Na dúvida...
Texto
e foto de Valéria del Cueto
Essa
Ponta do Arpoador é sempre uma surpresa! Quem avalia, analisa, registra e
cataloga é Pluct, Plact, o extraterrestre, enquanto espera a chegada da
escrevinhadora de caderninhos.
Precisa
dela para tentar clarear as ideias antes de cruzar novamente com sua cronista
de fé sabiamente isolada dessas e outras mazelas, recolhida que está numa cela
do outro lado do túnel.
É
domingo, faz sol depois de uns dias de vento cortante, céu mal-humorado e
muitas promessas de ressacas espetaculares. “Como não falo do que não vi, nada
posso relatar”, esclarece o alienígena um pouco desconcentrado pelo som que vem
do evento da vez. Ele toma o Largo do Millôr e promete um “sonset” (isso
mesmo, com sílaba tônica no O) em ritmo de bate-estacas. Sabe a tal de
democracia? Para quem...
Fazer
o que? Duas opções. Se isso te incomodar, o que não faz parte do menu de opções
disponível para um ser de outro mundo que se preze, se mude. Ou... siga o
magnânimo conselho da escrevinhadora do caderninho: ceda o espaço de domingo
para quem só pode usufruí-lo nos finais de semana e deixe para vagabundear
durante os dias de batente coletivo.
Enquanto
oscila entre partir ou ficar Pluct Plact começa a tabular outras informações
que podem auxiliá-lo na tomada de decisão. A mais gritante, por assim dizer, é
que a qualidade musical está se deteriorando rapidamente após uma largada até
que promissora.
No
mar as tão esperadas ondas, que motivaram o encontro com a escrevinhadora,
simplesmente sumiram. O que se vê são marolinhas de aprendiz numa água
certamente gelada, se deduz pela indumentária dos surfistas. Se a virada do
tempo não rendeu as ondulações aguardas pelos feras do esporte, serviu para
virar barcos, provocar mortes e colocar de prontidão os serviços marítimos
locais à procura dos desaparecidos na região de Sepetiba. Por esse ângulo, foi
bom o mar baixar rapidamente para não tumultuar ainda mais as buscas.
A
chegada da dona do caderninho acabou adiando um pouco a última boa razão para
uma retirada oportuna.
Atraída
pela bandeira, sua sombra, o contorno das lambidas das ondas que quase batem na
murada do Arpoador (deixando pouco espaço para os banhistas lagartearem), ela
estacionou na murada. Os elementos chamaram a atenção da escrevinhadora e
testaram minha paciência interplanetária durante o tempo de espera para a
tentativa da foto perfeita.
Bandeira
esticada, sombra alinhada e definida, a marola lambendo a areia perto do pé do
mastro do alerta vermelho dos salva-vidas. O resto é lucro...
Dali,
só nos moveríamos ao derradeiro sinal que era hora de partir. Que, por incrível
que pareça, já previa ser dado somente ao final do show anunciado entre músicas
e tremedeiras das carrapetas.
Afinal,
está pensando o que? Aqui é o Rio de Janeiro, uma cidade que te permite mudar
de ideia com uma rapidez inacreditável...
“Já
curtiu a nossa página no feicebuque, seguiu no insta? Vai lá enquanto aguarda o
show”, intima o animador do evento de um plano de saúde. “Daqui a pouco o
cantor Jorge Israel e o cantor Marcelinho da Lua...”, anuncia animadão o
antenado locutor.
“Marcelinho
da Lua cantor?” pergunta a escrevinhadora se levantando, “vamos embora.” Nos
dirigimos a Ipanema enquanto escutamos o locutor descolado corrigindo seu
reclame.
“Já
curtiu a nossa página no feicebuque, seguiu no insta? Marcelinho da Lua não é
cantor, é DJ. É que escreveram errado aqui”, explica. Jogando a culpa, como
sempre, na produção....
Hora
de partir, alguma dúvida?
*Valéria
del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Da série “Fábulas
Fabulosas”, do SEM FIM...delcueto.wordpress.com
Studio na Colab55
Nenhum comentário:
Postar um comentário