu está guardado em outra esfera sideral!  

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Crônica da série “Fábulas Fabulosas” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com




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