Metamorfose
Mal saí de uma “viagem” ao mundo encantado do final de ano na cidade mais charmosa do país, tomando rumo à terra de minhas obrigações profissionais e kármicas, e cá estou, quase pronta para retornar à capital mundial do carnaval. É isso mesmo. Tudo tem seu tempo e seu lugar, diz o antigo ditado. E, apesar de não refugar diante de qualquer tarefa, procurando cumprir com a mente esperta, o peito aberto e o coração tranquilo minhas tarefas, não sou de ferro. E amo alguma coisa mais do que minha própria e lendária (graças a Deus) noção de responsabilidade. Me refiro a única coisa capaz de me prender nos bancos universitários, o tema que pra mim sempre tem sabor de quero mais. O carnaval.Voltei pra realidade, assumi meu papel diante da longa jornada que me espera no centro-oeste. Fiz tudo direitinho, eu juro. Mas já era tarde!Mexe daqui, mexe de lá. Produz daqui, produz dali. E, um dia, no más, cheguei pro chefe gente boa e anunciei:“Faço tudo de tudo. Crio, produzo, finalizo, distribuo, mas... sem o samba eu não posso viver. Sou lagarta, me tranfiguro, metaformoseio. Borboleta, só posso virar depois de ouvir o som da bateria, vestir a fantasia (de fotógrafa, no meu caso) , queimar sola do meu tênis na Sapucaí, suar de vontade de registrar a alegria”, poetizei, numa lavada só.
Peguei o cara de jeito. O que era quase um não, virou um talvez diante do meu argumento de que “Não posso ficar, eu juro que não. Não posso ficar, eu tenho razão”. E minha razão era forte, poderosa: mais vale uma funcionária grata, feliz e realizada, cheia de imaginação, que um ser frustrado, descontente e carente. Ganhei de mano. E já estou quase lá. Dois finais de semana, com direito ao registro de 6 escolas nos ensaios técnicos, na pista do sambódromo e o miolo, de 5 dias pra cobrir os barracões.
Sou feliz na véspera da maratona. Serei feliz, muito feliz borboleteando pelo mundo do samba e do carnaval, em pleno janeiro. Farei meu chefe feliz, pela gratidão que sinto por trabalhar com alguém que conhece os limites de um ser humano apaixonado.
Como toda borboleta, sei que a vida é curta. Mas também sei, que se estou nela, é pra distribuir alegria e felicidade ao meu redor. E isso fica muito mais fácil quando deixo meu coração pulsar ao som de uma bateria, no ritmo dos sambas enredos das escolas, na armação da avenida. Borboletas que somos, estamos ali para atravessar nosso período de esplendor e depois, deixar saudades, muitas saudades...Por estas e por outras, sou Senhora. Senhora do Sem Fim......*Valéria del Cueto -- http://delcueto.multiply.com -- é jornalista, cineasta, gestora de carnaval e porta-estandarte do Saite Bão. Este artigo é parte da série "Ponta do Leme" do SEM FIM...
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