Texto e foto de Valéria del Cueto
Sempre
fui assim, adepta do “me chama que eu vou”. Para longe ou para perto, ao botar
o pé pra fora do Leme e deixar a minha
Ponta, já me considero em trânsito.
Isso,
desde os tempos que meiava um barco, lá para as bandas de Angra dos Reis. Na
época, meu parceiro (por pouco tempo) vivia reclamando, por que com barco a
gente nunca sabe se ele vai andar ou não. Só pra começar (no caso dele) a
aventura. Isso o fazia sofrer horrores no meio longo caminho até a marina onde o
Corisco ficava ancorado. Ele deixava de aproveitar a maravilhosa paisagem que
íamos percorrendo, numa viagem de, pelo menos 3 horas, antes de alcançarmos o
ancoradouro onde, como sempre, o motor poderia virar ou não.
De
cara saquei a armadilha que fazia com que as belezas da saída do Jardim
Botânico, a Lagoa Rodrigo de Freitas, Gávea, São Conrado, Barra, Recreio, a Grota
Funda, Sepetiba, Santa Cruz, Itaguaí e toda a espetacular Rio-Santos, até
chegarmos a Angra, fossem apenas passando pelas janelas do carro, sem nenhum
olhar mais apurado pelas belezas e mazelas que íamos deixando pelo caminho, até
alcançarmos nossa maior incógnita.
No
caso, o truque era considerar que a aventura começava quando fechava o portão
da garagem da casa. Sei lá se o barco pegaria, o tempo estaria bom, a
temperatura da água agradável, o mar virado... Eram tantas as (maravilhosas?) possibilidades!
Foi
então que passei a jogar o Jogo do Contente desde o momento em que saía de
casa. A brincadeira de Poliana, a menina órfão da história, é muito instigante.
Principalmente para quem precisa lidar com um caso de insatisfação quase
permanente que acaba podendo contaminar um final de semana inteiro, quiçá o
restante da semana e até uma relação.
Para
evitar esse “desvio” da imaginação que virou um verdadeiro vício que parei de
viajar, pelo menos no sentido físico. Foi em setembro e, de lá para cá, acho
que passei um dos meus maiores períodos contínuos que recordo estacionada na
Ponta do Leme.
Houve
um motivo, reconheço. Verguei para não quebrar. Precisei abstrair do corpo
físico para que a alma pudesse se alinhar novamente. O processo não terminou. Mas
uma parte, a que me paralisava, parece que começou a passar.
Voltar
foi um dos motivos que me impedia de ir. Por que quando vinha, sempre tive com
quem dividir o que vi e vivi. Sabia que as viagens não terminavam quando o
avião pousava no aeroporto Santos Dumont. Ainda haveria uma oportunidade especial
e única para reinterpretar tudo o que eu conseguisse capturar nas estradas e
lugares por onda andava.
Agora
com o retorno, vi o tamanho vazio que escondi de mim mesma desde a penúltima
viagem. E, definitivamente, que não sei lidar com ele.
Nunca
fui de contar publicamente o que vi no mundão que já andei, mas acho que, se
quiser continuar fazendo o que sempre amei, vou precisar mudar essa maneira de
agir.
Se
meu mundo não pode mais me escutar, não vou mais do que vergar - novamente. E
só até começar a contar para vocês, que faz tanto tempo me acompanham, o que
tenho visto por aí, não mais apenas os fragmentos inconsequentes dos meus
sonhos...
Começa
aqui, a série “No rumo”, do Sem Fim...
*Valéria del Cueto é jornalista,
fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “No rumo”,
do SEM FIM... delcueto.wordpress.com
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