O ópio do povo
Texto e foto de Valéria del Cueto
Uma e meia, em plena segunda feira e estou na praia. É, é isso mesmo. Pode pensar o que quiser. É verdade. Seus pensamentos são parcialmente verdadeiros. Por que não é vagabundagem, é necessidade eminente.
Corri pro refúgio mais seguro que conheço. O local que testemunha minhas dores e alegrias. Aqui, sou eu e ele, seja lá quem for. Faça sol ou faça chuva.
Hoje o mar ruge por mim. Tá poderoso, mexido. Na medida número de surfistas na água, o percentual resultante é de um dígito a direita da vírgula. Um ser solitário se arrisca entre as valas, a correnteza puxa.
As metáforas dizem tudo. São elas também que mostram o caminho a seguir: o tempo. Ele é um sinal de maturidade. Pelo menos no meu caso. De tanto correr com ele, aprendi a deixá-lo correr. Foi na porrada, mas um dia a ficha caiu. Aí a gente vai ficando mais velho esperando, em vez de empurrar.
Mas não foi isso que me trouxe pra cá. Aliás, a causa nesse caso é o de menos. Importa é a conseqüência. Ou melhor, a sequência. E essa, me é totalmente favorável.
Portando, matogrossenses amigos, cuiabanos queridos, eleitores uruguaianenses , povo do meu Brasil do Sem Fim. Acompanhem-me nos próximos takes dessa cena, cujo início da sequencia vocês já registraram no filme da minha vida que inclui todos vocês, leitores fiéis.
SEQ XXX - Praia do Leme – exterior/dia -
Take 01 – Ela olha para frente e vê Copacabana estendida a luz do início de tarde. O céu está estupidamente azul, bandeiras tremulam agitadas nas poucas barracas espalhadas na areia.
Take 02 - PV da mulher – Seu olhar passeia vagarosamente pela dupla ao longe que joga frescobol, o homem que exercita o cachorro, o rapaz solitário que olha o mar. Acompanha o casal que caminha na beira da água e o helicóptero vermelho dos bombeiros que fiscaliza a orla ressaqueada.
Take 03 - Seu corpo vai girando em direção a pedra do Leme, seu olhar se fixa na passagem do vendedor de chapelão que grita “Olha o mate, mate limão” e se distrai, seguindo o vôo de uma pomba até o colorido da bolsa de praia chama atenção.
Take 04 - Ela sorri. Larga a caneta e o diário de bordo onde escreve, em cima da canga do Biscoito Globo - de sal. Desarma-se pra vida.
Take 05 - Tira da bolsa o objeto que chamou sua atenção. É um jornal, o caderno de esportes. Na capa, vermelha e preta, em letras brancas garrafais, a manchete: cinco vezes tri. Acima de tudo rubronegro. 31 X campeão. E mergulha...
PS: Danem-se os problemas, adiem a crise. A minha e a de todos os que ontem, lavaram a alma. Aqui, agora, tudo é passageiro, menos a alegria de ser... rubronegra.
Depois a gente pensa no resto!
Valéria del Cueto, para série Ponta do Leme, do SEM FIM...
5 comentários:
Fui á Ponta do Leme contigo Valéria, seguindo entusiasmado a tua descrição. Que bela crónica. Vivam os rubronegros. Adorei essa foto.
Muy bonito Valeria
Obrigado, amigos, por "viajarem" no Sem Fim.
bello, ben escrito
O comentário abaixo foi postado no http://valeria-delcueto.podomatic.com/entry/2009-05-04T15_00_42-07_00, pela Circe Vidigal e merece estar aqui, onde tudo começa e sempre será...SEM FIM!
"Valerinha, sentindo e vivendo contigo, como se tivesse a tua idade, li e vi exatamente o que voce viu e sentiu, como se estivesse ali mesmo , sentadinha na areia. Vi o biscoito Globo passar, o Mate - Olha o Mate ! A pomba e o caminho do Pescador. Mas o que mais gostei foi da sua finalização. Aos 75 anos, meu coração vibrou com o teu. Coração rubronegro desde a barriga da mãe e que assistiu até os 2 x 2 na Ilha do Mel ( não tive coragem de ver o resto) sentada numa mesa do Barranco, na Praia de Fora, ao lado da bela casa onde sempre esteve o meu pequeno, simples e encantador chalé de madeira, até que pegou fogo. De mim ali hoje só restam maravilhosas lembranças e as 3 casuarinas que plantei com minhas próprias mãos, as únicas que se salvaram das formigas, das 100 que levei num Fusca, daqui do Rio. Salvaram-se e permanecem ali, como prova da minha existencia, em alguma época, naquele paradisíaco lugar: Lindas! Altivas ! como a Nação Rubronegra. Presença carioquíssima numa ilha na entrada da Barra de Paranaguá, no Estado do Paraná. Tic"
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