
Cuiabano de samba no pé
Cleyton Arruda é passista da Estação Primeira de Mangueira e se prepara para mais um desfile na verde e rosa
Valéria del Cueto*
Especial para o Diário de Cuiabá
Sorriso largo, gesto malemolente empurrando a aba do chapéu, samba no pé e sedução no olhar. Se o cuiabano já tinha um fraco pelo carnaval carioca, agora tem mais uma excelente razão para pregar os olhos na tela da televisão, especialmente durante o desfile da quarta escola de segunda feira, a GRES Estação Primeira de Mangueira e sua ala de exímios passistas.
É por lá que “passeia” o cuiabano de “tchapa e cruz”, Cleyton Arruda. Primo do inesquecível Liu Arruda, ator e comediante, ele chamava o músico Mestre Albertino de vovô. Nascido no Cai-cai, bairro Goiabeiras no mapa, viveu os tempos das brincadeiras e reuniões nas calçadas cuiabanas. “Se falar para minha família em festa de São Sebastião, São Benedito, Nossa Senhora da Conceição, ela estará lá, na cozinha de preferência, ajudando a fazer as comidas. Se for na Passagem da Conceição, onde minha avó Adair nasceu, vamos um dia antes!”
Ele tomou o rumo do Rio de Janeiro a convite da empresa que trabalha, mas não perdeu as raízes. “Tenho saudade da festa de minha avó onde festejamos e louvamos São João Batista com a maior simplicidade e alegria. Tem tudo o que temos direito e uma família cuiabana gosta: bolos e comidas típicas: Maria Isabel, farofa de banana e feijão, pixé, paçoca, bolo de arroz, broinha e fubá, sarapatel... Nossa, tudo que eu amo!”
Dessa união familiar veio o gosto pelo carnaval. Na escola de samba Mocidade Universitária quando criança, na fundação da Imperatriz Portuária, participando de blocos em Cuiabá, Santo Antonio de Leveger e Poconé. “O samba passou a ser parte de minha vida desde muito cedo. Aprendi a sambar olhando as pessoas dançarem”, conta Cleyton, explicando que a família apóia, curte, torce e só pergunta se ele está feliz.
“Cheguei no Rio de Janeiro em junho de 2006. Foi à primeira vez que andei de avião”, lembra. “Fui morar em Vila Isabel, berço da boemia carioca, onde vários ícones do samba habitaram”.
Daí, para chegar na quadra da Mangueira, bastaram os amigos que conheceu no meio do samba. “Foi paixão a primeira vista, ou melhor, a primeira batida do surdo um”, conta emocionado. “Quando as luzes se acenderam, as cortinas se abriram e a bateria começou, que emoção! O coração quer bater no mesmo ritmo da lendária bateria Surdo Um”, descreve. Ele passou a frequentar assiduamente a quadra, conheceu mangueirenses e fez amizades por lá. Há dois anos foi convidado para participar da escolinha de passista da verde e rosa. “Foi um polimento, pois samba no pé... isso, acho que nasci com ele!”.
No seu segundo ano como passista da Estação Primeira de Mangueira diz que o coração bate com a mesma intensidade de quando pisou na quadra pela primeira vez. ”Aprendo cada dia um passinho novo com os colegas do samba”, conta, explicando de onde vem seu fôlego invejável. “A preparação do corpo requer um cuidado maior com a alimentação e a resistência física. Para aguentar a maratona malho, corro, como bem e faço um trabalho alongamento e relaxamento muscular”. Pra que? “A maratona é todo sábado, sambando de 4 a 6 horas”, dimensiona.
Como todo passista que se preze a elegância é fundamental. “Gosto de ir todo sábado com uma roupa diferente, compro ou mando fazer. Tem que ter estilo e modernidade, sem fugir do tradicional de um malandro”, define. “Agora que sou passista o meu guarda roupa tem muita coisa verde e rosa. O que não mudo é o meu chapéu panamá”.
“A melhor coisa é estar na quadra sambando e uma pessoa cumprimentar, elogiar, pedindo para tirar foto. É bom saber que estamos transmitindo alegria e descontração para a vida estressada que vivemos! Levar felicidade e paz é o mais gratificante para quem dança, é gosto de fazer, me faz bem como ser humano”.
Quem não aguentar a espera, e quiser “espiar” o passista, procure aos 2’12” do clip oficial da Mangueira. O link é http://youtu.be/fKOGvui-srk .
*Valéria del Cueto é jornalista, cineasta e colabora com o DC Ilustrado