Texto e foto de Valéria del Cueto
Esse veranico de julho é de lei! Andava com saudades. Danadas.
Ano passado praticamente passou batido. Sem a relativa margem de segurança que
a vacina e os protocolos proporcionam a ida ao Arpoador para usufruir do combo
sol, sal e areia, mar, céu e calor no inverno ficou praticamente inviável.
Ano passado, disse, e sinto que você, leitor das crônicas do Sem
Fim, entendeu a sutileza do recado.
Pois é, caderninho no colo, canga colorida, mochila com a alça
presa no braço, havaianas viradas de barriguinha pra baixo, que é para não
queimar os pezinhos quando for calçá-las na saída, e eis-me aqui. Caneta em
punho riscando a folha pautada, texteando no Arpex, Ipanema, Rio de Janeiro, Brasil.
Mal comparando, o dia de hoje é como a pausa olímpica que
encanta nossa rotina, agora nas ondas do fuso horário do Japão, no outro lado
do mundo.
Um refresco emocional para quem está vivendo o reality show da pandemia
que se desdobra em capítulos e reviravoltas na CPI da Covid, a estrela da
política brasileira, que anda levantando a beira do tapete do sempre
surpreendente cenário nacional.
É, tipo assim, um respiro em que temos ídolos olímpicos,
histórias edificantes e até uma fadinha de verdade que leva a gente em seus
voos saltitantes. Logo ali.
Aqui ao lado vejo pranchas sentinelas cujas sombras crescem surfando
na areia ao cair do sol. Fotografo a mensagem. Sei lá, né? E não é que deu o
não tão midiático Ítalo Ferreira na cabeça?
As férias um dia acabam, em todos os sentidos. Primeiro, voltam
as aulas logo depois da próxima frente fria acabar com o refresco do veranico.
Talvez quando você estiver lendo essa crônica, o bicho frio já
esteja chegando e pegando. No Sul, já quase é. O corre começou com chuvas lá
para as bandas da fronteira oeste do Rio Grande do Sul. Mas pode ser que não...
A esperança é a última a dizer “pode ir” a esse calorzinho delicioso. Como eu, ela
não quer render-se às promessas de frio intenso, geada e neve!
Pensa num azul quase Caribe.
Um mar não muito pesado ainda se desvestindo da força das ondas pós ressaca.
O sacode veio na última passagem de massa polar pelo pedaço, antes do sol se
reinstalar para manter a lenda viva do veranico.
Pela ordem dos acontecimentos, todos agendados, após o frio quem
retorna é a CPI. Vai embolar a programação com o (con)fuso olímpico!
Tem mais um monte de coisas acontecendo, mas só tenho ouvidos para
os sons da praia onde se destacam as ladainhas dos pregoeiros que circulam na areia
oferecendo seus produtos. A todos os apelos junta-se mais um item à cantoria. O
atrativo é a facilidade do pagamento: “Temos PIX!!!”
Aí, chega aquela hora em que passa no miudinho a ideia que nunca
devemos pensar, o que dirá formular. “Que dia lindo, o que pode dar errado?”. Pensei,
levei, caro leitor, como sempre. Não, não foi o vento. Poderia entrar gelado, encarneirando
o mar, levantando areia anunciando a mudança o tempo.
Foi mais simples e definitivo. Quando a cor começou lentamente a
empalidecer e perder aquele excesso que sempre deixa marcas? Adivinhou, curioso?
Não foi um céu sendo encoberto, nuvens, bruma ou maresia empalidecendo o azul. O
azul desbotou as letras, a tinta da caneta que bordava as palavras.
Se despediu lentamente enquanto a maré subia avisando que era
hora de recolher a canga, rumar pra casa e fazer o acabamento no restinho de
palavras que falta para arrematar a escrevinhação. Rapidamente. Antes do início
de outro amanhecer olímpico em Tokyo 2021. O sol ainda ilumina as pranchas para
alunos de surf, o esporte em que somos os primeiros campeões olímpicos.
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de
carnaval. Da série “Arpoador” do SEM FIM...
delcueto.wordpress.com
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