segunda-feira, 4 de maio de 2009

O ópio do povo




O ópio do povo


Texto e foto de Valéria del Cueto 

Uma e meia, em plena segunda feira e estou na praia. É, é isso mesmo. Pode pensar o que quiser. É verdade. Seus pensamentos são parcialmente verdadeiros. Por que não é vagabundagem, é necessidade eminente.

Corri pro refúgio mais seguro que conheço. O local que testemunha minhas dores e alegrias. Aqui, sou eu e ele, seja lá quem for. Faça sol ou faça chuva.

Hoje o mar ruge por mim. Tá poderoso, mexido. Na medida número de surfistas na água, o percentual resultante é de um dígito a direita da vírgula. Um ser solitário se arrisca entre as valas, a correnteza puxa.

As metáforas dizem tudo. São elas também que mostram o caminho a seguir: o tempo. Ele é um sinal de maturidade. Pelo menos no meu caso. De tanto correr com ele, aprendi a deixá-lo correr. Foi na porrada, mas um dia a ficha caiu. Aí a gente vai ficando mais velho esperando, em vez de empurrar.

Mas não foi isso que me trouxe pra cá. Aliás, a causa nesse caso é o de menos. Importa é a conseqüência. Ou melhor, a sequência. E essa, me é totalmente favorável.

Portando, matogrossenses amigos, cuiabanos queridos, eleitores uruguaianenses , povo do meu Brasil do Sem Fim. Acompanhem-me nos próximos takes dessa cena, cujo início da sequencia vocês já registraram no filme da minha vida que inclui todos vocês, leitores fiéis.

SEQ XXX - Praia do Leme – exterior/dia -

Take 01 – Ela olha para frente e vê Copacabana estendida a luz do início de tarde. O céu está estupidamente azul, bandeiras tremulam agitadas nas poucas barracas espalhadas na areia.

Take  02 - PV da mulher – Seu olhar passeia vagarosamente pela dupla ao longe que joga frescobol, o homem que exercita o cachorro, o rapaz solitário que olha o mar. Acompanha o casal que caminha na beira da água e o helicóptero vermelho dos bombeiros que fiscaliza a orla ressaqueada.

Take 03 - Seu corpo vai girando em direção a pedra do Leme, seu olhar se fixa na passagem do vendedor de chapelão que grita “Olha o mate, mate limão” e se distrai, seguindo o vôo de uma pomba até o colorido da bolsa de praia chama atenção.  

Take 04 - Ela sorri. Larga a caneta e o diário de bordo onde escreve, em cima da canga do Biscoito Globo -  de sal. Desarma-se pra vida.

Take 05 - Tira da bolsa o objeto que chamou sua atenção. É um jornal, o caderno de esportes. Na capa, vermelha e preta, em letras brancas garrafais, a manchete: cinco vezes tri. Acima de tudo rubronegro. 31 X campeão. E mergulha...

PS: Danem-se os problemas, adiem a crise. A minha e a de todos os que ontem, lavaram a alma. Aqui, agora, tudo é passageiro, menos a alegria de ser... rubronegra.

Depois a gente pensa no resto!

        Valéria del Cueto, para série Ponta do Leme, do SEM FIM...

5 comentários:

Filipe Antunes disse...

Fui á Ponta do Leme contigo Valéria, seguindo entusiasmado a tua descrição. Que bela crónica. Vivam os rubronegros. Adorei essa foto.

Carlo Anton disse...

Muy bonito Valeria

Valeria del Cueto disse...

Obrigado, amigos, por "viajarem" no Sem Fim.

Demian Heathcliff disse...

bello, ben escrito

Valeria del Cueto disse...

O comentário abaixo foi postado no http://valeria-delcueto.podomatic.com/entry/2009-05-04T15_00_42-07_00, pela Circe Vidigal e merece estar aqui, onde tudo começa e sempre será...SEM FIM!

"Valerinha, sentindo e vivendo contigo, como se tivesse a tua idade, li e vi exatamente o que voce viu e sentiu, como se estivesse ali mesmo , sentadinha na areia. Vi o biscoito Globo passar, o Mate - Olha o Mate ! A pomba e o caminho do Pescador. Mas o que mais gostei foi da sua finalização. Aos 75 anos, meu coração vibrou com o teu. Coração rubronegro desde a barriga da mãe e que assistiu até os 2 x 2 na Ilha do Mel ( não tive coragem de ver o resto) sentada numa mesa do Barranco, na Praia de Fora, ao lado da bela casa onde sempre esteve o meu pequeno, simples e encantador chalé de madeira, até que pegou fogo. De mim ali hoje só restam maravilhosas lembranças e as 3 casuarinas que plantei com minhas próprias mãos, as únicas que se salvaram das formigas, das 100 que levei num Fusca, daqui do Rio. Salvaram-se e permanecem ali, como prova da minha existencia, em alguma época, naquele paradisíaco lugar: Lindas! Altivas ! como a Nação Rubronegra. Presença carioquíssima numa ilha na entrada da Barra de Paranaguá, no Estado do Paraná. Tic"