A maior lição da 40º Califórnia da Canção: menos vale mais!
Texto e fotos de Valéria del Cueto
Num fim noite de domingo do mês de dezembro em 2017, três cidades gaúchas premiavam simultaneamente ganhadores de festivais de músicas nativistas: a XX Seara da Canção, em Carazinho, o XI Canto Sem Fronteira, em Bagé, e o mais antigo festival do Rio Grande do Sul, a 40º Califórnia da Canção Nativa, em Uruguaiana.
Escolhida entre as 20 concorrentes (selecionadas entre 571 inscritas), a canção de Silvio Genro, “Um homem, um cavalo e um cachorro”, vencedora da Linha Manifestação Rio-Grandense, levou o troféu Calhandra de Ouro disputado com os ganhadores das Linhas Livre, a milonga “Aprendendo a morrer”, de Mauro Ferreira e Luis Carlos Borges, e a Campeira, com a chamarra “Sobra de baile”, de Anomar Danubio Ferreira e Juliano Gomes.
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Um homem, um cavalo e um cachorro, a campeã. Intérpretes pilchados Luiz Fernando Baldez e Ricardo Tubino. Silvio Genro: passeio completo |
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Shana Muller, melhor intérprete, e Sérgio Rojas em "Amor em trova de lua" |
Iluminação frenética - A plateia, composta em sua maioria por pessoas de mais idade, além do calor comum na região nessa época do ano, teve que suportar o uso excessivo de fumaça cenográfica e o cheiro característico do efeito, e especialmente no primeiro dia, da insuportável luz estroboscópica usada em demasia cegando os assistentes. Se a situação era ruim na plateia inferior imagine no mezanino onde o valor dos ingressos era mais em conta e a ausência de ventilação concentrava a fumaceira.
Cenografia equivocada - Os recursos serviram para tentar camuflar o cenário precário composto por um gigantesco banner de fundo, com a imagem dos “tartarugas ninjas” pampeiros (definição dada por um seguidor de muitas Califórnias) do cartaz oficial, com marcas das dobras do plástico brilhante.
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Tartaruga Ninja Pampeira no cartaz da Califórnia da Canção |
A sonorização - Talvez funcionasse a contento na mesa de som para o registro sonoro do espetáculo, mas estava precária dentro do teatro onde estavam os pagantes. Um detalhe: não apenas uma, mas duas vezes, as apresentações foram interrompidas por problemas técnicos. Nunca, antes, na história da Califórnia tal fato aconteceu.
Os shows - Nos dias que antecederam o início da Califórnia foram anunciadas substituições no “grid” dos shows. No lugar da Camerata Pampeana se apresentou Luis Carlos Borges. No de Ivan Lins, João Almeida Neto, que dividiria o palco com Mauro Moraes na abertura da 3º noite, foi remanejado para o encerramento. Quem ganhou foi o público. Se o nível da disputa foi bom, considerando o número de festivais nativistas existentes no estado, os shows foram melhores ainda!
Mano Lima encerrou a primeira noite, infelizmente com um público aquém do desejado, envolvendo a pequena plateia com seu espírito missioneiro. Na etapa seguinte, a dupla Mario Barbará e Chico Saratt, levantou pela primeira vez a plateia apresentando seu mais recente trabalho “Os Desgarrados”. Uruguaiana aplaudiu de pé! Enquanto se aguardava o resultado do júri foi a vez de João Almeida Neto passear pelos corredores do Teatro Municipal e por seu vasto repertório regional segurando a ansiedade do público ele fechou a 40º Califórnia da Canção com clássicos de Nelson Gonçalves.
A mais - Uma constatação elementar é o fato de que basta uma apresentação por noite. Com o início por volta das 22h, os shows de abertura – “Os Uruguaianenses Cantam sua Terra” (com enxerto excessivo de convidados), Luiz Carlos Borges e Mauro Moraes -, as eliminatórias/final, além dos espetáculos de encerramento, a maratona se estendia até as 2:30h, em plena madrugada. Cadê tempo para acompanhar as Tertúlias que aconteciam na praça em frente ao teatro? O tradicional e aguardado encontro musical funcionou.
Contrapartida - Esse extenso roteiro foi um dos motivos para inviabilizar a utilização, por parte das escolas, dos ingressos doados como contrapartida pelos benefícios da LIC - Lei de Incentivo de Cultura do RS. Distribuídos para unidades que mantém trabalhos “campeiros”, não foi providenciado transporte para o acesso dos alunos ao teatro no centro da cidade. Como retornar às suas casas num horário tardio, em que as linhas de ônibus não funcionam?
Excessos - A distribuição de comendas e a participação (e/ou ausência) de autoridades também provocou atrasos, especialmente com discursos de cunho político e repetitivos. Outro ponto que não passou desapercebido foi a proibição para o público de consumo de bebidas e alimentos no interior do teatro. Devido ao calor, a água foi liberada a partir do segundo dia. Mas a regra só valeu para o público...
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Bebida e comida na plateia: proibida para o público, mas o prefeito Ronnie Mello manda ver... |
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Calhandra de Ouro, a foto oficial: eles e outros. Carona na fama |
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