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quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Quem disse que mereço?

Quem disse que mereço?

Texto, foto e vídeo de Valéria del Cueto

Mais uma troca de prumo para manter o rumo das crônicas quinzenais. Tive que trocar a pedra em que me encosto para escrevinhar no meio do mundo!

O motivo é prosaico. Ela, a pedra no deck, fica na franja dos galhos da pitangueira que, carregadinha, salpica o chão em que estendo a canga. As frutinhas parecem confetes sextavados... Tentei varrer. O puro suco do sumo das pitangas saborosas virou gotas que lambuzam o chão quando passo a vassoura! Está feita a lambança mancha tecidos. Não prestou. Se não posso mudar a pedra, nem impedir os resquícios da chuva rubra, me movo!

Só um pouco. Para o lado, no beiral da piscina vazia. Por que vazia? Fica fechada até a água clarear por ser de água corrente. O rio ainda está recuperando limpidez depois da enxurrada do segundo sábado de janeiro de 2024. Aliás, os rios daqui e do de Janeiro.

Dei sorte. Passei pela rodovia Washington Luiz, que sobe a serra em direção ao meio do mundo, cruzando entre as duas paredes de chuva. A primeira era só uma parede. Tipo cuiabana de antigamente. Robusta. Cruzamos a chuvarada e chegamos em casa sem problemas para subir a passarela sem cobertura de proteção. No seco. Logo depois veio a muralha d´água. Extensa como a da China. Foram horas de despejo celestial. Vi de camarote a fúria das águas.


As consequências, gravíssimas para a população carioca e da região metropolitana, serão sentidas por tempo indeterminado. O caos foi tão grande que o Centro de Operações da Prefeitura do Rio criou uma base na Pavuna. Com o fechamento da principal artéria carioca, a Avenida Brasil alagada, não dava para monitorar e coordenar os eventos que castigaram a zona norte.

Em décadas de Sapucaí não me lembro de um adiamento de ensaio técnico. Aliás, também não me vem à memória uma escola ganhar ensaio técnico extra na Sapucaí.

Aconteceu uma semana antes do cancelamento das passagens da Portela e Unidos da Tijuca, no último domingo. Vai ter caju da Mocidade em dose dupla por causa das falhas no carro de som do primeiro final de semana de apresentação para o povão. A Porto da Pedra, que teve menos problemas, dispensou o repeteco. 

Por que estou contando isso? Para dizer que "se fosse fácil, alguém já tinha feito" e deixar o registro desses acontecimentos da crônica carnavalesca de 2024.


Resumindo: depois de uma largada triunfal dos ensaios técnicos do carnaval 2024 (mesmo com os problemas de som), babou legal e vai acavalar. Matematicamente falando, um quarto do planejamento dos eventos de preparação carioca na Passarela do Samba da Marquês de Sapucaí, que completa 40 anos, foram alterados por motivos variados de forças maiores.

Clique no LINK para acessar o álbum do acervo carnevalerio.com

Mocidade vem na matinê do Paraíso do Tuiuti e do Salgueiro no domingo do feriado meia boca de 20 de janeiro, dia de São Sebastião, padroeiro da Cidade Maravilhosa. Quem ia desfilar no ensaio adiado irá para o próximo domingo. Portela e Grande Rio.

No último final de semana, o do teste de luz e som, teremos uma prova de resistência com a lavagem da pista (nem vou lembrar que costuma chover), Grande Rio, Beija -Flor e Vila Isabel no sábado. Mangueira, Viradouro e Imperatriz fecham os ensaios técnicos no domingo que antecedem o carnaval.

Como trabalhar desse jeito? Se estava ruim para mim, imagina para o povo do samba que se desloca para sambar, precisa voltar à casa e estar a postos segunda de manhã no trabalho.

São verdadeiros heróis da folia! Molhados, não é? De chuva (de vez em muito), suor e lágrimas. Essas, de amor e emoção, brotam no ritmo das batidas e bossas das baterias que explodem na pista entre as atrações dos mega camarotes. Entendeu? Pois é.

Tudo para coadjuvar no desfile é cada vez menos acessível a quem faz a festa. Os preços dos lugares estão nas alturas. A maioria das escolas não tem mais fantasias disponíveis. Lotação esgotada!

Se você não se preparou com antecedência vai como der. Uma sugestão? Tome logo a vacina da Covid disponível. Prevenir é tudo para quem quer fazer desse, como eu, mais um carnaval inesquecível.

PS: Tem massa de ar frio vinda do sul. Pode ser (ou não) que ela chegue no Sudeste no final de semana.

Eparrei, Iansã...

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Crônica da série “É Carnaval” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com

Studio na Colab55

domingo, 3 de dezembro de 2023

O cativeiro social e o direito autoral


O cativeiro social e o direito autoral

Texto e foto de Valéria del Cueto

Desenho florezinhas infantis na página que antecede esse texto no caderninho enquanto penso em por onde começar. Onde vou terminar, só o limite imposto pelo espaço do jornal de (mais ou menos, sempre pra mais) duas laudas, dirá.

Não, não sou eu quem me navego. Aprendi a lição com Paulinho da Viola que aprendeu com seu pai, César Faria. Se tivesse esse poder de me navegar não seria jornalista. Os eventos me procuram, não eu a eles e, como ser social, sou impelida a re/agir aos acontecimentos. Jornalisticamente

Essa escrevinhação era para ser sobre o Dia Nacional do Samba, 2 de dezembro. Data especial no calendário de quem, como eu, vê no ritmo uma avenida de prazeres para os necessitados de poesia e movimento se lançarem no período carnavalesco.

Festejos se espalham pela Cidade Maravilhosa. O Trem do Samba parte da Central do Brasil fazendo a ligação com as comunidades que ao longo dos trilhos consolidaram as características identitárias do povo do samba. A festa deságua em Oswaldo Cruz.

Aqui, na ponta do centro da cidade, desde o dia primeiro de dezembro a Cidade do Samba festeja com mais uma edição de mini desfiles, escolha da corte LGBTQIAPN+, shows com Diogo Nogueira e a roda de samba do Beco do Rato, entre outras atividades programadas pela Rio Carnaval, a Liesa e a Riotur.

Entre as duas noites haverá a abertura da exposição “Corpo Popular”, de Leandro Vieira, com curadoria de Daniela Name, no Paço Imperial.

O carnavalesco campeão ocupa um dos mais nobres espaços culturais cariocas com um triplo carpado (estou com mania dessa imagem, daqui a pouco passa) finalizado com perfeição com os pés plantados no sofisticado universo das artes plásticas.

Lá vamos nós, do acervo carnevalerio.com, com algumas fotos para uma das instalações que ele criou. Quais são? Onde estão? Quem procura, acha. Mas vai ter que procurar bastante. Só dou uma dica: parte das imagens selecionadas é daquela por quem #meuamornuncatemfim, a Bateria da Mangueira.

Esse era meu rumo, esse era meu prumo, até a inaceitável abordagem no aeroporto de Brasília ao Cisne da Passarela, a porta-bandeira Vilma Nascimento, revistada em público numa loja do saguão.

Estava ruim? Pois é, como o mar não tem cabelo, pode piorar. Numa postagem nas redes sociais vi uma foto de Vilma, de punhos cerrados, na Sapucaí. Como reconhecê-la entre tantas? Pelo fato que gerou o registro feito no Desfile das Campeãs do carnaval de 2018.

https://www.flickr.com/photos/delcueto/albums/72157695035591631

A escola de samba Paraíso do Tuiuti deu um sacode na Sapucaí com seu enredo e alcançou sua melhor posição no Grupo Especial, o vice-campeonato.  Vilma fazia o gesto com as mãos fechadas no refrão: “Meus Deus, meu Deus, se eu chorar não leve a mal. Pela luz do candeeiro, liberte o cativeiro social”. Vi a primeira vez fora do enquadramento e a acompanhei na pista até que o refrão se repetisse.

E lá estava a imagem nas redes sociais postada pela Anistia Internacional Brasil com o crédito: “reprodução”.

Sim, o carnaval está chegando. Época em que, paradoxalmente, evito as redes onde tenho que ficar brigando por algo que deveria ser óbvio: o direito autoral das imagens do acervo carnevalerio.com, protegidas pela lei 9610/1998.

Pelo “X” pedi que entrassem em contato. O que aconteceu rapidamente. Expliquei que a foto havia sido, inclusive, cortada. Dava pra ver a beira da marca d´água do lado direito. A gentil assessora esclareceu que havia sido capturada na rede, já sem o crédito.

Fui atrás e lá estava ela, publicada pela Veja Rio, na coluna de Bruno Chateaubriand com a marca d 'água e o incrível crédito: “divulgação/divulgação”. Depois de algumas retuitadas o colunista entrou em contato e explicou que a foto chegou com um release sobre a honraria que Vilma recebeu dia 20 de novembro, dia da Consciência Negra. Ele também foi gentil, diligente e está sendo muito correto para sanar o uso indevido.

O que chamou minha atenção e demandou a mudança de rumo do meu barco/crônica foi o fato de que, em ambos os casos a responsabilidade pela inserção do material de forma irregular foi creditada a terceiros quando, na realidade, cabe ao editor/responsável pela publicação do material checar a fonte da foto, assim como a das informações veiculadas. Esse é o papel do jornalista. Checar informações. 

A questão do direito autoral é muito séria, envolve interesses conflitantes  e está no foco de discussões nas câmaras parlamentares nacionais e internacionais. Se informe, é o que peço.

É visível e, no meu caso, sentido na pele, o enorme desconhecimento sobre o tema que mudou o rumo da minha prosa para registrar um dos muitos casos que se repetem e multiplicam a cada temporada carnavalesca.

Essa, que não poderia deixar começar com uma saudação especial. Salve o Dia Nacional do Samba! Os sinais indicam que o tempo da folia está chegando.

Evoé, Momo!

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Crônica da série “É Carnaval” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com

https://youtu.be/1Md4JrXpkbY?si=M4mozY_cZXpJnyfH 

Studio na Colab55