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domingo, 13 de julho de 2014

Não tem preço


Mocidade  14020 285 apoteose bandeira br geral
Texto e foto de Valéria del Cueto
E não é que não houve amanhã? Assim, no más, fico pensando em uma semana atrás quando praticava minha caçada preferida ao assunto central da crônica. Sempre procuro o lado bom, pitoresco e - se possível- um registro diferenciado do cotidiano. Como fazer quando parece que o mundo virou de ponta cabeça? Onde antes havia esperança, agora há apenas um tremendo nó na garganta. Depois de tantas especulações e projeções, morremos na praia de morte bem matada, morrida e justa, com o mundo e uma nação inteira de testemunho da derrocada vergonhosa e inevitável. Dizem os alemães que poderia ter sido pior. Acredito neles!
E que não venham dizer que a culpa é do colombiano que arriou o Neymar. Nada justifica o inevitável. Em 06 minutos caíram por terra: planos, sonhos, teorias que (agora) sabemos mirabolantes e muito, muito marketing.
Os sinais de que a cantoria e a batucada desafinada  não segurariam o chão da escola da vida centrada no “Brasil, ame-o ou deixe-o” do novo milênio estavam todos ali, para quem quisesse ver. Alguns até tentaram alertar para o perigo. Mas a coisa foi andando, as etapas sendo ultrapassadas aos trancos e barrancos e todo mundo ficou se achando, embalado em mantras publicitários emocionais e milionários. Lição: não há “me engana que eu gosto” que resista a seriedade e foco, a não ser que você consiga o impossível: combinar com os alemães!
O povo esqueceu o mau humor e seus problemas por quase um mês e já estava quase acreditando que a vida era uma partida de futebol meia boca cercada por todos os lados de penduricalhos, adereços verde e amarelo e aquela musiquinha do hexa, a que nunca foi composta. Até ali, quando a seleção... Deixa pra lá. Por que foi lá, em BH, e não aqui que tudo mudou.
Deus, que continua sendo brasileiro, mudou o tempo e, com a ajuda de São Pedro, está fazendo o céu vir abaixo desde então. No Rio, choveu a cântaros depois do jogo de terça feira, o que esfriou os ânimos de quem estava em Copacabana, pronto para comemorar e cantar, com Diogo Nogueira, mais uma vitória da equipe canarinha, ou...
De lá pra cá, o aguaceiro para, mas recomeça diariamente em grandes proporções. Resultado: Estamos em estado de alerta pluviométrico! Chamem o Cacique Cobra Coral para proteger nossos convidados!
Se fosse só isso... Nesses dias, parece que a sacudida foi mais ampla: tem hóspede vip de empresa parceira da FIFA fugindo do mítico Copacabana Palace (hospedagem sede da entidade), pela porta lateral do hotel mais charmoso do Brasil com a polícia em seu encalço com um delay de alguns minutos, o carioca descobriu que não verá nenhum jogo da seleção no Maracanã e - ainda por cima - somos território de los hermanos que, com todo o direito e barulho correspondente, fazem a festa na Princesinha do Mar, expandindo seus domínios e as comemorações para outros locais simbólicos da Cidade Maravilhosa, entre eles, o Sambódromo Darci Ribeiro. Depois de lotarem o Terreirão do Samba com motorhomes e barracas de camping, é para lá que eles “cresceram” e de onde pretendem lançar a cabeça de ponte para mais um título mundial de futebol.
A nós, restará o papel de meros espectadores quando a mandatária mor do país do futebol entregar, nesse domingo, a taça do mundo para nossos algozes alemães ou para os vizinhos argentinos. No segundo caso, a festa vai comer solta no Rio de Janeiro. No primeiro,  pelo menos, no quiosque aqui do Leme, onde os alemães têm se concentrado para comemorar cada passo em direção a mais uma conquista.
Isso não parece uma fábula fabulosa? Mas não é! Não tenho tanta imaginação...
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Ponta do Leme”, do SEM   FIM...  delcueto.wordpress.com

domingo, 1 de junho de 2014

Até nosso lixo é um luxo!

Mangueira 140302 393 Renato Sorriso bandeira do Brasil aponta
Texto e foto de Valéria del Cueto
É muito assunto para pouco espaço, assim como é pouca caçamba para tanto descarte. Dito isso, vale ressaltar que o carnaval, como força motriz criadora e geradora, sempre andou a frente das teorias que permeiam sua produção artesanal e industrial.
No quesito gerência a aplicação de conceitos de consagrados especialistas mundiais em gestão da excelência (o PDCA de Deming, a adequação de uso com satisfação do cliente de Juran, as equipes de trabalho de Ishikawa, a filosofia de Crosby, o controle total da qualidade de Feigenbaum e os ensinamentos de Peter Drucker) são, atualmente, verificados na cadeia gerencial do cotidiano das escolas de samba. Como não dar a devida importância à questão do descarte na indústria carnavalesca?
“Nossa preocupação é em como colocar o carnaval na avenida. Como tirá-lo de lá, são outros 500...” A resposta pertinente a essa questão há alguns anos  deixou de ter consistência quando se detectou o valor do que saía das pistas de desfile (isso, para abordarmos apenas um “fim” da questão, deixando de lado, entre outras, a destinação das aparas da imensa produção dos barracões).
As agremiações começaram a vender e/ou doar fantasias e alegorias para outras entidades carnavalescas criando uma cadeia que pode começar na Sapucaí e terminar alguns anos depois, por exemplo, na passarela do carnaval de Alegrete/RS. Outra vertente é dos grupos que, depois de desfilarem no sambódromo carioca, se apresentarem em escolas de grupos inferiores na Intendente Magalhães, zona norte do Rio. 
Mas como agregar um selo de sustentabilidade a todo esse esforço ainda incipiente se levar em consideração a imensa quantidade de “lixo” recolhido nas dispersões carnavalescas? Nesse momento temos movimentos e ações realizados individualmente pelas escolas de samba e outros agentes do processo. Como sempre pioneiros e inovadores apesar de, mais uma vez, serem grandes laboratórios na prática para, somente posteriormente, serem reconhecidos e compreendidos pelos teóricos. Eles, que já acordaram para mais esse fenômeno em desenvolvimento na indústria carnavalesca.
É possível identificar os atores principais do que será em breve um processo muito mais amplo. As escolas de samba não são as únicas envolvidas. A cadeia de responsabilidades que influencia e atua diretamente na questão dos descartes começa pelos fornecedores, os tipos de materiais e como eles são produzidos; passa pelos carnavalescos que definem o que será utilizado; os componentes e como vão tratar a fantasia que tem um valor agregado mesmo depois da apresentação; as escolas, que  viabilizam novas utilizações para as peças e pelo poder público, encarregado de recolher  o que fica para trás nas caçambas e espaços do entorno das passarelas.
Parece simples, mas não é. Pelo menos no caso do reaproveitamento do que fica nas dispersões. Uma das dificuldades é a diversidade incrível de materiais que dificulta a coleta, a separação e a seleção do que é, na verdade, um tesouro!
Já há iniciativas para fazer da arte desperdiçada e descartada outras peças, também de arte. É assim que ainda de forma incipiente, mas insistente, projetos tentam recuperar, classificar e, reinterpretando em novas leituras, reciclar a arte pela arte.
Sustentabilidade aos poucos deixa ser apenas tema de enredos carnavalescos para virar prática cotidiana na indústria sempre criativa e inovadora do carnaval.
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Texto da série “É carnaval”
http://carnevalerio.com 

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Se "esquentar" é pecado...

ET Moci 140202 026 Paula Evangelista setor 1
Texto e foto de Valéria del Cueto
A resistência a falar de carnaval perdurou até o último momento. Mas sucumbiu diante do desfile comemorativo dos 30 anos do bloco Simpatia é Quase Amor, pela praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, nesse sábado.
Imaginem o encontro dessa(s) turma(s). Se houvesse um medidor de lembranças e saudades certamente ele atingiria seu nível máximo exatamente nos momentos que antecederam a saída do bloco carnavalesco, ali pelas bandas da Praça General Osório, antes de “armar” e desembocar, balzaquiano e feliz, na Vieira Souto.
Como não falar de carnaval, sobre/vivendo no meio de um dos melhores do mundo? Pra não cair nessa vaidade besta de primeiro, maior... Prefiro situar o Carnaval Carioca um dos melhores.
Afinal, não dá para comparar nossa folia com, por exemplo, Olinda, em Pernambuco, São João del’Rey, em Minas, e mais alguns – não muitos, carnavais brasileiros e tantos outros que ainda pretendo estudar melhor no mundo: New Orleans, nos Eua, Navarra, na Espanha, o carnaval de Veneza, na Itália. Em Ivrea, no Piemonte, por exemplo, tem um tipo de entrudo!
Mas afinal, o que nos deixa sempre nesse dream team da maior festa popular do planeta? Entre outras coisas, a evolução provocada por uma inquietação permanente. O povo do carnaval é novidadeiro! Não precisa assistir os desfiles para observar esse movimento. É claro que nem sempre as coisas funcionam e fazem sucesso, mas já dá para citar alguns erros e acertos da pré-produção carnavalesca de 2014.
Antes da lavagem da pista da Marquês de Sapucaí pelas baianas de todas as escolas de samba nessa noite do domingo que antecede o carnaval, (quando também é feito o teste de luz e som no Sambódromo carioca, com o ensaio técnico da Campeã do Carnaval de 2013, a Vila Isabel), muitas ações já aconteceram no caminho da produção da festa de 2014.
A primeira iniciativa - a ser comemorada - foram os vídeos produzidos e distribuídos fartamente pela internet da gravação do CD das Escolas de Samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro. Dela participaram, na Cidade do Samba, baterias, comunidades e  personalidades de cada agremiação. Uma oportunidade de confraternização e de mostrar ao público a cara do povo do samba.
A segunda, infelizmente, foi um tiro n’água já devidamente criticado: o CD com a falação que impede que a gente simplesmente ouça as músicas. Um saco.
No sambódromo, durante os ensaios técnicos, mais uma vez temos a comprovação de que, sem o som “oficial” do desfile, a festa é muito melhor. É quando podemos ouvir a cantoria das escolas e como elas levam o samba enredo do ano. Sem falar nas baterias...
Uma perda esse ano (que rezo para não aconteça nos próximos) foram os esquentas com a bateria no primeiro recuo, junto ao setor 1. A responsável pela quase extinção desse momento especial foi a Globo, transmissora do espetáculo. Ela obrigou as escolas para uma “gravação oficial” a apresentarem apenas um único samba. Para quem viu, por exemplo, a Imperatriz Leopoldinense levantando o setor popular com músicas dos blocos carnavalescos Cacique de Ramos no ano em que a escola falou de Ramos é uma tristeza! Só para citar um caso especial... Os esquentas das co-irmãs sempre foram emocionantes, um momento para energizar os brios dos componentes, como o nome já diz.
Esse carnaval também tem uma rainha sem reino. Trata-se de Ana Paula Evangelista. Ela gravou as vinhetas e participou de todos os produtos da verde e branco de Padre Miguel. Mas foi substituída de última hora entregando o posto de rainha de bateria para uma atriz da Globo. Não discuto e respeito a decisão da Mocidade Independente que deve ter tido seus motivos. Mas não posso deixar de fazer uma reverência à ex-rainha. Porte e aura da aristocracia do samba não lhe faltam, mesmo sem a coroa!
Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “É Carnaval”,  do SEM FIM... delcueto.wordpress.com
DC ILUSTRADO

domingo, 24 de novembro de 2013

SMH: marca do “bota abaixo” vira arte

Paratissim131110 020 SMH Gisella Molina
Texto e foto de Valéria del Cueto
Torino, Itália, tem por tradição respirar arte contemporânea no início de novembro. Além da Artissima, feira das galerias de artes contemporâneas, que chegou a sua vigésima edição, também aconteceram outros grandes eventos, como “The Others” e a Paratissima, com a participação de 480 expositores.
E eis que no meio do caos das obras espalhadas no imenso espaço do Borgo Filadelfia-MOI, da Paratissima,  realizada de 6 a 10 de novembro, surgem cores e um desenho facilmente reconhecidos para olhos já saudosos dos tons quentes das terras tupiniquins.
Lá estamos nós, a bandeira brasileira estampada numa pipa pendurada num varal em plena exposição.
E não é tudo, por que, ali, no varal pregado na parede meio destruída tem de um tudo: boné, calção de jogar futebol, fotos, muitas fotos, presas por pregadores de roupas, gambiarras...
A parede é remendada por fita gomada e fios quase desencapados sustentam bocais com lâmpadas precárias.
Já vimos esse filme em algum lugar...
Em várias fotos se repetem três letras SMH, sempre perto do número da habitação retratada nas fotos, algumas coloridas, outras em preto e branco. Além das letras, o que chama a atenção são os olhos e as expressões das pessoas retratadas.
Mas não termina por aí. Se a parede parece uma confusão, o que dirá do piso em frente? Escada caída, roupas largadas, um velho colchão, lata de lixo, sacolas, pedaços de plásticos, fotos esmaecidas, fios enrolados, um balde.
Restos de vidas emaranhados e empoeirados delimitados por uma fita de duas cores, das que demarcam obras.
No canto direito da instalação – por que é disso que se trata - uma canga estampa a imagem da bandeira do Brasil.
Duas folhas explicam o conceito da obra que, nas fotos penduradas nos varais, mostra os personagens de uma tragédia carioca.
A reportagem mostra as vítimas das alterações que estão sendo feitas na zona portuária do Rio de Janeiro, provocadas pelas intervenções urbanas que estão sendo realizadas na cidade para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.
O mote do trabalho é a sigla SMH, estampadas nas casas marcadas pela Secretaria Municipal de Habitação da prefeitura carioca comandada por Eduardo Paes, na região. As marcas foram colocadas nas 832 habitações destinadas a serem demolidas para as intervenções de valorização da área.
O texto também explica que, para as famílias que deveriam deixar suas moradias, eram oferecidos seis mil reais e um auxílio aluguel de 400 reais até que fossem realocadas em casas populares, em data indefinida. O registro foi feito na área do no Morro da Providência, Morro do Pinto, Morro da Conceição, Morro do Valongo, Pedra Lisa e na zona portuária da Perimetral.
A instalação é da arte-educadora italiana, Gisella Molino. Ela passou uma semana fazendo uma imersão fotográfica no local das remoções.
A intervenção dividiu opiniões já que, segundo a artista, alguns espectadores reclamaram por ela mostrar uma face do país que “não representa toda a nossa realidade”.
O apelo no olhar das pessoas retratadas não foi suficiente para justificar, para essas pessoas que, se hoje somos “um país que vai pra frente”, isso se dá com o sacrifício dos que mais precisam de ajuda.
A ironia é que cabe a uma artista italiana ser a nossa voz para mostrar lá fora, o que acontece aqui dentro.
**Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “No rumo”,  do SEM FIM... delcueto.wordpress.com
ILUSTRADO DOMINGO    JULHO 2009

domingo, 16 de junho de 2013

Vai que é tua, tira a bola da rua.


Texto e foto de Valéria del Cueto

É tudo correlato. Será? Faz sol. Venta, mas não demais. É calor na praia e friozinho na Gustavo Sampaio, rua de dentro do Leme, aqui na Ponta, Rio de Janeiro. O mar anda alto, o que garante momentos de atenção para a linha dos atletas que aguardam a hora de se posicionar nas ondas e assegurarem o espaço adequado para desenvolverem suas manobras radicais.

É um balé para pouquíssimos espectadores privilegiados como eu. Divido meu tempo entre ler Catarina, a Grande, biografia da czarina da Rússia, escrever e apreciar os surfistas e afins deslizando nas ondas. Como tirar os olhos do mar?  

O tempo está lindo. O céu azul e o oceano cor de esmeralda. Confesso que nem vi se a água estava fria. Pelas roupas de neoprene da rapaziada dá para  deduzir a resposta. Não é época do tempo estar, assim, radiante. Não na lua nova de junho. Estranho, muito estranho. Parece que o mundo rodou mais devagar no eixo, por que o clima está mais para veranico de maio do que o tempo cinzento, chuvoso e frio que costuma emoldurar esse período.

Se fosse só aí... o mundo está virado. Por mais que a gente corra daqui para lá, desvie e tente se refugiar de tanta informação é impossível não ser sugado pelo “roto-rooter” da vida brasileira. Como um todo ou em particular.

Senão vejamos: remédios quase vencidos, pilar encolhido... Vai Lá Trazer uma boa notícia, pelo amor de Deus! Licitações e pregões pros amigos? Votê, cobra, mangalô “treizveiz”. “A cultura é o patinho feio do estado”, é mole?

É por essas e por outras que procuro e, um dia, hei de encontrar uma forma de fazer cultura sem precisar de sequer passar na porta da tutela do estado. Quero respeito por quem peleia e procura novos caminhos para sair do rumo de quem chega a uma conclusão dessas assim, depois que assumir o cargo máximo do setor no estado. O tempo passa, a vida anda e o bonde já passou por essa estação.

Do outro lado é pau, é pedra é o começo do caminho, para desespero de alguns e pressa de outros. Em nome de evitar a “baderna” o negócio é endurecer. De novo? Acho que já disse nessa crônica que já vi o filme dessa reprise classe B.

Nunca tão poucos centavos representaram tanto para  multidões espalhadas por várias capitais do país. Multidão que só aumenta a cada apresentação especial  dos poderes militares constituídos. É daí para pior. E já deu pra ver que não vai ser sopa pra ninguém, incluindo aí vários coleguinhas da Folha de São Paulo,  agredidos na última quinta-feira.

Segunda, em plena Copa das Confederações, com o mundo já tendo acompanhando pelas TVs, jornais e as redes sociais os primeiros capítulos da novela PASSE LIVRE, parece que haverá outra rodada de manifestações pelo país. Boa hora para a panela de pressão continuar a chiar.

Ai meus santos canarinhos com cabelos de cacatua. Façam o milagre do esquecimento das mazelas inflacionárias, da alta do dólar, da queda do mercado, da falta de saúde, educação, segurança, infra-estrutura e outros probleminhas mais.

Chutem para o gol dos adversários nossos recalques e essa sensação estranha de que no final,  ganhando ou perdendo, estamos entrando pelo cano...

*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Ponta do Leme”,  do SEM FIM... delcueto.wordpress.com

domingo, 26 de maio de 2013

Ó de casa?!


Ó de casa?!
Texto e foto de Valéria del Cueto
Vamos cair na real: não será hoje. Mas quase ontem. A Copa está aí. Alguma novidade? Talvez para quem nunca comeu melado. Por que, ao contrário do ditado, é justamente quem já comeu que está se lambuzando. E o faz de caso pensando, por que sabe que é agora... ou já! As comportas estão abertas e jorra dinheiro para tentar fazer em alguns meses o que não foi executado em anos.
Lembro-me sim, do dia em que saiu o resultado das cidades escolhidas para serem sedes da Copa de 2014. Meninos eu, vi, estava voltando (de novo) para Mato Grosso e uma das tarefas do retorno era registrar em vídeo a agitação da Praça do Chopão, onde Cuiabá em peso se reuniu para assistir a declaração da FIFA.
Acompanhei colada com os “artistas” que ali estavam para, mais que comemorarem, mostrarem à gente brasileira, por um link ao vivo da rede Globo, o que Cuiabá tinha para oferecer ao mundo: cururu, siriri, o boi e, como todo o Brasil, o samba.
Lembro que havia uma tenda vip, para as autoridades. Só que a reação desse povo a “conquista” não me interessava, já sabia qual seria. Preferi me encostar nos cururueiros que afinavam, nervosos, as violas de cocho e arranhavam insistentemente seus ganzás. Ali, sentia a tensão do povo de Cuiabá para a realização de um sonho, apenas de um sonho: o de que a Copa do Mundo chegasse àqueles que teriam  imensas dificuldades na vida para irem até ela.
Para o trabalho, havia várias câmeras espalhadas: Na tenda, na área das apresentações ao lado da praça. A subida da Getúlio havia sido impedida e um trio elétrico ocupava a rua. Imagina a briga que era pra saber que iria subir no caminhãozão. Muita gente conseguiu sair na foto, mas claro, o espaço não foi suficiente para tanto ego. Do lado de fora do Chopão, o povo. Lá dentro, meia sociedade cuiabana, que aquela não era festa pra perder. Só comemorar. Faz quatro anos no dia 31 de maio!
Não quero ser derrotista, por que acredito na capacidade de organização e, apesar de não ser devota, nos milagres capazes de serem realizados pelo Santo RDC (Regime Diferenciado de Contratação, pra quem não ligou a sigla ao seu bolso), mas a coisa mais pronta que pude ver nesse período, é o trabalho do mesmo grupo Flor Ribeirinha que rodopiou cheio de alegria e emoção para nos representar para o mundo naquela praça.
Pois não é que a Domingas, mãe, pai, tia e madrinha do projeto de excelência, nascido no São Gonçalo Beira Rio, soube pilotar sua canoa com maestria e organização e, um ano antes do evento, mostrou para os cuiabanos como o cururu e o siriri os apresentará para o planeta? Ocupou com maestria todos os espaços que pode e fez sim, um lindo trabalho, levando sua trupe das águas do seu Cuiabá para mares e oceanos distantes. Claro que enfrentou corredeiras e calmarias, mas dá gosto ouvir falar do seu sucesso.
Pena que nem todo mundo esteja jogando aberto como a artista Domingas. Li que o Tribunal de Justiça suspendeu a licitação organizada pela SECOM/MT para escolher as agências de propaganda que atenderiam a SECOPA. O mandado de segurança foi impetrado com o argumento do o não cumprimento da Lei 12.232/2010 e do uso em uso em vão do nome, ao que parece do Santo RDC!
Indica que já estamos no período do pega pra capar e  do Deus nos acuda! Tem gente rodopiando  e dançando qualquer ritmo e batida para levar de lambuja uma beira da nossa festa...
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “No rumo”,  do SEM FIM... delcueto.wordpress.com

domingo, 5 de maio de 2013

Sem noção, com muita emoção, só na propul$ão!

Texto e foto de Valéria del Cueto

É pau, é pedra e qualquer hora dessas o editor me pega. Esse tal de deadline é um inferno na vida de qualquer pretendente a entregar uma obra com prazo marcado.

É dura essa vida de ter compromisso. Imaginar é ótimo, planejar é legal. Mas executar nem sempre depende só da nossa atuação. Ou não?

Das duas uma: ou você chuta o balde e reza pra água cair direto no jardim que precisa ser regado ou sua consciência nunca estará tranquila até conseguir fechar a tampa e enterrar o defunto.

Que horror! É muita maldade comparar um filho parido a cada semana, no meu caso, a um morto. Mas é o velho ditado cuiabano que diz: "Quem beijou, beijou, quem não beijou beijasse, por que vai fechar o caixão" a primeira imagem que me vem à mente quando penso em entregar alguma coisa em cima do laço.

Isso, meus queridos leitores, que sou uma pessoa ciente e ciosa dos meus deveres para com meu reduzido público e procuro adiantar minha vida para não passar um perrengue a cada semana, justo às sextas-feiras, dia sagrado que antecipa o que virá de melhor no final de semana.

Mas o que fazer quando, por exemplo, como acontece hoje, estou no aeroporto, em São Paulo, tentando embarcar para o Rio e, consequentemente desembarcar na minha Ponta do Leme sagrada?

Diz que foi o nevoeiro, mas vejo as outras companhias mandando e trazendo passageiros de um lado para o outro, enquanto a minha se limita a mudar os numerinhos horários, em ordem crescente, no painel de partidas.

Assim, foi que planejei escrever esse texto confortavelmente. Sentada na poltrona do avião voando na ponte aérea. Mas não previ a possibilidade de atraso após atraso ver o tempo se escoando e o voo atrasando diante dos meus olhos preocupados.

Então, resolvi adiantar o trabalho. Acabei descobrindo que não daria tempo de terminar e enviá-lo antes da chamada do voo. Foi assim que me vi torcendo para... o voo atrasar ainda mais!

Como é só um voo, tudo bem.

Mas vocês já imaginaram como estão os que deveriam entregar coisas mais sérias e inadiáveis que uma crônica???? Sem desmerecer o meu humilde trabalho, é claro!
Pelo bem dos compromissos assumidos, deve ter muita gente perdendo o sono por aí. Afinal, algumas coisas não dão pra deixar para depois, ou simplesmente largar de mão. Estádios, aeroportos, instalações, obras de mobilidade urbana, segurança e saúde para turistas. Vixe! Só fazendo mais e não tão melhor para ser rápido.

É claro que uma ajuda monetária, financeira e/ou econômica ajuda. Só que isso não é a solução para todos os problemas. O nível do stress vai lá em cima e, pelo bem ou pelo mal, é melhor ser excelentemente remunerado pela aporrinhação, mesmo que o dinheiro não resolva diretamente o problema...

Aí, vem aquela velha pergunta: e o que temos nós com isso? Tudo! Alguém tem que pagar a puuuuuta conta... Falimos nós e ganham eles, mesmo sem entregar o prometido. E viva o mais nvo santo da praça, o RDC, Regime Diferenciado de Contratação!

*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Parador Cuyabano ”,  do SEM FIM... delcueto.wordpress.com