Pucaria ou porcaria?
E não é que era um sinal? A luz, que se foi na crônica da semana passada, hoje é abundante, radiante, luminosa.
Estou ao sol, que pediu passagem afastando com petelecos de rajadas de vento as nuvens cinzentas que despejavam um aguaceiro há vários dias sobre o Cristo Redentor e adjacências, me informou o motorista de táxi, rindo do meu otimismo que ansiava por um sinal de que a luz pudesse vencer a escuridão celestial desenhada sobre a enseada de Botafogo e o Pão de Açúcar. “Sem chance’, ele disse. Errou redondamente.
Hoje é sexta feira, são três da tarde e estou na Ponta do Leme, vazia. Olho para o Caminho dos Pescadores e me lembro do meu tio Lúcio. Durante parte da minha infância ficava vendo-o preparando os apetrechos de pesca para se pendurar no Caminho. Munido de paciência, a espera dos peixes que abundavam no costão da Pedra do Leme.
“Pucaria”. Ele sempre me chamou assim: “Ô, pucaria”. Eu era uma porcariazinha miúda e querida, sempre soube.
O tempo passou.
Outro dia, me disseram que, em Cuiabá, porcaria tinha um significado muito mais pesado. Era porcaria mesmo!
Fiquei com aquilo na cabeça e acabei tomando ela pela proa quando perdi o direito a ser cabeça de página no meu espaço impresso de domingo. A razão? Meu estilo, texto ou contexto - sei lá - é uma porcaria, disseram. “Já para o pé da página”, mandaram. E olha que quem me classificou o fez no dialeto cuiabano. É porcaria mesmo!
Sabe o que mais? Não me incomodo com isso. Ser unanimidade é uma droga. E quem expõe o que escreve sabe que vai ser criticado, julgado e, até mesmo, considerado uma porcaria.
Bom, aí soube para onde seria transferida. Para o lado do Jê Fernandes. Fala sério, quanta honra! Oi, vizinho...
Para não dizer que tudo são flores, lamento que minhas fotos, se puderem continuar a serem publicadas, o serão em preto e branco, perderão as cores. O que, polianamente falando, me lança em face outro desafio: conseguir com que, com meu texto porcaria, que você, leitor, colora a imagem com sua própria imaginação, orientado por minha falação escrevinhada.
Nada mau, para quem detesta unanimidade, sente arrepios diante da possibilidade da rotina e adora um desafio, que começa aqui: imagine as cores e tonalidades da “pucaria” da Ponta do Leme, nesta sexta feira, no meio da tarde. Não é para qualquer vivente. Mas, certamente, você leitor, não é qualquer um...
*Valéria del Cueto é jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Este artigo faz parte da série Ponta do Leme, do SEM FIM http://delcueto.multiply.com
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