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terça-feira, 27 de julho de 2021

Força maior


Texto e foto de Valéria del Cueto

Esse veranico de julho é de lei! Andava com saudades. Danadas. Ano passado praticamente passou batido. Sem a relativa margem de segurança que a vacina e os protocolos proporcionam a ida ao Arpoador para usufruir do combo sol, sal e areia, mar, céu e calor no inverno ficou praticamente inviável.

Ano passado, disse, e sinto que você, leitor das crônicas do Sem Fim, entendeu a sutileza do recado.

Pois é, caderninho no colo, canga colorida, mochila com a alça presa no braço, havaianas viradas de barriguinha pra baixo, que é para não queimar os pezinhos quando for calçá-las na saída, e eis-me aqui. Caneta em punho riscando a folha pautada, texteando no Arpex, Ipanema, Rio de Janeiro, Brasil.

Mal comparando, o dia de hoje é como a pausa olímpica que encanta nossa rotina, agora nas ondas do fuso horário do Japão, no outro lado do mundo.

Um refresco emocional para quem está vivendo o reality show da pandemia que se desdobra em capítulos e reviravoltas na CPI da Covid, a estrela da política brasileira, que anda levantando a beira do tapete do sempre surpreendente cenário nacional.

É, tipo assim, um respiro em que temos ídolos olímpicos, histórias edificantes e até uma fadinha de verdade que leva a gente em seus voos saltitantes. Logo ali.

Aqui ao lado vejo pranchas sentinelas cujas sombras crescem surfando na areia ao cair do sol. Fotografo a mensagem. Sei lá, né? E não é que deu o não tão midiático Ítalo Ferreira na cabeça?

As férias um dia acabam, em todos os sentidos. Primeiro, voltam as aulas logo depois da próxima frente fria acabar com o refresco do veranico.

Talvez quando você estiver lendo essa crônica, o bicho frio já esteja chegando e pegando. No Sul, já quase é. O corre começou com chuvas lá para as bandas da fronteira oeste do Rio Grande do Sul. Mas pode ser que não... A esperança é a última a dizer “pode ir” a esse calorzinho delicioso. Como eu, ela não quer render-se às promessas de frio intenso, geada e neve!

Pensa num azul quase Caribe.  Um mar não muito pesado ainda se desvestindo da força das ondas pós ressaca. O sacode veio na última passagem de massa polar pelo pedaço, antes do sol se reinstalar para manter a lenda viva do veranico.

Pela ordem dos acontecimentos, todos agendados, após o frio quem retorna é a CPI. Vai embolar a programação com o (con)fuso olímpico!

Tem mais um monte de coisas acontecendo, mas só tenho ouvidos para os sons da praia onde se destacam as ladainhas dos pregoeiros que circulam na areia oferecendo seus produtos. A todos os apelos junta-se mais um item à cantoria. O atrativo é a facilidade do pagamento: “Temos PIX!!!”

Aí, chega aquela hora em que passa no miudinho a ideia que nunca devemos pensar, o que dirá formular. “Que dia lindo, o que pode dar errado?”. Pensei, levei, caro leitor, como sempre. Não, não foi o vento. Poderia entrar gelado, encarneirando o mar, levantando areia anunciando a mudança o tempo.

Foi mais simples e definitivo. Quando a cor começou lentamente a empalidecer e perder aquele excesso que sempre deixa marcas? Adivinhou, curioso? Não foi um céu sendo encoberto, nuvens, bruma ou maresia empalidecendo o azul. O azul desbotou as letras, a tinta da caneta que bordava as palavras.

Se despediu lentamente enquanto a maré subia avisando que era hora de recolher a canga, rumar pra casa e fazer o acabamento no restinho de palavras que falta para arrematar a escrevinhação. Rapidamente. Antes do início de outro amanhecer olímpico em Tokyo 2021. O sol ainda ilumina as pranchas para alunos de surf, o esporte em que somos os primeiros campeões olímpicos.   



*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Da série “Arpoador” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com

@delcueto.studio na Colab55

terça-feira, 11 de maio de 2021

Contas de luz, rosário de Deus


Contas de luz, rosário de Deus

Texto e foto de Valéria del Cueto

Sumi na fumaça, cronista. Voltei na cauda do foguete chinês desgovernado e dei um mergulho olímpico na sua passagem celestial por Santa Catarina. Não tenho desculpas para ausência além dessa osmose cósmica que me faz cada vez mais humano na tentativa de, ao assimilar seus atos, entender (um pouco) suas atitudes. Sei que é complexo e não imagino a que ponto irei nesse processo. Me assusto diante de ações (ou falta delas) como essa. Combinado não é caro e tinha (ops, quer dizer, tenho) o compromisso de mantê-la conectada a realidade.

Pensando bem, diante das últimas essa pode ser uma razão para, justamente, rarear as comunicações com você, cronista voluntariamente encarcerada do outro lado do túnel. Minha parte não tomada pela crueldade humana reluta em transformar nossa conversa ao luar num rosário de, no mínimo, vinte e nove contas que se juntam as centenas de milhares elevadas em orações dedicadas aos deuses por aqui cultuados.

Essa força poderosa, a energia positiva por elas gerada, não está sendo suficiente para amenizar tanta maldade. Foi a onda de ódio e a barbárie que juntaram ao rosário as vinte nove contas que mencionei. Vinte e oito vieram da favela carioca do Jacarezinho. De uma chacina que ensanguentou casas, ruas e vielas marcadas pelas balas da guerra que se instalou, apesar da proibição do STF da realização de operações durante a pandemia. A incursão foi realizada pela Delegacia de Proteção ao Menor e ao Adolescente, acredite.

“Tudo bandido”, cravou Madame Mourão, a vidente que habita o vice presidente brasileiro antes da divulgação dos nomes dos 27 mortos, o que só aconteceu mais de 24 horas depois do confronto que barbarizou a comunidade numa manhã do outono carioca. A vigésima oitava ou, talvez, uma das primeiras vidas perdidas foi a de um policial civil. O mundo pede explicações.

Por aqui tentam entender o aumento da violência inexplicável em ataques como o de um adolescente que entrou numa creche e tirou a vida de professoras e bebês em (que ironia) Saudades/SC. Mas não é só no Brasil. Segue o sacode no mundo...

Tem conflito pra todo lado enquanto a epidemia da Covid-19, que está na fase 4.0 de suas mutações, explode! A Índia é o epicentro. A quebra das patentes das vacinas é discutida e apoiada, pasme cronista, por Joe, o presidente dos USA. A atitude surpreendeu o mundo. A Alemanha, por exemplo, não apoia. O Brasil da CPI também não. A tese da imunidade de rebanho está levando um baile do poder avassalador das mutações do vírus.

A cloroquina continuava nas orientações do Ministério da Saúde até levantarem a bola na sessão da CPI com o Ministro da Saúde, o quarto do governo atual. O terceiro, o general da logística, refugou e seu depoimento foi adiado por 15 dias.  Agora, temos o BBBdaCPI, o “Big Brazilian Baixaria” com altas audiências e poucas vacinas. Tema que promete incendiar essa semana, inclusive com a convocação do chefe da Secretaria de Comunicação do governo que, dias atrás, teceu críticas ao 03, seu ex-colega de ministério. Confuso? Piora. Ele vai esclarecer seu papel nas conversações com... a China!

Aquela que o presidente e seu zeros filhos continuam atacando, aquela de onde vem o componente para as vacinas que poderia salvar vidas e diminuir as contas do imenso rosário de perdas e saudades, sentimento amplificado nas orações insuficientes para romper essa corrente de maldades que sufoca a alegria desse mudo.

Cronista, sei que a conta ainda não fechou. Falei em 29 contas no rosário. A última simboliza as centenas de milhares que a antecederam. Pediu pela vacina, ajudou a quantos pode, foi homem para ser mulher, lutou como um leão... foi a mãe de todos! Sucumbiu para brilhar no firmamento, seu novo lugar.

Quem esperava a volta do desgovernado foguete chinês viu o que eu vi quando “jumpei” em Santa Catarina. Lá ia ele, Paulo Gustavo, seguindo no sentido oposto. Como tantos, foi chamado. Vai bagunçar o coreto, acabar com a seriedade, embaralhar os fios e alegrar o rosário de luzes que enfeita do céu, repleto de estrelas como ele...     

*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval.

Da série “Fábulas Fabulosas” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com


@delcueto.studio na Colab55

sábado, 11 de abril de 2015

Rato rói, ignorância dói!

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Pela fresta de noite que lhe cabia espiava a escuridão esperando a lua quase minguante surgir. Precisava tomar uma decisão pra ontem. Voltar ao mundo que aprisionava seus sonhos e tolhia sua imaginação. Renunciar a solidão libertadora, fechar as portas do seu incomensurável interior e invadir a vida (ir)real.
Só uma coisa a faria se abandonar: a  amizade. Era ela que exigia o sacrifício de encarar o mundão lá de fora. Não podia deixar a própria sorte o parceiro. Ele a mantivera conectada no período em que estivera  recolhida do outro lado do túnel. Agora, era Pluct  Plac que precisava dela! Não houve um apelo direto. Mas, no último encontro, a confusão do alienígena “preso” na atmosfera terrestre por sua incapacidade de transpor o magnetismo provocado pelos danos na nossa camada de ozônio, se tornara latente. Não era mais uma questão simples, como a absorção por osmose dos efeitos gerados pelo excesso literário de Stanislaw Ponte Preta, seja pela música - caso do Samba do Crioulo Doido, ou pelas  crônicas - via FEBEAPÁ, o Festival de Besteiras que Assola o País.
Era mais e demais para o pobre extraterrestre que  coletava informações para repassar a seus superiores intergalácticos e justificar sua permanência no hospício terrestre, além reunir boas razões que fizessem sua cronista preferida voltar ao mundo real para acompanha-lo em suas prospecções.
Ele havia dado um tóin e, sem nenhum tipo de proteção exigida pelo código de viagens intraplanetárias, como vacinas  contra Leptospirose, a Peste Bubônica (ou Negra), o Tifo Murinho,  a Febre da Mordida do Rato, Hantavirose, Sarnas e Alergias, havia se materializado na dita Casa do Povo brasileiro, no Planalto Central.
É verdade que fizera o possível para evitar problemas. Adiara o dia do pulo explorador para evitar as anunciadas manifestações da onda vermelha, que - dizia-se - ocuparia os jardins suspensos da Babilônia do poder e não passou de uma “marolulinha” de abril.
Na ocasião, para não perder o impulso inicial e, quem sabe, aproveitar-se da instabilidade atmosférica para ultrapassar seu gap impulsional libertador, dera meia-volta, volver, gastando uma pitada a mais do seu pó de pirlimpimpim (apelido dado pela cronista ensandecida ao injetor de impulsos dos seus tóins), para “bizoiar” o fogaréu que ardia no maior porto do Patropi consumindo todo o material de combate a incêndios do estado mais desenvolvido do país. Chegara até a pensar oferecer seus conhecimentos intrínsecos de observador do Big Bang para ajudar a controlar as labaredas, o que se tornou desnecessário diante da chegada de especialistas estrangeiros. Isso permitiu que ele seguisse viagem para acompanhar a palpitante lição de como torrar dinheiro público.
Pensava em apresentar suas credenciais diplomáticas de parlamentar interplanetário para acompanhar oficialmente os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito instituída para apurar a surrupiada federal que provocou a derrapada da maior empresa do país. Não houve tempo! Mal adentrou o recinto pipocou uma tremenda confusão. Até pensou que era com ele.
Além dos animais habituais, pequemos roedores inadvertidamente viraram alvos de pisoteamento por assustadores artefatos assassinos, sapatos “de matar barata em quina de parede” que não deram conta do recado. Perseguidos implacavelmente, enquanto se ouvia, captados pelos sensíveis microfones do local, apelos solidários que pediam: “prendam, mas não matem os ratos”! Diante da confusão, muito ofendidos, resolveram se render. Afinal, ratos eles não eram! Hamsters e Esquilos da Mongólia, sim. Mas ratos? Esses permaneceram no recinto conforme informavam aos gritos, quebrando combalido o decoro parlamentar, representantes histéricos do po(l)vo.
Meio totalmente confuso em seu relato, Pluct Plact fez  a cronista tomar a difícil decisão de deixar seu retiro e, amanhã, fazer segurança para o desorientado explorador interplanetário em seu giro pelos protestos. Segundo ele, liderados por um João que pede “Ratos e urubus, larguem a minha fantasia”! Nada o convenceu que Joãozinho, o Trinta, era um carnavalesco e o tema apenas um enredo genial...
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Fábulas Fabulosas”, do SEM   FIM... delcueto.wordpress.com
E3- ILUSTRADO - SABADO 11-04-2015 
Edição Enock Cavalcanti
Diagramação Nei Ferraz Melo 
GRAVATA 
Adiara o dia para evitar a onda vermelha que ocuparia os jardins suspensos da Babilônia. Não passou de uma “marolulinha”