domingo, 15 de novembro de 2009

Qual o que...








Qual o que...

Texto e foto de Valéria del Cueto

Perdi o vôo. Sério, consegui essa façanha. E não foi por atraso. Simplesmente bailei na curva, antes mesmo de começar a corrida. Não me pergunte como. Estou me fazendo a mesma indagação, e ela não quer calar. Como? Por que?

Quanto mais procuro explicação para o fato, mais me enrolo. Senão vejamos:

Jurava que voltaria para Cuiabá na noite de terça feira, tudo planejado com muita antecedência, já que precisava de uma semana entre uma consulta com meu santo dentista e outra. Era modelar esculpir e colar. A primeira etapa numa terça feira, a terceira na outra, com um intervalo pro trabalho ser entregue.

Tudo sob controle. Consultas ao meio dia, com direito a almoço no japa pós suplício (se o Dr Cícero formalmente falando e Tupiara, para os muito íntimos, me ler falando assim, vai dizer que sou muuuito exagerada).Como disse, tudo marcado com muita antecipação.

Na volta da segunda tortura inevitável, abri o notebook pra checar o horário correto do vôo, antes de ir para a praia aproveitar o sol típico de início de semana depois de um feriado embaixo de chuva.

“Enganei um bobo”, pensava feliz, já de biquíni e mala semi-pronta, a um passo do meu pecado predileto: a preguiça na Ponta do Leme.

Qual o que. Descobri, às duas da tarde, que meu vôo era... ao meio dia e quarenta! Susto, revolta comigo mesma, sensação de dever não cumprido. Dor no bolso e fim de sonho.

Praia, nem pensar. Passei a tarde maravilhosa tentando um contato com a companhia aérea. Ligações, gravações, esperas, agendamento pra esperas mais, abandono, internet, voe fácil, comunicação difícil, melhor dizendo, impossível. Email, reclamações ao bispo, por que ninguém te escuta, lê ou interage. Azar é o seu. Castigo, castigo, castigo. E o sol lá fora, lindão. Rindo da sua cara.

A solução é desistira da sua passagem, abandonar a operação remarcação e partir para outra. Outra companhia, outra rota...caramba! Outro dia... de madrugada. Ai... Ninguém acredita, muito menos você.

Todo mundo ocupado, tocando a vida como fato consumado e você ali, num hiato temporal, suspensa por algumas horas. No banco, café com leite. E sem comida, por que tudo foi planejado para acabar na hora do lanche que, devido aos acontecimentos não foi tão feliz como deveria.

Fazer o que? Cruzar a rua, alcançando os degraus do bistrô São Sebastião, numa visita surpresa (“Ué, você não ia viajar?”) ao Pedrinho ao Sólon e Cia.

Cristo salva. Pedrinho me alimenta com bruschetas de brie e damasco e Sólon me serve uma taça de Malbec.

Vida ruim, atraso maldito, mas, como sentencia minha avó, dona Ena, com seu vasto conhecimento de vida “Liga não, era para acontecer”.

Pois é. Os brindes foram o sol nascendo do outro lado da enseada de Botafogo, na madrugadita, e a foto que ilustra este escrito, do Pão de Açúcar e sua sombra emoldurados pela asa do avião.

É, minha vó estava coberta de razão, como sempre: era para acontecer...

* Valéria del Cueto é jornalista, cineasta e gestora de carnaval. Este artigo faz parte da série Ponta do Leme, do SEM FIM http://delcueto.multiply.com

Nenhum comentário: