domingo, 13 de dezembro de 2009

Vida, vento traga-me para esta lembrança!














Vida, vento traga-me para esta lembrança!


A vida é um caos no Santos Dumont, aeroporto do Rio de Janeiro, e um inferno, me disseram, em Congonhas, similar paulistano onde passarei em breve. Mas e daí?

Nada abalará minha sensação de ter sido testemunha e personagem de um final de semana inesquecível. Não apenas por causa do hexa campeonato, conquistado pelo Mengão, mas pelas comemorações –inúmeras – dos 70 anos de minha mãe e poder estar presente no primeiro ensaio técnico das escolas de samba, promovido pela LIESA, na Sapucaí, do carnaval carioca 2010.

Esta é a vida que eu pedi a Deus: futebol, samba, e felicidade familiar (não exatamente nessa ordem, claro).

As coisas já vinham num bom caminho quando, ainda eufórica com o título conquistado, avisei a meus queridos companheiros de torcida que ia sair a francesa, rumo ao sambódromo. “Tem certeza, não é muita muvuca?”, perguntou Bifão, achando melhor que as comemorações da vitória do Flamengo X Grêmio ficassem mais restritas. Nem titubeei, apesar de já estar vindo do batidão da festa da véspera, na casa da mãe.

A temporada de ensaios técnicos foi aberta pela Cubango que trará para a avenida a história de um antigo hospício carioca. Sintomaticamente este prédio, na Urca, virou a Escola de Comunicação da UFRJ, onde estudei por mais de três anos.

O carnavalesco Milton Cunha, meu professor no curso de Gestão de Carnaval, na Estácio de Sá, deu o tom do que virá. O próprio Milton, com uma longuíssima peruca loira e vestindo uma mini saia vermelha se acabava no alto de um carro pouco atrás da bateria de Niterói. Personificava a loura de mini saia proibida de circular no campus de uma universicade. Que loucura!

Nesta altura, eu já havia definido que além das imagens que faço nos ensaios que participo, havia um outro tema a ser explorado: as diversas interpretações do hexa rubronegro que apareceriam na avenida. Era fácil distinguir os torcedores flamenguistas. Além das manifestações previsíveis, havia o fator sorriso. É, eles não cabiam no rosto dos felizardos campeões: fugiam das bocas e invadiam os olhares que brilhavam de alegria, eram expressões de amor à paixão coletiva que nos embala.

Quando a Mangueira, segunda e última escola a ensaiar, chegou no Setor 1, seu presidente, Ivo Meirelles, com uma camisa do time, a faixa do hexa e uma bandeira que misturava o rubro negro do Flamengo ao verde e rosa mangueirense, avisou: “ A Mangueira não é uma escola coitadinha. Vamos mostrar o que somos capazes de fazer na Sapucaí. E vamos começar agora.” Foi emocionante.

Tão lindo quanto quando, no final do desfile, chegando na dispersão, a massa flamenguista tomou conta da avenida, ao som da bateria mangueirense que tocava o hino do Mengão.

Registrei o balé dos mantos sagrados, as gigantescas bandeiras rubronegras tremulando com a apoteose de Niemeyer ao fundo e, confesso, chorei de emoção.

Sei que sempre que lembrar do ano de 2009 nos (muitos) anos de vida que ainda me restam, esta imagem (que espero poder mostrar para todos em breve), encherá meus olhos de lágrimas, quando eu disser, com um sorriso nos lábios: “Meninos, eu, vi. Eu estava lá...”


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