Mostrando postagens com marcador veleiro. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador veleiro. Mostrar todas as postagens

sábado, 21 de março de 2015

Altos e baixos

Texto e foto de Valéria del Cueto
Irreconhecível, indecifrável. É muito tudo pra todo lado. A realidade shakespeariana num surto kafkaniano animal   invadiu a ficção. Com ares de romance noir virou um drama russo que, acreditem, degenerou numa tragédia grega. Até agora está mais extensa e cheia de reviravoltas mirabolantes que um folhetim barato. O fim da história, parece, será como os quadrinhos sensuais de Carlos Zéfiro. É, só falta mesmo um elemento pornográfico para apimentar o enredo do cotidiano corrente.
Treinando seus recentes conhecimentos adquiridos sobre literatura planetária, o extraterrestre Pluct, plact segue procurando diferentes ângulos e formatos literários para transmitir à escriba os últimos acontecimentos testemunhados de forma involuntária (considerando seu impedimento climático ambiental de usar seu sistema de propulsão para vencer o buraco negro orbital, que se amplia na camada de ozônio, para tomar o rumo do seu planeta) e, não tivesse ele um profundo interesse antropológico, totalmente desnecessário.
Pelo vão da janela iluminado pela lua, ele tenta convencer sua atenta e, por vezes incrédula, ouvinte que diante dos acontecimentos sua situação, apesar de restrita, é uma grande conquista. Afinal, evita uma exposição excessiva as radiações morais e cívicas que, no momento, atingem indistintamente viventes e sobreviventes.
Nada meio é termo. Ame-a ou deixe-a, preto ou branco, rico ou pobre, bom ou mau, gordo ou magro. Todos  medindo forças. E, nesse momento, via panelaço, redes sociais, nas ruas ou como mais der o povo está é querendo se expressar.
Quer disser... Alguns sim, outros não. O ministro, que deveria ser respeitoso e educado diante do “creme-de-la-creme” da classe política nacional, foi lá, deu “de dedo” na cara do anfitrião e ainda provocou a torcida, antes de se retirar de campo. Acabou jogando a toalha e perdendo o cargo de protagonista da prometida e alardeada Pátria Educadora.
Certamente saiu de lá com o fígado desopilado. Ensinou uma lição de sinceridade política inédita na história do Brasil. Deixou sua marca. Que ainda poderá render interpelações judiciais por sua conduta e afirmações.
Na mesma casa originou-se o exemplo oposto sobre direito à expressão. Reduzidas nestas singelas palavras: “Por orientação da minha defesa ficarei calado”. Há que se observar a revalorização da carreira de advogado, anota em seu Ipad intergaláctico o alienígena. Tantos são envolvidos e arrolados na Petrobrás, periféricos e adjacências, HSBC e demais investigações e processos que dizem ser apenas a ponta do iceberg.
Os mais médicos também entrando em alta, e não só por  cuidar da pressão. Assim como o dólar, a falta de emprego, os preços da energia, alimentos e por aí vai. O calor idem. Até na água do mar, incomumente quente nessa época pós turistas do ano. O mar calmo e espelhado anda bom para vela e natação.
A autoestima do povo é outra que está em alta. O que é bom. Afinal, será ele que terá que enfrentar as consequências do mal feito generalizado enraizado nas instituições brasileiras. Essencial é detecta-lo e cortá-lo pela raiz. Mesmo que os tentáculos dessa medusa sanguessuga se reproduzam a cada golpe. A devolução do bilhão inesperado pelas autoridades do governo da Suíça dá a dimensão da ignorância geral sobre o tamanho dos achaques.
Pluct plact, acredita piamente (e diz ser uma afirmação científica) que a conjunção do equinócio, do eclipse e da superlua nessa última sexta promoverá um sacode no céu. A escriba, sem tanta experiência intergaláctica não é tão confiante assim. Mas se conversa com um alienígena, por que não crer numa mudança? Cá entre nós, do jeito que está é que não dá ficar.
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Fábulas fabulosas”, do SEM   FIM...  delcueto.wordpress.com
E3- ILUSTRADO - SABADO 21-03-2015 
Edição Enock Cavalcanti
Diagramação Nei Ferraz Melo 
GRAVATA 
Nada meio é termo. Todos  medindo forças. E, nesse momento, via panelaço, redes sociais, nas ruas ou como mais der o povo está é querendo se expressar

domingo, 12 de maio de 2013

No trecho a pergunta: e o eixo?


Texto e foto de Valéria del Cueto
Sempre fui assim, adepta do “me chama que eu vou”. Para longe ou para perto, ao botar o pé pra fora do  Leme e deixar a minha Ponta, já me considero em trânsito.
Isso, desde os tempos que meiava um barco, lá para as bandas de Angra dos Reis. Na época, meu parceiro (por pouco tempo) vivia reclamando, por que com barco a gente nunca sabe se ele vai andar ou não. Só pra começar (no caso dele) a aventura. Isso o fazia sofrer horrores no meio longo caminho até a marina onde o Corisco ficava ancorado. Ele deixava de aproveitar a maravilhosa paisagem que íamos percorrendo, numa viagem de, pelo menos 3 horas, antes de alcançarmos o ancoradouro onde, como sempre, o motor poderia virar ou não.
De cara saquei a armadilha que fazia com que as belezas da saída do Jardim Botânico, a Lagoa Rodrigo de Freitas, Gávea, São Conrado, Barra, Recreio, a Grota Funda, Sepetiba, Santa Cruz, Itaguaí e toda a espetacular Rio-Santos, até chegarmos a Angra, fossem apenas passando pelas janelas do carro, sem nenhum olhar mais apurado pelas belezas e mazelas que íamos deixando pelo caminho, até alcançarmos  nossa maior incógnita.
No caso, o truque era considerar que a aventura começava quando fechava o portão da garagem da casa. Sei lá se o barco pegaria, o tempo estaria bom, a temperatura da água agradável, o mar virado... Eram tantas as (maravilhosas?) possibilidades!
Foi então que passei a jogar o Jogo do Contente desde o momento em que saía de casa. A brincadeira de Poliana, a menina órfão da história, é muito instigante. Principalmente para quem precisa lidar com um caso de insatisfação quase permanente que acaba podendo contaminar um final de semana inteiro, quiçá o restante da semana e até uma relação.
Para evitar esse “desvio” da imaginação que virou um verdadeiro vício que parei de viajar, pelo menos no sentido físico. Foi em setembro e, de lá para cá, acho que passei um dos meus maiores períodos contínuos que recordo estacionada na Ponta do Leme.
Houve um motivo, reconheço. Verguei para não quebrar. Precisei abstrair do corpo físico para que a alma pudesse se alinhar novamente. O processo não terminou. Mas uma parte, a que me paralisava, parece que começou a passar.
Voltar foi um dos motivos que me impedia de ir. Por que quando vinha, sempre tive com quem dividir o que vi e vivi. Sabia que as viagens não terminavam quando o avião pousava no aeroporto Santos Dumont. Ainda haveria uma oportunidade especial e única para reinterpretar tudo o que eu conseguisse capturar nas estradas e lugares por onda andava.
Agora com o retorno, vi o tamanho vazio que escondi de mim mesma desde a penúltima viagem. E, definitivamente, que não sei lidar com ele.
Nunca fui de contar publicamente o que vi no mundão que já andei, mas acho que, se quiser continuar fazendo o que sempre amei, vou precisar mudar essa maneira de agir.
Se meu mundo não pode mais me escutar, não vou mais do que vergar - novamente. E só até começar a contar para vocês, que faz tanto tempo me acompanham, o que tenho visto por aí, não mais apenas os fragmentos inconsequentes dos meus sonhos...
Começa aqui, a série “No rumo”, do Sem Fim...    
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “No rumo”,  do SEM FIM... delcueto.wordpress.com