Nada, o muito que pode tudo.
Finalmente. A hora certa no lugar certo pra fazer a coisa certa. Consegui chegar a Ponta do Leme. Sexta, cinco, sol. Tão simples e tão difícil atingir a “conjugação” perfeita. Substantiva, objetiva e – gostaria - definitiva.
Estou longe disso. Parece que quanto mais reduzo minhas necessidades básicas de sobrevivência, mais inalcançável ela, a sobrevivência, fica. A objetividade (ou simplicidade, como preferir), agride, provoca, atrai olho grande.
Quando eu queria ser dona do mundo chegar á praia era facílimo. Agora, que só quero ser feliz estendendo minha canga no lugar onde nasci pra viver serenamente, sou agredida por possibilidades, tentada pela qualidade, provocada por uma realidade (ideal para os outros) que já não faz mais parte do meu show. Não quero dinheiro, reconhecimento, marido, filhos, facilidades, shopping, compras, carro, moto(?), som(hummm), roupas, jóias, falsas promessas, poder ou sucesso.
Sei o que sou. Aliás, amo me amar. O resto? Sei lá. Por que ser como os outros gostariam de ter? Nada disso...!
Meu objetivo é apenas sair de casa - da minha casa - descer as escadas, passar pela portaria dando um oi pro Antônio, pro Jorge (pó de arroz roxo e, portanto, sujeito a uma cutucada extra) ou, quem sabe, o Roberto, porteiro da hora. Cruzar a rua, passar pela lavandeira, mercearia, pelos botequins. Dizer olá aos taxistas amigos do ponto. Andar pela metade da Aureliano Leal, passar batida pelo calçadão vendo o povo no ponto de ônibus. Atravessar a primeira pista, o canteiro central e a segunda pista. Andar um pouco pela orla, pisar na areia junto aos coqueiros, cumprimentar a Mônica e o Assis, na barraca que leva seus nomes, e perguntar pela filhota. Cruzar a areia quente e, finalmente, chegar a beira do mar.
Estender a canga, tirar o vestido, chutar cada pé das Havaianas. Me jogar na areia da praia e deixar a vida passar numa sexta feira, final de tarde.
Ver as nuvens chegando, passando, escondendo o sol e trazendo a chuva. Ela esconde as lágrimas que escorrem pelos meus olhos, molham meu rosto enquanto juro, pelos deuses da terra, da água e do ar, minha fidelidade eterna ao simples me deixar levar. (contanto que, ande por onde andar, passe, por onde passar e, viva, o que viver, eu sempre possa terminar aqui. Neste, que é o meu lugar...)
Estou aqui, de novo, sempre, por que é novo, sempre.
Bom carnaval, para todos nós.
...
*Valéria del Cueto é jornalista, cineasta, gestora de carnaval e porta-estandarte do Saite Bão. Este artigo faz parte da série Ponta do Leme do Sem Fim... http://delcueto.multiply.com
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