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quarta-feira, 6 de junho de 2018

A arte de “realizar”

A arte de “realizar”

Texto e foto de Valéria del Cueto

Se alguém me dissesse que estaria olimpicamente escrevinhando no caderninho numa segunda-feira chuvosa, em plena agência bancária esperando as quinze pessoas que estão na frente para ser atendida em um dos caixas? Diria que, sem dúvida, isso é um delírio. Igual aos da cronista encarcerada, amiga do fiel e absolutamente (como se nós também não estivéssemos) estarrecido, Plact, Pluct, o extraterreste.

Perto daqui, dizem que o mar é um espetáculo com ondas que chegarão aos 2,5 metros para inalcançável deleite dos meus olhos e das lentes das minhas câmeras. No momento me dedico a procurar entender os caminhos que me levaram ao único lugar engarrafado da agência.

Nem o magico aplicativo do banco  pode resolver minha demanda(me recuso a instala-lo, a não ser que a instituição me forneça um aparelho para “trabalhar” para ela. O meu celular não tem espaço, nem me transformarei voluntariamente em operária padrão não remunerada de empresas e corporações).  A ordem de pagamento também não pode ser sacada e depositada nos caixas eletrônicos. A impossibilidade é a mesma com a atuação do gerente personalizado.

A posição na “tabela” tinha que ser galgada paulatinamente. Então não tem solução, além de multiplicar por quinze a (im)paciência e usar a imensa imaginação que Deus me deu para transformar as paredes forradas de madeira fake (cor de burro tomando fôlego para quase fugir) e o mobiliário de linhas sóbrias e modernas, no espaço aberto recheado de sensações e informações imagéticas da Ponta do Arpoador.

A concentração necessária para o pulo do gato imaginário é quebrada para registrar que destoam do ambiente do banco VIP os banners pendurados em pedestais de alumínio com propagandas de produtos oferecidos à clientela que aguarda atendimento.

Não é fácil! Para começar, falta o estímulo auditivo. O que se ouve por aqui é uma sequência de nomes sendo chamados e encaminhados de acordo com as respectivas necessidades. “Dona Fulana sala 4”. Fico com a sensação de que aquela cantada de pedra não combina com o ambiente e e volto pro caderninho. Minutos depois... “Senhor Beltrano, sala 2”! Vejo o correntista se encaminhar para o lado de dentro do estabelecimento e tento recomeçar. “Sicrano, vá ao caixa”. Aí já estava realmente desligada da viagem que pretendia fazer lá para fora e prestando atenção no entorno.

Me perguntava onde já se viu anunciar em voz alta na recepção de uma agência quem ia ao caixa. Estranho, não? Até o caro Watson acharia elementar a dedução de que parte de quem é chamado para o caixa pode sair com dinheiro do banco. No Rio de Janeiro, cidade perigosa. Alardeia, moçada, alardeia...

Funcionárias na recepção recolhem os dados, analisam a demanda e cantam o chamado tão aguardado, um segurança (claro), e mais o atendimento para encaminhar o paciente, quer dizer, o cliente, compõe o “time”.  Com o banco já fechado, passava das 16h, a pedras começaram a serem cantadas mais rápido. O expediente, a segunda-feira, a chuva que armava.

Também há uma campainha para quebrar a concentração e anular completamente qualquer possibilidade de um exercício de troca de cenário imaginário, assim como uma miragem. É ele, o sinal sonoro, acionado cada vez que um cliente entra ou sai. E são tantas.

Além da praia estava ficando para trás o primeiro dia de ginástica da semana. Exercício, só da paciência. E como cansa. Saio na chuva, disposta a não desistir. Entro na academia na ânsia de tomar as rédeas da minha vida!

Nem que fosse correndo na esteira ouvindo pelos fones do celular o barulho do mar na seleção praiana que em construção no meu canal do youtube. Pelo menos, o som e a imagem da praia do Arpoador estão garantidos, ainda que em vídeo dando o ritmo do treino.

Em tempo: no banco é proibido o uso de celular. O que foi bom. Senão não tinha crônica para você, nem ginástica para desopilar a quase Poliana escrevinhadora.


*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Da série “Fábulas Fabulosas”, do SEM FIM... delcueto.wordpress.com


Studio na Colab55

domingo, 12 de maio de 2013

No trecho a pergunta: e o eixo?


Texto e foto de Valéria del Cueto
Sempre fui assim, adepta do “me chama que eu vou”. Para longe ou para perto, ao botar o pé pra fora do  Leme e deixar a minha Ponta, já me considero em trânsito.
Isso, desde os tempos que meiava um barco, lá para as bandas de Angra dos Reis. Na época, meu parceiro (por pouco tempo) vivia reclamando, por que com barco a gente nunca sabe se ele vai andar ou não. Só pra começar (no caso dele) a aventura. Isso o fazia sofrer horrores no meio longo caminho até a marina onde o Corisco ficava ancorado. Ele deixava de aproveitar a maravilhosa paisagem que íamos percorrendo, numa viagem de, pelo menos 3 horas, antes de alcançarmos o ancoradouro onde, como sempre, o motor poderia virar ou não.
De cara saquei a armadilha que fazia com que as belezas da saída do Jardim Botânico, a Lagoa Rodrigo de Freitas, Gávea, São Conrado, Barra, Recreio, a Grota Funda, Sepetiba, Santa Cruz, Itaguaí e toda a espetacular Rio-Santos, até chegarmos a Angra, fossem apenas passando pelas janelas do carro, sem nenhum olhar mais apurado pelas belezas e mazelas que íamos deixando pelo caminho, até alcançarmos  nossa maior incógnita.
No caso, o truque era considerar que a aventura começava quando fechava o portão da garagem da casa. Sei lá se o barco pegaria, o tempo estaria bom, a temperatura da água agradável, o mar virado... Eram tantas as (maravilhosas?) possibilidades!
Foi então que passei a jogar o Jogo do Contente desde o momento em que saía de casa. A brincadeira de Poliana, a menina órfão da história, é muito instigante. Principalmente para quem precisa lidar com um caso de insatisfação quase permanente que acaba podendo contaminar um final de semana inteiro, quiçá o restante da semana e até uma relação.
Para evitar esse “desvio” da imaginação que virou um verdadeiro vício que parei de viajar, pelo menos no sentido físico. Foi em setembro e, de lá para cá, acho que passei um dos meus maiores períodos contínuos que recordo estacionada na Ponta do Leme.
Houve um motivo, reconheço. Verguei para não quebrar. Precisei abstrair do corpo físico para que a alma pudesse se alinhar novamente. O processo não terminou. Mas uma parte, a que me paralisava, parece que começou a passar.
Voltar foi um dos motivos que me impedia de ir. Por que quando vinha, sempre tive com quem dividir o que vi e vivi. Sabia que as viagens não terminavam quando o avião pousava no aeroporto Santos Dumont. Ainda haveria uma oportunidade especial e única para reinterpretar tudo o que eu conseguisse capturar nas estradas e lugares por onda andava.
Agora com o retorno, vi o tamanho vazio que escondi de mim mesma desde a penúltima viagem. E, definitivamente, que não sei lidar com ele.
Nunca fui de contar publicamente o que vi no mundão que já andei, mas acho que, se quiser continuar fazendo o que sempre amei, vou precisar mudar essa maneira de agir.
Se meu mundo não pode mais me escutar, não vou mais do que vergar - novamente. E só até começar a contar para vocês, que faz tanto tempo me acompanham, o que tenho visto por aí, não mais apenas os fragmentos inconsequentes dos meus sonhos...
Começa aqui, a série “No rumo”, do Sem Fim...    
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “No rumo”,  do SEM FIM... delcueto.wordpress.com