Ó de casa?!
Texto e foto de Valéria del Cueto
Vamos cair na real: não será hoje. Mas quase ontem. A
Copa está aí. Alguma novidade? Talvez para quem nunca comeu melado. Por que, ao
contrário do ditado, é justamente quem já comeu que está se lambuzando. E o faz
de caso pensando, por que sabe que é agora... ou já! As comportas estão abertas
e jorra dinheiro para tentar fazer em alguns meses o que não foi executado em
anos.
Lembro-me sim, do dia em que saiu o resultado das cidades
escolhidas para serem sedes da Copa de 2014. Meninos eu, vi, estava voltando
(de novo) para Mato Grosso e uma das tarefas do retorno era registrar em vídeo
a agitação da Praça do Chopão, onde Cuiabá em peso se reuniu para assistir a
declaração da FIFA.
Acompanhei colada com os “artistas” que ali estavam para,
mais que comemorarem, mostrarem à gente brasileira, por um link ao vivo da rede
Globo, o que Cuiabá tinha para oferecer ao mundo: cururu, siriri, o boi e, como
todo o Brasil, o samba.
Lembro que havia uma tenda vip, para as autoridades. Só
que a reação desse povo a “conquista” não me interessava, já sabia qual seria.
Preferi me encostar nos cururueiros que afinavam, nervosos, as violas de cocho
e arranhavam insistentemente seus ganzás. Ali, sentia a tensão do povo de Cuiabá para a realização
de um sonho, apenas de um sonho: o de que a Copa do Mundo chegasse àqueles que
teriam imensas dificuldades na vida para
irem até ela.
Para o trabalho, havia várias câmeras espalhadas: Na
tenda, na área das apresentações ao lado da praça. A subida da Getúlio havia
sido impedida e um trio elétrico ocupava a rua. Imagina a briga que era pra
saber que iria subir no caminhãozão. Muita gente conseguiu sair na foto, mas
claro, o espaço não foi suficiente para tanto ego. Do lado de fora do Chopão, o
povo. Lá dentro, meia sociedade cuiabana, que aquela não era festa pra perder. Só
comemorar. Faz quatro anos no dia 31 de maio!
Não quero ser derrotista, por que acredito na capacidade
de organização e, apesar de não ser devota, nos milagres capazes de serem
realizados pelo Santo RDC (Regime Diferenciado de Contratação, pra quem não
ligou a sigla ao seu bolso), mas a coisa mais pronta que pude ver nesse
período, é o trabalho do mesmo grupo Flor Ribeirinha que rodopiou cheio de
alegria e emoção para nos representar para o mundo naquela praça.
Pois não é que a Domingas, mãe, pai, tia e madrinha do
projeto de excelência, nascido no São Gonçalo Beira Rio, soube pilotar sua canoa
com maestria e organização e, um ano antes do evento, mostrou para os cuiabanos
como o cururu e o siriri os apresentará para o planeta? Ocupou com maestria
todos os espaços que pode e fez sim, um lindo trabalho, levando sua trupe das
águas do seu Cuiabá para mares e oceanos distantes. Claro que enfrentou
corredeiras e calmarias, mas dá gosto ouvir falar do seu sucesso.
Pena que nem todo mundo esteja jogando aberto como a
artista Domingas. Li que o Tribunal de Justiça suspendeu a licitação organizada
pela SECOM/MT para escolher as agências de propaganda que atenderiam a SECOPA.
O mandado de segurança foi impetrado com o argumento do o não
cumprimento da Lei 12.232/2010 e do uso em uso em vão do nome, ao que parece do
Santo RDC!
Indica que já estamos no período do pega pra capar e do Deus nos acuda! Tem gente rodopiando e dançando qualquer ritmo e batida para levar
de lambuja uma beira da nossa festa...
*Valéria del Cueto é jornalista,
fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “No rumo”,
do SEM FIM... delcueto.wordpress.com