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domingo, 23 de março de 2014

Tempestade na cidade

Leme 1402 087 calçadão palmeiras por do sol
Texto e foto de Valéria del Cueto
Quem avisa amigo é, diz o ditado desatualizado. Avisar não é mais o que era antes. Hoje, todo mundo avisa. Nem sempre por ser amigo…
Desde quando estão avisando que as chuvas vão chegar aqui no Rio? Faz tempo. O Climatempo e co-irmãos estão firmando nessa tese, sem muito sucesso, desde o final do ano passado e durante todo o verão que já terminou.
Eram as chuvas de fim de tarde que nunca caíram, as águas de março que estão a caminho e por aí adiante. Um mar de esperanças climáticas não realizadas. E lá se vão os reservatórios já sem chances de recuperarem as chuvas prometidas e jamais desaguadas, cada vez mais minguados, assim como a nossa paciência.
Há quem tenha desistido da tecnologia das informações massificadas por garotas do tempo e seus efeitos especiais nos telejornais, aplicativos nos smartphones e, até mesmo, os horários dos eventos nas páginas das redes sociais que já vem com a previsão do tempo incluída. Outro dia foi disparado um convite irrecusável, mas que ao lado da data e do horário trazia a temperatura prevista e o aviso: TEMPESTADE. E olha que não era nem uma possibilidade, era uma informação monossilábica e demolidora. Intrigada com o detalhe procurei um lugar para desativar a informação e descobri ser impossível. A anti propaganda estava obrigatoriamente indexada na página, desestimulando os convidados ou, no mínimo, recomendando o uso de capa, guarda-chuva e galocha. E olha que o evento pedia traje passeio completo! Vá que “tchova”, cuiabanicamente falando…
Por Cuiabá a situação é inversa. Tanto que a desculpa para o atraso das obras da Copa é a totalmente previsível e anualmente encharcante. “Diz que” a quantidade de chuvas atrapalhou o cronograma do estádio que não está pronto. Mas é o menos atrasado entre os atrasados, comemora o site da SECOPA!
Se a gente considerar que dos 12 estádios 9 já estão entregues chegamos a conclusão aristotélica e pitagoresca, (sem precisarmos aplicar a teoria de Fermat), que somos os antepenúltimos no ranking! (o que parece ser uma grande vitória, especialmente se levarmos em conta que, no caso de São Paulo, o atraso foi provocado pelo acidente com o guindaste, lembram?) Melhor sabermos que pagamos por uma informação tão precisa e animadora disparada para os nossos veículos de comunicação. Afinal, é muita matemática para explicar o inexplicável. A mesma aplicada nos cálculos do custo da obra de construção da Arena Pantanal. Só especialistas de alto gabarito mesmo…
Voltando às águas que não chegam ao Rio de Janeiro: outro dia enquanto, mais uma vez, se anunciava uma virada no tempo cigarras cantavam animadíssimas nas árvores que sombreiam as ruas. O comentário geral era a chuva que chegaria. Quando alguém salientou o fato de que cigarras avisam que o tempo vai firmar… tomou uma vaia. O argumento era de que está tudo muito confuso na natureza e, portanto, as cigarras estavam embolando o meio de campo. Pergunto a vocês: choveu?
Niente. Está quente e seco. O que é problema para uns(Dilma, nossa ex-ministra das Minas e Energia, que o diga se, dessa vez, leu o relatório completo) é alegria para outros: um céu deslumbrante, num azul especial, enfeita o horizonte das fotos que retratam a paisagem da Cidade Maravilhosa divulgadas para incentivar o turismo entre uma notícia e outra de ataques as UPPs, mortes de policiais e seres humanos sendo arrastados nos carros dos PMs. A Copa vem aí!
No céu, as gaivotas enlouquecem. Passeiam em bando de um lado para o outro. “Alinhadas”, disseram, é sinal de que as águas estão chegando. Olho para o Atlântico,  na Ponta do Leme. Lá estão elas, bailando bem na linha da água, em voos aparentemente desordenados. Abaixo, a superfície do mar num tom esmeralda, não está espelhada. Parece se mexer. Outro sinal da chuva chegando? Quiçá para eles. Para elas e para mim a situação é clara: há um gigantesco cardume na área e muito alimento para os pássaros. Talvez digam que a peixarada seja o sinal das chuvas que estão a caminho.
 Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Ponta do Leme”,  do SEM FIM… delcueto.wordpress.com
@delcueto
@no_rumo
ILUSTRADO TER A A S BADO     NOVEMBRO  2009