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domingo, 26 de dezembro de 2010

Ces’t ça!










Ces’t  ça!

Texto e foto de Valéria del Cueto

Por que é fim de ano devemos pensar no próximo. Por que era primavera, o verão chegou.

Chove muito em uns lugares. Em outros, o calor é insuportável para quem não está acostumado a ele e comparável para os que, cuiabanos ou uruguaianenses, sabem do que estou falando.

Pode chover no final da tarde. O que alivia, mas não resolve o x do problema.

 O fato é que o clima é o assunto recorrente e permanente de qualquer conversa polida e civilizada corriqueira e cotidiana.

Não o mega clima, que indica as mudanças planetárias e representa resmungos roncos e arrotos de uma mãe natureza empanzinada de lixo e detrito, desidratada pelo mau uso de sua energia vital  e pelo corte mal feito e descuidado de sua vasta cabeleira de mananciais e extensões.

Não, falo do clima nosso de cada umbigo e da necessidade de comentá-lo a cada conversa, como se fosse uma questão de educação. Comparável a desejar bom dia, dizer um polido muito obrigado ou um sempre bem vindo por favor.

- Hoje o calor está insuportável!

O que dizer? Concordar e acrescentar uma observação pertinente do tipo...

- É o pior dia da semana!

Ignorar, passando a mão na testa onde o suor escorre teimoso e/ou se abanar discordado?

- Não estou achando não, tem uma leve brisa soprando. - Afinal, cada um vê no deserto a miragem eu merece.

O que não pode é fugir do assunto, sob pena de ser chamada de insensível, considerada uma estranha no ninho do aquecimento local. Não que sua opinião vá mudar alguma coisa, ou influenciar a canícula estabelecida. Vai nada!

Pois eu acho que só piora. Quanto maior a força calórica do pensamento coletivo, mais quente fica. É como jogar mais lenha na fogueira da chama eterna.

Considerando essa hipótese filosófica é que sugiro que façamos uma nota no pé da página dos próximos dias com os seguintes dizeres: “Onde se lê calor, leia-se amor”.

De maneira que a massa energética calórica sugestiva se traduza em ondas amorosas natalinas mais poderosas e verdadeiras que o simples, inócuo e calorento comentário climático de praxe e de direito.

E mais não tenho a dizer. A não ser desejar que o calor da hora se canalize numa maré de amor e, consequentemente, de confiança no ano que começa, na vida que renasce, na esperança que ainda brota em nossos corações a cada celebração do nascimento de Jesus.

Feliz Natal e muito amor  para você.

 * Valéria del Cueto é jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Este artigo faz parte da série Ponta do Leme, do SEM FIM http://delcueto.multiply.com  


domingo, 19 de dezembro de 2010

Ser e não ter ou ter e não ser?




Ser e não ter ou ter e não ser?

Texto e foto de Valéria del Cueto



É mais do que uma questão, são várias posições e, em cada uma delas, seremos ou teremos um pouco menos.

Um exemplo bem básico: tenho ojeriza a rotina. É ponto pacífico.

Costumo escrever meus textos nos cadernos dos quais já contei algumas vezes parte da história: que me apego a eles, sofro quando estão chegando ao final de suas páginas, que os empunho em situações de espera – e escrevo em vez de me entediar-, ou em momentos e lugares  em que quero esperar a vida, como na Ponta do Leme, no Rio de Janeiro, no chalé da travessa da piscina, sem número, na Chapada dos Guimarães, Mato Grosso, por exemplo.

Também tem coisas sobre eles que pouca gente sabe e menos gente ainda teve a chance de comprovar. Um caso destes é que, neles, praticamente não há rasuras ou correções. Seja no que escrevo no caderno, seja no texto que será digitado e enviado a jornais, sites e blogs internet a fora. Dê um desconto à minha dislexia primordial, mas seja rigoroso  nas idéias expostas em geral.

Várias vezes tentei alterar uma linha de raciocínio ou a forma de passar um ponto de vista. O resultado é sempre o mesmo. Acabo comparando e chegando a conclusão que o conteúdo e a clareza do manuscrito são  superiores a nova proposta, imediatamente descartada. O caderno ficou assim, um repositório das primeiras, sempre melhores e criteriosamente guardadas crônicas do Sem Fim...

Lindo! Virou rotina e rotinas - você sabe - me incomodam profundamente. Ainda mais quando é dia de fechar o pacote da crônica da semana e a chuva me impede de ir buscar inspiração, etc, etc...  Olho o computador e penso na dupla jornada: escreve a mão e, depois, digitar o texto.

A tal rotina virou motivo/argumento para pular uma das etapas. Por que se submeter a uma pré produção manual? Não vale usar a desculpa esfarrapada da inspiração necessariamente proporcionada pelo ato de mal traçar (e bota mal traçar nisso) as linhas deste texto em questão.

Ser vítima da rotina e ter o registro manuscrito da crônica. Não ser previsível e mandar bala nas letras frias do teclado e não ter o ser guardado no que considero os autênticos manuscritos da minha memória.

Me rendo à história, aceito a rotina em nome do futuro.Ele que fará com que, um dia quem sabe, meus herdeiros indiretos encontrem os meus cadernos e ali, através deles, possam acompanhar um pouco do que fui e o que se passou no meu Sem Fim...

Parece que fui agarrada na minha própria armadilha de não ser e não ter rotina. Mas só parece... Um dia, quem pegar este caderno vai se deparar, nestas páginas, com a quebra de uma ação que marca minha personalidade quase literária, a exceção de uma regra natural. Nunca, jamais em tempo algum escrevi com tantas rasuras e remendos.

Esta rotina foi para o espaço em meio a dezenas de espirais apagantes. Aqueles que um dia me tiraram pontos numa prova por que a professora os considerou “agressivos e pouco elegantes. “Quando você erra uma palavra simplesmente faça um único risco por cima”, me ensinou a rigorosa mestra.

Nunca a escutei. Prefiro não errar. Mas, quando erro, preciso de mais do que uma reta para encontrar um ponto. Preciso de tempo espiralando para substituir o meu ser e, então, ter aquilo que não quero perder.

* Valéria del Cueto é jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Este artigo faz parte da série Ponta do Leme, do SEM FIM http://delcueto.multiply.com  

 

domingo, 12 de dezembro de 2010

Caitituando a paisagem







Caitituando a paisagem


E no mas. Num tremendo esforço para manter a atitude mais zen possível diante da vida, suas surpresas (boas ou más) e percalços rotineiros. Pensa que é fácil?

Não é não. Há que se livrar dos problemas, chutar as decepções e enterrar na mais profunda e obscurecida parte da memória todos os motivos (reais ou imaginados) de stress. Ciente de que nada disso deixa de existir. Estão todos solenemente varridos para baixo do tapete. Pelo menos por enquanto...

Não sei no seu caso. Mas no meu em particular preciso de um incentivo para alcançar esta etapa elevada do nirvana mental.

Pode ser uma imagem, um som, ou ambos conjugados.

Razão pela qual dou um grande valor ao meu entorno visual, sensorial e suas nuances sutis. Procuro pontes que me levem além da realidade pura e simples.

Aliás, nem tão simples, raramente tão pura, por que o entorno tem sido uma pedreira. Trabalho bruto, incansável e sem glamour. Ralação mesmo.

Motivo mais do que suficiente para que valorizemos cada vez mais as oportunidades caitutuantes.

Olho pela janela. Os reflexos nos vidros das janelas dos prédios em frente indicam que não há sol, o céu coberto de nuvens velozmente empurradas pelo vento. Ele entra pelas janelas da sala fazendo as cortinas dançarem uma coreografia moderna sem ritmo, ao som do badalar dos sininhos pendurados no caminho da passagem da brisa forte, meio revoltada, que transita até a área de serviço.

Cortina e sons não falam a mesma língua. Para complicar há uma diferença de sink entre a dança e o som. O som é produzido décimos de segundos depois.

Do lado de fora, a rua passa escondida pelas folhagens em frente ao salão de cabeleireiro, as mercearias, portarias, a ex-lavanderia que fechou recentemente, o restaurante em manutenção, a loja de comidinhas naturais e eles, os botequins.

Num dia normal, por que se for dia de jogo do Areia, um dos quatro times de futebol de areia do Leme, aí o movimento definitivamente cresce.

É maior até que a confusão que acontece quando chegam ônibus de excursão no hotel dois prédios ao lado, mesmo com as buzinas furiosas do engarrafamento que os grandalhões sempre provocam. Mais do que o caminhão de lixo que passa nas madrugadas, fazendo um fundo sonoro de pesadelo de filme de terror.

É festa mesmo! Até na derrota. A última contra o outro time aqui do canto, o Embalo. Estava na frente, empataram, a decisão foi para os pênaltis e o título foi para o rubro-negro do morro.

Vale música alta e muita gritaria, que é para consumir a cerveja comprada para comemorar a vitória. Isso na noite de sábado. É um convite explícito para que os vizinhos saiam para dar uma volta e fugir da confusão. Ou se unirem a ela.

A campainha toca. Se tivesse alguém de fora, pensaria que era a da casa, mas não, é a da portaria. Saio do devaneio esportivo e vejo os primeiros pingos que fazem os transeuntes apertarem o passo. O rapaz anuncia para o interfone que traz as compras do 502.

Perco a concentração da caitituagem. Não faz mal, tenho mais o que fazer. Uma crônica pra escrever, uma foto para publicar e um vídeo para editar. É muita coisa para uma manhã de quarta-feira!

...

*Valéria del Cueto é jornalista, cineasta, gestora de carnaval e porta-estandarte do Saite Bão. Outros textos da jornalista no http://delcueto.multiply.com

domingo, 5 de dezembro de 2010

Joelho

Jo e

      l

      ho



Texto e fotoconstrução de Valéria del Cueto

Existem coisas na vida da gente que só damos a devida importância quando a perdemos ou danificamos. Vou citar dois exemplos: Joelho e unha. É sério. Alguém dá bola pros joelhos? A não ser que seja atleta ou religioso (lembrando que esse último anda em falta). Fora isso ele está lá. Faz seu papel obedientemente e pronto. Cumpre tabela.

A gente passa a vida ouvido recomendações sobre como tratá-lo. Entre elas, a de não andar na areia fofa ou inclinada e fazer aquecimento antes de se exercitar. Nada que mereça atenção na flor dos 20 anos. E depois, a gente meio que estaciona nessa “mentalidade”. E os anos passam.

Sempre tive o costume de me locomover pela areia, quando faço coisinhas no Leme, Rio de Janeiro. Escolho o ponto mais distante das tarefas e, para melhorar o dia, vou andando pela praia até ele. Depois, volto matando as missões pelas ruas internas de Copacabana. Ou vice-versa. Vou por dentro e volto descalça pela areia.

Foi numa ida que o joelho protestou. A dor foi atrás da rótula – sei que agora ela tem outro nome, mas a minha nasceu e se criou sendo rótula e se desintegrará um dia (espero que só depois da minha morte) se chamando assim – e foi intensa. Estava no meio do areal, numa parte em que a distância entre o mar e o calçadão é enorme, na altura do antigo Meridien.

Foi duro chegar a calçada, terrível o pensamento que imediatamente me assaltou. “Sem este joelho, como vou trabalhar no carnaval?” A extensão do estrago era imensurável, ampliando a péssima sensação que sentia, de que teria que sair dali com minhas próprias pernas e, consequentemente, joelho sem prejudicá-lo ainda mais.

Quando fui subir os degraus para chegar em terra firme, o bicho pegou de vez. Uma dor danada. Andando no reto, não sentia nada. Voltei pra casa e me esqueci do abacaxi até chegar as escadarias da portaria do prédio.

Não sou mulher de ficar postergando problemas. Por isso, imediatamente estudei as opções: ortopedista, acupuntura ou...

Bom, resolvi dar uma chance para as ervas brasileiras. Lembrei da máxima: “arnica por dentro e por fora”, de minha amiga L. ( não vou dar o nome completo pra não prejudicar a fada) que sempre tem uma erva no seu quintal mágico da Chapada dos Guimarães e é especialista em filho desmanchado pela bicicleta.

Na falta da planta para macerar com álcool e aplicar no local do estrago, entre arnicas industrializadas, tintura e pomada, encontradas nas redes de farmácias, optei por uma solução mais natural apelando para a farmácia de manipulação aqui do bairro.

Enfim, estou seguindo fielmente o tratamento. Gota a gota, quatro vezes ao dia, lambuzada a lambuzada, outras quatro no local prejudicado.

 Depois do “acidente”, recebi um convite que me faz, semanalmente, subir e descer várias vezes os quatro andares do barracão de uma escola de samba, na Cidade do Samba, aqui no Rio de Janeiro.  Haja joelho. Esqueci de contar que o problema é justo no joelho esquerdo e, como sou canhota, só começo as subidas com a perna esquerda. Então, sempre dói logo no primeiro degrau...

Doía, leitores, doía. Com duas semanas de tratamento e gosto de cânfora na boca, as coisas estão indo muitíssimo bem. Estou esperando minha mãe voltar de Búzios para me dar de presente uma joelheira, só por precaução e um pouco de charme.

Os efeitos do tratamento estão sensacionais. É claro que tive de reduzir um pouco a forçação, mas só nos primeiros dias. Estou evitando caminhar na areia – fofa - , porém já me aventuro a subir as escadas sem ter que parar para trocar o pé inicial costumeiro (como se fizesse muita diferença e o segundo degrau não forçasse o local machucado do mesmo jeito).

Mais umas semanas e  já poderei suspender o tratamento, bastando proteger o local com a joelheira prometida nos dias de muita ralação. Que falta fez meu joelho revoltado! A gente só dá importância para essas coisas quando se vê privado de suas facilidades, dizia eu no início do texto.

E as unhas, também citadas lá em cima? Você já perdeu uma unha, afinal, pra que elas servem? É, mais isso é assunto para uma próxima escrevinhação... 

* os joelhos retratados pertencem a minha sobrinha Luisa e Bruna, a prima mineirinha.

** Valéria del Cueto é jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Este artigo faz parte da série Ponta do Leme, do SEM FIM http://delcueto.multiply.com 

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Quem orienta a direção

Quem orienta a direção

Texto de Valéria del Cueto

Quando nasci ganhei uma correntinha com uma placa com meu nome gravado de um lado e a data do meu nascimento do outro. Foi na plaquinha que descobri que me chamava oficialmente Maria Valéria.

Nunca tirei a pulserinha, estivesse no mar, na terra ou no ar. Nem mesmo nas competições e treinos diários de natação, quando era atleta do Flamengo. Comecei a treinar no clube quando tinha 12 anos.

Um dia, entrei no treino com ela e saí sem. Tinha certeza que foi ali que ela caiu e desapareceu. Durante vários dias, entre os dias que – descobri - os ajudantes aspiravam a piscina velha do Flamengo, esquadrinhei aquela imensidão.

Primeiro mergulhando e vistoriando o fundo com os óculos de natação durante o treino – a piscina velha tinha mais de dois metros de profundidade – e depois dando uma força na limpeza, peneirando o fundo de azulejos.

Procurei muito a pequena lembrança, me recusando a entregar os pontos. Foi uma imensa tarefa. Totalmente em vão. Parecia que nos 25X50X3 metros havia perdido muito mais. Ali ficara, em um filtro qualquer, a minha infância. Desolada, desencanei. Mas não me esqueci, nem poderia. Durante anos me senti desnuda sem a correntinha de ouro e a plaquinha gravada. Pior. Me senti desorientada.

Sou canhota e, como tal, acredito piamente que minha esquerda é que é direita e sempre troco os lados. Um problema, por exemplo, quando digo para alguém: “Na próxima, dobre para a esquerda”. Cuidado, posso estar querendo dizer que é para entrar à direita.

A correntinha foi a tentativa mais feliz e eficiente de tentar solucionar esta confusão. Aprendi a sacudir o braço para saber que lado era qual. Se tivesse a pulseira, era ele, o esquerdo.

Nunca me liguei muito em jóias, sempre achei que elas são uma tremenda responsabilidade e hoje em dia não podem ser exibidas como deveriam, além de não serem exatamente um investimento rentável. Quando fiz quinze anos, preferi ganhar um gravador k7 portátil a uma jóia. Transgredi, mas mantive a festa, é claro!

Minha tia Rolinha, irmã da vó, que fazia aniversário um dia depois de mim me deu um conjunto de prata. Fomos escolher juntas, numa ourivesaria na Santa Clara, em Copacabana. Ganhei uma gargantilha de corrente e barrinha e duas pulseiras: uma com e outra sem a barrinha. Usei-as emendadas durante muitos anos, inclusive com a função didática anterior, até que alguma coisa – dizem que é no sangue - começou a escurecer a prata.

Meu avô, então, me deu uma outra pulseira de ouro. Tão fina, a ponto de quase não ser percebida, mas muito compacta e resistente, que era para não arrebentar. Esta não tinha a plaquinha.

Meu pulso é muito fino. Tão fino, que quando fui ajustar o presente, com o que sobrou deu para fazer um par de brincos de corrente. Costumo usá-los, de vez em quando.

A pulseira botei para nunca mais tirar. Não importando o modelo, estilo, atitude ou personagem, lá estava ela. Discretíssima e utilíssima. Não, ela nunca foi só uma questão da vaidade. Era muito mais, meu adereço sinalizador indispensável.

Assim foi até o dia dos Mortos, quando a vi no meu pulso ao me arrumar para sair. No dia seguinte, na hora do almoço, não estava mais lá. Tive a esperança que ela tivesse caído em casa, já que fui apenas até o vídeo e voltei. Achei que tivesse sido quando tirei de forma desajeitada a blusa de malha de manga comprida que usava. Esquadrinhei o apartamento, pedi ajuda a onipresente Neusinha. Minhas esperanças não foram suficiente para manter as buscas. Não há mais onde procurar.

Desde então além de triste, estou correndo sérios riscos. Temo, inclusive, pela minha eficiência de co-pilota. Domingo, na volta da feijoada da Mocidade Independente de Padre Miguel, na Lagoa Rodrigo de Freitas, disse ao meu amigo Maurício de Paula que pegasse o fluxo à esquerda, para irmos em direção a Ipanema. É claro que, pela minha indicação iríamos seguir via Jóquei, pelo lado oposto. O correto era irmos pela direita. Corrigi a tempo, com um aperto no coração ao sacudir o pulso procurando a sinalização salvadora.

Acho que a perda também afetou minha capacidade criativa. Com que vou ficar brincado enquanto penso numa frase bonitinha para terminar minhas crônicas?

* Valéria del Cueto é jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Este artigo faz parte da série Ponta do Leme, do SEM FIM http://delcueto.multiply.com

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Tormenta Literária

Tormenta literária

Texto de Valéria del Cueto

Acabar um livro, para mim, é um ritual. Demoro um tempo para me desvencilhar dos personagens e lugares onde a história acontece. Um exemplo disso é a última viagem que acabo de fazer.

Venho da Grécia, mais especificamente do Desfiladeiro de Termópiles, onde Leônidas e os 300 de Esparta sustentaram por uma semana a defesa suicida contra os persas. Ao entregarem suas vidas ali, mudaram o rumo da guerra e atrapalharam os planos de Xerxes, filho de Dario.

Li, do autor Steven Pressfield, duas obras de enfiada: “Tempos de Guerra”, sobre Alcebíades e a guerra no Peloponeso e, agora, “Portões de Fogo”. Tudo entremeado com “Vida de Escritor”, do jornalista Gay Talese.

Isto significa que além da Grécia, também andei por New York, Selma, Alabama, na década de 60, nos EUA, Itália no pós guerra e, até, na China, tratando de assuntos como restaurantes, boxe, reminiscências familiares, questões raciais americanas e futebol feminino.

Tudo em algumas poucas semanas, como uma forma de me desvincular da mecânica utilizada na última missão profissional e conseguir chegar no Leme.

Senti que essa aterrissagem seria mais complicada do que imaginava, considerando a paralisia que me dominou diante de todas as tarefas que tenho que desempenhar para colocar minha casa em ordem. Por isso, mergulhei fundo nas viagens literárias que estavam pendentes na estante cheia de maresia no meu quarto.

Essas foram apenas o começo, diante da tarefa que pretendo reassumir de pesquisar a linhagem Marçal, de sambistas cariocas. Para isso, vou imergir no Rio de Janeiro, começando por conhecer a cidade que adotou o samba como sua expressão maior, no final do século IX, e início do XX. O Rio, o samba e o carnaval de volta à minha vida...

Mas primeiro, preciso sair da Grécia de Leônidas, parar de sentir o cheiro dos rios de sangue e dos milhares de corpos que formaram o muro humano de guerreiros espartanos e persas mortos no desfiladeiro.

Somente uma vez essa sensação me incomodou tanto a ponto de não conseguir prosseguir a leitura. Quase repeti a dose, mas orgulhosamente resisti.

Coisa que não consegui fazer quando tentei ler “O salário dos Poetas”, de Ricardo Guilherme Dick. O cheiro do cavalo morto perto da cerca, não me deixou continuar. Por que agora continuo, mesmo com a sensação de náusea provocada pela descrição do campo de batalha e ampliada por minha imaginação?

Só tenho uma explicação. No segundo caso, atingi a sintonia entre a narrativa do fato, explícito nas primeiras páginas do livro de Dick, antes de me afeiçoar as personagens. O peso dos sentidos foi maior que minha cumplicidade com os acontecimentos e seus atores.

Já no caso de Portões de Fogo, quando a onda nauseabunda me atingiu, já era um dos 300, ou melhor, um dos escudeiros dos espartanos, companheiros de Xeo, narrador da epopéia. Jamais poderia abandoná-los sem saber como a história aconteceu. Mesmo sabendo, de antemão, seu trágico e histórico final.

Agora, quando preciso do sol do Leme para acabar com meu “let leg” literário e me reintegrar ao dia-a-dia, chove a cântaros. Em vez do sol, para clarear meus medos e me realocar no tempo e no espaço, veio a água que, espero, será suficiente para limpar as feridas e exaurir a água contaminada do riacho atormentado da minha imaginação.

* Valéria del Cueto é jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Este artigo faz parte da série Ponta do Leme, do SEM FIM http://delcueto.multiply.com

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Higienização lítero-ambiental







Higienização lítero-ambiental


Texto e foto de Valéria del Cueto

Chatinha mesmo essa história de sentir que há alguma coisa faltando. Mais ainda quando se descobre vítima de uma cilada própria e – pasmem – voluntária.

É o caso em questão: o antigo desafio de escrever um texto semanal. E se o tal desafio o chama, é por que assim o é. Atos e fatos inesgotáveis, não importam em que circunstâncias, a serem retransmitidos periodicamente.

Quase um ritual para o qual são necessários pré-requisitos, ainda que mínimos e flexíveis, até certo ponto.

Inicialmente era uma tarefa domingueira. Não, antes, uma alegria de sextas feiras, uma provocação às feiras anteriores alheias, cheias de trabalhos e preocupações em contraste gritante com a doce contemplação da Ponta do Leme.

Com a variação latilongitudinal, provocada por mais uma missão profissional, fez-se necessária também uma adequação. Do dia, mantendo-se a periodicidade semanal. As manhãs domingueiras chapadenses emolduraram e inspiraram a série Parador Cuyabano.

A seca inclemente reduziu as possibilidades, ofuscou o horizonte e estreitou a visão. Dançou a Chapada dos Guimarães, politizou-se o espírito, mas não houve contaminação do conteúdo. O foco afinado. Confinando a energia, direcionada para o ponto central. Manter a freqüência, não importa quando. Vale a produção.

Assim, privada do ambiente físico e com uma justificada dificuldade de criar o aconchego mental necessário e profícuo à criação literária semanal, fui empurrando a tarefa em direção aos deadlines da impressão dos periódicos co-irmãos. Até bailar em uma ou duas publicações...

Certa de que esta lacuna não prejudicou sobremaneira as expectativas dos leitores – eles sabem que parto do princípio que “se não há nada a ser dito o silêncio é mais eloqüente do que algumas tolices mal escritas”. Mas, consciente de que o excesso de ausências desconstrói o objetivo de manutenção da regularidade das séries de crônicas do Sem Fim (Ponta do Leme, Parador Cuyabano e Fronteira Oeste do Sul), recupero meu fôlego.

E – reconheço o artifício - apelo para uma de minhas musas inspiradoras preferidas para recolocar o trem das crônicas do Sem Fim nos trilhos da criatividade que sempre conduziu em seus dormentes de madeira de lei os vagões das idéias aqui reproduzidas nos últimos anos. Volto à Ponta do Leme.

Sob o sol primaveril e ainda gelado do hemisfério sul, observo o gigantesco Oceano Atlântico numa senhora ressaca, para registrar a ausência dos grafites coloridos e criativos na mureta recém caiada do Caminho dos Pescadores, na Pedra do Leme. Certamente uma iniciativa militar de um novo comandante do Forte Duque de Caxias e uma nova “tela em branco” para os artistas sorrateiros que desafiam a guarda para colorir o espaço onde há anos registro
as diversas atividades grafiteiras, engolidas sistematicamente pelos milicos, favoráveis a manterem o lugar “limpo”. De cores, imagens e idéias. Faz tempo que a técnica não funciona...

Assim como a mureta/caminho, preparada para receber as novas formas artísticas  clandestinas, minhas páginas em branco se abrem para as experiências inéditas que virão.

Aguarde-nos, amigo leitor!

* Valéria del Cueto é jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Este artigo faz parte da série Ponta do Leme, do SEM FIM http://delcueto.multiply.com

domingo, 16 de maio de 2010

Quem viver, verá!




Quem viver, verá!







Texto e foto de Valéria del Cueto

Imaginem o dia que a gentileza se entregar, desistir. O que restará será tão pouco, tão pobre...
Um quase nada, onde ser educado será o próximo "defeito" a ser corrigido, extirpado. Estamos chegando quase lá, muito mais rapidamente do que poderíamos supor. Num tempo negro, em que “quebrar a cara” pode ser uma ameaça muito mais facilmente de ser cumprida, principalmente em ambientes onde o respeito à ordem, aos mais velhos, às autoridades deveria reinar.

Um exemplo? São muitos e fartos. Infelizmente, cada vez mais corriqueiros.

A sala de aula é um caso típico. São muitos contra um. E olha que esse um já foi tratado de forma cerimoniosa e reverente, como “mestre”. Hoje ele é, quando muito, professor. E como tal, sua autoridade termina ao primeiro ato de rebeldia mal direcionada das dezenas de pupilos, normalmente insatisfeitos, que compõe seu universo profissional.

Outro dia, ouvi uma história de um professor que foi furado por uma aluna com um... lápis. Ensandecida, a mocinha, certamente.

- Ela veio com tudo. Podia ter nas mãos um estilete, me contou desolado a vítima da agressão, um professor de artes.

Ele poderia mesmo ter sido atingido por um objeto cortante, usado em suas aulas como instrumento educacional. De crescimento lúdico, dirão os pedagogos de plantão.

O que fazer num caso desses? Ir reduzindo as possibilidades de armamentos em sala de aula? Nada de objetos cortantes, perfurantes ou contundentes nas mãos da moçada. Tesouras, estiletes, lápis, canetas, apagadores, carteiras...

Sobrou muito pouco. Sem instrumentos, argumentos e hierarquia, aprimora-se o caminho para a tal da barbárie e ela, certamente, se disseminará e contaminará outros ambientes.

Não precisamos forçar muito a imaginação para visualizarmos outras situações onde, digamos, o tom das relações será totalmente outro.

Imaginem um local de trabalho colegiado com vários diretores e, portanto, idéias, objetivos e trajetórias de vida diferentes e conflitantes. Um dia, no meio de uma discussão, um deles olha para o presidente do tal colegiado, em pleno ambiente e local de trabalho e, para resolver suas diferenças, de forma rápida e ( na sua cabeça medíocre) eficiente, anuncia em alto e bom som,
para quem quiser ouvir, na sala, no andar e no prédio e dirá:

- Vou quebrar a sua cara! Jogando por terra o último resquício de humanidade e educação, acabando com o rito hierárquico, com o respeito necessário que deveria ser mantido não apenas entre profissionais, mas entre seres humanos com o mínimo de civilidade.

Fico pensando o que fazer numa situação como essa, que como disse, deveria ser hipotética, mas infelizmente é real, verdadeira e conforme o relatado, cheia de testemunhas.

É aí que me lembro e me rendo às palavras do profeta carioca: “GENTILEZA GERA GENTILEZA”.

Chego a conclusão que estou ficando velha. Conheci o homem que andava pelas ruas do Rio de Janeiro e escrevia suas palavras de respeito e amor nos pilotis dos viadutos do centro da cidade. Mas não é isso que me faz velha.

O que me envelhece por dentro de tanta tristeza e vergonha é saber que em breve, muito em breve, os donos desse novo mundo que criamos serão os que hoje usam um lápis, não como arma para defender idéias, mas para simplesmente agredir. Filhos dos que hoje ameaçam “quebrar a cara” de seus desafetos profissionais em locais onde o trabalho e o respeito a um
objetivo maior e mais justo deveriam ser a tônica.

Neste futuro próximo, a quem caberá o papel de pregar a gentileza, o diálogo, o respeito e a educação?

* Valéria del Cueto é jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Este artigo faz parte da série Ponta do Leme, do SEM FIM http://delcueto.multiply.com

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Nada, o muito que pode tudo

Nada, o muito que pode tudo.

Finalmente. A hora certa no lugar certo pra fazer a coisa certa. Consegui chegar a Ponta do Leme. Sexta, cinco, sol. Tão simples e tão difícil atingir a “conjugação” perfeita. Substantiva, objetiva e – gostaria - definitiva.

Estou longe disso. Parece que quanto mais reduzo minhas necessidades básicas de sobrevivência, mais inalcançável ela, a sobrevivência, fica. A objetividade (ou simplicidade, como preferir), agride, provoca, atrai olho grande.


Quando eu queria ser dona do mundo chegar á praia era facílimo. Agora, que só quero ser feliz estendendo minha canga no lugar onde nasci pra viver serenamente, sou agredida por possibilidades, tentada pela qualidade, provocada por uma realidade (ideal para os outros) que já não faz mais parte do meu show. Não quero dinheiro, reconhecimento, marido, filhos, facilidades, shopping, compras, carro, moto(?), som(hummm), roupas, jóias, falsas promessas, poder ou sucesso.


Sei o que sou. Aliás, amo me amar. O resto? Sei lá. Por que ser como os outros gostariam de ter? Nada disso...!


Meu objetivo é apenas sair de casa - da minha casa - descer as escadas, passar pela portaria dando um oi pro Antônio, pro Jorge (pó de arroz roxo e, portanto, sujeito a uma cutucada extra) ou, quem sabe, o Roberto, porteiro da hora. Cruzar a rua, passar pela lavandeira, mercearia, pelos botequins. Dizer olá aos taxistas amigos do ponto. Andar pela metade da Aureliano Leal, passar batida pelo calçadão vendo o povo no ponto de ônibus. Atravessar a primeira pista, o canteiro central e a segunda pista. Andar um pouco pela orla, pisar na areia junto aos coqueiros, cumprimentar a Mônica e o Assis, na barraca que leva seus nomes, e perguntar pela filhota. Cruzar a areia quente e, finalmente, chegar a beira do mar.


Estender a canga, tirar o vestido, chutar cada pé das Havaianas. Me jogar na areia da praia e deixar a vida passar numa sexta feira, final de tarde.


Ver as nuvens chegando, passando, escondendo o sol e trazendo a chuva. Ela esconde as lágrimas que escorrem pelos meus olhos, molham meu rosto enquanto juro, pelos deuses da terra, da água e do ar, minha fidelidade eterna ao simples me deixar levar. (contanto que, ande por onde andar, passe, por onde passar e, viva, o que viver, eu sempre possa terminar aqui. Neste, que é o meu lugar...)


Estou aqui, de novo, sempre, por que é novo, sempre.


Bom carnaval, para todos nós.


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*Valéria del Cueto é jornalista, cineasta, gestora de carnaval e porta-estandarte do Saite Bão. Este artigo faz parte da série Ponta do Leme do Sem Fim... http://delcueto.multiply.com

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Só eu!










Só eu!

Texto e foto de Valéria del Cueto

Desta vez fui longe demais. Extrapolei meu direito de tentar ser feliz. Consegui realizar a façanha de chegar no aeroporto Santos Dumont... sem a carteira de identidade. Nem eu mesmo acreditei na minha performance. A torcida do Flamengo também não.


Tá bom que sair do Rio duas semanas antes do carnaval é péssimo. Que ninguém merece deixar pra trás os dias ensolarados, a praia já não tão lotada, por que as aulas recomeçaram, o mar limpinho, com a água numa temperatura incomumente tépida para esta época do ano, a lua ainda cheia que nasce por cima da Ponta do Leme. Mas o dever me chama, o patrão reclama e, definitivamente, não pretendo contrariar o chefe.

Ele, que generosamente (a contragosto, a princípio) concordou com minha tese de que mais vale uma funcionária cheia de gás e inspiração do que um bode sofredor amarrado no pé da minha mesa de trabalho espalhando frustração e mau humor antes mesmo do bicho profissional começar a pegar.

Afinal, mais vale uma máquina ajustada, tinindo, com os mecanismos azeitados, do que um motor desgastado que só pega no tranco, sobre livre e espontânea pressão. Resumindo, sou super grata a ele pelos seis ensaios técnicos que consegui registrar, no período pré-carnavalesco, correndo de cima pra baixo por toda a extensão da Marques de Sapucaí, o sambódromo carioca. Tomando chuva, safanões, empurrões enquanto registrava os preparativos das escolas de samba do Grupo Especial.

Sobrevivi à falta de forma física e aos quase 5 quilos do equipamento de som, vídeo e fotográfico tomando doses maciças de analgésicos antes, durante e depois dos ensaios, ciente que uma semana de hidroginástica e muita caminhada pela areia da praia não seriam suficientes para me deixar em forma, muito menos diminuiriam o sentimento de culpa por não haver começado a me mexer mais cedo, há alguns meses atrás.

Aí, volto ao chefe, para fazer uma constatação pessoal e intransferível: boa forma não se adquire por osmose. Caso isso fosse possível, numa escala de zero a dez, eu estaria mais ou menos com uma nota oito por que, nesse quesito, o cara é dez! E eu me reconheço um rato, ou seja, apesar do incentivo, continuo soterrada na areia movediça da minha força de vontade que ser recusa a aceitar que Cuiabá pode rimar com ginástica e esforço físico.

Aqui de cima, da janela do avião, dou até logo pro meu Leme (Viram? Consegui embarcar) certa de que, muito em breve, estarei fazendo esse mesmo percurso no sentido contrário para, aí sim, mergulhar de vez na folia, sem medo de ser feliz.

E, até lá, por favor, me poupem. Não me peçam para dirigir qualquer tipo de veículo, por que, minha carteira de motorista, o documento de identidade que carrego sempre comigo, repousa muito despreocupado no bolso lateral da bermuda de surfista que estava usando no último domingo no sambódromo (isso, se a santa Neusa não resolveu jogar a peça de vestuário em questão na máquina de lavar sem verificar o conteúdo de seus inúmeros bolsos. O que seria desculpável já que não passaria pela cabeça de ninguém a hipótese de que alguém possa deixar sua habilitação pra trás ao cruzar pelo menos cinco estados brasileiros em direção ao centro oeste do país. Só eu!).

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Valéria del Cueto é jornalista, cineasta, gestora de carnaval e porta-estandarte do Saite Bão. Este artigo faz parte da série Ponta do Leme do Sem Fim... http://delcueto.multiply.com

domingo, 24 de janeiro de 2010

Metamorfose

Metamorfose

Mal saí de uma “viagem” ao mundo encantado do final de ano na cidade mais charmosa do país, tomando rumo à terra de minhas obrigações profissionais e kármicas, e cá estou, quase pronta para retornar à capital mundial do carnaval.

É isso mesmo. Tudo tem seu tempo e seu lugar, diz o antigo ditado. E, apesar de não refugar diante de qualquer tarefa, procurando cumprir com a mente esperta, o peito aberto e o coração tranquilo minhas tarefas, não sou de ferro. E amo alguma coisa mais do que minha própria e lendária (graças a Deus) noção de responsabilidade. Me refiro a única coisa capaz de me prender nos bancos universitários, o tema que pra mim sempre tem sabor de quero mais. O carnaval.

Voltei pra realidade, assumi meu papel diante da longa jornada que me espera no centro-oeste. Fiz tudo direitinho, eu juro. Mas já era tarde!

Mexe daqui, mexe de lá. Produz daqui, produz dali. E, um dia, no más, cheguei pro chefe gente boa e anunciei:

“Faço tudo de tudo. Crio, produzo, finalizo, distribuo, mas... sem o samba eu não posso viver. Sou lagarta, me tranfiguro, metaformoseio. Borboleta, só posso virar depois de ouvir o som da bateria, vestir a fantasia (de fotógrafa, no meu caso) , queimar sola do meu tênis na Sapucaí, suar de vontade de registrar a alegria”, poetizei, numa lavada só.

Peguei o cara de jeito. O que era quase um não, virou um talvez diante do meu argumento de que “Não posso ficar, eu juro que não. Não posso ficar, eu tenho razão”. E minha razão era forte, poderosa: mais vale uma funcionária grata, feliz e realizada, cheia de imaginação, que um ser frustrado, descontente e carente. Ganhei de mano. E já estou quase lá. Dois finais de semana, com direito ao registro de 6 escolas nos ensaios técnicos, na pista do sambódromo e o miolo, de 5 dias pra cobrir os barracões.

Sou feliz na véspera da maratona. Serei feliz, muito feliz borboleteando pelo mundo do samba e do carnaval, em pleno janeiro. Farei meu chefe feliz, pela gratidão que sinto por trabalhar com alguém que conhece os limites de um ser humano apaixonado.

Como toda borboleta, sei que a vida é curta. Mas também sei, que se estou nela, é pra distribuir alegria e felicidade ao meu redor. E isso fica muito mais fácil quando deixo meu coração pulsar ao som de uma bateria, no ritmo dos sambas enredos das escolas, na armação da avenida. Borboletas que somos, estamos ali para atravessar nosso período de esplendor e depois, deixar saudades, muitas saudades...

Por estas e por outras, sou Senhora. Senhora do Sem Fim......*Valéria del Cueto -- http://delcueto.multiply.com -- é jornalista, cineasta, gestora de carnaval e porta-estandarte do Saite Bão. Este artigo é parte da série "Ponta do Leme" do SEM FIM...

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

De mim, para mim mesmo

De mim, para mim mesmo

Texto e foto de Valéria del Cueto

Ano novo, natal, férias, sol, mar, chuva. Carnaval, praia, Copa do Mundo, eleições...

Afinal de contas, sobre o que vou falar nesta “reentrée” após um tempo ( que considero mínimo e insuficiente) dedicado ao dolce far niente? Quer saber? Não tenho i-dei-a! Isso mesmo. Tudo que eu queria, neste momento, é poder fazer o que pretendia botar  em prática nos dias de encerramento do ano passou e o início deste que já atinge sua primeira quinzena. Tão rápido! Não fazer absolutamente nada...

Dizem que férias foram feitas pra gente descansar. Pois desafio meus leitores a me provarem que foi isto que fizeram no último mês!!

Eu passei looonge disso: organizei a festa de natal da minha família, que foi lá em casa, no Rio; tentei - sem nenhum êxito, confesso- encontrar presentes que significassem mais do que o cumprimento da obrigação de presentear. Não fui muito bem sucedida. Por isso, muita gente que amo ficou a ver navios (sorte que não estranharam, afinal, poder estar junto com minha avó, mãe, pai, tios, primos, irmãos e sobrinhas já foi um presentão para todos nós).

Na verdade, faz tempo que só dou presentes quando encontro algo com a cara da pessoa. Se assim não for, dar só por dar, não rola. Isto quer dizer que as datas são o que menos importa. Tem seu lado ruim? Tem. Mas é muito bom quando por nenhuma razão, apareço com alguma coisa dizendo: “Olha, trouxe isso pra você. É a sua cara...”

Passada a maratona às lojas, que me recusei a participar, veio o reveillon. Outra bucha, das mais sérias. Acontece que, pra mim, o mais importante, é registrar a passagem do ano. E mais. Não apenas com uma câmera fotográfica, também uso uma câmera de vídeo pra gravar os fogos na Ponta do Leme e outras cositas.

Pareço louca. Todo mundo festejando, comemorando e eu lá, com o lado direito imóvel, pra câmera de vídeo não tremer e o esquerdo fazendo foco, mudando o enquadramento e clicando ensandecidamente.

O que vocês queriam? Sou geminiana. Cada gêmeo querendo uma coisa. Não sou mulher pra me contrariar. Cada lado que se divirta! Bom, parece que não comemorei a entrada do ano, né? Engano seu.

Não foi uma comemoração comum, mas uma hora depois, na meia noite fora do horário de verão, fiz um brinde e mentalizei os melhores votos para o ano que começava. Com Jack Daniels, é verdade. Mas quer saber? Champanhe é pouco pro que nos espera em 2010. Tinha que ser um quente e um quente poderoso.

 Tudo isso enquanto baixava no computador o material que havia captado na passagem de ano dos cariocas. Sozinha, mas em muito boa companhia. Acredite. No prédio em frente, estava rolando uma festona. Com uma seleção musical de fazer inveja ao meu brother, o MDC Suingue, meu DJ preferido, que se esbaldava na outra ponta de Copacabana.

Se tinha festas pra ir? Claro que sim. Mas pensei melhor e achei que a maior festa que poderia desejar era a que menos gente tinha. Estava em comunhão com o mundo todo e isso me bastou.

Quando contei pros amigos que me ligavam, querendo saber onde eu andava que ainda não havia chegado em nenhuma comemoração, que estava em casa, editando, acharam que eu estava fora do meu juízo perfeito. Talvez. Mas tinha tanto pra ser feliz, ali, na minha casa, de onde morri de saudades durante tantos meses, que não pensei duas vezes e por ali fiquei, viajando dentro do meu próprio mundo.

Os próximos meses serão de muito trabalho e, espero, muitas realizações, por isso, achei  merecia me dar o presente que tinha a minha cara para a virada do ano: a minha própria companhia.

Assim, meu lado A agradeceu ao lado B e vice-versa, nos momentos maravilhosos de um réveillon que jamais me esquecerei. Sou feliz e isto é o que importa. Tomara que um dia você também possa se dar o presente de conviver apenas e tão somente com sua própria companhia. É muuuuito bom se amar!


*Valéria del Cueto, para série Ponta do Leme, do SEM FIM... http://delcueto.multiply.com

domingo, 3 de janeiro de 2010

2010, Oxalá no reveillon de Copacanana




Caminho dos Pescadores, na Ponta do Leme, no Rio de Janeiro. Reveillon 2010. Fogos na água e refletidos nos vidros dos prédios da Avenida Atlântica, na praia de Copacabana, onde aconteciam reverências para Oxalá e Iemanja, regentes do novo ano.
Criação, captação e montagem de Valéria del Cueto.
Produção: del Cueto - assessoria e produção.
Veja as fotos no SEM FIM... http://delcueto.multiply.com

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009