domingo, 31 de janeiro de 2010

Re-visão

Re-visão

Há coisas se sei fazer, há as que me esforço pra fazer. Algumas (poucas), faço naturalmente, até com certo talento. Outras... danou-se. Incluo nessa última categoria, por exemplo, cantar, pintar e tocar instrumentos musicais. Não tenho nenhuma vocação para elas. Jogar tênis, idem, idem. Nem me aventuro nestas searas. Agora, descobri uma atividade que se enquadra nesta última categoria, pelo menos em parte.

Refiro-me a revisar textos escritos por mim mesmo. Corrigir escritos alheios, ainda vá lá. Me viro com um certo esforço. Mas, quando se trata de escrivinhações próprias, a porca torce o rabo antes de ir pra panela.

Pra começar, sei escrever, mas não sei como o faço. Pelo fato de ler muito, conheço o som das palavras, suas formas e a estrutura das frases. Não passa disso. Sou incapaz de dar uma explicação gramatical sobre o motivo de haver montado uma frase assim, ou assado.

Estudei tudo isso e sempre tirei notas ótimas, mas quer saber? Não me lembro de quase nada. Vou no embalo, e olhe lá. Portanto, o que vale é o som e o dom das frases. Se é afinado, está bom demais. Os por quês gramaticais? Nem desconfio...

Acho até que, se fosse partir para a análise técnica das regras da língua mãe, deixaria de escrever um monte de coisas, atordoada que seria pelos por quês e as concordâncias da tão complexa língua de Camões.

Quer saber? Reviso meus textos simplesmente lendo-os em voz alta. Quando não dá liga, sei que preciso mudar. E só. O por quê científico não me interessa. Daí, a dificuldade de revisar textos profissionais de minha própria lavra.

Pensando bem, esse negócio de revisão é uma tremenda roubada. Veja, por exemplo, a vida. Se começamos a revisar nossos atos, deixamos de seguir em frente, tocar o barco.

Mudar o acontecido, não dá. Olhar pra trás, só se for pra ter uma boa história pra contar. E cá pra nós, ao contá-las, podemos recontá-las da maneira que mais nos convier. Não estamos revisando coisíssima nenhuma. A história já está sendo contada sob um ponto de vista posterior. Não dá pra ir lá e refazê-la. Trocar uma atitude, mudar um posicionamento. Já foi. Passou. Se foi bom, ótimo, se não foi, esquece, o que não dá é para perder tempo tentando revisar a vida.

Estas reflexões vêm do fato de que passei a última semana tendo que fazer revisão do meu próprio trabalho. Um inferno. Não tenho distanciamento crítico para tanto. Muito menos paciência ou conhecimento gramatical. É tudo empírico e muito sacrificante.

Piora a cada revisão. Sabem por que? Por que, além de tudo, sou uma digitadora infame. O meu lado esquerdo não funciona na mesma velocidade do direito. De vez em quando, um está mais rápido, outro mais devagar. É muito comum, depois de datilografar, ver todas as letras lá, colocadas na posição errada.

Então, imagina fazer uma revisão à vera. Quando arrumo um trecho, desarrumo a vizinhança e ao arrumá-la, bagunço o parágrafo de baixo. Que tortura!

Caro leitor, não merecemos isso... Adoro criar, mas não pretendo ter explicações técnicas ou literárias para a forma com que o faço. E se tiver que ser assim, sabe o que mais? Paro de escrever e vou fotografar e fazer vídeos. Dá muito menos trabalho gramatical. Esta prática que uso profissionalmente, mas não tenho idéia do por que.

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PS: Este texto, como todos os do Sem Fim, obviamente, não será jamais revisado. Será no máximo, lido com algum prazer daqui a um tempo, quando o fantasma da revisão dos textos profissionais já estiver guardado em algum armário no sótão da minha curta memória. Não quero lembrar ou re-visar este tipo de aporrinhação!

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*Valéria del Cueto é jornalista, cineasta, gestora de carnaval e Senhora do Sem Fim... http://delcueto.multiply.com

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